Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 10
Boy-Friend




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Não sei quem se machucou mais naquele dia:

...

Existe uma real possibilidade de você estar lendo isso. 

Sim, você. Não vou citar nomes - reais ou inventados - porque, afinal, nós dois sabemos de quem eu estou falando. 

De você. Meu melhor(?) amigo, meu... Ex. 

Não gosto de pensar em você assim. Como algo que foi. Como parte do meu passado e apenas dele. 

Acho que nós dois sabemos que isso é uma impossibilidade. Como você poderia pertencer apenas ao meu passado se tudo - tudo— o que aconteceu comigo desde então aconteceu graças a você?

Sinto muito. Mas a verdade é que eu nunca gostei de você. Foi uma mentira besta, dessas que a gente conta pra gente mesmo e espera que se torne verdade. Às vezes se torna ilusão. 

Eu sinto falta, sabe? Dessa proximidade. Dessa certeza de que eu sempre teria alguém ali. De que pelo menos uma pessoa se importava. Sinto falta dos nossos papos, dos nossos corações, daquele frio na barriga toda vez que ia te encontrar. 

A gente nunca explicou, não é? Nunca teve um adeus. Tudo simplesmente acabou, e de um momento para o outro, na mudança de instantes, não éramos mais os mesmos. 

Éramos ex. 

Foi bom. A gente ter terminado. Foi melhor assim. 

Por mais que eu sonhe - não vou mentir - sobre o que poderia ter sido e o que talvez ainda possa ser, não posso fingir que não foi melhor assim. 

Eu não estava pronto para você. Estava ansioso demais, urgente demais. E você... 

Ah, você saberia lidar comigo? Com meus dramas sem fim, com todos esses sentimentos que não sei onde enfiar, como explicar? 

Ou talvez cedo ou tarde a gente fosse terminar de qualquer jeito. Talvez você simplesmente não tivesse paciência para mim. Talvez você não soubesse lidar comigo. 

Acho que ainda não sabe. 

Eu ainda penso em você, sabia? [ agora sabe] Desse jeito. 

Você foi o primeiro e, até agora, o único. 

Mesmo que por tão pouco tempo. Mesmo que por uma mentira. 

E eu ainda me lembro de sentar no chão da rua do seu prédio, sem jeito, conversando sobre tudo e nada, com aquele frio na barriga. 

Olhando as estrelas. 

Lentamente, você ia se aproximando. Eu também. 

Seus lábios nos meus. 

E aqui a minha memória constrói coisas que não sei se aconteceram. Minha mente voa, me pergunto se ainda temos alguma chance

A verdade? Espero que a resposta seja não, porque eu não quero entrar nisso de novo. Não quero ficar com medo, não quero te perder outra vez. Terminar com você foi a coisa mais difícil que já fiz. Não sei se poderia fazer de novo, se tudo der errado.

Posso culpar os hormônios? Só mais uma vez? Antes que eu fique velho demais para isso? 

Você sempre vai estar lá. No fundo da minha mente, nos cantinhos da minha imaginação. Ainda vou estar pensando em você em mil e um cenários, ainda vou imaginar aonde a gente estaria se eu não tivesse decidido terminar. 

Quem sabe? 

Talvez tudo aquilo passasse e eu começasse a gostar de você de verdade. Talvez a gente ainda estaria junto. Talvez nós tivéssemos uma briga de verdade. Talvez você decidisse que eu sou estranho demais. Complicado demais. 

Não gosto de pensar nisso, mas, ao mesmo tempo, não consigo evitar. 

Escrevendo isso aqui, agora, ouvindo as panelas no fogão da cozinha, o teclar do meu pai fazendo prova, minha irmã assistindo CBLOL, percebo que parece que penso em você o tempo todo. Droga, você deve estar pensando que fico brisando na aula pensando em você e na gente. 

Não. 

Eu apenas... Ah, o que aconteceu com a gente? Não era para ter sido assim. 

Você era meu melhor amigo. A gente mantinha conversa por horas. Éramos um trio inseparável. 

E aí... A gente terminou. 

Eu sei que disse que você podia se afastar. Eu sei que não posso culpá-lo por fazê-lo, consciente ou inconscientemente. Eu sei que deve ter machucado, ao menos um pouco. 

Mas... Sei lá. Tudo agora parece tão... Vazio. 

É como um enorme penhasco, e eu não sei se tem como saltar de volta, ou se a ponte vai quebrar no meio do caminho. 

Deuses, será que tem uma ponte? Ou a gente já se afastou demais? 

Porque nós... Nós éramos ótimos juntos. Como amigos, como namorados, como o que quer que fôssemos. E agora... Agora, eu mal te vejo. Mal falo com você. Passo o recreio todo me concentrando e dizendo que estou ali com meus melhores amigos e que se eu sair, a solidão só vai aumentar. 

Digo que sou feliz como estou, agora. 

Mas não tenho mais tanta certeza. 

Eu tenho essa ideia de que silêncios gritam. De que quando alguém passa tempo demais calado sem dizer nada, quando a gente se isola um pouco demais, nosso silêncio grita. E ninguém nota porque está todo mundo feliz demais para isso. 

Mas me pergunto se o meu silêncio tem gritado esse tempo todo para mim, e eu tenho me feito de surdo. 

E o que era para ser um Desabafo sobre você virou um Desabafo sobre mim. Puta merda, eu sei ser egoísta, né? 

O ponto aqui é simples: eu sinto a sua falta. Queria que a gente conversasse mais. Que a gente estivesse na mesma sala, talvez. Que eu não fosse tão complicado. 

Mas são duas e meia da tarde de um sábado e eu estou escrevendo um diário público ao invés de estudar para o simulado de amanhã, porque eu simplesmente não consigo me concentrar em mais nada

Não sei. Desde ontem, eu só penso em como a gente deveria ser mais próximo. Em como eu perdi tanto por causa de dois babacas. Em como de repente eu entendi tudo errado e tudo tá caindo aos pedaços porque eu fiz tudo cair aos pedaços

Não sei. 

É. Provavelmente a gente teria terminado de qualquer jeito. Eu sou complicado demais até para mim. 

Talvez você tenha lido. Talvez não. Talvez apenas três pessoas leiam esse Desabafo, e nenhuma delas seja você. 

De qualquer jeito, acho que eu deveria te agradecer. 

Por tudo. E por nada. 

...

o meu coração, ou o seu.


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