BTS's Doctor Crush escrita por Cellis


Capítulo 22
Podemos conversar?


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! Como prometido, estou aqui dois minutos depois de terminar esse capítulo (que foi escrito com muito carinho), ou seja, o mais rápido que pude!
Quero agradecer a todos pelos enormes incentivos que tenho recebido. Esse história já bateu alguns recordes de outras histórias minhas graças a vocês, então, obrigada ♥

Boa leitura.



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Pela enésima vez naquele dia (na verdade, eu não havia contado, ou talvez tenha perdido as contas no meio do caminho), eu esperava por aquele elevador. A diferença desta vez para as anteriores era que, agora, eu apertava o mesmo botão ferozmente durante incontáveis vezes seguidas, me perguntando mentalmente porque diabos aquele negócio demorava tanto para chegar no meu andar.

Sim, talvez eu estivesse um pouco nervosa.

Quando as portas finalmente se abriram no andar dos meninos, eu passei pelas mesmas feito um furacão. Pelo tom de voz de Yoongi ao telefone, a situação no quarto dele e de Hoseok não estava lá das melhores, o que me motivou a caminhar a passos tão apressados pelo corredor e provavelmente acordar um hóspede ou outro no meio do processo. E foi o mesmo motivo pelo qual eu travei ao alcançar a porta de número 907. Suspirei, encarando os números dourados gravados na porta extremamente branca.

Não deveria estar tão ruim lá dentro, certo?

Dei duas batidas na porta, sem resposta. Mais duas, um pouco mais intensas, e ainda nada. Será que eles não estavam nesse quarto? Bem, eu não descobriria se não esquecesse parte da minha educação em casa e simplesmente girasse a maçaneta, abrindo caminho para mim mesma.

Para mim mesma e mais uma onda de exclamações fervorosas e misturadas entre si, que me atingiram quase como um soco quando adentrei no quarto.

A cena era mais ou menos a seguinte: sentado em uma das camas e com as mãos cobrindo os ouvidos, Yoongi ignorava os outros membros, a maioria de pé ao redor dele e falando coisas que nem eles mesmos entendiam. Eles não pareciam irritados, mas, mesmo assim, soavam como se tivessem muito a falar para o segundo mais velho do grupo. Ao lado do mesmo, porém de pé, Hoseok parecia estar tendo um pouco de dificuldade para conseguir um pouco de silêncio. Se não fosse pelas alturas de homens crescidos dos rapazes, aquele ambiente poderia ser facilmente confundido com uma creche por qualquer um que ali entrasse.

Respirei fundo, reunindo o máximo de ar que meus pulmões conseguiam comportar.

Ainda bem que os hóspedes dos quartos ao lado eram eles mesmos.

Yah! — minha exclamação soou alta e arrastada, por isso, foi só o que precisou para que todos notassem a minha presença, virando as cabeças bruscamente na minha direção, e se calassem com o susto. — O que diabos está acontecendo aqui?

Silêncio. Os rapazes começaram a se dispersar e, quando Yoongi finalmente me viu, não pensou duas vezes até literalmente correr para o meu lado e agarrar o meu braço direito.

Ah, louvada seja você! — seu tom era tão aliviado que eu quase ri. Em seguida, direcionou seu olhar para frente e apontou acusadoramente para os outros. — Vamos, reclamem com ela também!

Outra vez, silêncio. Eu sabia que eles queriam falar nos meus ouvidos tanto quanto já haviam falado nos do esgotado rapaz de cabelos azuis ao meu lado, mas, pelos olhares receosos, eles provavelmente achavam que não seria uma boa ideia.

Talvez pelo fato de já terem me visto irritada e com uma barra de ferro nas mãos.

De repente, algo surgiu em minha mente num estalo. Varrendo o quarto com meus olhos, eu não encontrei quem procurava.

— Cadê o Taehyung? — indaguei, já suspeitando de que eles estivessem escondendo o rapaz propositalmente. Quando passaram a olhar para qualquer canto aleatório do quarto, menos para mim, eu mais uma vez cheguei à conclusão de que estava certa. — Eu perguntei. Onde está. Kim Taehyung.

As pausas em minha fala fizeram Namjoon se remexer em seu lugar. De pé e bem de frente para mim, ele fitava um quadro florido em uma parede qualquer como se fosse o objeto mais interessante do século. Prestando mais atenção, eu notei que, a menos que o líder tivesse desenvolvido alguma mutação genética da noite para o dia e adquirido um par de pernas extra, havia alguém atrás do mesmo. Caminhei até o mais alto do recinto, enquanto o mesmo não ousou se mexer, e puxei Taehyung pela orelha até o meio do quarto.

Ai, ai, noona! — reclamou, pelo menos uma dezena de vezes, até que eu o soltei. Em silêncio, eu encarava a expressão de filhote abandonado que ele fazia para tentar amenizar as coisas. Quando percebeu que eu não cederia, jogou-se de joelhos no chão e agarrou minhas pernas, quase me derrubando. — Noona, eu juro que foi sem querer! Eu não queria falar nada, mas o Jiminie me obrigou.

— O que? — indaguei, desviando os olhos do corpo jogado aos meus pés para o mais baixo do grupo, que tinha os cabelos loiros bagunçados e os olhos repentinamente arregalados.

Yah! Explique a história direito! — rebateu, apontando acusadoramente para Taehyung.

Quando abaixei o olhar, encontrei Taehyung com a cabeça erguida mais ou menos na altura da minha barriga.

Uma pausa para registrar como eu me sentia uma anã naquele momento.

— Eu ainda não sabia como reagir, por isso, fui perguntar ao Hobi-hyung o que ele achava. O Jiminie ouviu mas, como não sabia de quem nós estávamos falando, ele começou a perguntar quem era... — pausou, respirando. Ainda agarrado em minhas pernas, continuou: — Ele fez cócegas em mim para descobrir quem era, então, eu acabei falando. Ninguém resiste a cócegas, oras!

Incrédula, eu o fitei. 

— Cócegas? — indaguei e, sem jeito, ele concordou com a cabeça. — Você está me dizendo que deu com a língua nos dentes por causa de... cócegas? — pausa dramática. Os meninos assistiam à cena, provavelmente se perguntando se eu seria capaz de jogar o garoto pela janela. — Aish... levanta daí!

Eu precisei puxá-lo pelos braços para que ele o fizesse, ainda com a cara de filhotinho.

— Desculpe, noona.

Droga. Eu sabia desde o começo dessa conversa que, no fim das contas, não resistiria.

— Tudo bem. — disse em meio a um suspiro, enquanto afagava seus cabelos rapidamente. Eu tinha sido vencida. — A culpa não foi sua, exatamente.

E então, lá estava aquele famoso sorriso quadrangular, com o qual Taehyung exibia os dentes perfeitos e acabava fazendo os outros sorrirem também.

— Então... — iniciei, fitando os demais. — Eu suponho que vocês estejam esperando algumas explicações.

Prontamente, vi os outros concordarem com as cabeças em movimentos completamente dessincronizados. Sentei-me sobre a cama mais próxima, sem saber diferenciar quem era o dono da mesma e, ao meu lado, o espaço vazio foi ocupado por Yoongi. Na outra cama, sentaram-se Taehyung e Hoseok e, em um sofá de frente para nós, os outros quatro se amontoaram. Eles prestavam atenção em mim, praticamente ignorando Yoongi.

Coitado, ele provavelmente já deveria ter tentado falar e falhou de forma épica.

— Nós não estávamos planejando nada isso. — iniciei, logo em seguida já sendo interrompida por Yoongi.

— Na verdade, eu já estava meio que...

— Quieto, oppa. — sussurrei para ele, cortando-o e quase o fuzilando com os olhos. Ele se calou, percebendo que não deveria me atrapalhar. — Enfim, nós fomos tão pegos de surpresa quanto vocês por essa situação. Em um dia eu e Yoongi estávamos nos estranhando e, no outro, correndo pela chuva juntos. — pausei, fitando as caras de interrogação a minha frente. Tudo bem, desse jeito não estava funcionando. — O que eu quero dizer é que nós não estávamos planejando esconder isso de vocês, só... contar quando tivéssemos certeza.

— Hoseok e Taehyung descobriram sem querer. — completou Yoongi, e os dois citados concordaram.

— Certeza de quê? — indagou Jimin ainda sobre a minha fala, nitidamente interessado.

Encarei Yoongi. Francamente, eu não sabia responder direito àquela pergunta. Mas quando vi o pequeno sorriso surgir no rosto ao meu lado, tive certeza de que ele saberia.

— De que gostamos um do outro. — respondeu, me fitando. — E de que podemos fazer isso dar certo.

E, naquele momento, eu soube que a certeza que eu estava procurando há algum tempo, Yoongi já havia encontrado e embrulhado para me dar de presente. E eu confiava tanto nele, que aquele sentimento seguro dele acabou por me contagiar.

Ainda fitando-o, eu sorri em resposta, o que era suficiente para que ele me entendesse. Em seguida, voltei-me para os rapazes.

— Agora, já que vocês já sabem, eu gostaria de ouvir o que cada um tem a dizer. — disse, pegando-os de surpresas.

— Oi? — indagou Yoongi, tão pasmo quanto os outros.

Eu tive dois segundos de silêncio para tentar formular uma resposta e, em seguida, a habitual confusão se instaurou novamente. Exclamações misturadas e falas cortadas faziam parte do pacote e, ao meu lado, Yoongi bufava de derrota.

Yah!  — fui obrigada a repetir minha primeira fala da noite nesse quarto. Quando eles se acalmaram, continuei: — Um de cada vez, como pessoas civilizadas fazem. Jin, pode começar, se quiser.

—Por que eu? — indagou, piscando rapidamente.

— Porque você é o mais velho e, teoricamente, o mais sábio.

As risadas vieram assim que eu fechei a boca. Bem, eu havia reforçado o "teoricamente". Depois de ordenar que todos ficassem quietos, Jin colocou-se a falar.

— Eu acho que... ah, se vocês estão felizes, eu não tenho que achar nada! — deu de ombros, falando um tom acima do normal como o de costume. Talvez ele fosse mesmo o mais sábio. Quem diria. — Só gostaria que passassem a nos contar as coisas, porque eu já estou ficando velho demais para ficar me surpreendendo por aí como foi hoje.

Eu não pude evitar de rir. Ele era apenas dois anos mais velho do que eu, porém, fazia questão de ser dramático sobre o assunto.

— Está bem. — concordei, ainda rindo.

— Minha vez! — exclamou Hoseok, nos assustando. — O que foi? Só por que eu já sabia, perdi o direito de expressar a minha opinião?

— Eu sinto que vou me arrepender disso. — sussurrou Yoongi, mas não baixo o suficiente para que os outros não o escutassem. — Vá em frente, Hobi.

— Eu só queria dizer que, do fundo do meu coração... — outra pausa dramática. Droga, isso já estava virando um dorama.Eu shippo Yonhee! Sério, eu acho que mereço ser o padrinho desse casal.

Se eu não tivesse me engasgado com minha própria saliva, provavelmente estaria rindo naquele momento.

— Eu sabia que ia me arrepender. — nesse momento, Yoongi tinha uma mão cobrindo a testa, como se quisesse que o chão o engolisse de tanto constrangimento. Ergueu a face, procurando por uma saída. — Namjoon, por favor, diga alguma coisa sensata.

Nesse momento, o líder pareceu assumir o papel de responsável. Coçou a nuca, algo que quase todos eles faziam sempre que estavam nervosos.

— Vocês sabem que terão que contar ao manager hyung, certo? — indagou, produzindo um pequeno frio na minha barriga. Abriu um sorriso e exibiu as belas covinhas em seguida, para amenizar a situação. — Mas, mesmo assim, eu realmente desejo que sejam felizes juntos.

— Um pouco sensato demais, mas obrigado, cara. — respondeu Yoongi, cumprimentando o outro de longe.

Espera um momento. Eles falavam como se...

— Vocês sabem que nós não estamos nos casando nem nada do tipo, não é? — perguntei abertamente, antes mesmo de terminar meu próprio pensamento.

Afinal, nós nem estávamos realmente namorando e eles já falavam como se estivéssemos anunciando um noivado.

Ao meu lado, foi a vez de Yoongi de se engasgar.

Bem, talvez eu tivesse sido direta demais.

— Mas deveriam.  — foi Jimin que respondeu, não ajudando muito na situação. — Aigoo... vocês ficam tão fofos juntos!

Jimin era, por fim, um verdadeiro bolinho ambulante. Ele claramente nos apoiava e, ao ver aquele sorriso de orelha à orelha e o tom de voz tão entusiasmado, eu nem ao menos consegui discordar dele ou ficar vermelha.

Diferente do projeto de pimenta ao meu lado, o qual o rosto ruborizado contrastava de um jeito nada normal com o cabelo azul.

— Obrigada, Jimin. — respondi, sorrindo.

Vendo que eu nitidamente não havia me afetado com a sugestão de Jimin, Yoongi pareceu surpreso mas, ao mesmo tempo, um pouco mais calmo. Talvez ele estivesse pensando que eu fosse morrer de vergonha com aquela ideia, ou algo do tipo. É claro que eu não estava querendo que ele me pedisse em casamento nem nada (afinal, nós praticamente havíamos acabado de nos conhecer), mas eu também não estava disposta a lutar contra algo que não me pertencia: o futuro.

Pensamentos aleatórios e estranhos a parte, eu encarei Taehyung, que possuía uma mão levantada como um estudante que pede permissão para ir ao banheiro.

— Nem pense nisso! — disse Yoongi, que fora mais rápido do que eu e com certeza mais firme. — Você já falou demais por hoje.

O garoto deixou os ombros caírem, bufando e fazendo um enorme bico. Mesmo com pena, eu acabei rindo da cena, enquanto Hoseok consolava o mais novo ao seu lado.

— Mas eu só ia elogiar... — murmurou num tom magoado, mas que acabou soando extremamente fofo.

Por fim, só faltava uma pessoa.

Meus olhos correram pelo sofá, até encontrarem Jungkook sentado no chão de frente para o mesmo. Ele tinha as pernas esticadas pelo tapete marrom, os braços cruzados e estava seriamente recostado em um dos pés do sofá. Eu o encarei, fazendo com que ele desviasse o olhar para suas meias cinzas.

— Jungkook? — chamei, mas ele nem se moveu. Eu sabia que ele seria o mais difícil. — Jungkook. — mais uma vez, nada. Levantei-me, calmamente caminhando para perto dele e preparando minha melhor voz de aegyo. — Kookie... — ao ouvir o apelido, ele se remexeu. Quando sentei-me ao seu lado, ele como bom teimoso afastou-se alguns centímetros. — Kookie-ah...

— Sério? — ouvi Yoongi reclamar e, apenas abanando a mão na sua direção, eu ordenei mais uma vez que ele não atrapalhasse. Ele bufou, mas eu ainda tinha coisas mais importantes para lidar naquele momento.

Afinal, o maknae era o mais teimoso e, pelo tempo de convivência, também pude perceber que era um dos mais ciumentos.

Respirei fundo e, pela última vez, chamei-o pelo apelido. Ele deu de ombros, fitando-me de escanteio.

— O que foi? — indagou, mal humorado.

Yah, Jeon Jungkook! — exclamei de repente, fazendo-o pular de susto. Bem, ele e todo o resto dos rapazes. — Fale direito comigo!

Aish... o que você quer que eu diga, noona?

Ele não estava irritado. Na verdade, seu tom de voz, apesar de um pouco rústico, continha certa pontada de insegurança. Eu sabia que, por algum motivo, ele havia se apegado a mim como se eu fosse realmente sua irmã mais velha e, como qualquer pestinha irmão mais novo que se preze, ele estava apenas com medo de que eu me afastasse. Poderia soar infantil para quem não o conhecesse mas, para mim, era completamente compreensível.

— Jungkook. — chamei-o novamente e, desta vez, ele virou o rosto para me fitar. — Eu já lhe contei que tenho uma irmã mais velha e, por isso, sempre desejei ter um irmão mais novo?

Ele franziu o cenho.

Aniyo.

— Pois bem, é verdade. — respondi. — Quando eu era criança, a minha irmã sempre era citada pela minha mãe como filha modelo e, por isso, ela vivia implicando comigo. Eu sei que ela não fazia por mal, mas, mesmo assim, eu ainda detestava quando ela empinava o nariz e o fazia. — pausei, certificando-me de que ele estava prestando atenção. Estava. — Por isso eu sempre quis ter um irmão mais novo. Eu queria alguém com quem eu pudesse brincar, correr pela rua, jogar futebol e falar mal da escola, mas eu nunca tive. Até que eu conheci vocês.  — nesse momento, frisando bem a última frase em minha fala, eu fiz questão de olhar para cada um deles, que ternamente prestava atenção nas minhas palavras. — Eu ganhei todos os irmãos que eu pedi durante toda a minha infância, cada um com seu jeitinho especial. E, por fim, eu ganhei o irmãozinho mais novo que eu tanto queria.

Nesse momento, a pouca guarda que Jungkook ainda tinha erguida terminou de ser abaixada. Ele me fitou e, em seguida, exibiu seu sorriso torto e deu uma risada abafada, balançando a cabeça.

— A noona sabe que eu não sou tão mais novo assim, não é? — indagou, tentando não parecer uma criança aos meus olhos.

Falhou.

— É claro que é. — rebati, bagunçando seus cabelos pretos.

Ele bufou e, em seguida, fitou-me. Seu sorriso de canto ainda estava lá.

— O hyung vai cuidar bem de você. — disse e, naquele momento, eu soube que aquela era a maneira dele de dizer que estava tudo bem para ele. Fitou Yoongi, em seguida, com um ar um pouco mais sério. — Até porque, se não cuidar...

Não terminou a frase. Os outros riram, ao passo que Yoongi simplesmente chocou-se com o ato de Jungkook.

Yah, você sabe que não deve ameaçar os seus hyungs! — exclamou, fazendo com que eu mesma acabasse rindo. — É sério, não ria. Você não sabe do que esse garoto e os músculos de monstro dele são capazes.

— É só você não fazer nada de errado, que eu continuarei sem saber. — retruquei, piscando para um risonho Jungkook.

— O que é isso, um complô contra mim?

Levantei-me, voltando para mais perto de Yoongi, ainda abismado pelo modo que eu e Jungkook nos unimos para assustá-lo. Precisei cutucar sua barriga algumas vezes para que ele desfizesse a expressão emburrada e voltasse a rir.

E, em meio àquele clima descontraído o qual era impossível não presenciar ao redor do Bangtan, eu agradeci a qualquer que fosse a força do universo que colocou aqueles sete na minha vida.

 

***

 

Os próximos dias passaram como um daqueles filmes que você adora do começo ao fim, e que fica extremamente triste quando vê os créditos finais subindo. Ainda no dia em que os meninos descobriram sobre meu relacionamento com Yoongi, vulgo Taehyung nos traiu por causa de cócegas, eu tive a impressão de ter conseguido esclarecer o assunto, mesmo que eles ainda parecessem um pouco sensíveis em relação ao mesmo. A noite terminara num clima agradável, o que me permitiu dormir tranquila e com a consciência limpa.

E então veio o dia seguinte. Acordei com leves, porém insistentes, batidas na porta do meu quarto. Quando abri a mesma, deparei-me com Yoongi e o bom dia mais fofo desse universo — que teria sido maravilhoso, se não fosse apenas para disfarçar o nervosismo dele em contar sobre nós dois para Sejin. Ele pediu que eu me arrumasse e o encontrasse em seu quarto, onde o manager estaria nos esperando. Eu não me lembro da última vez que estivesse tão nervosa na vida (bem, talvez no dia anterior, mas vamos ignorar esse fato para que o meu drama não seja estragado). Yoongi me esperava de frente para o elevador e, quando pus os pés no seu andar, ele enlaçou sua mão na minha e me puxou calmamente até o seu quarto. Ele parecia estar indo pedir a minha mão para o meu pai, o que era cômico do meu ponto de vista, porque, se ele realmente conhecesse o meu pai, aquele nervosismo dele seria multiplicado por toda a tabuada de dez.

E então, Sejin simplesmente aceitou. A cena teve direito a ele dando de ombros, nos desejando felicidades e Yoongi rindo de espanto. A facilidade fora tanta, que eu me peguei desejando que os meninos se espelhassem mais no manager e na sua personalidade madura e compreensiva, mas aí me lembrei que se o Bangtan fosse assim, não seria Bangtan. O único pedido de Sejin, que na verdade era mais uma ordem amaciada pelo seu tom de voz calmo, fora que nós fizéssemos o que fosse longe das câmeras — ou seja, nem em sonho a mídia ou as fãs poderiam descobrir, pelo menos por enquanto. O que, na verdade, era tanto o meu desejo quanto o de Yoongi, por isso nós prometemos prontamente a manter a discrição.

E assim se seguiram as curtas férias no Japão. Bem, as minhas curtas férias, porque eu nunca tinha visto os meninos tão atarefados daquele jeito. Eram entrevistas atrás de sessões de fotos, que vieram antes de ensaios, mais entrevistas e, por fim, o tão esperado show (o qual eu assisti dos bastidores, uma experiência tão incrível quanto a de ter o ponto de vista da platéia). Francamente, eu mal passei tempo com os rapazes além de um almoço em um restaurante renomado e das nossas madrugadas pedindo comida do serviço de quarto, mas isso não fez a minha estadia no país menos interessante. Afinal, eu tinha a melhor companhia desse mundo: a minha própria.

Sim, no meu tempo livre (porque eu também tinha trabalho a fazer, não pensem que a vida é só um mar de rosas), eu passeava sozinha pelas ruas do Japão, mesmo tendo um vocabulário japonês de mais ou menos meia dúzia de palavras. No fim das contas, eu nunca precisei de ninguém ao meu lado feito um par de muletas, sempre me virei e passei várias vergonhas sozinha mesmo. E fico muito feliz de tê-lo feito. Graças a minha coragem de encarar um país com apenas um dicionário em mãos, eu aprendi muito sobre a cultura e, principalmente, sobre a culinária japonesa.

E, por fim, era o nosso último dia ali. Os rapazes pareciam exaustos, mas, mesmo assim, fizeram questão de gravar um vídeo agradecendo pelo carinho das fãs japonesas e pela ótima recepção — uns amores, como sempre. O transporte até o aeroporto fora feito pelas mesmas vans da última vez, organizadas basicamente do mesmo modo, e eu fui obrigada a agradecer mentalmente pela existência e simpatia de Shiwoo, que fez questão de voltar ao meu lado; mesmo que Yoongi tivesse, discretamente, me pedido para evitar o rapaz.

Sinto muito, oppa, mas eu não estava disposta a encarar a van da moda sozinha.

Aigoo... eu queria ter, pelo menos, lhe pagado um bom almoço japonês. — disse, acomodando-se no assento ao meu lado.

Eu não pude evitar de rir do seu tom de voz um tanto frustrado. Ele se vestia bem e tinha um porte físico muito bem preparado, mas, aos meus olhos, parecia apenas um ótimo amigo em potencial.

— Sem problemas. — respondi, dando de ombros e lhe oferecendo um sorriso amigável.

De repente, o rapaz me encarou com seus intensos olhos escuros. Aproximou-se um pouco de mim e abaixou seu tom de voz.

Tudo bem, aquilo era estranho.

— Posso ser sincero? — perguntou e, mesmo com um pé atrás, eu respondi positivamente com a cabeça. — Diferente da maioria das staffs mulheres, eu tive uma boa primeira impressão de você.

Eu o encarei, sem entender que rumo ele queria dar àquela conversa.

— Obrigada? — indaguei, na verdade, sem querer.

Com os olhos levemente arregalados, ele pareceu entender o que se passava na minha cabeça — que era, de fato, o questionamento se ele estava dando em cima de mim. Com uma gargalhada alta, ele se afastou um pouco.

— Por favor, não me entenda mal. — disse, ainda rindo. — Eu gostei de você, mas não esse tipo de gostar. Foi mais do tipo "ah, ela seria uma boa companhia para me ajudar a escolher um presente de aniversário para o meu namorado".

Fitei-o, surpresa, enquanto ele parecia se divertir com a minha reação.

— Namorado? — tentei confirmar, quase num sussurro.

— Exatamente. — respondeu, balançando firmemente a cabeça.

Naquele momento, a única imagem na minha cabeça era de Yoongi mordendo-se de ciúmes de Shiwoo. Soltando a respiração, eu não pude evitar de rir tanto alto quanto eu.

Yoongi passou horas se remoendo por causa de um cara que, na verdade, namorava outro cara.

O dono ranzinza dos cabelos azuis que me perdoe, mas a minha vinda ao Japão não poderia ter terminado melhor.

— Quem sabe, de volta à Coréia, nós não podemos sair para procurar esse presente? — sugeri a Shiwoo que, sorridente, concordou com a cabeça.

Nós conversamos durante todo o caminho até o aeroporto, atraindo alguns olhares não muito satisfeitos na nossa direção. Shiwoo me contou que o motivo disso era que praticamente ninguém sabia que ele era gay (o mesmo preferia ser discreto), por isso, as mulheres continuavam a investir nele. Apesar de achar engraçado, eu não pude evitar de sentir certa pena das estilistas, que nos olhavam como se quisessem nos jogar para fora do carro — mas também me senti grata a Shiwoo por ter confiado seu pequeno segredo justamente a mim, quem ele acabara de conhecer.

Quando chegamos ao aeroporto, outra remessa de fãs aguardava pelos rapazes, que foram tão atenciosos quanto da última vez. Eu havia perdido Shiwoo no meio da multidão, por isso, me dirigi até o local de embarque sozinha. De longe, eu podia sentir um par de pequenos olhos delicadamente pousado em mim, e não me assustei quando senti meu celular vibrar no bolso traseiro da minha calça preta.

Como você consegue ficar cada dia mais linda?

A mensagem de Yoongi fez brotar em meu rosto um enorme sorriso. Eu não sabia onde ele estava, na verdade, mas eu não precisava vê-lo para saber que ele tinha o mesmo sorriso estampado em seu rosto.

Foram anos e mais anos de treino.

Respondi, colocando uma pequena carinha feliz no final da mensagem. Como estava prestes a embarcar no avião, desviei a atenção do aparelho em minhas mãos para a rampa na minha frente, evitando, assim, que acabasse caindo de cara no chão no meio do caminho. Assim que me vi dentro da aeronave, percebi que os rapazes já estavam acomodados em seus lugares.

Noona! — chamou-me Jimin, assim que eu me aproximei das poltronas deles. Animado, ele se levantou e se esticou por cima de Yoongi, que resmungou sentado na ponta, a fim de me alcançar. — Por que não se senta no meu lugar? Sabe, eu estava mesmo querendo conversar com o Jungkook, e como tem um lugar vazio ao lado dele...  

Sua voz era sugestiva, o que me arrancou uma risada.

— Mas você não precisa... — iniciou Jungkook inocentemente, na fileira de trás, mas logo foi interrompido pelo loiro.

— Quieto, Kookie. — disse, já se mexendo para se sentar na poltrona livre ao lado do mais novo. — Sente-se aí, noona.

Ainda rindo, eu agradeci o gesto com um aceno de cabeça e me sentei no lugar recém liberado ao lado de Yoongi. Quando nossos olhares se encontraram, agora no mesmo nível, ele abriu seu pequeno sorriso que eu tanto adorava. Sem dizer nada, passou uma mão por cima de mim, alcançando meu cinto de segurança caído ao meu lado. Perigosamente perto, ele passou o cinto sobre a minha cintura, o fechou e ajustou.

— Agora sim. — disse, num tom um tanto brincalhão.

Eu também adorava aquela versão dele.

— Comportem-se, crianças.

A voz de Namjoon ao meu lado me fez pular de susto. Francamente, até aquele momento, eu não havia notado sua presença. O líder falava conosco sem desviar os olhos da tela de seu celular, onde buscava alguma playlist, e parecia estar usando uma brincadeira para nos lembrar de manter a postura.

— Pode deixar, capitão. — devolveu Yoongi, fazendo o outro rir.

A viagem fora tranquila, no fim das contas. Ninguém ao nosso redor parecia estar prestando atenção em mim e Yoongi — exceto Jimin, que vez ou outra colava a cabeça atrás de nossas poltronas para nos espiar — por isso, nós dois podíamos conversar livremente, rir e, em certo ponto, entrelaçar nossos dedos discretamente por baixo do braço de plástico que nos separava.

E, por fim, estávamos de volta à Coréia. Temperatura amena, pessoas apresadas pelas ruas e certa poluição no ar nos davam a firme sensação de ter chego em casa — nesse ponto, nada muito diferente do Japão. Eu havia me despedido de Yoongi ainda no avião, assim como dos outros, já que desembarcar juntos e de mãos dadas estava totalmente fora de cogitação, assim como sua ideia maluca de fazer a van deles desviar do caminho para o dormitório para me deixar em casa. Às vezes, Min Yoongi era desses. Agora, no táxi e no caminho para o apartamento de Jung Soo, eu ria sozinha da expressão frustrada dele quando eu firmemente neguei seu pedido.

Aigoo, e por falar em Jung Soo... eu tinha tanto para contar para ela, que não sabia ao menos por onde começar. Bem, do começo seria o mais correto, mas tenho certeza que irei atropelar as palavras e acabar embolando os acontecimentos, ao ponto que ela dará um berro e pedirá para que eu me acalme — assim era a nossa relação, no fim das contas.

Quando o táxi estacionou na porta do prédio, eu praticamente pulei para fora do veículo, quase me esquecendo de pagar a corrida ao motorista que me olhava torto pelo espelho central do carro. Sem graça, eu lhe dei a quantia exata e desembarquei com minha mala.

— Sun Hee?

Eu tinha certeza que conhecia a voz atrás de mim, mas, por um momento, não consegui me lembrar de onde. Virando-me com um pouco de dificuldade, já que minha mala não estava exatamente leve, deparei-me com uma das poucas pessoas no mundo que poderiam estragar o meu dia de tal forma.

Sentado na pequena escadaria que dava acesso à entrada do prédio, Yong Joon encarava-me como se não me visse há décadas, com direito a olhos arregalados e olheiras profundas. Assim que o táxi atrás de mim partiu, ele se levantou e caminhou receoso até a minha direção, trazendo nas costas uma mochila preta que parecia pesada.

—Podemos conversar? — indagou meu ex namorado ladrão.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero não ter matado ninguém do coração!

Nos vemos em breve ♥