A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 117
117. A lógica ilógica dos elfos domésticos




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A lógica ilógica dos elfos domésticos

Alguns dias se passaram e a alegria parecia ter retornado à casa dos Black. Todos os dias após Regulus retornar do ministério, os garotos, apesar de pouco conversarem, passavam um bom tempo juntos jogando e observando os vizinhos pela janela. Parecia bobo fazer aquilo, mas era melhor do que pensar nas garotas que eles não podiam encontrar. Apenas Kreacher estava estranho, parecia evitar a companhia dos garotos. O riso deles o parecia incomodá-lo.

Na noite do dia 15 de julho, Sirius e Regulus estavam descendo as escadas para a cozinha com a intenção de tomar um chá antes de dormir, conversando alegremente.

— Sabe, Sir. Você ia adorar cumprir os trabalhos comunitários no meu lugar no ministério da Magia...

— Nãh, prefiro picotar papel em casa.

— Não, sério! A fase de picotar papel acabou. Hoje passei horas com o tal Perkins analisando um Ford Anglia que miava como um gato cada vez que se dava a partida. Eu achei que podíamos simplesmente apontar a varinha e lançar um Finite Incantatem, mas o carro tinha nele algum feitiço repelente e nada que tentássemos dava resultado. Então fomos desmontando o carro, peça por peça, até que descobrimos que o tal pist-piston ou pistona, não sei ao certo, havia sido substituído por um gato mal-transfigurado. Ele me deixou desfazer o feitiço. O gato saiu correndo tão rápido que pensei que tivesse aparatado.

— Sério? Deve ter sido bem divertido... E depois vocês remontaram o carro?

— A gente ia remontar, mas aí o colega do Perkins, um tal de Weasley, disse que que não nos preocupássemos que ele faria isso mais tarde... Ei, você ouviu isso?                                                                                                                                

Estavam quase ao pé da escada quando ouviram uma conversa estranha:

— Amanhã cedo, então. Será tudo conforme combinamos, Floffy. Será um grande dia, inesquecível para todos. E você ocupará um lugar de destaque, muito melhor que o da sua mãe, eu prometo. Cuidarei dos detalhes pessoalmente. – dizia Walburga com uma certa alegria maníaca.

Regulus e Sirius se entreolharam. Aquilo não fazia sentido para eles, não era aniversário de ninguém e sua mãe não costumava dar tanta importância para os elfos da casa. A conversa cessou assim que entraram na cozinha. Walburga estava sentada à cabeceira da mesa. Ela rolava a própria varinha para os lados sobre a superfície da mesa. Floffy estava em pé ao seu lado e olhava sua senhora com a costumeira adoração. Kreacher esquivou-se de olhar para os dois, virou-se para a pia e providenciou duas xícaras de chá antes que qualquer um deles dissesse o que desejava.

A elfo permaneceu parada ao lado de sua senhora enquanto observava seu filho servindo os garotos. Regulus sabia que ela sentia orgulho de Kreacher, de seu desempenho como elfo doméstico e quis agradá-la:

— Kreacher, você faz o chá do jeito que eu gosto, exatamente como sua mãe faz.

Kreacher fez uma reverência sem falar nada. Floffy olhou carinhosamente para Regulus e sorriu. Sua mãe também sorria para ele e ele sorriu de volta. O que quer que as duas estivessem planejando, deveria ser algo muito especial e muito alegre. Não fosse pela homenagem que Walburga havia mencionado, ele apostaria que teriam uma grande festa no dia seguinte. Assim que tomaram o chá, os Black subiram as escadas e foram dormir, cada qual em seu quarto.

— Abre, Reg! Abre!

Regulus acordou com Sirius esmurrando sua porta. O que seria? Ele perambulou sonambulamente  pelo quarto e abriu a porta para o irmão que tinha olheiras profundas de quem não havia fechado os olhos aquela noite.

— Eu sei o que vai acontecer, Reg! Temos que impedir, mamãe vai decapitar Floffy!

— O quê? Você tem certeza? – Perguntou Regulus, fazendo um grande esforço para se manter com os olhos abertos.

— É óbvio, não é? Agora que Kreacher já aprendeu a cuidar da casa, ela pode morrer para ser imortalizada na hall da nossa casa! – Os olhos de Sirius se arregalavam, ele não conseguia entender como Regulus insistia em não ver o que estava acontecendo.

— Eu não acho que seja isso, Sir, Floffy ontem ainda estava cozinhando... – Respondeu Regulus, coçando a cabeça, como se isso fosse ajudá-lo a raciocinar.

— Com a ajuda de Kreacher!

Sirius tinha razão, Floffy já não fazia mais nada sem Kreacher do lado, ele ponderou:

— É, eu sei, mas ele precisa aprender, não? É a vida dele, servir...

Sirius bufou:

— Se você não vai fazer nada, eu vou!

Sirius trotou em direção à escadas, Regulus correu atrás dele. Sirius parou de repente e os dois quase colidiram. Kreacher estava varrendo a escada que parecia bastante limpa.

— Kreacher, vamos! Mamãe está para fazer algo terrível e precisamos impedi-la! – gritou Sirius, do alto da escada.

Kreacher estalou os dedos e Sirius se viu momentaneamente paralisado.

— Ninguém vai a lugar algum enquanto minha senhora não terminar o que deve ser feito.

O elfo permanecia com os braços abertos, bloqueando o caminho. Os irmãos Black olharam para Kreacher sem entender. Então ele sabia o que iria acontecer à mãe e não estava minimamente abalado por isso? Kreacher liberou Sirius de seu feitiço e nenhum dos irmãos se moveu ou falou nada. Regulus permaneceu olhando para Kreacher enquanto uma ruga foi se formando em sua testa. Após alguns instantes, Sirius perguntou:

— Então você sabe? E é conivente com isso? Ela vai matar sua mãe!

Kreacher respirou fundo, subiu as escadas e encarou Sirius, colocou a mão direita sobre o peito e falou solenemente:

— É uma honra para qualquer elfo servir seu senhor e quando não lhe sobra mais forças para fazê-lo, uma morte digna nas mãos do senhor é a maior honra que nos resta. Muito mais honrado do que acordar todos os dias e se olhar no espelho sabendo que terá que viver mais um longo dia de sua vida inútil.

— Isso é um absurdo! Você não vai fazer nada?

— Kreacher não é um elfo mau, Kreacher não vai ir contra seus senhores. Kreacher vive para servir a nobre Casa dos Black, assim como Floffy sua mãe, não para questionar suas tradições. Kreacher quer ter o mesmo honrado fim que seus ancestrais.

Ao dizer isso, o elfo deu meia volta e desceu as escadas para o segundo andar, com Sirius no seu encalço, gritando.

— Então você aceita todo esse terror? Lute contra isso! Ela é sua mãe! Você é louco! Um fraco e desprezível! Não sei porque perco meu tempo com você!

Kreacher não pareceu se abalar, contudo não ficou parado ouvindo os berros de Sirius. Neste momento, Dona Walburga passou por eles, cumprimentou-os e foi para o seu quarto. Os três acompanharam seus movimentos com os olhos até que não puderam mais vê-la. Ela parecia serena e os cumprimentou com um sorriso, como todas as manhãs.

Sirius engoliu em seco e desceu correndo as escadas para o primeiro andar, seguido de perto por Regulus. Então eles chegaram ao topo da escada que dava acesso ao Hall de entrada, ornamentada pelas cabeças dos antigos elfos da casa e deram de cara com ela. Lá estava a cabeça decapitada de Floffy, no pedestal que há tempos lhe fora reservado. Regulus sentiu-se nauseado e correu para o banheiro. O som que vinha do corredor lhe indicava que Sirius também estava passando mal.

Regulus tentava controlar as ânsias de vômito, já que o estômago já não tinha mais do que um líquido amarelado e amargo para por para fora quando notou as mãos tremulas de Kreacher que lhe estendia um copo com uma poção azulada e uma toalha de rosto branca. O garoto respirou fundo e estendeu a mão para pegar o copo.

O líquido desceu em sua garganta aliviando todo mal estar. Ele devolveu o copo vazio para o elfo, pegou a toalha e secou o rosto.

— Obrigado.

O elfo fez uma breve reverência e saiu. Regulus tinha certeza de que ele estava triste, mas o compreendia. Não iria questioná-lo. A voz de Sirius ecoava pela casa:

— Cruel, cruel, cruel!

Regulus encontrou o irmão na na sala de estar, em frente a tapeçaria da família Black. Ele socava o nome de sua mãe na parede.

— Sir, você ouviu Kreacher. Tinha que ser feito. Todos têm um papel a cumprir, Floffy cumpriu o dela: trabalhou, teve um filho que educou para seguir seus passos, foi feliz e foi amada pela família que serviu. O que mais poderia querer senão ser honrada com esta homenagem?

— Homenagem? Será que todos aqui são loucos? E você disse amada? Por quem?

— Ora, por nós...

— Você não entende mesmo nada da vida, muito menos de amor... Passar a vida limpando a sujeira dos outros não é vida! E não sei de onde você tirou essa ideia de que ela foi amada.... háháhá – ele riu ironicamente.

— Você é que não entende nada, Sirius! É amor sim o que todos nesta casa sentiam por ela.

— Ah, sim: Floffy, lave minhas cuecas. Floffy você chama isso de almoço? Flofy, são três horas da madrugada, levante-se que eu estou com fome. É, muito amor mesmo.

— Você não entende porque só consegue ver as coisas sob a ótica dos bruxos, mas para um elfo, ser acordado no meio da madrugada mostra o quanto ele é útil para o seu senhor, o quanto seu trabalho é importante para a família e esse reconhecimento é, para um elfo, o mesmo que ser amado e respeitado. Entendeu?

Sirius sacudiu a cabeça para os lados e começou a falar:

— Loucos, definitivamente... e Kreacher é um...

Ao perceber a menção do seu nome, Kreacher aparatou às costas de Sirius:

— Mestre Sirius precisa de alguma coisa?

Sirius olhou rapidamente por cima do ombro e bufou:

— Elfo idiota.

Kreacher abaixou os olhos e disse:

— Desculpe Kreacher se fez algo de errado. Se Mestre Sirius não precisa de nada,  Kreacher vai voltar à cozinha para terminar o almoço. Dizendo isso, fez uma reverência e desaparatou.

— Viu o que eu você conseguiu? Magoou ele. – Regulus gritou, apontando para o lugar vazio onde Kreacher estivera.

— Um elfo que não se importa com a morte da própria mãe e assobia enquanto prepara o almoço no mesmo dia em que ela foi morta não tem sentimentos para serem magoados.

Então Sirius foi pisando forte no chão, subiu os três lances de escadas, entrou em seu quarto e bateu a porta. De lá ele não saiu o dia todo e rejeitou toda comida levada para ele.


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