O Olho do Inferno escrita por Tori Veiga


Capítulo 3
Capítulo 2




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— Um whisky duplo para mim. – um senhor grisalho e com um bigode completamente branco me tirou de outro dos meus devaneios psico-religiosos. Eu estava tendo muitos deles ultimamente.

— É pra já Bob. – sorri, servindo seu pedido e largando no balcão do bar. – Como vai sua família, cowboy?

— O de sempre, - bebeu todo o conteúdo em um gole só. – Meg continua dizendo que preciso de uma esposa, mas eu já falei para ela que você não está disponível. – riu e apontou para o copo vazio que voltei a encher.

— Você vai ter que beber mais do que isso para se casar comigo, forasteiro. – brinquei e sai, o ouvindo soltar uma gargalhada.

Limpei minhas mãos no avental velho e amarelado que usava, contando os minutos para o fim de meu expediente, eu estava exausta e precisava de um banho urgente. Passei um pano em uma extremidade do balcão onde um casal acabara de sair e ouvi o velho ranger da porta frontal do bar se abrindo. Olhando em direção a mesma, vi um par de olhos claros fitando-me, mas não eram apenas os olhos que chamavam minha atenção, o corpo todo. Moreno, alto e de porte atlético, sério e com um ar misterioso. Olhei em volta, porém ninguém notava sua presença. Em que mundo estamos que um homem como esse não se faz notar? Enfim, ele caminhou lentamente até o bar e sentou-se bem a minha frente. Dei-lhe meu melhor sorriso e perguntei.

— O que seria para o cavalheiro? – escorei-me para que pudesse ver o decote profundo de minha blusa, porém ele permanecia me olhando nos olhos, com tamanha intensidade que me deixava constrangida.

— Preciso falar com você. – sussurrou. – Em particular.

— Claro, - sorri maliciosa. – saio em trinta minut...- fui interrompida por uma puxada forte, olhei para o lado e vi a autora do puxão que me afastou do homem mais bonito que já vira em minha vida. Samantha, outra colega de trabalho, que me olhava preocupada.

— Você está bem? – sussurrou olhando ao redor.

— Claro que estou, - sorri, contendo a raiva. – por quê?

— Você estava falando sozinha.

— Não, eu estava falando com... – virei-me apontando para onde deveria estar o misterioso homem, porém não havia ninguém lá. – ele. – sussurrei incrédula. – Merda! – arranquei o avental e pulei o balcão. – Eu não estou ficando doida. – gritei saindo do bar.

Eu não poderia estar ficando doente outra vez, não. Eu o vi. Tinha certeza. Não poderia voltar a tomar aqueles remédios ou passar outra temporada em uma “clínica de reabilitação”, vulgo sanatório. Precisava provar minha sanidade.

Já no frio da rua, procurei em todos os lugares, contudo nada, nenhum sinal de um homem alto e moreno. Perguntei a alguns vagantes, mas ninguém o havia visto. Eu não podia estar ficando louca, eu o vi, eu senti seu cheiro, o calor emanando de seu corpo era quase que palpável, ele é real. Sem chances de meu cérebro criar um ser tão perfeito.

Corri pela calçada buscando por ele, é estranho pensar que sai em busca de um desconhecido, mas era a única prova de minha sanidade mental e eu precisava encontrá-lo.

Enquanto passava por um beco atrás do bar, ouvi gemidos de dor e alguns sons estranhos, sons que eu conhecia de sonhos, sonhos não, pesadelos. Caminhei lentamente em direção aos ruídos e me escondi atrás de uma caçamba de lixo. Eram vozes, duas ou três, não soube distinguir bem, apenas escutei o que diziam.

— Onde a garota está? – perguntou a primeira voz, grave e levemente rouca. – Eu perguntei onde ela está, maldito empregadinho de Deus? – e depois de um estouro, mais gemidos nasceram no silêncio do entardecer.

— Ele não irá dizer. Precisamos fazer algo mais... divertido. – uma segunda voz, mais aguda e irritante, como a de uma menininha manhosa, sussurrou. – Eu adoraria ter um par de asas de um anjo sagrado. – ouvi palmas.

Que tipo de ritual macabro estava acontecendo aqui? Estavam torturando um pobre homem, eles queriam suas asas? Como assim? Aquilo estava ficando cada vez mais doido. Já estava começando a acreditar que remédios eram a melhor saída para mim.

— Vá em frente Lillith[1], arranque minhas asas, sua vadia dos infernos. – cuspiu uma voz fraca, provavelmente pela dor. Mas aquela voz, eu a conhecia, o homem do bar. – Azazel[2],  não vai obedecer a putinha de Lúcifer[3]? Vamos lá, arranque minhas asas. Eu nunca direi nada, cumpro juramentos feitos a Deus, irmão.

— Cala a boca, Zacariel. – outro estrondo e gemidos de dor. – Anjos não são tão puros como tentam ser. Você sabe disso, convive com aqueles ratinhos que só esperam um deslize para tentar o mesmo que Lúcifer.

Lillith, Azazel, Lúcifer, Zacariel, eu conheço isso, essas palavras, isso já aconteceu antes, e em um déjà vu voltei aos meus sonhos. Anjos com enormes asas recitando frases em latim, enquanto pessoas com olhos completamente tomados de um negro assustador, amarradas em círculos com pentagramas e outros desenhos se contorciam e gritavam. E de repente eu sabia o que fazer para ajudar aquele homem o tal Zacariel. Sorri me sentindo vitoriosa, mas fui arrancada do déjà vu com um relâmpago e gritos estridentes. Corri para onde estavam e comecei a falar, torcendo para dar certo.

Exorcizamus te omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incursio infernalis adversarii, omnis legio, omnis congregatio et sacta diabolica. – olhando para eles, parecia que nada acontecia, apenas me observavam sorrindo, uma mulher loura e extremamente bonita e um homem velho, raquítico e aparentemente cansado. – Ergo, draco maledicte. Ecclesiam tuam securi tibi facias libertate servire, Te rogamus. – ambos caíram de joelhos ao chão, me fazendo sorrir. – Audi nos[4].  – e os dois corpos explodiram bem a minha frente, me sujando de sangue e vísceras. – Meu Deus. – sussurrei tentando, em vão limpar meu rosto. – Eu estou muito fudida.

[1]Foi uma deusa adorada na Mesopotâmia associado com ventos e tempestades e que se imaginava ser um portador de doenças, enfermidade e morte. Lilith aparece como um demônio noturno na crença tradicional judaica como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo que em uma passagem (Patai 81: 455f) ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. Esta afirmação de que Lilith foi a predecessora de Eva, no entanto, surge apenas pela primeira vez no Alfabeto de Ben-Sira composto por volta do Século VII, sendo que nunca antes havido existido esta conexão a Adão e Eva nem tampouco à Criação.

[2] É o nome atribuído a um anjo, que seria encarregado da tarefa de levantar as faltas humanas e as enumerar perante o Tribunal Divino, durante o julgamento anual da humanidade. É, por outro lado, uma figura misteriosa, que aparece por três vezes na Bíblia Hebraica, relacionado expressamente com o ritual do Yom Kipur, quando, na época do Templo de Jerusalém, um bode era sacrificado para o Criador e outro era ofertado a Azazel, sendo este último animal encaminhado ao deserto. Algumas fontes afirmam ser um dos anjos que caíram com Lúcifer no inferno. 

[3] De acordo com São Jerônimo, Lúcifer era o nome do principal anjo caído, e seu nome em hebraico, helel, é derivado do verbo lamentar, pois ele lamenta a sua queda e a perda do seu brilho. Esta visão prevaleceu entre os Padres da Igreja, de forma que Lúcifer não fosse o nome próprio do diabo, mas apenas o seu estado anterior à queda.

[4] Exorcismo Romano, do Papa Leão XIII - Padre Jonas Abib, Forte oração de libertação contra os espíritos malignos. (tradução: Te exorcizamos, todo espírito imundo, toda potência satânica, toda incursão do adversário infernal, toda legião, toda congregação ou seita diabólica, pelo Nome e virtude de Nosso Senhor, Jesus Cristo, desprenda-te e fuja da Igreja de Deus, das almas criadas à imagem de Deus e redimidas pelo precioso sangue do Divino Cordeiro. i. Não te atrevas mais, Serpente de fogo, enganar o gênero humano, ou perseguir a Igreja de Deus, espreitar os eleitos de Deus ou joierá-los como trigo.  Te ordena Deus Altíssimo, aquele a quem te julgas semelhante em tua soberba até agora; que a todos os homens deseja salvar e levar ao conhecimento da Verdade (Timóteo II). Te ordena Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Te ordena a majestade de Cristo, Verbo eterno de Deus, que se fez carne para a salvação do nosso gênero perdido pela tua inveja, que humilhou a si mesmo e se fez obediente até a morte (Filipenses I, XI); que edificou Sua Igreja sobre a firme rocha, garantindo que as portas do Inferno jamais prevaleceriam contra ela, com ela permanecendo por todos os dias até a consumação dos séculos (Mateus, XXVIII, 20). Te ordena o Sacramento da Cruz e toda a vortude dos Mistérios da Fé Cristã. Te ordena a excelsa Mãe de Deus, a Virgem Maria, cuja Imaculada Concepção, em sua humildade, desde o primeiro instante, esmagou tua orgulhosíssima cabeça. Te ordena a Fé dos santos Apóstolos Pedro e Paulo e dos demais discípulos. Te ordena o sangue dos Mártires, bem como a pia intercessão de todos os Santos e Santas.)


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