BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 21
Surpresas


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, QUERIDOS! Demorei? Bem, nem sei, mas espero que não.
Eu lembro de algum leitor um dia ter me dito que adoraria ler 5.000 palavras minhas, e eu também lembro de responder que achava isso bem difícil... parece que o jogo virou: aqui estou eu, com um capítulo com mais de cinco mil palavras e que simplesmente fluiu na ponta dos meus dedos! Eu nem sei porque estou dizendo isso a vocês, mas só queria compartilhar a informação e agradecer, afinal, é o incentivo de vocês que me faz querer escrever tanto.
Enfim, espero que gostem.

Boa leitura!



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Eu já havia conhecido algumas pessoas que diziam que o Japão não era muito diferente da Coréia — no hospital onde trabalhava, por exemplo, uma ginecologista que compareceu a uma conferência de doutores importantes em Kyoto, regressou dizendo que não sentira muita diferença entre as culturas. Por outro lado, alguns amigos voltavam maravilhados com o país, como se fosse um mundo completamente diferente. Eu nunca soube em quem acreditar ao certo, por isso, deixava o Japão na gaveta de "coisas para tirar minhas próprias conclusões no futuro" e vivia feliz com isso.

Mas, na verdade, apenas quem conhece o Japão pode falar sobre o Japão. Agora, mais do que nunca, eu sabia disso. Era um país difícil de descrever, pois, apesar de muito parecido com a Coréia, era ao mesmo tempo um lugar quilômetros de distância de diferença; contudo, uma coisa era certa: cada canto dessa nação é lindo (ou pelo menos as partes que tive a oportunidade de conhecer até agora), do tipo que faz o seu queixo cair sem você ao menos perceber.

Nós tínhamos desembarcado em Tokyo, onde seria o concerto do Bangtan. Os passageiros mortais (ou seja, funcionários da Big Hit e outras pessoas que não tinham nada haver com a empresa) desembarcaram primeiro e, por último e acompanhados por Sejin durante todo o trajeto, os meninos. A quantidade de fãs esperando nos lugares mais inusitados do aeroporto era assustadoramente grande, além de bastante barulhenta, mas eles pareciam já acostumados com isso — afinal, mesmo que para mim toda aquela recepção calorosa fosse novidade, eles já conviviam com as fãs há alguns anos. Francamente, era nítido nos rostos um tanto cansados pela viagem e pela bagunça dos rapazes, que os mesmos gostavam de toda aquela demonstração de amor e que acabavam se divertindo com isso. Depois de pararem para carinhosamente tirar algumas fotos, eles seguiram logo atrás dos staffs (o que me inclui no pacote).

Havia uma quantidade considerável de vans exatamente iguais esperando por nós no estacionamento do aeroporto. Os veículos eram idênticos ao que os rapazes usavam no dia em que os conheci, quando achei que fosse ser sequestrada por eles, e ao lembrar-me daquela cena catastrófica de sete homens se contorcendo dentro do mesmo, não pude evitar de rir sozinha. Era provável que alguém ao meu redor estivesse se perguntando se eu não era louca, mas isso não me incomodava em nada. Os sete entraram em uma única van e, de penetra, eu me esgueirei para dentro do veículo que levaria as maquiadoras, cabeleireiras e estilistas para o mesmo hotel que o Bangtan.

O que percebi ter sido um erro logo nos cinco primeiros minutos de viagem. A maioria das mulheres (umas oito, no total), já se conhecia e tinha em comum o mesmo assunto: moda. Apesar de me vestir relativamente bem e não me lembrar de ter cometido nenhuma gafe fashion, eu jamais fui do tipo de garota que gostava de acompanhar as novas tendências da estação, o que me deixou completamente deslocada na conversa. Bufando baixinho de frustração e nem ao menos tentando me encaixar no papo animado das funcionárias da moda, pendi a cabeça para o lado, acabando por acertar a testa na janela da van.

Droga, eu tinha que parar de bater minha testa por aí como se fosse um para-brisas.

— Você está bem?

A voz masculina ao meu lado quase me fez pular de susto. Quando eles haviam colocado um homem dentro do carro? Virando-me, me deparei com um sujeito alto, com a pele levemente bronzeada e um sorriso quase tão brilhante quanto o de Hoseok, fitando-me com certa preocupação nos olhos escuros.

— Estou sim, obrigada. — respondi, com uma risada sem graça. — Já me acostumei com esse tipo de acidente.

Ele riu e, durante alguns segundos, eu me perguntei mentalmente se não havia achado um idol perdido por aí. Afinal de contas, ele poderia, fisicamente, se passar por um.

— O barulho foi alto, achei que você tivesse aberto a cabeça. — disse, esbanjando seus dentes perfeitamente brancos. — Meu nome é Shi-Woo, sou um dos coreógrafos do Bangtan. Prazer em conhecê-la.

Eu não podia negar, o rapaz era simpático e, de bônus, a primeira pessoa com quem eu conversava na última hora. Por isso, retribui a reverência e resolvi me apresentar.

— Kim Sun Hee, sou nutricionista dos rapazes. — disse, simpática. — Prazer em conhecê-lo também.

— Nutricionista? — indagou, parecendo surpreso e aliviado ao mesmo tempo. — Achei que esse fosse o carro da moda.

— Bem, eu entrei aqui meio que sem querer. — falei, rindo baixo da minha própria desgraça. — E você?

— Fui arrastado. — respondeu, prontamente. — O carro em que eu planejava ir até o hotel já estava cheio e, quando elas souberam disso, me puxaram para cá. — nesse momento, enquanto falava, ele apontava cuidadosamente para as mulheres ao nosso redor, que ainda não pareciam ter notado a nossa conversa. — Quando começaram a falar de roupas, cabelo e maquiagem, eu encostei no banco e fingi que estava dormindo. Só acordei quando ouvi o barulho da sua cabeça batendo no vidro.

Mais uma vez, eu não pude evitar de rir. Mesmo em outro país, eu continuava a pagar meus micos diários.

— Desculpe por estragar o seu disfarce. — brinquei.

Shiwoo era uma pessoa agradável de se conversar. Ele não tinha vergonha de falar, o que fazia com que eu me sentisse confortável em manter um diálogo com ele. Durante a meia hora que passamos dentro do veículo da moda, apelido dado por ele mesmo, Shiwoo me contou que já trabalhava para a Big Hit há alguns anos, e essa era a segunda vez que vinha para o Japão com o Bangtan. Geralmente ele era o único coreógrafo escalado para vir, pois era o único fluente em japonês. Deixo aqui registrado a vergonha que passei quando ele tentou me ensinar algumas palavras do idioma — ele garantiu que eu tinha potencial, mas eu sabia que era um desastre.

Quando finalmente chegamos no nosso destino, um hotel com andares demais para que eu contasse à primeira vista e de fechada coberta por espelhos, nós esperamos que as mulheres desembarcassem primeiro e levassem a conversa fashion para bem longe. Em seguida, Shiwoo desceu e me ajudou a desembarcar da van, oferecendo-me seu braço para que eu segurasse. Eu aceitei de bom grado e, assim que pude me acostumar com as fortes luzes brancas que iluminavam a recepção do hotel escurecida pela noite, deparei-me com a pessoa que me trouxera para esse outro país.

No hall de entrada e já prestes a pegar o elevador, rodeado pelos outros rapazes e por mais algumas pessoas que eu desconhecia, os olhos de Yoongi atravessavam o salão para se encontrarem com os meus. Eu não pude evitar de ignorar a moça do check-in para sorrir para ele, porém, quando o mesmo não retribuiu, parte da minha animação desapareceu. Provavelmente ele estava cansado demais, ou não queria que os outros percebessem a nossa interação, ou poderia ser uma dezena de outros fatores, mas eu estava ansiosa para ver seu pequeno sorriso tímido novamente. Quando as portas do elevador se fecharam, com ele dentro, eu bufei e me conformei de que teria que esperar mais um pouco.

— Aqui, a recepcionista pediu que eu lhe entregasse isso. — Shiwoo surgiu ao meu lado, estendendo-me uma chave dourada com o número 605 gravado. Agora de pé, a nossa diferença de altura se tornara um tanto assustadora. — Uma pena que não estamos no mesmo andar.

Eu o fitei, sem nenhuma reação específica. Ele estava sendo simpático, claro, mas minha mente ainda estava na expressão fechada do rapaz de cabelos azuis de agora há pouco.

— Obrigada. — eu respondi, pegando a chave e seguindo em direção aos elevadores. Ao meu lado, Shiwoo caminhava tranquilamente, como se estivesse em casa. — E obrigada por ter me salvado das fashionistas de hoje mais cedo.

— Eu é que agradeço. — rebateu, rindo.

O meu andar era antes do dele, que ficaria no oitavo, por isso, as portas do elevador se abriram primeiro para mim. Com um sorriso no rosto, eu me despedi do rapaz, que sorriu de volta e disse apenas um "até logo". Agora já no meu quarto, na minha opinião grande e luxuoso demais para apenas uma pessoa, eu podia relaxar e me jogar na confortável cama de casal. A bela vista para a cidade escurecida pela noite e iluminada por diversas luzes era de tirar o fôlego, por isso, eu me vi sentada na cama durante horas a dentro apenas admirando a paisagem pela janela. Quando decidi me levantar para tomar um banho, me assustei ao ver no relógio que já era quase madrugada. Procurei em minha mala meu conjunto de moletom favorito, num tom que um dia já fora um roxo vivo, e o carreguei comigo para o banheiro (que, na verdade, era mais ou menos do tamanho do meu quarto na casa de Jung Soo). Tomei um longo banho morno, permitindo-me até mesmo lavar os cabelos, e vesti as duas peças quentinhas logo em seguida.

Eu ainda estava secando meus cabelos bagunçados na toalha felpuda do hotel, sentada sobre a cama, quando ouvi batidas na porta. Resmungando por ter que me levantar, eu andei até a mesma e, quando a abri, acabei sendo surpreendida. Escorado no batente, Yoongi usava roupas cinzas confortáveis e, ao me ver, olhou-me de cima a baixo. Ele ainda não estava com a cara muito boa, mas, mesmo assim, eu sorri ao vê-lo.

— Seu telefone está desligado. De novo. — foi a primeira coisa que ele disse, deixando-me confusa.

Eu tinha carregado esse maldito. Mas, quando voltei para o interior do quarto e alcancei o aparelho jogado sobre a cama, descobri que tinha esquecido de tirá-lo do modo avião.

Sun Hee zero, tecnologia dois mil.

— Desculpe. — eu disse, um pouco sem graça. Ele já tinha entrado no quarto e, naquele momento, fechava a porta atrás de si. — Era alguma coisa urgente?

Deu alguns passos para frente, dando de ombros.

— Na verdade, os membros queriam que você sugerisse algo para jantar. — respondeu, parando próximo à cama. — Como você não atendia o celular, ficaram preocupados. Eu perdi num jogo e acabei tendo que vir até aqui para saber se estava tudo bem.

Ele estava, falava e agia estranho. Aquele Yoongi à minha frente, com a expressão neutra de sempre e o tom de voz fechado, parecia mais com o mau humorado que eu conheci no hospital, com o humor afetado por uma diarréia. O encarei, estreitando os olhos.

Tinha alguma coisa de errada naquela história e eu iria descobrir o que era, custe o que custasse.

Uma ideia surgiu em minha mente. Yoongi poderia agir como a pedra de gelo que fosse, mas, no fundo, ainda pertencia a uma raça que eu conhecia muito bem: o sexo masculino. Com esse pensamento em mente, eu ergui as mangas do meu moletom e sentei-me lentamente sobre a cama. De escanteio, ele fitava meus movimentos.

Hm, entendo. — respondi, finalmente. Comecei a secar meus cabelos delicadamente, balançando-os de um lado para o outro. — Desculpe pelo transtorno. Afinal de contas, foi para isso que eu vim para o Japão, certo?

Durante alguns segundos, ele me encarou, incrédulo. Em seguida, deu de ombros.

Ye.

O silêncio veio logo depois. Enquanto eu o observava descaradamente, ele mexia os pés e olhava para todos os quantos possíveis do quarto, claramente inquieto. Estiquei-me para alcançar a mala  que havia deixado no chão próximo a cama e, de dentro de uma pequena bolsa rosa, tirei uma escova da cabelos. Coloquei todos os meus fios para o lado, deixando grande parte do meus pescoço descoberta, e comecei e penteá-los calmamente. Yoongi pigarreou e, naquele momento, eu soube que seu silêncio frio não duraria mais muitos segundos.

— Então... — iniciou, fungando e confirmando a minha teoria. No fim das contas, não precisou de muito para que ele abrisse a boca. — Eu vi que você conheceu o Shiwoo, não foi?

Pausei. Com o cabelo metade penteado, eu deixei cair sobre a cama a escova, ainda encarando Yoongi.

Não era possível que fosse isso.

Quando ele me encarou de volta, seus olhos confirmaram os pensamentos em minha mente. Sem me controlar, eu acabei gargalhando. E foi assim durante longos minutos, até que eu me contorcesse sobre a cama, com dores na barriga e falta de ar de tanto rir, e tivesse que limpar algumas lágrimas. Com uma expressão um tanto revoltada, Yoongi me fitava e esperava que eu explicasse o meu surto.

Acho que agora eu entendia Hoseok.

Aigoo... — disse, voltando a respirar novamente. — Você está com ciúmes de mim, Min Yoongi?

Surpreso, ele deu um passo para trás. Seu rosto já estava todo rosado quando ele finalmente respondeu:

Aniyo!  — exclamou. — De onde você tirou essa ideia? Eu só vi vocês dois hoje mais cedo, e como vocês pareciam estar se divertindo...

— Vem cá. — o interrompi. Sem lhe dar tempo de pensar, eu me estiquei para puxá-lo pelo pulso. Com os olhos um tanto arregalados, ele caiu sentado sobre a cama, de frente para mim. Eu levei alguns segundos fitando-o diretamente nos olhos, antes que voltasse a falar. — Eu conheci sim o Shiwoo, e ele me pareceu ser uma ótima pessoa.

— Eu sei disso...

— Eu ainda não terminei. — cortei-o novamente, apenas para ouvi-lo resmungar. Eu adorava fazer isso. — Mas, apesar disso, o Shiwoo não é a pessoa a qual eu segui de olhos fechados até outro país. — nesse momento, Yoongi relaxou os ombros e começou a retribuir a intensidade com a qual eu o fitava. — Oppa, eu não sei se não fui perfeitamente clara naquele dia no depósito, mas por via das dúvidas, serei agora: eu gosto de você.

Aquela era a primeira vez que eu admitia aquilo, ainda mais em voz alta, por isso, acabei pegando até a mim mesma de surpresa. Contudo, como a bomba já havia sido lançada, eu resolvi que ficaria no campo de batalha e aguentaria as estilhaços. Continuei:

— Eu não sei o que pode sair disso, sabe. Nós temos vidas muito diferentes e corridas também, mas, mesmo assim, eu ainda estou disposta a tentar.

Novamente, silêncio. Porém, dessa vez, era um silêncio mútuo e repleto de significado. Eu, finalmente, tinha aberto o meu coração — e, de repente, quando Yoongi esboçou seu pequeno sorriso, senti que o órgão poderia derreter a qualquer momento.

— Você quer sair comigo? — indagou, de repente. — Um encontro de verdade, num lugar que eu venho pensando em levá-la desde quando você disse que viria para o Japão conosco.

Eu não pude evitar de sorrir. De novo, e finalmente, eu voltava a me sentir como uma adolescente boba.

— Sério?

— Sério. — afirmou, aumentando o sorriso. Em seguida, de frente para mim, envolveu minhas mãos nas suas. — Podemos ir amanhã, depois de uma sessão de fotos que nós teremos à tarde. O que acha?

Eu o fitei. Mesmo que tivesse certa expectativa em seu olhar, Yoongi já imaginava qual seria a minha resposta.

— Acho ótimo.

 

***

 

Por sorte, o tempo desta vez resolvera ficar ao meu lado e passar rapidamente. Depois de nossa conversa no meu quarto, eu e Yoongi nos dirigimos para um outro quarto três andares acima, o qual ele estava dividindo com Hoseok. Lá, os outros seis rapazes nos esperavam ansiosamente, espalhados pelas duas camas de casal e pelo chão, e morrendo de fome. Quando me viram, perguntaram primeiro sobre o que eu sugeria que pedissem no menu do serviço de quarto e, só depois, como eu estava e o porquê de não atender ao celular.

Prioridades.

Por fim, Namjoon pediu alguns pratos que eu havia sugerido e, misturados a mais alguns pedidos estranhos dos outros, eles comeram toda a comida minutos depois que a mesma foi entregue no quarto — bem, nós comemos, pois eu também tenho que admitir que estava roxa de fome. E a comida japonesa era, afinal, uma delícia. Em seguida, nós jogamos conversa fora durante algumas horas e (depois de algumas longas risadas) eu achei melhor deixá-los descansar. Despedi-me e, lançando uma discreta piscadela para Yoongi, voltei para o meu quarto me perguntando mentalmente o que de tão maravilhoso eu havia feito na minha vida passada, se houvesse uma, para merecer ser tão bem acolhida por aqueles sete nesta vida.

No dia seguinte, eu acordei mais tarde do que esperava e quase perdi o almoço do hotel. Os meninos já haviam saído há tempos, e, provavelmente, estariam enfrentando uma maratona de entrevistas e sessões de fotos enquanto eu me deliciava com um prato de sushi. Confesso que esse pensamento me fez rir e, em seguida, me sentir uma péssima pessoa por tê-lo feito. Tirei a tarde para passear à pé pelo bairro onde estávamos hospedados, sempre tomando cuidado para não me perder e ter que parar um estranho no meio da rua para tentar pedir informações e, depois de uma longa caminhada, eu já estava percorrendo o caminho de volta quando recebi uma mensagem de Yoongi. Na mesma, ele dizia que já estavam voltando para o hotel e pediu para que eu esperasse no estacionamento no horário em que havíamos combinado.

Ele estava mesmo se esforçando para fazer uma surpresa. A única coisa que me dissera era para que usasse roupas leves, mas se negou a me contar para onde iríamos ou que faríamos. Ao contrário do que eu esperava, eu não estava nervosa ou agitada; na verdade, estava alegre. Sem ligar para os olhares alheios que me observavam voltar saltitando como uma criança para o hotel, eu me sentia extremamente animada e como se pudesse sair flutuando a qualquer momento. Sim, o meu estado mental estava claramente piorando.

Próximo ao cair da tarde, eu pus um vestido azul bebê de mangas curtas que ia até a altura dos meus joelhos, um casaco cinza fininho por cima e um par de sapatilhas da mesma cor e me fitei no espelho. Eu não era do tipo de mulher que se vestia de certo modo ou fazia coisas apenas para agradar um homem, porém, olhando para minha leve maquiagem refletida no vidro, eu realmente esperava que Yoongi gostasse do que visse. Respirei fundo, sorri para mim mesma e logo em seguida já estava esperando pelo elevador animadamente.

Não demorou muito para que eu chegasse ao estacionamento. Como ainda era de tarde, o lugar estava bem iluminado e, graças ao céus, não possuía o habitual ar obscuro que os estacionamentos geralmente possuem (pelo menos na minha opinião). Como eu não sabia muito bem onde deveria esperar, resolvi parar próximo ao elevador; foi quando, de repente, um carro prata parou bem de frente para os meus pés. Era um modelo alto e bonito, o qual eu não sabia dizer o nome, e, quando o vidro escuro do passageiro foi abaixado, revelou no banco do motorista o pequeno sorriso de Yoongi. Ele tinha uma mão no volante e, com a outra, apoiava-se no banco do passageiro para se inclinar na direção da janela aberta.

Eu poderia olhar para aquela imagem pelo resto da vida.

— Demorei? — indagou, fitando-me. Pausou e, ainda exibindo seu sorriso, emendou: — Nossa, você está linda.

Bem, eu também poderia ouvir aquele elogio pelo resto da vida.

— Obrigada. — disse, já abrindo a porta do passageiro. Ele se ajeitou, voltando para o seu lugar, e eu entrei no veículo. — Acabei de chegar, não esperei nada.

— Ótimo. — pelo visto, alguém estava mais animado do que eu. — Podemos ir, então?

Ye.

Yoongi ergueu meu vidro e, em seguida, deu partida com o carro. Durante o trajeto, que não fora muito longo, eu tentei de várias maneiras descobrir para onde estávamos indo, porém, sempre dando uma risada abafada sempre que eu perguntava, Yoongi desviava e falava sobre qualquer outra coisa aleatória. Quando, por fim, ele estacionou o veículo (o qual ele contou ter alugado poucas horas atrás, tudo sem que os outros membros soubessem), eu fiquei feliz por ele não ter me dito nada. Se ele tivesse me contado sobre aquele lugar, eu não teria ficado tão admirada quanto fiquei.

Era um parque arborizado, consideravelmente vazio e rodeado por enormes cerejeiras repletas de flores cor de rosa. Eu estava tão distraída com a beleza do lugar, que só voltei à realidade quando ouvi Yoongi bater o porta malas. Em seguida, ele se dirigiu para abrir a minha porta, trazendo em uma das mãos uma cesta de piquenique parecida com a que eu constantemente surrupiava de Jung Soo.

— Você está sempre levando comida para a gente em uma cesta como essa, mas nós nunca fazemos um piquenique. — disse, enquanto eu descia do veículo. Fechou a porta e continuou: —Achei que essa seria uma boa hora para finalmente fazê-lo.

Eu não sabia o que dizer. Não havia o que dizer, na verdade, apenas observar tudo ao meu redor e desejar que aquele momento não tivesse fim. Yoongi me conduziu para uma parte mais afastada no belo gramado e, sob uma das cerejeiras e próximo a um lago, ele parou para estender a toalha quadriculada no chão. Como usava uma touca azul escura e óculos de sol para complementar a calça jeans rasgada nos joelhos e a blusa branca de manga comprida, ele não parecia preocupado em ser reconhecido. Tranquilamente, ele ignorava qualquer presença que não fosse a minha e tirava cuidadosamente da cesta alguns potes. Sentei-me de frente para ele, e, em seguida, o mesmo coçou o pescoço e sorriu um pouco sem jeito.

— Eu queria ter cozinhado ao invés de ter que comprar toda a comida, mas acabei não tendo tempo.

Eu não pude evitar de sorrir com sua preocupação.

— Está perfeito assim. — respondi, atraindo sua atenção. Ele ainda me olhava um pouco admirado, quando completei: — Mas você não me escapa da próxima vez.

— Tudo bem. — disse, rindo.

E assim seguiu o resto da nossa tarde. Enquanto comíamos, nós conversávamos sobre praticamente tudo. Eu contei a ele coisas como a minha relação um tanto delicada com a minha mãe, que sempre me incentivou a desistir da ideia do restaurante e focar em ser uma boa esposa, e ele, por sua vez, contou-me sobre as dificuldades que passou para chegar onde está hoje e sobre como era complicado com sua família. Ele parecia chateado ao falar sobre seus pais, mas, quando eu comecei a afagar seus cabelos azulados, ele relaxou os ombros e voltou a sorrir. Depois, ele me contou sua cor favorita, seu número da sorte e como gostava de consertar as coisas que Namjoon vivia quebrando pelo dormitório. E, por falar no líder, ele deixou escapar que fingia ser péssimo em inglês apenas para que Namjoon conduzisse sozinho as entrevistas estrangeiras e arrancou-me uma boa risada.

Era para isso que estávamos ali. Naquela tarde, eu conheci o ser humano Min Yoongi e ele, por sua vez, a Kim Sun Hee por trás de todas as confusões da minha vida. Nós rimos, discordamos de algumas coisas, consolamos um ao outro e, acima de tudo, nos entendemos. Eu me sentia extremamente confortável ao lado dele e ele não parecia pensar diferente de mim, o que me deixava um tanto feliz. Contudo, quando ele recebeu uma mensagem de Hoseok dizendo que os outros já estavam começando a perguntar sobre o paradeiro dele, ele me fitou como quem queria dizer "eu devo ir embora, mas não quero". Eu ri em resposta e, sem dizer nada, comecei a juntar os recipientes já vazios de comida e colocá-los de volta na cesta.

—Obrigado por ter vindo hoje. — disse, de repente, enquanto dobrava a toalha quadriculada.

Fitando-o, eu fiquei alguns segundos em silêncio, apenas aproveitando a beleza daquele momento. Em seguida, para aliviar o clima, respondi:

— E perder a oportunidade de ir a um encontro com Min Yoongi? — indaguei, fazendo-o rir. — Jamais.

Nós voltamos para o carro em silêncio, e passamos grande parte do caminho assim. Não havia necessidade de dizer algo e ambos sabíamos disso, portanto, aquele silêncio entre nós era um tanto confortável. Na minha cabeça, eu repassava cada momento daquele maravilhoso fim de tarde, até Yoongi estacionar o carro na garagem do hotel. Ele fez questão que eu esperasse para ele abrir a minha porta e, mesmo não vendo necessidade naquilo, me deixei levar pelo momento e sorri agradecida ao desembarcar do veículo. Eu jamais o privaria de ser um cavalheiro, afinal, que mulher não gosta de ser pelo menos um pouco paparicada?

Tudo bem, algumas poderiam não gostar, mas eu gostava e muito.

Assim que entramos no elevador, Yoongi fez questão de surpreender-me mais uma vez (dentre muitas outras) naquele dia: seu ombro esquerdo estava quase rente ao meu direito e nós estávamos encostados no fundo do elevador, quando ele segurou minha mão sem dizer uma única palavra. O fitei de escanteio, vendo que ele se esforçava para esconder seu pequeno sorriso e seguir como se aquilo não fosse nada demais e, em seguida, resolvi devolver a ação. Quando entrelacei nossos dedos, ele não conseguiu não arregalar os olhos. A porta do elevador se abriu e, sem me dar tempo para pensar, Yoongi passou pela mesma, puxando-me delicadamente pela mão.

Aquilo era uma disputa para ver quem pegava quem de surpresa. Min Yoongi mal sabia que eu podia ser tão competitiva quanto ele.

Ele caminhava alegremente pelo corredor, sem fazer menção de soltar seus dedos do meu nem mesmo quando paramos de frente para a porta do meu quarto. De frente para mim, ele me encarava, com um pequeno sorriso vitorioso nos lábios.

Ele estava cantando vitória cedo demais.

Pendi minha cabeça para o lado, fitando-o. Sorri e, quando ele achou que eu fosse me despedir, aproximei-me rapidamente e colei meus lábios no dele. Fora um selinho rápido e, quando me afastei apenas para fitar sua expressão desconcertada, não pude evitar de rir. E esse foi o meu erro.

Ou, talvez, o meu melhor acerto.

Acabei me dando por vencida quando senti a mão de Yoongi puxar-me pela cintura, enquanto a outra envolvia minha nuca sem nenhuma dificuldade. Ele selou nossos lábios e, sem nenhuma resistência, eu retribui seu beijo. Era possível que aquele fosse ainda melhor do que o primeiro? Bem, eu não sabia dizer, mas estava feliz em constatar que, deliciosamente, eu havia perdido a nossa pequena batalha.

Eu não sei por quanto tempo ficamos ali, mas desejei que meu pulmão fosse maior naquele momento. Em busca de algum ar, Yoongi separou nossos lábios e exibindo o maior sorriso que eu já havia visto em seu rosto, ele permaneceu a poucos centímetros do meu rosto, apenas me fitando. Ele sabia que tinha ganho.

Isso, claro, se não houvesse uma terceira pessoa na disputa.

Hyung? — a voz um tanto pasma nos surpreendeu num nível astronômico. Quando eu e Yoongi viramos nossas cabeças bruscamente em direção ao corredor, nos deparamos com um Taehyung boquiaberto. — Noona?!

Ah, de novo não... — escutei Yoongi resmungar, enquanto se afastava de mim um tanto de má vontade.

Sim, de novo. Será que nós teríamos que passar por aquilo ainda com todos os outros membros?

Aigoo...

— Isso é...

— Sim, é o que você está pensando. — Yoongi interrompeu Taehyung, mesmo que eu achasse que o outro não saberia como terminar a frase.

— Só eu que não sabia disso? — rebateu, levemente revoltado.

— Ninguém sabe. — foi a minha vez de responder. Eu já estava aprendendo a lidar com aquela situação, afinal. — Além do Hoseok, pelo menos.

Hobi-hyung sabe?! Aigoo... nem me disse nada!

— Porque eu pedi que ele não dissesse. — retrucou Yoongi, antes que  o mais novo continuasse sua reclamação indignada. — E gostaria que você fizesse o mesmo, pelo menos por enquanto.

A reação de Taehyung fora, no mínimo, silenciosa demais. Tudo bem, eu não esperava que ele fosse ter um surto de risadas como Hoseok, mas confesso que imaginava algo parecido. Encarando-nos, ele espreitou os olhos e, em seguida, deu de ombros.

Será que eles tinham mesmo tanta dificuldade em seres pessoas normais e previsíveis?

— Tudo bem. — concordou, já virando-se de costas para nós. Porém, no meio da ação, parou. Deu alguns passos na nossa direção, parecendo confuso e fitou-me. — Mas, de todos nós, o Yoongi-hyung? Ah, por essa eu não esperava...

Yah! — exclamou Yoongi, nitidamente ressentido. — O que você está querendo dizer com isso?

Percebendo o risco de vida que corria, Taehyung deu alguns passos para trás e levou as mãos ao alto.

— Nada. Nadinha. — respondeu. Quando eu deixei uma risada escapar, ele já estava seguindo de volta o caminho do corredor. — Boa noite, noona! Sonhe com os anjinhos e, bem, com o hyung!

Yah! — Yoongi repetiu, mais revoltado do que da última vez. Deu alguns passos para alcançar Taehyung e lhe dar, provavelmente, um cascudo, mas parou no meio do caminho. Voltou apressado na minha direção e, sem nenhum aviso prévio, deu-me um selinho. — Boa noite, Sun Hee.

E assim, sem saber se ria, chorava ou se ligava para o hospício, eu fui deixada sozinha na porta do meu quarto. Pude ver Yoongi alcançar Taehyung e puxá-lo pela orelha para dentro do elevador, enquanto o mais novo reclamava exageradamente alto de dor, e acabei rindo por fim.

Adentrei em meu quarto e, jogando as sapatilhas em qualquer canto, corri até a cama e me joguei na mesma. O colchão era extremamente confortável, mas eu sabia que não era por causa dele que eu me sentia nas nuvens. Depois de horas deitada apenas sorrindo, eu acabei pegando no sono em algum momento.

Eu não me lembro da última vez em que fui dormir tão feliz.

Em algum momento da noite, porém, eu fui cruelmente acordada pelo toque do meu celular. Quando ele deveria estar desligado, o mesmo tinha bateria para alimentar a fonte de luz de um prédio. Bufei e resmunguei, rolando sobre a cama até alcançar meu celular em algum lugar. Ainda sem fazer muita ideia de onde estava e como tinha dormido, eu atendi a ligação sem ao menos olhar o nome do indivíduo que ousava tirar-me do meu delicioso sono.

Sun Hee? — era a voz de Yoongi. Ele parecia cansado, porém, incapaz de raciocinar direito, eu apenas lhe respondi com outro resmungo. — Desculpe ligar essa hora, mas... nós temos um pequeno problema.

— O que? — perguntei, arrastada. Estava tentando reunir forças para me sentar sobre a cama e prestar atenção no que ele dizia.

Bem, acontece que as fãs estão certas quando dizem que o Taehyung tem uma língua travessa. — disse, e eu não pude mensurar o quanto aquilo soou errado na minha mente. Depois de uma longa pausa, Yoongi simplesmente lançou a bomba no meu ouvido. — Sun Hee, os outros já sabem sobre a gente.

— O que?! — indaguei, quase caindo na cama.

Agora sim eu estava surpresa e, de bônus, mais do que acordada.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Estou super curiosa para saber as opiniões de vocês!
Nos vemos em breve, até ♥