Paradigma escrita por Any


Capítulo 2
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Essa história deveria ser somente uma One Shot sobre aceitação e escolhas, mas acabou que eu comecei a escrever demais =P



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Uma pequena e furiosa adolescente batia seus pés no chão de forma persistente e forte.

— Calúnia! Um completo desrespeito com as regras e regulamentos dessa escola! Isso foi violência Kurt! Violência! Eu poderia denunciar Quinn Fabray! – Rachel exclamava e por mais que a sua voz fina e irritante perpassasse por todos aqueles adolescentes, todos a ignoravam.

— Não faça isso Rachel. – Kurt, colocando as mãos sobre os ombros da melhor amiga, a firmou no lugar e a olhou nos olhos. – Eu não posso te contar, mas não é o que parece. –

— O que você não pode me contar Kurt? – A pequena judia gesticulava com as mãos, impaciente. – Oh deus.... Não me diga que a Fabray abusou de você de alguma forma.... –

— Não! O que? Não! Com toda a certeza não! – Arrumando os cabelos milimetricamente arrumados e perfumados, olhou para os lados, impaciente e irritado. – Quinn.... Me ajudou. – Fechou os olhos ao dizer as palavras.

Rachel abriu os lábios para dizer algo, mas sua boca permaneceu assim, sem qualquer som ao fixar seus olhos em algo atrás do garoto.

Virando-se para atrás, Kurt olhou para as três líderes de torcida passando pelo corredor escolar, as mãos na cintura, os queixos levantados.

— Oh, merda.... – Sussurrou.

Rachel cerrou os olhos.

Com um empurrão beirando a gentil em Kurt, Rachel se aproximou da loira e quando se pôs em sua frente, cruzou os braços na frente dos seios e a encarou.

Quinn tombou a cabeça para o lado, os olhos decaindo para todo o corpo de Rachel.

Como alguém tão pequena, poderia ter pernas tão longas?

— Você! – Apontando o dedo para Quinn e afrontando toda a hierarquia popular, enfrentou a que estava no topo. – Você machucou Kurt! O ofendeu! –

A loira, espichando os olhos para o garoto mais para atrás, observou como ele parecia culpado e tinha um sorriso forçado nos lábios.

— Eu não entendo. – A sua voz soara suave, o que fez com que todos estremecessem.

Quinn não era suave. Quinn era fria e violenta.

— Não se finja de desentendida Quinn. – Rachel aproximou seu rosto de forma desafiadora. – Você agrediu Kurt. –

Dando um sorriso desacreditado, a loira olhou ao redor, para ter certeza da quantidade de pessoas que estavam prestando atenção nas duas.

— Além de cantar mal e ter um nariz desproporcional é mentirosa também Berry? –

Quinn tinha certeza que suas ofensas machucavam mais nela mesma no que em Rachel, machucava falar tudo o que nunca proferiria se ela tivesse coragem.

Mas, como covarde que era, as ofensas eram mais fáceis.

O caminho mais fácil nem sempre é o menos doloroso.

Mas, para seu total orgulho, Rachel somente empinou seu queixo e com toda a sua dignidade, ignorou suas palavras.

— Essa conversa não acaba aqui Quinn, não se aproxime mais de Kurt, ainda mais nesse momento sensível dele. – Deu alguns passos para atrás. – Uma vez na vida, seja uma pessoa normal e pare de nos maltratar. –

Quinn sorriu.

— Claro. – Assentiu.

Rachel piscou, incrédula.

Então, em um movimento rápido, Rachel fechou os olhos e sentiu o líquido gelado em seu rosto.

— Não me desafie. – Quinn murmurou, desviando do corpo de Rachel enquanto jogava o copo de sulshie no lixo. – Você não é nada aqui, e nunca vai ser. –

***

Era noite, Quinn tinha fugido de um dos jantares de negócio de seu pai e estava em cima de seu capô do carro, em algum lugar bem longe o suficiente de casa, estava deserto e silencioso.

Perfeito.

Dando goladas no vinho que tinha roubado da casa dos amigos de seu pai, observava as estrelas zombarem dela.

Brilhantes e belas, com a sua liberdade infinita.

Seu celular tocou.

Com um suspiro, Quinn atendeu.

— Onde você está Quinn? –

— Por que você deveria saber? São onze da noite de uma segunda feira Santana, vá dormir. –

— Preciso conversar. –

— Conversar? –

O telefone se silenciou e Quinn deu mais um gole no vinho.

— Estou na parte Norte de Lima. –

— Deus Quinn, ali é completamente deserto. –

— Foda-se Santana, eu preciso ficar sozinha. – Rosnou para o telefone.

O celular ficou mudo novamente e Quinn pensou que Santana tinha desligado quando escutou uma respiração pesada.

— Tudo está uma merda. – Escutou o sussurro seguido dos passos da latina do outro lado da linha. – Uma grande merda. –

— Sempre foi assim Santana. – Quinn fixou seus olhos no céu. – Por que está sentimentalista hoje? –

— Por que eu sou uma aberração. – Resmungou Santana. – Eu sou a porra de um ser humano horrível. –

— Ah, e você descobriu isso quando? – Quinn riu, grogue.

— Cale a boca. – Resmungou Santana. – Esse maldito sentimento de culpa e fracasso, quando isso vai passar? –

— Nunca. – Quinn estendeu sua mão para cima, como se quisesse alcançar as estrelas. – Isso sempre vai te corroer. –

— Seu pessimismo me deixa péssima. –

— O que eu tenho a perder? – Quinn sussurrou. – Eu sou a pessoa mais podre que já conheci.

— Você tem a vida perfeita, o que mais você quer? Você tem tudo, beleza e popularidade. –

A risada de Quinn foi sem nenhuma graça e longa.

Muito longa.

— Você já notou? –

— O que? –

— Que isso vai durar somente mais alguns meses? Que ser popular em uma escola em uma cidade pequena não é porra nenhuma?

Santana ficou quieta do outro lado da linha e a loira pôde ouvir o motor do carro.

— Acho que todos já notaram, mas como somos adolescentes burros e fracassados como tudo nessa cidade, acho que eles se contentam com isso. –

— Eu não quero me contentar com isso. –

— Nem eu. –

— Eu quero conquistar o mundo. –

— Eu quero conquistar essa sua cara de idiota, do que você está falando? –

Quinn sorriu, fechando os olhos.

— Dos meus sonhos e paixões, eu não quero deixar escapar. –

— Merda Quinn, você está mesmo levando essa conversa a sério? –

— Você não queria conversar? Pois então. – A loira deu de ombros. – Não estou me importando com muita coisa nesse momento. –

— Nem eu, e quer saber? – A voz de Santana aumentou. – Eu queria só esquecer toda essa merda e ser quem eu sou de verdade. –

— E quem você é Santana? – Quinn murmurou de forma distraída.

— Uma pessoa boa. –

Ao ouvir um certo barulho atrás de si a loira olhou para atrás, observando o carro de Santana parar não muito perto do seu e uma certa latina com pijamas descer de lá.

— Você veio de pijama? – Zombou a loira.

— Cale a boca. – A morena tirou três garrafas de vodka do carro e jogou uma em direção a Quinn, que deixou o vinho de lado e abriu o objeto transparente com facilidade. – Eu quero contar uma coisa para você. –

Quinn resmungou uma pergunta enquanto tinha seus lábios no gargalo da garrafa.

— Eu sou gay. –

Quinn engasgou.

— O que? – Tossiu.

— Eu sou gay. – Santana repetiu, olhando para o céu, da mesma maneira que Quinn fizera não muitos momentos antes. – E eu sou completamente apaixonada pela Brittany. –

Então, tudo fez sentido diante das palavras de Santana.

— Eu sou gay também. – Quinn confessou.

A risada de Santana reverberou pelo lugar deserto, alta e divertida.

— Não me foda. – Brincou, os olhos brilhando.

A loira revirou os olhos, as mãos se contorcendo sobre o vestido amarelo florido.

— E quem fez você sair do armário? –

— A Berry. – Ao dizer o sobrenome, Quinn tomou um longo gole da bebida forte.

Santana começou a rir novamente.

— Isso talvez tenha influência pelo fato de você ter começado a rezar da última vez que Finn tentou transar com você? –

— Isso não tem ligação nenhuma. – Quinn desviou os olhos, denunciando a mentira.

Santana somente suspirou, um sorriso brotando sobre seus lábios.

— É mais libertador do que eu imaginava. –

— Sair do armário? –

Santana assentiu, fechando os olhos enquanto se deitava sobre o capô do carro.

— Não incomoda o fato de você não ser perfeita? –

A latina abriu os olhos, confusa.

— De você não superar as expectativas de seus pais? –

A latina entrelaçou suas mãos e Quinn franziu o cenho, observando o rosto pensativo da melhor amiga.

— Eu só quero superar as minhas próprias expectativas. –

***

— Quinnie, querida, você está ótima! – Judy passou suas mãos pelo rosto vazio de falhas da filha. – Seu pai vai se orgulhar. – Piscou, Quinn sorriu de lado, enquanto era puxada para a sala de jantar.

— É só um jantar mamãe. – Revirou os olhos, enquanto se sentava frente a mesa, as mãos delicadas se contorcendo em uma ansiedade contida.

— É uma noite especial, vamos conhecer Finn. – Bateu palminhas em felicidade, a loira mais nova forçou um sorriso. – Vocês estão namorando a meses e ele nunca veio nos visitar. –

Quinn tombou a cabeça para o lado quando ouviu a campainha tocar e a mãe, com toda a sua empolgação característica, foi atende-la.

Olhando sobre os ombros Finn e sua mãe se cumprimentarem de forma constrangida e feliz, somente suspirou.

Precisava, precisava ser perfeita.

— Ei Quinn. – Finn sorriu ao vê-la, andando de forma rápida em sua direção.

Se levantando da mesa, a loira abriu os braços de forma tímida enquanto sentia os braços grandes demais de Finn circularem sua cintura e a abraçarem de forma forte.

Ele era carinhoso e aconchegante.

Mas ele não era carismático como Rachel, crítico como Rachel, zeloso como Rachel.

Ele não era Rachel.

A porta da frente novamente bateu e dessa vez, Russel Fabray atravessava a porta, os olhos cansados e levemente vazios, ele sorriu da melhor maneira que pôde.

— Ei baby. – Sussurrou, dando um beijo no rosto de Judy, seus olhos parando em Finn. – Finn Hudson? – Sorriu, estendendo a mão para o garoto, que estufou o peito de forma orgulhosa.

— Namorado de Quinn, senhor. –

Os olhos da loira foram de um para outro, seus pensamentos viajando em um mundo paralelo, onde conseguia sentir as mãos de Rachel entrelaçada com a sua, como se pedisse força.

Como se ela merecesse qualquer tipo de amor.

Se sentindo sem fome, Quinn ficou as últimas horas brincando com a comida enquanto escutava, de forma distraída, Russel conversar com Finn exclusivamente, seus planos para o futuro, o tipo de faculdade que faria, se ele sairia do país.

Como se o futuro de Quinn dependesse do homem que ela ficaria.

— Quinn quer ser médica ou advogada, nós ainda não decidimos. –

A fala chamou atenção da loira.

— Papai. – Falando pela primeira vez, chamou a atenção do homem, que franziu o cenho. – Eu, uh.... – Pigarreou. – Eu quero ser fotógrafa. –

Russel sorriu, os lábios se contorcendo em nojo.

— Já conversamos sobre isso. –

Algo borbulhou dentro do seu peito, querendo sair, querendo rasgar cada canto de sua imperfeição, querendo gritar.

— Eu estou decidida. –

— Quinn, você não tem idade para decidir nada da sua vida ainda, sim? – Judy sorriu de forma gentil para ela, os olhos convictos.

— Pois então, é minha vida, é algo lógico que eu decida o que fazer. –

— Não é sua escolha. –

— Mas é claro que é! – Exclamou.

O punho de Russel bateu contra a mesa, causando um estrondo, fazendo com que não somente Quinn, mas Judy e Finn encolhessem os ombros.

— Não vamos conversar sobre isso aqui. –

Os olhos avelãs do pai desafiaram os da filha.

Gênios tão iguais. Mas personalidades tão diferentes.

— É sobre a minha vida que estamos falando, eu tenho direito de opinar. –

— Eu repito o que sua mãe disse antes, você não tem idade para decidir coisa alguma. –

— Você não....

— Lucy Quinn Fabray! – Gritou Russel. – Eu disse não! –

Lucy. Lucy. Lucy.

Ela odiava que os chamasse com esse nome.

Trazia tantas sensações ruins que ela poderia perder todo o ar de seus pulmões.

— Quinn, seu pai tem razão, digo, médica ou advogada, não é tão ruim de qualquer forma. – Finn sorriu de forma nada convincente, por de trás de seus olhos era possível ver o receio que aquela situação lhe causava.

Seus ombros decaíram e seus olhos circularam a mesa. Sua mãe ignorava a briga, dando eventuais olhares para o vazio, seu pai tinha a respiração pesada, as mãos em punho, raiva transpassando cada poro de seu corpo e Finn somente a encarava, como se pedisse para concordar com aquilo tudo e fizesse com que Russel se acalmasse.

Mas ela não conseguia.

Não conseguia mais entregar seus próprios sonhos em algo vazio e sem sentido, sem qualquer expectativa de dar certo.

Ela já reprimia tantas coisas, já lutava contra tantas coisas.

— Você não vai decidir isso também, não vai controlar minha vida desse jeito. –

— Eu não estou controlando coisa alguma, estou querendo cuidar de você. –

As suas mãos tremeram por cima da mesa e ela comprimiu seus lábios.

— Estou cansada. – Murmurou, levantando-se. – Vou me retirar mais cedo hoje. –

As mãos de Finn se puseram sobre a sua.

— Está tudo bem? –

Os olhos avelãs pareciam duas orbes furiosas e frustradas, jorrando palavras e confissões que ela nunca poderia proferir.

— Nos vemos amanhã na escola. – Com um aceno de cabeça, Quinn deixou o recinto com passadas longas e rápidas.

Quando finalmente chegou ao seu quarto, Quinn soltou uma respiração pesada, como se não estivesse respirando durante todo aquele tempo.

Exasperada, passou suas mãos sobre o rosto.

Perfeita. Perfeita.

Não muito tempo depois de sua entrada no quarto, ela conseguiu ver passos na escada, denunciando a presença de Russel Fabray.

— Você me decepcionou hoje Lucy. –

A loira não se virou para encarar o pai.

— Finn é um bom rapaz no final das contas, eu o aprovo. – Russel assentiu.

— Você não precisa aprovar nada. – A voz de Quinn soara baixa e murmurada. – Se eu gosto ou não de Finn....

— Não discuta comigo Lucy...

— Pare de me chamar desse jeito. – O seu tom de voz se elevou e ela se virou para encarar o homem que lhe provocara tanto rancor. –

Russel bufou, se aproximando da filha.

— Você não deixa as coisas mais fáceis. –

— Por que você não me deixa escolher! Essas.... Essas ideias absurdas que eu devo seguir qualquer opinião que o senhor tenha....

— Não fale comigo desse jeito Lucy....

— Por que nem sempre você está certo! Eu preciso do meu espaço e não quero ouvir se você aprova qualquer coisa que eu faça! – Quinn já começava a gritar.

— Lucy... –

— Eu já disse para não me chamar desse jeito! – Gritou com toda as forças de seus pulmões.

Um estalo.

O rosto de Quinn congelou com o choque violento, virando-se para o lado de forma involuntária.

— Repense seus atos e depois venha falar comigo, Lucy. –

A respiração de Quinn engatou, para logo depois ficar ofegante.

As suas mãos formaram punhos e ela fechou os olhos com força, comprimindo toda a raiva que guardava dentro do seu peito.

Quando Russel, vulgo seu pai, saiu do quarto, Quinn somente deixou seu corpo desabar no chão.

Mas ela não chorou.

Ela se impediu de chorar.

Não iria chorar, não se permitiria jogar aquilo fora. Ela precisava de toda aquela raiva e ódio dentro dela mesma para lidar com todas essas coisas.

Se levantando, se aproximou do espelho dentro do banheiro, observando seu rosto alvo com uma grande mancha vermelha.

Cerrou os dentes e fechou os olhos com força, enquanto suas mãos apertavam a borda da pia até sentir seus dedos estalarem pela força.

Seus olhos se focaram nas pílulas para peso na lateral da pia, suas mãos tateando a caixinha de plástico.

Mas não as usaria. Não daquela vez.

Ela provaria que poderia fazer suas próprias escolhas.


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Notas finais do capítulo

Não sei se isso vai levar a algum lugar ou se tem gente que está gostando, mas está ai o segundo capítulo u-u
Me digam o que vocês gostariam de ver aqui, que caminhos Quinn deveria tomar.