Paradigma escrita por Any


Capítulo 1
Paradigma


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem ^^



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Aparência.

Aparência é algo essencial em tudo o que nós fazemos. Tudo de baseia sobre isso.

Nossos relacionamentos, nossas responsabilidades. Qualquer coisa.

O fato de você ter um corpo perfeito, um sorriso cativante ou cabelos brilhosos é a única coisa que importa para os outros.

Ninguém se importa com personalidade e sentimentos.

Tudo parece tão vazio e oco.

Por que ninguém vai amar alguém feio.

Ninguém vai amar você se seus olhos forem pequenos ou grandes demais, se seu nariz for achatado ou empinado demais, se seus lábios forem finos ou se seu rosto é cheio de sardas.

Quinn aprendeu isso desde o princípio. O quanto as pessoas poderiam ser cruéis, o quanto somente a casca importava.

Ninguém a parabenizou por começar a ler aos três anos, por tirar as maiores notas da escola por cinco anos consecutivos, por sua personalidade fácil e aberta, por sua sensibilidade pelas dores dos outros.

Faça exercícios e tome essas pílulas. Aprenda a se maquiar e a se vestir.

Ela, aos poucos, foi sendo puxada pelo mundo de aparências.

Gradativamente e dolorosamente.

Faça plástica nesse nariz e rosto, estão horríveis!

Tudo era tão.... Maçante, como se o peso do mundo fosse colocado em cima de suas costas, como se suas mãos estivessem quebradas de tanto segurar seu ódio e seus olhos desmanchando-se sobre seu próprio rosto de tantos choros contidos.

— Querida, bom dia. – O sorriso de Judy Fabray era agradável, cheio de amor que Quinn sabia que era somente aparência.

Ela amava como Quinn parecia, não o que ela era.

— Mamãe. – Assentiu com um nítido respeito. Ela bem sabia o quanto educação era importante para a progenitora. – Onde papai está? –

— Não se preocupe com ele. – Balançou as mãos em descaso, ainda arrumando a posição dos alimentos jazidos na mesa, suas mãos tão delicadas partiam suavemente de um recipiente a um prato. – Ás coisas estão.... Complicadas. – Levantou os olhos avelãs iguais aos da filha, observando quando a mesma terminava de descer o restante das escadas e se dirigia em direção a mesa do café da manhã.

Com um dar de ombros, sem querer mais detalhes, Quinn somente assentiu enquanto pegava uma torrada, uma maçã e dava um gole em seu copo de suco de laranja.

— Preciso ir. – Murmurou. – Vejo você de tarde. –

— Oh? Pensei que teria sua companhia, já que seu pai não está....

— Sinto muito mãe, mas Sue quer as líderes de torcida uma hora antes na escola para conseguirmos o campo todo para nós. – Encolheu os ombros enquanto passava pelo corredor que dava a sala, logo em frente, a saída da casa.

— Entendo. – Judy sorriu, os lábios se esticando de forma forçada.

Quinn assentiu, suas mãos indo em direção a maçaneta.

— Quinn? –

Seu rosto se virou em direção a mãe.

Judy Frabray realmente tinha orgulho de sua filha, de seus cabelos loiros tão brilhosos e suaves, de seus olhos verdes avelãs, de seu nariz tão perfeito quanto o resto da composição de seu rosto, do corpo magro, do uniforme vermelho e branco das líderes de torcida.

— Tomou seus remédios hoje? –

Os dedos apertaram fortemente contra a palma.

Quinn sorriu, ignorando a dor.

— Claro, estou indo. –

Bateu a porta de forma suave, respirou o ar matinal, se vendo livre de sua própria mãe.

***

McKinley estava vazio quando Quinn chegou, estacionando na sua vaga especial, ela saiu do carro com passos lentos e longos, ansiosa para retardar tanto quanto possível a sua entrada.

— Quinn! É realmente uma surpresa ver você tão cedo! –

A atenção da loira desviou-se para certa adolescente baixinha ao seu lado.

Rachel Berry estava com seu melhor sorriso direcionado a ela, abraçada aos seus livros ela parecia tão.... Adorável.

— Berry. – Resmungou o nome de forma desgostosa. – O que está fazendo aqui? –

Parecendo feliz pela pergunta de Quinn, Rachel sorriu ainda mais – como se fosse possível –.

— Estou organizando algumas partituras para a nossa nova atividade no Glee. – Murmurou. – E como sou líder daquele clube quis me adiantar em algumas horas, você sabe como eu sou, uma pessoa responsável, logo eu teria que ter todas essas músicas organizadas....

Monólogos, eles nunca foram tão adoráveis.

Rachel Berry era adorável.

— Eu não estava me referindo a isso. – Rosnou, fazendo com que Rachel ficasse quieta. – O que você está fazendo aqui, me infernizando? –

Os ombros da cantora encolheram.

— Saia do meu caminho, aberração. – Empurrou os ombros da menor, continuando sua caminhada em direção ao campo, se arrependendo de não ter ficado por mais tempo e ter escutado Rachel.

Ela seria capaz de escuta-la para sempre.

— Vamos, vamos Quinn! – A líder de torcida torceu o rosto ao ouvir a voz da treinadora sobre o megafone. – Você está a três minutos atrasada! –

Chegando finalmente no campo, observou que a não ser ela, Sue era a única que tinha chego para o treinamento.

— Onde estão todas? –

— Elas acham isso duro.... Mas sabe o que realmente é duro? Dançar Macarena ao contrário enquanto come Nachos apimentados! – Apontou o dedo indicador em sua direção, como se a culpa do time das Cheerios não terem chego era culpa dela. –

— Sue....-

— Incompetentes! – Jogou o megafone no chão. – Completamente! –

 - Elas provavelmente estão chegando. – Murmurou Quinn, enquanto sentia sua cabeça doer.

A todo momento, a qualquer situação, sua cabeça parecia explodir.

Sue somente ignorou suas palavras, saindo batendo os pés.

Quinn tirou seu celular da bolsa, discando um número já decorado por ela.

— Alô? – A voz soara rouca e cansada.

— Santana, a onde você está? – A voz de Quinn soara doce, o que fez com que a latina do outro lado da linha acordasse imediatamente.

— Uh.... Em casa? –

Quinn deu um sorriso desacreditado.

— Eu quero você aqui em quinze minutos. – Sussurrou. – E não ouse demorar. – A sua voz saíra fria, sem espaço para dúvidas.

Com um suspiro cansado, Quinn somente olhou ao redor, para o campo deserto, desejando ter se atrasado também.

Seus olhos pararam nas arquibancadas, onde Rachel Berry estava sentada, vestida com uma saia quadriculada, uma blusa branca de botões e um casaco fino amarelo, era evidente o quanto o seu senso de moda era duvidoso.

Seus olhos castanhos estavam concentrados nos cadernos em seu colo, mordendo seus lábios a testa franzida e vez ou outra ajeitava seus cabelos lisos para atrás da orelha.

Como alguém tão imperfeita, poderia ser tão bela aos seus olhos?

Rachel não se vestia bem, não tinha um rosto perfeito – especialmente seu nariz levemente grande – e muito menos tinha uma educação impecável.

Era ela só.... Ela.

A futura estrela da Broadway que todos duvidavam.

Ajeitando seu uniforme, Quinn desviou seus olhos da garota, se repreendendo pelos tipos de pensamento em que estava tendo.

Não podia pensar ou desejar aquilo, era errado.

Tão errado.

Errado.

As coisas não funcionavam daquele jeito, ela era uma garota e Rachel também era uma, as coisas simplesmente não podiam acontecer.

Era errado.

Ela não podia, não podia, não podia sentir aquilo.

Esse sentimento.... Tinha que desaparecer.

Os olhos avelãs fixaram-se novamente na judia, acariciando mentalmente a maçã do rosto de Rachel, os dedos circulando os lábios cheios, o seu sorriso....

A respiração de Quinn engatou.

Ela precisava sair dali.

Por que ela não poderia confessar para si mesma que estava apaixonada por uma garota.

***

A vida nunca foi justa.

Nem  sequer em um mísero momento.

As coisas boas sempre vieram recheadas de choros, torturas psicológicas e pressão.

Tudo tão horrível.

Talvez por isso gostasse tanto do Glee, ás coisas lá eram simples e a faziam se sentir confortável. Lá, ela ficava ao lado de pessoas tão diferentes, ela lidava com coisas tão mais realistas do que vivia em sua própria roda familiar.

Sentando-se confortavelmente no fundo da sala ao lado de Santana e Brittany como normalmente, somente acompanhou a entrada do resto dos membros do clube com os olhos, esperando certa judia entrar saltitante, com um sorriso animado e com inúmeras partituras em seus braços.

Mas isso não aconteceu.

— Quinn. – Escutou a voz da latina de seu lado esquerdo e olhou de soslaio para os olhos negros. – Você ouviu? –

— Ouvi? – Tombou a cabeça para o lado, observando Mr Schuester chegando, ao mesmo tempo que arrumava sua gravata e alisava seus cabelos cacheados. – O que aconteceu Santana? –

— Kurt Hummel saiu do armário Quinn. – Brittany sorriu para Quinn, como se aquilo fosse uma notícia completamente normal em uma segunda de manhã. – Parece que ele gosta de garotos afinal, talvez seja por isso que ele negou meus beijos na semana passada, digo, ele parecia um unicórnio tão desejosamente fofo. – Suspirou, piscando de forma sonhadora.  Santana arqueou uma sobrancelha para ela, questionadora.

— Gay? – Quinn sussurrou, sentindo suas mãos soarem. – Quando.... Quando isso aconteceu? –

— Hoje de manhã. – Santana sorriu para ela. – Um prato cheio para babacas como seu namorado, o quanto você duvida que ele não voltará para casa com as próprias pernas? –

— Finn não faria isso. –

— Eu não quero ver as consequências dessa merda. – Santana desviou os olhos. – Quero me manter longe de aberrações como ele. –

Medo perpassou pelos olhos negros e Quinn não entendeu.

Não entendeu que ela e Santana estavam passando a mesma situação.

Quinn sentiu o bater de seu coração, sentiu o sangue circulando por cada canto de seu corpo, sentiu sua respiração acelerar e o os batimentos a deixarem surda para qualquer outra coisa.

Um, dois. Um dois.

Aberração. Aberração. Aberração.

Você irá apodrecer sobre seus próprios sentimentos doentios. Vai queimar enquanto deseja algo que não deveria.

Aberração.

Quinn se levantou em um rompante.

— Quinn, algum problema? –

— Não estou me sentindo bem senhor Schue, eu poderia me retirar? – Se negava a olhar para qualquer pessoa, sentindo o medo corroendo cada parte de seus pensamentos ao imaginar o julgamento nos olhos de cada um deles, de cada pessoa distribuída naquela pequena sala de coral.

— Claro Quinn, sem problemas. – O professor assentiu, prestativo. – Devo me preocupar? –

Com um aceno negativo e nada convincente, a garota loira somente saiu da sala, deixando confusão por trás de seus ombros.

Com os olhos nublados, Quinn serpenteou entre os corredores.

Não demorou muito e encontrou Kurt Hummel.

Mas, como imaginara, ele não estava sozinho.

Encolhido sobre os armários, quatro a cinco jogadores de futebol circulavam seu pequeno corpo inofensivo, enquanto era maltratado por palavras e eventuais socos e pesco tapas.

Levantando seu queixo e colocando suas mãos sobre a sua cintura fina, Quinn, com toda a coragem que não tinha e toda a confiança mascarada, se aproximou.

— Quinn, ei, que bom que chegou. – Azimio arrumou sua jaqueta vermelha e sorriu de lado para a garota loira. – Estávamos dando uma lição nele, você quer participar? –

Quinn fixou seus olhos avelãs para o garoto magricela. E mesmo por trás das lágrimas e do rosto sofrido por somente ter aceitado uma grande parte de si, ela conseguiu ver a coragem que rodeava seus olhos azuis, conseguiu ver algo que ela nunca conseguiria ter.

Ele tinha orgulho de ser quem era.

— Eu vou dar uma lição eu mesma nele. – Sussurrou, dando um sorriso intimidador. – Talvez, ele vire um homem de verdade, não é Kurt? – Acariciou o rosto de Kurt, que somente desviou de seu toque. – Vamos. – Puxou seu braço de forma brusca.

— O que? Vai fazer isso sozinha? – Karofsky cruzou os braços, parecendo realmente decepcionado. – E quanto a nós? –

— Vocês somente começam quando eu terminar. – Apertou de forma mais forte o pulso de Kurt. – Vamos. – Rosnou para o garoto, deixando os dois adolescentes para atrás.

Quinn e Kurt caminharam até o banheiro vazio das Cheerleaders, a loira batendo com força na porta ao abri-la.

A loira encarou Kurt logo depois de trancar a porta.

— Olha Quinn, isso é completamente desnecessário. – Kurt começou a falar ao ver que Quinn se aproximava perigosamente dele. – Ás coisas não precisam ser assim, só esqueça completamente que eu existo....

Um tapa.

Kurt olhou incrédulo para Quinn, as mãos pressionadas no rosto.

— Você vai se manter longe daqueles idiotas do time de futebol. – Quinn empurrou Kurt para a parede, os olhos intensos. –

Kurt franziu o cenho, o rosto marcado pelas mãos macias da loira, a mente em total confusão

Quinn lhe deu algo.

— Aqui, justificativas para faltas. – A loira lhe entregou no total sete papéis. –

— Como.... O que é isso? –

— Sue conseguiu isso para as líderes de torcida para que a maioria tenha um histórico de faltas perfeito, isso impede com que Figgins ou qualquer outro professor marque sua ausência. –

— Por que está fazendo isso Quinn? –

— Estou só dando alguns dias de folga. – A loira desviou seus olhos do garoto. – Só até todos se acostumarem...

Ninguém iria se acostumar, Kurt nunca mais se veria em paz.

Mas era isso que Quinn conseguiria fazer, nada mais.

Ela não poderia fazer mais nada para seu orgulho ferido.

— Obrigado.... – Kurt assentiu. – Muito obrigado. – Assentiu mais vezes, o rosto machucado sorrindo para ela.

— Só.... Não diga nada a ninguém, certo? –


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Notas finais do capítulo

Me desculpem os erros ^^
Eu continuo?



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