Granger se esquivava por diversos corredores andando sempre em frente e evitando ficar debaixo dos archotes presos nas paredes, não parecendo notar os outros dois estudantes da Sonserina lhe seguindo.

Tinha algo em mente, algo mirabolante, desde o começo das aulas. Não havia tido tempo até agora, presa demais nas atividades passadas pelos professores para encontrar uma brecha para realizar aquilo.

A verdade era que as palavras do professor Dumbledore na cerimônia de abertura do ano letivo haviam chamado sua atenção, o que ele queria dizer com o terceiro andar era proibido para quem não desejava ter uma morte muito dolorosa? Não dera mais explicações e aquilo fora o suficiente para atiçar a mente sempre desejosa de mais saberes de Hermione. Dumbledore não sabia, mas naquele momento ele desencadeou uma força que ele nem imaginava.

Os pais de Hermione sempre lhe disseram que sua sede de saber a faria grande, faria ver coisas que os outros nem ao menos poderiam sonhar ou desejar. E ali estava ela, perto de descobrir que mal o terceiro andar do castelo guardava, e ao contrário dos gêmeos Weasleys não fazia isso porque gostava de desrespeitar as regras e sim porque realmente queria conhecer os segredos que Hogwarts escondia.

Ela sabia que estava tarde e que se fosse, de alguma forma, pega por um dos monitores ou professores estaria em uma enrascada imensa, correndo até mesmo o risco de ser expulsa da escola. Fora por isso que esperara todos os alunos que estavam no Salão Comunal de sua casa irem para o Salão Principal a fim de jantar e, em seguida, saiu pelos corredores das masmorras seguindo ao seu destino. Quase fora pega por Pirraça quando atingiu o segundo andar, mas por sorte o Barão Sangrento, o fantasma da Sonserina, passava por ali naquele instante e o Poltergeist deu no pé.

— Diga-me que não sou o único que acha que Hermione está indo para o terceiro andar? — Perguntou Rony aos sussurros para o amigo.

— Não é — Garantiu Harry — Só não entendo o que ela quer com isso, não se lembra do aviso de Dumbledore?

— Essa menina é louca Harry, eu disse para mantermos distância dela.

Hermione parou na base de uma escada que logo começou a se mover silenciosamente para outra direção, uma direção que fez os garotos terem certeza que ela se encaminhava para o corredor proibido.

— Vamos embora! — Pediu Rony um pouco alto demais.

Hermione se virou para trás percebendo pela primeira vez que alguém a seguia mesmo que tivesse sido demasiadamente cuidadosa em executar seu plano.

— O que vocês estão fazendo? — Exclamou ela.

— Isso é o que queremos saber de você — Retrucou Harry.

— Vá farejando, minha querida, eles podem estar escondidos em algum canto — Disse alguém vindo pelo outro lado do corredor — Esses alunos, andando por aí como se fossem donos do lugar, burlando as regras. Ah, se fosse no meu tempo, minha querida, já estariam todos dependurados por seus calcanhares em minha sala.

Os três começaram a correr, sem se importar que até um momento antes estavam a ponto de iniciar uma discussão acalorada pelo motivo de estarem vagando a esmo naquele instante.

Sabiam que era Filch quem seguia corredor acompanhado de sua gata Madame Nor-r-ra, e os dois eram mais do que especializados em fazer com alunos fossem castigados.

Depararam-se com uma porta de madeira maciça impossível de ser movimentada, não que não tivessem tentado, pelo contrário, os três jogaram seus corpos contra a madeira e mesmo assim ela não se movimentou um centímetro.

— Está trancada — Lamentou-se Rony — Nós seremos pegos por Filch e aquela gata horrorosa, e tudo porque ela resolveu se esgueirar por aí.

— Eu não pedi para vocês me seguirem! — Brigou Hermione — Duvido que eu seria pega se não fosse por vocês dois andando como dois trasgos atrás de mim.

— Nós dois não estávamos parecendo trasgos, você nem ao menos notou que estávamos te seguindo.

— Filch está vindo — Intrometeu-se Harry.

— O que vamos fazer?

— Ah, sai da frente — Hermione resmungou aborrecida. Agarrando a varinha, bateu

na fechadura e murmurou: — Alohomora!

A porta se abriu e eles correram por ela, fechando-a em seguida com a força de seus corpos.

O barulho que Filch fazia foi diminuído e os três se achataram contra a superfície lisa numa tentativa de ouvir qualquer indício de sua presença do outro lado.

— Eu acho que ele já foi — Disse Harry se virando para encostar na porta, a corrida o tinha cansado muito e quase ser pego pelo zelador fizera um cansaço ainda maior recair sobre ele, mas quando observou o que tinha dentro daquela sala desejou que tivessem permanecido do lado de fora.

Estavam encarando os olhos de um cachorro monstruoso, um cachorro que ocupava todo o espaço entre o teto e o piso. Tinha três cabeças. Três pares de olhos que giravam enlouquecidos; três narizes, que franziam e estremeciam farejando-os; três bocas babosas, a saliva escorrendo em cordões viscosos das presas amarelas.

Estava muito firme, os olhos a observá-los, e Harry sabia que a única razão por que ainda estavam vivos era que o seu repentino aparecimento apanhara o cachorro de surpresa, mas ele já estava se recuperando e depressa, não havia dúvida quanto ao significado daqueles rosnados de ensurdecer.

Agora ele sabia o que Dumbledore queria dizer com ter uma morte muito dolorosa caso ultrapassassem os limites do terceiro andar.

Virou-se rapidamente procurando um maçaneta, ou outra forma de abrir a porta, não queria esperar que o enorme cão se recuperasse e os atacasse.

— Ele ainda pode estar lá fora — Reclamou Hermione de sua tentativa de abrir a porta.

— Mas ele está aqui dentro — Apontou para a criatura.

Retrocederam. Harry bateu a porta e eles correram, quase voaram pelo corredor. Filch devia ter tido pressa para procurá-los em outro lugar porque não o viram em parte alguma, mas nem se importaram — a única coisa que queriam era abrir a maior distância possível entre eles e o monstro.

Correram até o ar sumir de seus pulmões, até terem certeza de que o lado proibido do terceiro andar estava longe, e até chegaram ao Salão Comunal da Sonserina. Por sorte não encontraram ninguém em seu caminho, tinham certeza de que não seria nada fácil explicar para alguém o motivo de estarem tão assustados.

— Eu não sei o que vocês estavam pensando em me seguir — Começou Hermione assim que passaram pela porta secreta que dava no salão — Mas vocês quase fizeram que nós fossemos pegos.

— E nós não sabemos o que você poderia querer fazer no terceiro andar — Comentou Harry — Dumbledore deixou claro que era proibido e que conseguiríamos uma morte dolorosa caso fizéssemos. E agora sabemos que ele não estava brincando.

— Acontece que, ao contrário de vocês dois, eu não vou simplesmente acatar uma ordem que me dão sem nenhuma explicação, Dumbledore me parece ser um homem muito controlador que não liga para os outros, a não ser que isso lhe favoreça. Duvido que vocês tenham ao menos prestado atenção ao cachorro.

— Do que você está falando? — Inquiriu Rony — Você viu o tamanho daquele bicho? É difícil não prestar atenção numa coisa daquelas.

— Não estou falando dele, estou falando do que estava embaixo dele. Um alçapão! Seja lá quem colocou aquela criatura dentro do castelo colocou para guardar alguma coisa — Declarou a menina.

— Porque eu ia mesmo prestar atenção nos pés do cão quando tinha três cabeças para cuidar.

Hermione bufou.

— Tanto faz, espero que aprendam a nunca mais seguir alguém — E seguiu para o dormitório feminino.

— Essa garota é mesmo louca — Comentou Rony observando os cabelos armados de Hermione desaparecer pelo corredor.

— Rony — Disse Harry de repente.

— O quê?

— Hermione disse que o cão estava sobre um alçapão e que poderia estar escondendo algo.

— E daí?

— E daí que eu acho que a criatura pode estar guardando aquele objeto que Hagrid pegou no Gringotes e que tentaram roubar, disse para você que poderia estar aqui.

— Ora, vendo como aquele bicho é grande, não acho que devemos nos preocupar com Hogwarts sendo invadida.

— É — Concordou Harry — Acho que você pode ter razão.

Mas lá no fundo de sua mente algo lhe alertava de que deveriam ficar atentos ao cão e o pacotinho encardido que Hagrid trouxera.