A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 110
110. Sangue Quente




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Sangue quente

Regulus acordou radiante, sem conseguir esconder ou disfarçar sua alegria.

— Foi tão bom assim o treino de ontem? – perguntou Amifidel enquanto vestia seu uniforme.

— Foi maravilhoso! Acho que este ano temos grandes chances de ficar com a taça!

Amifidel sorriu. Regulus checou o cabelo no espelho:

— Estou morrendo de fome. Vamos?

— Vamos. John e Jack já foram.

Ao chegarem na sala comunal, Jack deu-lhes um olhar animado cujo significado eles não conseguiram alcançar. Depois John passou por eles e sussurrou:

— Sábado à noite, daqui duas semanas.

Regulus passou os olhos arregalados de Jack para John.

— Ros...?

— Sim. – disse Jack.

— Muito bom! Detalhes? – perguntou Regulus, curioso, enquanto caminhavam em direção à porta de saída.

— Não sabemos. Ainda. – respondeu John, visivelmente animado.

Os quatro garotos chegaram ao Salão Principal onde Regulus avistou Alice tomando café-da-manhã, usando seu cachecol.

— Garotos, me deem licença, preciso dar bom dia à minha namorada.

Regulus caminhou confiante até a mesa da Lufa-lufa. Alice corou ao vê-lo e sorriu.

— Com licença, meninas. Já volto. – Ela disse, levantando-se para ir ao encontro dele.

Os dois se encontraram no meio do caminho e Regulus não conseguiu segurar a vontade de beijá-la e o fez ali mesmo, deixando a menina bastante constrangida. Ela abaixou a cabeça e lhe entregou o cachecol.

— Aqui, não, Reg. Não com todo mundo olhando. –  sorriu, timidamente.

— Me desculpe, Alice. Nos vemos mais tarde?

— Depois do almoço, está bem? tenho prova de Defesa contra as Artes das Trevas esta tarde, podemos estudar juntos uns quinze minutinhos. Nos encontramos no jardim, certo?

— Claro! – ele respondeu, sorrindo.  Ele enrolou o cachecol em torno do pescoço – embora não estivesse frio – e voltou para o seu lugar sentindo os olhos de todos acompanhando-o por todo percurso.

Horas mais tarde, durante o almoço, Regulus notou que alguns alunos estavam bastante agitados e alguns falavam dele pelas costas ou ainda apontavam para ele, discretamente. “Devem ter ficado sabendo do treino de ontem,” ele pensou, sentindo-se orgulhoso.

Após o almoço, Regulus procurou pela namorada no Salão Principal, mas não a encontrou. Supondo que ela tivesse almoçado mais cedo para ter mais tempo de estudar, ele caminhou apressadamente até o jardim. Estranhamente, havia uma pequena multidão reunida lá. As amigas de Alice estavam em torno dela. Assim que o viu, ela correu ao seu encontro, chorando e o abraçou:

— Reg, estão falando coisas sobre mim por aí...

Regulus olhou para as garotas, chocado.

— Que coisas?

Ela não teve tempo de responder, suas amigas a puxaram pelo braço e a arrastaram para o lado. Regulus estava perplexo e estava olhando boquiaberto Alice se afastar, quando sentiu alguém aproximar-se dele pelas costas. Sem tempo de se defender, ele foi jogado contra a parede.

— O que você fez com Alice, seu imbecil?

Frank Longbottom, o monitor da Grifinória, o pegou pelo colarinho e o segurou contra a parede, apontando sua varinha ameaçadoramente contra seu nariz. Alice e as amigas se viraram para ver o que acontecia. Uma pequena multidão de curiosos foi se juntando em torno deles.

— Nada, eu não fiz nada com ela, nem contra ela! – ele gritou. – Eu amo Alice!

— Quem ama não sai por aí contando detalhes de sua intimidade para outros garotos! – disse Frank.

— Eu não fiz nada e não falei nada para ninguém! Eu respeito Alice! Me largue!

— Não foi o que Crouch nos contou! – gritou Mary MacDonald.

O sangue de Regulus ferveu em suas veias. Ele olhou para a multidão e avistou Crouch, que ao ouvir seu nome, tentou numir na multidão. Num movimento contínuo, o pequeno Black enfiou a mão no bolso, pegou sua varinha e, por baixo do braço de Frank, apontou para Crouch, que tentava se misturar à multidão.

Estupefaça!

O feitiço de Regulus atingiu Crouch no peito, jogando-o contra os outros alunos que estavam ao redor. Frank, admirado pela reação de Regulus, soltou-o. Regulus não conseguia ver mais nada, apenas Crouch, que havia escorregado e estava desmaiado no chão. Com a varinha apontando em sua direção, ele correu até ele:

Entomorphis!

Embora desacordado, Bartô estremeceu no chão e seus membros se transformaram em pernas de barata e de sua cabeça saíram antenas, seu corpo aos poucos começou a brilhar como se estivesse coberto com a casca de um inseto.

— Agora você se parece com o que você sempre foi: um inseto asqueroso! E eu vou pisar em você! – Regulus gritou, erguendo a perna direita em direção da cabeça do imenso e desajeitado inseto estendido no chão. Neste momento, Slughorn e Kettleburn abriram caminho entre a multidão. Slughorn gritou:

— Pare!

Regulus olhou para ele, assustado, como se saísse de um transe. Ele olhou para Crouch, depois para sua perna e para os outros alunos, recolhendo cuidadosamente a perna para não tocar em Crouch.

— Venha comigo, Black.

Sughorn o pegou pelo braço. Com a respiração ofegante, ele deixou-se conduzir através da multidão. Conseguiu ver, de relance, Alice, que chorava compulsivamente amparada pelas amigas.

Slughorn o conduziu pelos corredores vazios alguns andares acima, sem dizer uma só palavra. Regulus não se arrependia. Crouch tinha ido longe demais daquela vez. E ele também. Ainda estava tomado pela raiva quando chegaram ao terceiro andar, Slughorn soltou seu braço:

— Fique aqui. – E depois falou algo incompreensível à gárgula que cuidava da entrada para os aposentos do diretor, que se afastou para dar passagem ao professor, que sumiu escadaria acima.

Regulus encostou-se na parede e ali permaneceu, de cabeça erguida por cerca de uma hora. Ele continuava sem arrepender-se do que havia feito. Queria ter machucado Crouch mais, se tivesse uma faca ou uma espada, teria cortado suas entranhas. Distraído pela ideia de machucar severamente Crouch e com o sangue pulsando nas têmporas, Regulus assustou-se ao ouvir a porta atrás da gárgula se fechando. Teria alguém passado por ali? Isso lhe lembrou que a qualquer momento seria interrogado pelo diretor. Ele tinha que se preparar. Havia muita coisa em jogo, ele não poderia permitir ao diretor que encontrasse em suas memórias nada que o comprometesse. Regulus manteve o olhar fixo em um ponto da parede à sua frente de tal maneira que em alguns minutos não conseguia mais distinguir o que era figura e o que era fundo, seu pensamento estava imerso em um vácuo de emoções quando a gárgula deu novamente um passo ao lado.

— O diretor quer vê-lo.

Regulus seguiu mecanicamente Slughorn pela escada em caracol que levava à sala do diretor. Era a primeira vez que estava naquele local – e provavelmente seria a última, pois tinha certeza de que iria ser expulso e mandado à Azkaban, por ter usado tentado matar um aluno na frente de todos os outros, mas isso não o assustava.

Para a sua surpresa, quase todos os professores estavam no recinto.  Regulus passou os olhos em todos, sem deixar transparecer nenhum sentimento. Sentia seus lábios levemente amortecidos, a respiração friamente calculada não deixava o ódio tomar conta de si novamente. Ele assumiria as consequências de seus atos, estava determinado a isso. A porta se abriu mais uma vez e Kettleburn entrou em seguida, acompanhado da professora Sprout, que olhou para ele num misto de pena e lamento.

— Bartô Crouch Junior já acordou e está lentamente voltando à aparência normal. Madame Pomfrey disse que ele estará bem em algumas horas, precisa apenas descansar. – Informou Kettleburn.

Regulus olhou ao redor, os vários objetos prateados que zuniam não eram os únicos a fazer barulho no local. Nas paredes, os quadros dos ex-diretores de Hogwarts cochichavam entre si. Apenas um permanecia impassível, olhando para ele severamente. Phineas Nigellus Black, seu tatara-tataravô parecia agora muito diferente daquele que costumava ver na sala de estudos de sua casa. A voz de Dumbledore lhe chamou a atenção e ele virou-se para ouvi-lo, embora seus olhos pareciam relutar a deixar o olhar do tatara-tataravô.

— Temos uma situação bastante complicada aqui, senhor Black. Mas antes de tomar qualquer decisão, gostaria de ouvir sua versão dos fatos. – disse Dumbledore, aproximando-se. Todos permaneciam em pé, como se a gravidade dos fatos não deixasse ninguém se sentar. Regulus o olhou nos olhos e manteve o olhar, de cabeça erguida.

— Pode perguntar o que quiser, diretor. Não tenho nada a esconder.

— Fui informado que ontem à noite o senhor levou uma aluna da Lufa-lufa à uma sala no primeiro andar, onde transfigurou uma cadeira em uma cama para manter relações sexuais com ela. Em seguida, chegou em sua sala comunal bradando a quem quisesse ouvir, detalhes do que havia feito.

— Isso não é verdade, senhor. – Regulus respondeu, com uma calma calculada. – Eu realmente estive com Alice no primeiro andar ontem à noite. Ela estava com frio nos pés, então eu transfigurei uma cadeira em uma confortável poltrona e fiz massagem em seus pés. Apenas em seus pés. Alice é minha namorada, eu a respeito. E respeitaria se fosse qualquer outra menina. Eu sou um Black, tenho princípios!

Regulus ouviu um som estranho vindo do quadro do tatara-tataravô, que subtraiu por alguns instantes a atenção de Dumbledore. Tempo suficiente para que percebesse a aproximação da Professora McGonagall, que estendeu a mão e a quem ele lhe entregou sua varinha como prova de que estava falando a verdade. Professora McGonagall a examinou, enquanto Dumbledore tornava a mergulhar nas memórias do garoto, em busca dos fatos ocorridos na noite anterior – algo que Regulus já esperava.

— Eu acredito em você. – disse o diretor – McGonagall?

— Black está dizendo a verdade, era uma poltrona. – Ela respondeu, mantendo consigo a varinha do garoto.

— E conversei com minha aluna. Realmente não houve nenhum contato desrespeitoso da parte de Regulus Black ou qualquer outro que pudesse ter atentado contra sua honra. – Disse Sprout a Dumbledore, num tom grave. – Ainda assim, ela está sofrendo as consequências dos boatos, pobre menina... – então virou-se para Regulus e disse – Você deveria ter tomado mais cuidado, são muito novos para ficarem sozinhos pelos cantos, isso dá asas à imaginação dos outros... Lembre-se que antes de dar qualquer passo, precisamos colocar na balança todas as possíveis consequências e checar se somos capazes de lidar com elas... Pensei que você fosse capaz disso.

Regulus abaixou os olhos. Ele não podia negar para si mesmo que seu corpo até havia pedido que passasse dos limites do respeitável, mas ele havia se contido. Eles haviam ficado tantas vezes na Sala Precisa sem que nada tivesse acontecido. Por que agora? Nunca imaginaria que uma porta fechada em uma sala vazia à noite pudesse dar tanta confusão. Ele se sentia muito mal por Alice. Queria matar Crouch. Respirou fundo, precisava voltar ao estado mental anterior, afinal, dumbledore com seu olhar profundo e ameaçador ainda estava em sua frente.

— Mas ainda temos um grande problema a resolver aqui. Você estuporou, transformou em inseto e tentou esmagar o filho do chefe da execução das leis da magia... – Dumbledore ergueu os óculos em forma de meia lua e esfregou os olhos. – Onde e com quem você aprendeu a lançar tal feitiço?

Regulus manteve o olhar em Dumbledore. Ele sabia que o diretor iria tentar descobrir a verdade de qualquer maneira. Então forçou-se a pensar em Crouch e em todo o ódio que sentia do garoto, no rosto de Alice chorando, para então desviar o olhar para suas mãos que se moviam para dar a impressão de constrangimento.

— Professor Dumbledore, eu aprendi a estuporar com meu pai, brincamos de duelar em casa. Não usamos maldições em casa... o feitiço que usei para transformá-lo em barata  aprendi num livro, que folheei na Floreios e Borrões no verão passado..., eu acho. Estava com Sirius, acho que ele comprou o livro. Eu não sabia se seria capaz de fazê-lo, mas estava com raiva, muita raiva mesmo. Crouch tentou sujar o nome de Alice para me atingir. Ele tem sangue de barata, não pensa nos outros. Alice nunca fez nada contra ele e ele a magoou profundamente assim, de graça? Eu não poderia deixar isso impune. Eu fiz o que fiz e não me arrependo, não sei se realmente levaria isso até o fim – acho que não, eu já estava dando meia volta quando os professores chegaram. Só peço que antes de me mandar para Azkaban, assegurem que os outros saibam que eu não toquei em Alice e que ela continua sendo uma menina honrada. – E então ele levantou os olhos para Dumbledore, que parecia consternado com sua declaração.

— Não creio que o senhor vá ser enviado à Azkaban, mas os pais de Alice, Bartô e os seus estão para chegar na escola a qualquer momento para discutirmos o assunto. Vou pedir que aguarde nossa decisão em seu dormitório. O monitor de sua casa o está aguardando no corredor. Peço que não faça comentários com ninguém sobre o que está se passando aqui.

— Sim, senhor.

Regulus deixou a sala do diretor, em silêncio. Gibbon o aguardava ao lado da gárgula. No caminho para as masmorras da Sonserina, ele viu seus pais e mais dois casais caminhando apressados para a escada que dava acesso ao terceiro andar.


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