A Fortaleza das Feras - Livro 01 (Caos e Ruína) escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 2
Capítulo 1 - Sora


Notas iniciais do capítulo

Prestem atenção no mapa do capítulo anterior ;)



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Forte da Caveira

A figura amarrada quase sorriu sombria, enquanto o homem caminhava ao seu redor. Fazia algumas horas que ela fingira ser um ladrão, que tentara roubar um dos depósitos de ópio que o Mercador mantinha. Somente para poder vasculhar cada entranha daquelas docas sombrias do Forte da Caveira, e descobrir que havia muito mais coisas erradas do que haviam lhe contado.

Então deixou-se ser pega, arrastada até outro depósito escondido e amarrada pelas sentinelas do Mercador.

Mercador, era assim que chamavam o responsável por coordenar o Mercado Nebuloso, uma pequena vila que formava o Forte da Caveira, a beira do Rio Shira e próxima a grande cidade de Porto Livre. O mercado tratava-se de um local onde era possível encontrar qualquer coisa. Absolutamente tudo. Lícito ou ilícito, a maior rede de comércio e negociação que existia em Sidgar. No entanto, nos últimos meses o tráfico de ópio havia chamado atenção demais, o que incomodara o lorde do Forte da Caveira, e, portanto, ele optou por contratar os serviços da Fortaleza das Feras para dar um jeito no pequeno problema que surgira ali. Mas existia muito mais do que havia contado, além de ópio, dentro das docas existiam locais específicos onde contrabandeavam pessoas.

Escravos, dezenas e dezenas deles, indivíduos de outras terras, que sequer falavam o idioma local. Era muito pior do que drogas, era muito mais cruel. E o lorde responsável por Forte da Caveira havia se indignado com isso, e, portanto, colocara a cabeça do Mercador em jogo. A guerreira bem que suspeitara quando recebera a missão, afinal, matar o Mercador apenas por que ele estava contrabandeando ópio? Aquilo sempre aconteceu, e nunca haviam se incomodado.

Conhecia bem o suficiente aquela região, para declarar com certeza aquele pequeno detalhe.

Todavia, para a satisfação de Sora Hill, ela e sua equipe haviam sido enviados para tal missão. A jovem guerreira estava satisfeita por tal feito, e pela possibilidade de uma incumbência mais emocionante.

 ― Diga-me, qual o seu nome? ― O bafo de cigarro do homem a sua frente era forte, Sora podia sentir, mesmo estando relativamente afastada. Ele era uma típica sentinela do Mercador. Nojento de vários aspectos, em torno de trinta a quarenta anos, bruto e um tanto quanto burro.

Em resposta, Sora permaneceu em silêncio. Os olhos verdes e felinos encarando a sentinela. Ela era uma figura emblemática, de fato. Cabelos longos e cinzentos, incomuns para um humano trivial. Embora seus vinte anos tivessem sido completados no final do último inverno. Tinha uma beleza excêntrica, traços herdados de sua mãe, que a fazia destacar-se fisicamente, e receber alguns bons apelidos, dignos para a sua fama.

― Você não fala? ― Em resposta, Sora deu de ombros, o homem, no entanto, irritou-se. ― E assim, você fala? ― Ele aproximou-se com um canivete, a lâmina encostando o rosto de Sora, quase cortando-o.

Ele era um tolo por ameaça-la de tal modo.

Então, após um minuto de silêncio, ela sorriu sombriamente:

― Eu não tentaria isso se fosse você. ― Sora respondeu simplesmente, e ela percebeu quando o homem hesitou, ponderando se estaria blefando ou não. A oportunidade perfeita para ela agir.

Antes que fizesse qualquer movimento, Sora atacou. Uma cabeçada que o fez cambalear para trás, depois um chute com os pés amarrados, para derrubá-lo no chão. Por fim, ela tateou a lâmina que havia escondido por baixo de sua manga e começou a cortar as cordas que prendiam suas mãos. Rápida e eficaz. Soltou-se antes que ele pudesse a impedir. E quando o homem se aproximou novamente para golpeá-la, a guerreira segurou o braço antes que encontrasse seu rosto, aproveitando para acertar outro chute e aproximando-se o suficiente para mais uma cabeçada.

O homem cambaleou para trás novamente e ela terminou de desamarrar os pés. Eram ingênuos demais por não prende-la adequadamente. Sora deixou-se sorrir satisfeita quando estava completamente livre. Havia se candidatado para tal tarefa, para adentrar o covil e estudá-lo enquanto seus companheiros aguardavam as informações que ela traria. A princípio, eles sabiam apenas que o Mercador estaria nos ringues de luta, mas precisavam de uma confirmação, e ela fora atrás de tal informação.

Sora desviou da pequena lâmina que o homem utilizou para ameaçá-la, então girou e acertou-lhe um chute, derrubando-o no chão. Ainda estava desarmada, haviam a revistado muito bem e retirado todas as lâminas que estavam escondidas em suas roupas. Precisaria pegar aquele canivete que o homem segurava firmemente, caso fosse necessário...

― Eu sei o que você veio fazer aqui. ― Ele arrastou-se para trás, Sora deu um passo afastando-se também, cambaleante o homem ficou de pé. ― Lorde Darthurin mandou você.

Merda.

Ele havia descoberto.

Tão rápido... Talvez não fosse a primeira tentativa do lorde de parar o tráfico de escravos, de bisbilhotar as docas e de tentar pegar o Mercador por causa de tal alarde. Era típico, a guerreira reconhecia, ainda mais quando aquele nome passara a dominar o território. Mas, ainda assim, Sora ponderou. Não poderia deixar passar aquela informação adiante, não quando arriscaria sua missão. Ela teria de silenciá-lo, por bem ou por mal.

Provavelmente por mal.

Era uma corrupção necessária na vida que escolhera viver, que fora obrigada aceitar para poder sobreviver.

O homem não se afastou quando ela deu um passo à frente, percebendo que ela também não hesitaria quando ele avançasse. Sora golpeou primeiro, acertando-lhe um soco, no entanto, o homem a empurrou contra a parede sólida, um baque forte de suas costas contra o cimento, ela gemeu de dor. Mas antes que ele desse outro golpe, Sora acertou-lhe uma joelhada no estômago, fazendo-o cambalear, ela aproveitou a oportunidade para desarmá-lo e acertar-lhe o nariz com o cotovelo.

Ágil e feroz ela o puxou pelo pescoço, sufocando-o com seu braço e o arrastando. O homem debateu-se, mas ela não soltou.

― Diga-me, onde o Mercador estará esta noite? ― Ela esperou, não houve nenhuma resposta em troca. Então apertou com mais força o abraço sufocante. ― Ele estará nos ringues, não é?

O homem não respondeu, mas foi o suficiente para confirmar a informação que ela e seus companheiros haviam coletado.

― Sabe que, assim como você não pretendia me soltar por aí, eu também não posso deixá-lo sair, ainda mais com todas essas informações que temos aqui. ― Ele se debateu, tentou soltar-se dos braços de Sora, mas ela não vacilou. ― Sinto muito.

Rápida e não tão limpa, ela usou o canivete para cortar a garganta do homem. Não poderia arriscar deixá-lo sair correndo e avisar os demais guardas do Mercador que ela estava ali, que eles estavam ali caçando.

O corpo cedeu e Sora soltou-o se engasgando no chão, sangue manchando suas mãos e suas roupas, criando uma poça ao redor do corpo inerte aos seus pés.

Era cruel, ela sabia.

Era cruel ter que tomar uma atitude como aquela, ter que decidir se ele deveria morrer ou viver. Mas era necessário.

Aquela corrupção era necessária para viver no mundo em que ela vivia, para sobreviver da forma que ela sobrevivia. Fazia parte do trabalho, e a guerreira sabia, bem no fundo, que se não fosse o cadáver dele, seria o dela jogado no chão daquela peça.

Talvez de uma forma bem mais cruel e bem mais suja que fizera.

Sora, ao menos, fora rápida e praticamente indolor.

Portanto, a guerreira correu para o outro lado, onde sua capa escura estava jogada no canto da parede, vestiu-a rapidamente e então saltou pela janela, adentrando a escuridão da noite pelo telhado.

Ela não viu quando os outros guardas encontraram o corpo abatido na poça de sangue no chão. Não ousou olhar para trás, não quando precisava encontrar seus companheiros para passar as informações que obtivera naquela noite.


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Notas finais do capítulo

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