Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 11
"Ele" (ou "Update")




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[https://www.youtube.com/watch?v=mbFTxHcGQqs]

Quem sabe? Talvez eu só esteja um pouco quebrado...

...

É a terceira ou quarta vez que começo a escrever e não termino. 

Típico. 

Talvez eu simplesmente não saiba mais escrever coisas que não sejam tristes. Talvez minha vida simplesmente não tenha me treinado a compartilhar alegrias, só tristezas. 

Mas não tenho nada de triste a dizer hoje... Ok, eu tenho, mas estou cansado de fazer isso. Se alguém for ler isso daqui em um só dia talvez decida sair e cortar os pulsos. Por favor, não. 

Mas, sim, o Desabafo de hoje não é sobre como minha vida é uma merda e eu me sinto totalmente errado e quebrado. 

É uma coisa feliz [pasmem!]...

... Eu acho.

O fato é, isso daqui não é bem um Desabafo. É um update. 

(uma atualização, se você que nem a Lia vai reclamar de eu usar inglês no meio de um texto em português)

Um update do meu Desabafo 3, "pequeno recado ao mundo (e a mim mesmo)". Talvez você tenha lido, talvez não se lembre, talvez tenha ficado tão cansado de me ouvir choramingando que dropou no meio - afinal, são 625 palavras sobre "eu não sei nada sobre mim mesmo e blábláblá". 

[sério, como vocês me aguentam?]

Mas de qualquer forma, você pode ir lá ler, se quiser, ou se ater ao resumo básico no parágrafo acima. Juro que é só isso que tem naquele capítulo. 

Anyways [sim, eu vou continuar fazendo isso], talvez aquilo não seja mais tão real. 

"Claro", você pode estar pensando "Você sempre escreveu no masculino. Parece bem claro que você já sabia o que queria". 

É... Não. 

Entenda: eu não sabia o que eu era. Resolvi escrever meu primeiro Desabafo no masculino porque digitei errado e fiquei com preguiça de ajeitar uma fodendo palavra. É. Eu chego a esse nível às vezes. 

Então, escrever no masculino virou uma forma de fugir. De me esconder do feminino, desses malditos pronomes que me perseguiram a minha vida inteira e me fizeram tão desconfortável na minha própria pele. Era só um jeito de enfatizar (para mim mesmo, talvez?) que eu não era uma menina. 

Não sei. Talvez eu tenha me acostumado. Talvez ele só não corte tão fundo, em comparação. 

Mas parece que eu achei uma daquelas certezas que eu tinha perdido - parte dela, pelo menos. 

Não, eu não sei o que fazer com esse corpo. Não sei para onde correr. Tem uma bifurcação na minha frente, e eu ainda não sei qual caminho seguir. 

Mas eu não tenho mais pressa. De repente, não tenho problema nenhum em ficar sentado, contemplando minhas opções, talvez para sempre. 

[eu uso muito "mas", desculpa]

Então, não, isso não é um Desabafo. 

É um update para avisar ao mundo e a mim mesmo que eu tô quase ok

Eu tô quase ok com meus pronomes. Quase ok com meu corpo. Quase ok em não ter ido na casa do João assistir filme (não tem nada a ver, mas só notei agora que eu deveria ter ido lá há meia hora e esqueci totalmente. Mals). 

Eu tô quase ok em ser eu. 

Não, eu não vou sair estampando rótulos em mim mesmo. Não vou descer do muro em todos os aspectos e não vou sair correndo por aí me posicionando a respeito de cada caixinha na qual eu tropeçar. 

M-Porém [essa foi quase], como dizia meu bom amigo Cole [The Fosters], "há poder nos rótulos também". 

É. Acho que estou começando a entender exatamente quão certo ele estava. 

Não, eu não me encontrei totalmente. Estou pendurado em um monte de "quases" que não vão me levar muito longe e não vão resolver meus problemas. 

Mas qualquer três passos é muita coisa para quem estava parado há tanto tempo. Juntando poeira à beira da estrada. 

Eu "quase" sei quem sou. "Quase" sei o que devo fazer. "Quase" não me odeio mais.

Eu prometi que esse desabafo não ia ser triste, e você deve estar me achando um mentiroso, porque, convenhamos, não estamos exatamente espalhando gitter e purpurina com um sorriso no rosto. 

That's okay. Eu não esperava que você fosse entender tudo de primeira. 

Mas um dia, quem sabe, você vai reler meu pequeno recado e vai enxergar exatamente o quão quebrado eu estava. Exatamente o quão cortantes eram as minhas bordas. O quanto eu me destruía toda vez que olhava no espelho. 

Agora, os cortes não são mais tão profundos assim. 

É estranho dizer isso, mas... Eu vou ficar bem. 

Um dia, quem sabe. 

Pouco a pouco, eu vou juntando minhas certezas de novo. Não serão as mesmas, certamente não. Serão outras. 

Mas serão um pouco menos frágeis. Talvez quebrem de novo, mas talvez eu as junte outra vez. 

E talvez passe a vida inteira quebrando minhas certezas e tendo que recolhê-las aos poucos. Mas agora eu "quase" sei que consigo. 

Certeza nº 1: Meu nome é Yurie.

Certeza nº 2: Eu odeio Matemática.

Certeza nº 3: Eu sou um garoto. 

Trans. Pan. Ansioso, hesitante, assustado.

Tímido - apesar de todas as impressões. 

Mas um garoto. 

E esse é o primeiro passo, eu diria. 

Certeza nº 4: Às vezes, milagres acontecem. Dentro da gente. É só dar um pouco de chances e tempo. 

Certeza nº 5: Talvez eu não esteja tão perdido assim, afinal. 

...

... por me comparar a todos ao meu redor.


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