Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 27
Closing time




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Eu sei quem eu quero que me leve para casa...

...

Acho que estou apaixonado.

E eu não ia falar sobre isso até poder falar com a Muriel, porque eu achei que fosse uma daquelas coisas que você precisa falar cara a cara ou não falar sobre nunca, mas eu não poderia simplesmente não transbordar isso agora, porque eu acho que vou esquecer o que senti, e tenho medo. Então, estou escrevendo, porque não quero esquecer.

Estou lendo As Vantagens de Ser Invisível, também, e talvez isso contribua para a urgência.

Como eu disse, acho que estou apaixonado.

Eu não quero falar o nome dela, mas preciso chamá-la de alguma coisa, então vou me referir a ela como Mar, porque ela tem esse gosto.

Eu a conheci em um evento, e nós conversamos um pouco, e ela não deixou uma impressão muito forte naquele dia, mas eu deixei meu amigo passar meu número mesmo assim. Temos conversado todo dia desde então. E ela é incrível.

Ela lê, canta, pensa, ama Harry Potter e se odeia. Prometi a mim mesmo que não a abandonaria até mudar essa última parte. E até agora, pensei que poderia cumprir a promessa.

Mas nós nos encontramos de novo três dias atrás. E nós nos beijamos. E demos uns amassos. E então ontem, de novo. E eu finalmente notei algo.

“Ace gostava da ideia de amar muito mais do que o próprio amar”.

Eu não sei se criei essa frase ou se simplesmente a li em algum lugar e fiquei com ela na cabeça. Eu sei que, se foi a segunda opção, não era sobre Ace, porque eu criei Ace. Mas você pode chamar Ace de Yurie se quiser, porque eu não posso evitar essa sensação.

Vê, eu realmente gosto da ideia de amar. Eu sonho acordado com isso muito mais do que deveria. Vejo meus pais e meus irmãos e eu só... Puta que pariu, eu quero isso. Eu quero esse carinho, esse olhar. Quero segurar a mão de alguém no cinema, dormir de conchinha e ter a cabeça de alguém escondida no meu pescoço, e eu quero poder acordar com um braço ao redor da cintura de alguém e os acordar chamando “amor?”.

Eu quero me apaixonar.

Mas quando eu estou, não consigo aproveitar. Eu fujo. Meio que me assusto, acho.

Talvez seja culpa da Heloísa. Talvez seja minha. Talvez não seja de ninguém e eu só nasci assim. Defeituoso.

Talvez eu só seja assexual, mas então, eu me masturbo o tempo todo. E às vezes o Lucas realmente me anima. Então, qual é a porra do meu problema?

Por que eu não posso simplesmente gostar de estar com ela do mesmo jeito que gosto de estar com ele? Por que eu não posso gostar de segurá-lo como eu gosto de segurá-la?

Foi um puta problema para me aceitar como Poliamoroso, e agora eu só... Eu tenho outro rótulo para entender? Ok, talvez eu não tenha que encontra um rótulo propriamente dito, talvez eu possa só jogar um “foda-se, eu sou humano” na minha testa e deixá-lo lá, mas eu tenho que contar a ela algo sobre minha crise silenciosa, e preciso saber o quê.

Eu não posso simplesmente jogar todas as minhas merdas em Mar, porque ela não as merece. Eu acho que ela realmente gosta de mim, e eu não quero quebrá-la como quebrei Maria, ou Arthur, ou Júlia. Ou como a Helô me quebrou.

O que me lembra do principal gatilho da porra toda. Uma merda de uma frase que eu simplesmente não deveria ter escrito, mas escrevi. Uma frase que era verdadeira, mas que não deveria ser. Uma frase que não fez nada além de nos machucar ainda mais.

“Se você não me lembrasse dela tanto assim, eu não acho que teria me apaixonado”.

Estava lá na minha perna para qualquer um ver e ler, é claro, mas eu apenas não pensei que você realmente leria. Eu só pensei que você não se importaria – estúpido, porque é claro que você iria. Talvez eu também esperava que você pensasse que eu estava falando sobre Ace, e não eu.

Mas é claro que você é mais inteligente que isso.

Então eu acabei tendo duas crises simultâneas, e simplesmente não sei como lidar com nenhuma delas.

Porque eu supostamente já superei. Eu supostamente nunca iria pensar nela de novo, se possível, esquecer que jamais a conheci.

Mas ela foi tão importante para mim que eu não poderia fazer isso comigo mesmo. Com o Yurie que sou, com a pessoa que deve a ela a própria existência. Eu a amei, merda, e não posso simplesmente fingir que não. Eu não posso simplesmente dar as costas a todo aquele passado e toda aquela história e fingir que não aconteceu. Como se aquele não tivesse sido um dos melhores beijos da minha vida.

Mas então Mar fala, e eu lembro dela. Ela sorri, e seu sorriso me lembra dela. Ela anda, e deuses, ela andava exatamente daquele jeito. Sua voz soava um pouco como a ela e mesmo aquele rosto maravilhoso, Deus, parece um pouco com o dela.

Eu sei que vocês duas não são nem um pouco parecidas. Eu sei que você se importa como ela não se importava, eu sei que você sente o que ela não sentia, eu sei que você é tudo o que ela não era.

Mas eu não quero me apaixonar por ela de novo. Eu não quero ser lembrado dela. Não agora.

Eu não quero abandonar você agora, mas eu não posso continuar estando apenas metade lá, posso? Não seria justo com você de jeito nenhum.

[talvez não seria justo comigo também, mas eu realmente não me importo mais]

Então, o que eu faço?

Porque eu não quero deixar de segurar sua mão, mas também não quero deixar de ficar com ele.

E sim, eu amo segurar sua mão e beijar seu pescoço. Eu amo quando você mia e eu beijo seus lábios. Eu amo quando você me faz cafuné por motivo nenhum.

E sim, eu gosto de dar uns amassos. Acho.

Ah, porra, a verdade é: eu não sei. Não é ruim, mas eu preferia estar falando com o resto das pessoas. E quando estamos juntos, apenas dando as mãos e parecendo tímidos e fofos, eu preferia estar falando com o resto das pessoas.  

Segurando sua mão, sim, mas falando com as pessoas.

Talvez eu só não seja o tipo romântico.

Talvez eu só esteja quebrado.

Talvez eu só... Talvez eu só não goste de pôr o romance em primeiro lugar. Talvez eu só prefira dar uns amassos atrás de portas fechas e quatro paredes e uma superfície confortável. Talvez eu só não saiba como é amar.

Talvez eu só goste da ideia de amar muito mais do que o amar em si.

Eu pensei em terminar o Desabafo bem aqui, mas não parecia certo. Não parecia que eu podia sem falar um pouco sobre Charlie.

Sobre como ele vaga pelos corredores da escola e pensa em como os professores chegaram ali e porquê. E sobre quem teve seu coração partido naquele dia e sobre quem os partiu e porquê. E se pergunta se as pessoas são felizes e espera que sim.

Porque eu não conheço Charlie, mas queria conhecer.

E eu não sei se posso, mas queria poder. Eu me senti um pouco como Charlie ontem. Exceto que as pessoas nos corredores eram eu e eu deveria saber a resposta para aquelas questões. Mas eu não sabia.

Então, eu realmente preciso falar com a Muriel antes que eu possa falar com você de novo. Eu realmente preciso falar com ela e talvez chorar e ter um ombro amigo antes que eu possa sequer pensar em você daquele jeito.

Eu preciso me encontrar. Ao menos um lampejo de mim [é tudo o que já tive, de qualquer modo]. E ela parece ser a única pessoa que poderia encontrá-lo.

E eu estou falando com você agora, e estou sorrido feito um idiota. Deuses, posso só ir até aí e te beijar pra caralho?

Acho que não.

...

... certo?


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