Ponto Final escrita por Lize Parili


Capítulo 2
Baile de Formatura




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De casal em casal o ginásio decorado como se fosse um grande e espaçoso salão de festas foi ficando repleto de adolescentes em seus trajes de baile. A noite estava agradável e mesmo aqueles que juraram que não iriam ao evento, compareceram, afinal, aquele momento marcava o fim definitivo de tudo o que eles achavam que ainda os aproximavam da infância.

— Você vai mesmo se mudar para Paris daqui uns dias, Lynn? — perguntou o rapaz a sua colega, tentando criar coragem para lhe convidar para dançar, esquecendo naquela noite que havia prometido a si mesmo que ia esquecê-la. Aquele amor era mais forte que seu orgulho, que sua razão.

— Sim, vou. Meu pai foi transferido para a filial de lá. Semana que vem minha família e eu nos mudamos. — respondeu ela sem dar muita atenção a ele, pensando que Viktor poderia ter ficado mais um dia na cidade e sido seu par no baile, ao invés de ir para Cannes com os amigos curtir o verão, numa despedida, pois depois cada um deles seguiria caminhos diferentes. — Eu soube que você vai para uma escola militar. É verdade?

— Sim. É como uma tradição familiar. Meu avô é militar aposentado, meu pai e meus tios são oficiais meus primos são cadetes. A carreira militar está no nosso sangue. — contou com certa empolgação, querendo impressioná-la, mas vê-la rir dele o fez entender que ela o achava um fracote.

— Desculpe, Ken. Mas você não tem perfil pra cadete, quanto mais para militar de carreira. Literalmente, você não puxou os homens da sua família, pelo menos, não por parte do seu pai.

O DJ mudou o clima da festa, a voz de Françoise Hardy tomou conta do ginásio e os casais começaram a se juntar na pista de dança. Ken sentiu o coração bater forte. Ele olhou para a prima sentada na mesa a poucos metros dele, que num sorriso deu a ele seu incentivo. O que mais ele tinha a perder.

— V-Você quer dançar, Lynn?

— Não! Estou com os pés doendo. — a não ser o seu orgulho. — Chame a sua prima. Ela é o seu par e não eu. — ele já devia ter se acostumado aos "nãos" daquela garota e não dar importância, mas...

— E-Ela não gosta deste tipo de música. — só uma dança, era tudo o que ele queria.

— Que pena pra você. — desdenhou, sem nem mesmo olhar para ele, buscando com os olhos, seu par, um colega de turma, que a convidou depois de descobrir que ela era affair do Viktor. Era uma pena a garota estar de mudança; ela não ia poder curtir a popularidade que aquele romance lhe rendera.

"Eu devia voltar para a mesa." Foi o pensamento do jovem nerd, mas ele permaneceu ali, de pé, parado ao lado da sua amada Lynn. Ele não conseguia entender como ainda ficava perto dela e desejava arduamente uma única dança, sendo ela tão cruel com ele. Por que aquele desdenho não era motivo o suficiente para ele dar um basta naquele sentimento? Por que aquela indiferença não era motivo o suficiente para ele criar vergonha na cara e esquecê-la? Por que ele a amava tanto?

— Desculpe a demora, Lynn. — o par da jovem voltou do banheiro, tendo demorado por resolver bater papo com os colegas no meio do caminho. — Vamos dançar?

Era humilhante demais ver a garota de pés doendo indo para a pista de dança com o garoto do time de basquete, outro atleta. Kentin voltou para a mesa.

De longe a jovem de 16 anos e corpo atlético pelos exercícios da escola militar coçou a nuca quase exposta pelo seu corte de cabelo Chanel ao estilo melindrosa, cuja tiara fininha que o enfeitava ela tirou por não gostar de enfeitinhos delicados, respirou fundo e se segurou para não ir até a garotinha magricela metida a gostosinha que, mesmo num baile de formatura e sendo, provavelmente a última vez que se veriam, foi capaz de fazer seu primo caçula baixar a cabeça para esconder o olhar triste enquanto voltava para a mesa.

— Vamos dançar, Kentin! — disse Jeanete tirando a encharpe que cobria seu colo e encaixando os pés no scarpin champanhe de salto 8 cm e que ela só estava usando porque seu sapato social militar não combinava com o vestido da mesma cor tomara-que-caia de busto marcado pelo decote princesa e que o bolerinho escondeu até aquele momento, tampouco seus coturnos.

— Você não precisa fazer isso. Eu sei que você não gosta deste tipo de música.

— Eu prefiro um som mais pesado sim, mas também gosto de música romântica, não desse estilo, mas gosto. E olha aqui. Eu não aceitei vir ao seu baile de formatura para te ver sentado com cara de bunda por causa de uma garota que se acha, e muito menos para ficar sentada do teu lado compartilhando da sua fossa. Você disse que seria divertido e isso não é divertido. — Jeanete, a única garota de sobrenome Roux, era sem sombras de dúvidas, igual aos homens daquela família, decidida e de personalidade forte. — E eu não me enfeitei toda para ficar escondida numa mesa no fundo do salão.

Nem se quisesse, Ken ficaria sentado naquela mesa. Jeanete levantou e estendeu a mão para ele, ordenando com seu olhar que a conduzisse até a pista de dança! Embora ela não fizesse o tipo garota fatal, sendo ela a típica cadete do exército, destaque entre os colegas por sua habilidade com comunicação militar, pelo primo, fez um pequeno esforço e deixou seu andar mais leve, fazendo com que a saia de babados do seu vestido curto de seda balançasse enquanto caminhava ao lado dele até a pista de dança. Naturalmente, Jeanete era 5 cm mais alta que o primo, de salto a diferença chegou aos 13 cm, mas ela não o deixou se acanhar, o fez abraçá-la pela cintura enquanto ela cruzou os braços em seu pescoço.

Ken não foi o garoto mais popular do colégio, mas naquela noite, os garotos o invejaram e as garotas se sentiram incomodadas, não pelo Ken, mas por seus pares olharem mais para a jovem cadete de corpo malhado que não poupava risos enquanto dançava e conversava com o primo favorito, lembrando dos dias em que eram crianças e acampavam no beliche, acreditando que haviam soldados inimigos embaixo da cama. Enquanto ela tentava pedir reforços aos irmãos e outros primos, acampados pelos outros cômodos da casa, com seu pequeno walk talk de brinquedo, ele cuidava dos soldados abatidos, vítimas das granadas de meias sujas lançadas por seus inimigos, conhecidos como o "impiedoso exército de gigantes de pés fedidos", gastando todos os curativos adesivos e ataduras da caixa de 1º socorros das esposas daqueles gigantes.

Não demorou muitos para alguns gaviões daquele baile desejarem para si o par do pequeno nerd. Mesmo o par da Lynn adoraria ter um minuto a sós com aquela beldade de pernas torneadas, de passos firmes e olhar altivo, e ele se arriscaria se não estivesse acompanhado. Enquanto o pequeno primo fazia uso do toalete masculino, Jeanete ouvia gracejos de um bad boy que após 3 anos cursando o último ano do collège, finalmente se formou. Nem uma bebida ela podia pegar em paz.

— Desculpem-me, mas eu já tenho par, minhas danças estão todas comprometidas, assim como cada segundo da minha companhia. — Ken apenas observava de longe. Aquele garoto já tinha lhe tirado o dinheiro do almoço e sangue do seu nariz por tantas vezes durante o último ano do collège que ele querer tirar seu par no baile não era de se admirar. A diferença era que daquela vez ele sabia que aquele idiota não ia conseguir o que queria. Mesmo assim ele teve receio de se aproximar enquanto o outro lançava flertes a sua prima. Sua insegurança superava sua confiança.

— Aproveite o baile com seu par, assim como eu vou aproveitar com o meu. — disse ela sorrindo, voltando para a mesa. O rapaz de 17 anos não desistiu, acompanhado-a até a mesa.

— Eu sei que você veio com o "meu amigo", Ken, mas sabe como é. Ele é seu primo e a noite é uma criança.  — gracejou, sentando ao lado dela — Se você quiser, eu posso te mostrar os arredores da escola. Tem uns bancos bem aconchegantes no jardim. — achando-se o mais irresistível dos homens.

— Eu tenho certeza que estes lugares devem ser bem interessantes, mas... sabe... eu prefiro o quarto do Kentin. A cama é pequena, mas o resto é grande. — Jeanete sabia provocar quando queria e uma coisa que ela não tinha era vergonha e timidez. A altivez de sua voz ganhou um tom sedutor que fez os pelos do corpo daquele garoto inconveniente eriçar. Ele não esperava por aquela resposta. E como se não bastasse dizer aquilo de forma tão sedutora, ela usou as palavras de forma a duplicar o sentido delas. Será que ela e o pirralho tinham um "lance"? Esta era a sua indagação; mas ele duvidava daquilo.

— Mas vocês são primos.

— É mesmo? Pensei que ninguém havia notado isso. — ironizou delicadamente, mantendo-se no personagem, tomando um gole do seu ponche. Seu sorriso denunciava seus pensamentos. — E por favor, levante-se. O Kentin está voltando e eu não quero que ele pense besteira.

— Eu não acredito. Ele é um pirralho! — indignou-se. Ser dispensado por causa do Ken, o garoto que ele tanto zoou e perseguiu naquele ano era humilhante.

— O que você pensa dele não me interessa. Eu o amo e para mim ele é muito melhor que você. Agora saia daqui antes que ele volte. Não quero que ele se chateie comigo! — a firmeza daquelas palavras fez o rapaz achar que o pequeno nerd não era tão bobo quanto todos pensavam. Ele saiu de perto dela perguntando-se o que o pirralho tinha de tão interessante para "pegar" uma prima como aquela, ainda sem acreditar totalmente naquela história. Ele não queria acreditar naquela história.

— Onde você estava, Kentin? Por favor, não me deixe sozinha de novo. — disse ela ao seu par, levando-o a se perguntar o que havia dado nela, que no seu normal diria: Onde você se enfiou, Kentin? Se você me deixar sozinha de novo, eu te soco!

Mal ele sabia que as mesas, cadeiras, luzes e vasos, além das paredes, tinham ouvidos e boa parte deles atentos aos dois.

— Eu te vi conversando com o Cleber, então não quis atrapalhar. — contou sentando ao lado dela. — Ele flertou contigo, não foi? — perguntou, curioso por saber como a prima se livrou daquele encosto.

— Foi ele quem veio atrás e mim, eu juro. Eu não dei ousadia pra ele.

— Não precisa se justificar pra mim, Ane. — disse Ken, chamando-a pelo apelido, ainda sem entender o motivo de tanta delicadeza. Embora ela tivesse seus rompantes quando estressada com alguma coisa, não era grossa, mas também não era delicada. Ela era sim, super educada e disciplinada. — Você é ...

— Por favor, não fique chateado comigo, Kentin. Eu não tive culpa.  — interrompeu-o, antes que ele dissesse algo que não era para ser dito. — Você sabe que neste baile só existe você para mim. — falou colocando a mão sobre a dele, que sorriu ao ver o sorriso dela. Sua ingenuidade não o deixou perceber o que a prima estava fazendo, mas ele sabia que ela nunca flertaria com garoto algum estando ali com ele, sendo sua companhia naquele baile, por amizade e por amor de primos que foram criados juntos.

— Obrigado por ter aceitado ser meu par hoje, Ane. Se não fosse por você eu nem teria vindo.

— Eu já disse antes e vou repetir. Eu faço qualquer coisa por você, Kentin. — reiterou a promessa feita quando ainda era criança, de que sempre estaria ao lado dele, ajudando-o no que quer que fosse.

— Eu também faço qualquer coisa por você, Ane. — reforçou sua promessa, também feita a ela quando crianças, de que nunca lhe daria as costas, entrelaçando seus dedos aos delas.

O que para aqueles dois era apenas a repetição de uma promessa de ajudar o outro a ser feliz, fundamentada num forte laço de amizade, para os que viam a cena e ouviam o que diziam, era uma declaração velada de amor.

Jeanete não deixou o primo quieto um minuto. Eles dançaram, descansaram, falaram do passado, do futuro, riram e dançaram de novo, até os pés de ambos doerem e não terem mais histórias engraçadas para lembrar. Não faltaram olhares sobre eles. Para o jovem nerd, aqueles olhares curiosos sobre eles nada mais era que desdenho, pois o garotinho sem graça precisou levar a prima ao baile por não conseguir um par, mas Jeanete sabia que na verdade eram olhares de despeito, inveja, pois o garotinho sem graça, na surdina, tinha um caso, provavelmente de nível 2[1], com uma garota 1 ano mais velha e bem mais madura que todas as garotas daquele baile, além de gostosa, é claro. Ela podia não ser convencida, mas sua alto-estima era surpreendente.

Até mesmo Lynn se incomodou por "descobrir" que ele tinha um caso às escondidas com a prima e de nível 2, pois dias antes o rapaz havia se declarado a ela e naquela noite mesmo ele havia lhe chamado para dançar. Embora ela não gostasse do rapaz o ciúme do despeito a cutucou.

— Então, Ken, está se divertindo? — foi até ele.

— S-Sim, estou. E você, Lynn?

— Também. Onde está a sua prima?

— Foi lá fora ligar para o meu pai vir nos buscar.

— Desde quando vocês estão juntos? — Lynn não se aguentou. Ela tinha que tirar aquela história a limpo.

— J-Juntos? A-Ane e eu? C-Como assim?

— Ah, Ken. Não se faça de bobo. Todo mundo já sacou que você tem um casinho com a sua prima. E pensar que eu acreditei naquele seu papinho de que me ama e que nunca ficaria comigo às escondidas. — Lynn parecia bem chateada com o aspirante a cadete, mas na verdade ela só queria arrancar a verdade dele, desde que esta verdade fosse que ele a amava e que Jeanete era só uma distração.

— Pois estão todos errados! Ane e eu somos melhores amigos. Entre nós nunca poderia ter nada deste tipo. — afirmou o franzino, achando na sua inocência e acreditando na sua esperança que sua amada Lynn estava com ciúme. — Além do mais, eu nunca ficaria com outra garota que não fosse você. Eu só amo você Lynn! — declarando-se novamente.

Aquela verdade foi para Lynn muito melhor que a que ela esperava ouvir.

— Que pena, Ken. Eu estava até feliz por você, pois ficando com a sua prima você me esqueceria. — comentou a garota, que não queria deixar transparecer que, apesar de não querer nada com aquele garoto, não gostou de saber que ele teria algo com uma garota que alguns colegas do baile acharam mais interessante que ela.

— Se bem que... — por um pequeno fragmento de minuto o coração de certo rapaz de óculos fundo de garrafa se encheu de esperança. — Sua prima deve gostar de garotos fortes e atléticos, afinal de contas, ela estuda numa escola militar e lá deve ter um monte deles. — inundando-se de desilusão em seguida. Sutilmente aquela garota se desfez dele novamente.

— Ah, Ken. Não faça essa cara. Eu não quis te ofender. Eu só disse o óbvio.

— Tudo bem, Lynn. Eu entendo.

— Prontinho, Kentin. Já liguei pro tio. Daqui uma meia hora ele estará por aqui. — disse Jeanete ao voltar para a mesa, estranhando o olhar triste do primo, ainda mais com aquela garota sentada ao lado dele.

— Que bom. Eu já estou cansado deste baile idiota. — disse ele amuado, levantando-se. — Então nos despedimos aqui, Lynn. Desejo tudo de bom para você em Paris. — despedindo-se da sua amada algoz, deixando-a sozinha naquela mesa, indo esperar o pai do lado de fora, longe daquela garota que parecia se sentir bem em fazê-lo sofrer.

A cadete de vestido champanhe e pés descalços coçou a nuca, encarou a garota de sorriso sarcástico, sentindo uma vontade louca de dar-lhe uma chave de pescoço, mas como não podia, apenas deu-lhe uma olhada intimidadora, fazendo-a minguar o sorriso, e depois foi atrás do primo, encontrando-o sentado no banco do ponto de ônibus do outro lado da rua, de frente para o ginásio da escola.

— Quer dizer que só porque uma garota idiota não quis dançar contigo o baile foi idiota? — perguntou, sentando-se ao lado dele. — A minha companhia não valeu de nada? — e deitando a cabeça em seu ombro, colocando os sapatos no banco, do outro lado, desejando arduamente uma massagem nos pés. — Uma pena, porque eu realmente me diverti.

— Eu também me diverti, Ane, mas... — titubeou por um instante.

Seus óculos pousavam sobre seu colo, seguro por suas mãos, que giravam o grosseiro acessório enquanto seus verdes e úmidos olhos fitavam a escola, sem conseguir definir quem entrava e quem saía. Ele não encontraria o caminho de volta para o ginásio se desejasse retornar para lá, o que não era o caso. Sem aquelas grossas e pesadas lentes à frente dos seus olhos tudo o que via numa distância maior que dois palmos eram vultos e manchas, como se alguns quadriculadinhos censurassem tudo a sua frente. Ele não queria ver a cara de deboche dos ex-colegas de escola.

— Mas o quê? — perguntou a cadete enquanto massageava os pés. Literalmente, ela nunca mais usaria os scarpins de bico e salto fino da mãe.

— S-Se não fossemos primos... — titubeou um instante, pensando se dava voz a sua curiosidade melancólica ou não.

— Se não fossemos primos... — repetiu ela, querendo que ele verbalizasse o que estava pensando.

— V-Você se interessaria por um garoto como eu, Ane? — perguntou, sem medo, embora um pouco sem graça. Ele sabia que Ane nunca mentiria para ele, nem diria nada para fazê-lo se sentir bem apenas por pena.

Desconfortável, foi assim que Jeanete se sentiu com aquela pergunta. A chateava saber que o primo se sentia inferior aos outros garotos. A irritava saber que ele se sentia daquela forma por causa de uma garota idiota que só tinha olhos para a casca das pessoas. Ela respirou fundo, colocou o pé que estava massageando de volta no chão e sem tirar a cabeça do ombro do caçula, olhou para ele e respondeu a pergunta:

— Você quer que eu seja sincera?

— Quero. — ele estava com medo da resposta, preferindo manter seu olhar perdido em direção à escola do que voltado àquela cadete com o rosto recostado em seu ombro, pois a distância não era suficiente para evitar que ele visse sua face perfeitamente. Ele não ia suportar ver os olhos azuis da sua melhor amiga fitando-o enquanto lhe dizia que preferia garotos fortes e atléticos.

Jeanete era uma garota igual a qualquer outra, diferenciando por algumas características particulares, como qualquer pessoa, e uma delas era não se deixar levar pela primeira impressão, tampouco pela aparência. Ainda com seu rosto repousado no ombro do primo ela colocou sua mão sobre a dele e o deixou saber como pensava.

— Não vou negar que os garotos fortes e estilosos atraem a minha atenção, assim como garotas bonitas e bem vestidas atraem a atenção de qualquer garoto, inclusive a sua. Mas daí, ficar com eles e gostar deles só por causa disso, é idiotice, coisa de gente fútil. O que me faz gostar de um garoto é quem ele é, a personalidade e o caráter dele. — falou com a tranquilidade de quem conhecia aquele rapaz que segurava sua mão desde que se conhecia por gente, pois 1 ano e 3 meses não era tanta diferença assim; melhor até que qualquer outra pessoa.

— Entendi. Mas... não foi essa a pergunta que eu fiz.

Aquela resposta não o surpreendeu. Ken cresceu ao lado da prima, sempre juntos, nos momentos bons e ruins, até porque, sendo eles os mais novos no meio de 5 primos, tendo ela uma diferença de quase 4 anos do seu irmão mais velho, o primo do meio, era natural que ficassem sempre juntos, pois as idades eram próximas. Fazia apenas 1 ano que estavam afastados, tendo se visto apenas no inverno, pois a escola militar era em regime de internato e não aderia a boa parte dos feriados franceses.

— Só sendo uma garota muito boba para não ficar contigo sabendo quem você é e conhecendo seu caráter.

— Mas e você, ficaria comigo? — não teve como ela não rir baixinho com aquela pergunta, tão boba e ao mesmo tempo tão fofa. "Haja insegurança!" foi seu pensamento enquanto entrelaçava seus dedos aos dele.

— Kentin. — chamou-o, querendo que este olhasse para ela, cujo rosto deixou o repouso daquele ombro, mas manteve-se próximo do rosto dele. — Olha pra mim. — ao ponto dele conseguir identificar cada traço de expressão sem nada se turvar devido sua miopia. Ele não conhecia aquela expressão dela. — Você quer me beijar?

Aquela resposta sim o surpreendeu.

— N-Não foi i-isso que eu quis... n-não foi minha intenção... — ele não perguntou aquilo com o objetivo de ficar com a prima. Ele não queria que ela o interpretasse errado. Ele não queria ser indelicado. Ele desviou o olhar, morrendo de vergonha, sentindo-se um idiota infantil e melindroso. — Desculpe-me, Ane.

— Não se desculpe, só olhe pra mim. — pediu, sem perder a tranquilidade. Ela sorriu ao ver rubor na face dele. Ken era lindo sem aqueles óculos, com um traço ainda um pouco infantil, mas nada que o tempo não fizesse amadurecer. — E me beije.

— M-Mas você é minha prima. — justificou, virando o rosto, fugindo novamente o olhar, tentando encontrar naquele parentesco uma forma de não parecer mais bobo do que já estava sendo, por medo de dizer-lhe o que ela já imaginava.

— Você não quer me beijar porque somos primos ou por que eu não sou o tipo de garota que te atrai? — perguntou com a voz de quem sabe como inverter sutilmente uma situação. Pela primeira vez Ken estava sem ação diante da prima, única pessoa que ele nunca teve medo de dizer o que pensava e sentia. As mãos dele começaram a transpirar. Ele teria soltado a mão de Jeanete, mas ela não deixou.

— N-Não é isso. É que... — ele precisou respirar fundo para sussurrar as palavras seguintes. — E-Eu nunca beijei uma garota. — mais fofo impossível. O rosto inteiro dele estava rubro e quente.

— Olha pra mim. — não tinha como ela resistir àquele olhar tímido, de quem diz quero, mas não sei se posso. — Toca o meu rosto. — pediu com um sorriso sedutor e uma voz macia. — Eu gosto que toquem meu rosto antes de ser beijada. — ali ele soube que ela não se importava dele ser BV. — Está tudo bem, Kentin. Nada vai mudar entre a gente se você me beijar.

— T-Tem certeza?

— Tenho, seu bobo. — não tinha como não se render. Tocar aquela face nunca foi algo que ele pensou em fazer, não daquela forma, não com aquela intenção, mas naquela noite, naquele momento, era o que ele mais queria.

Jeanete tinha a face macia e delicada, assim como Ken tinha a mão macia e carinhosa. Assim que ela fechou os olhos, entregando-se ao carinho da mão dele, ele soube que podia beijá-la. Talvez com outra garota ele tivesse se intimidado, com medo de não beijar do jeito certo ou da garota não gostar do sabor da sua boca, mas com Jeanete não, ela era diferente, ela era mais que sua prima, era sua melhor amiga, com ela os bons momentos sempre ficavam melhores e os ruins se tornavam toleráveis, então ele sabia que por pior que fosse, sendo com ela, ainda assim seria bom de alguma forma e que futuramente lembrariam juntos daquilo e ririam.

Timidamente ele tocou os lábios dela com os deles e para não se arriscar a errar no beijo, moveu-os como os dela, que eram macios e com gosto de batom, como ele sempre imaginou que os lábios de uma garota seriam. O coração dele batia acelerado tamanha ansiedade e nervosismo, apesar de estar seguro do que estava fazendo.

— O que foi? — perguntou ele descolando os lábios dos dela ao sentir que ela riu enquanto o beijava. — Fiz alguma coisa errada?

— Sua boca... combina com você. — disse ela, e ele quis saber por quê.

— Ela é quente. — revelou, referindo-se a temperatura da boca dele.

— E isso é ruim?

— Não. É bom. Muito bom. — o toque dos dedos nos seus próprios lábios, o olhar e o sussurrar das palavras deram ao jovem nerd a confiança que lhe faltava para fazer aquele bom se tornar algo muito melhor, como sempre era com eles, em tudo o que faziam. Ele sabia que aquele momento era só um momento, motivado, a princípio, pelo fora de uma garota cruel, depois pela necessidade de se sentir desejado por uma garota e por fim, pela curiosidade de saber que gosto tinha a boca da sua prima. Ele sabia que aquele beijo era só um beijo e nada mais que isso, mas ainda assim era o seu 1º beijo e o fato de ser com Jeanete, alguém que ele tinha a certeza absoluta que faria qualquer coisa para vê-lo feliz, o fez ter um valor ainda maior.

Ken tocou novamente a face de Jeanete, fazendo um sorriso brotar nos lábios dela, que convidaram, sem dizer uma palavra, os dele a outro beijo, e que ele não negou. A ansiedade e o nervosismo já o havia abandonado, dando lugar a certo atrevimento, pois enquanto mantinha uma de suas mãos sobre aquela face macia, envolveu sua dona com o outro braço, pela cintura, aproximando mais seus corpos. Só por isso eles soltaram as mãos.

Fazia tanto tempo que Jeanete não beijava um garoto, 4 meses para ser mais exato, quando ela resolveu ficar com um colega da escola antes de visitar a família nas férias de fevereiro. Na escola militar não havia garotos e garotas, mas sim, cadetes, e romances não eram aceitos dentro da escola, tampouco eles tinham tempo para tal coisa devido a rotina de estudos e atividades físicas. Aquele afago em seu rosto, aquele beijo macio e quente e aquele braço em sua cintura a fizeram se sentir uma garota de novo. Ela sorriu novamente enquanto o beijava e em meio àquele sorriso inseriu sua língua na boca dele, que também num sorriso, deixou-a entrar, retribuindo a ousadia em seguida, fazendo-a sentir o toque da língua dele no céu da sua boca feminina, levando-a a mordê-la enquanto pensava que ele aprendia rápido.

O laço que unia aqueles primos era totalmente fraterno. Jeanete nunca viu Ken com outro olhar que não fosse fraterno, mas a distância sempre muda alguma coisa; eles crescem, amadurecem e descobrem que, de certa forma, mesmo que só um pouquinho, não são mais como antes. A vida na escola militar não era fácil, principalmente para uma garota; as cobranças, a disciplina rígida, a obrigação de amadurecer mais rápido e de se tornar adulta mesmo sendo adolescente por muitas vezes sufocava e apenas a paixão por aquela carreira não era o suficiente para mantê-la de pé, levando-a a buscar forças com seu melhor amigo, numa conversa de horas no telefone, onde falavam sobre tudo, menos do que lhe afligia, pois com Ken todos os problemas se tornavam pequenos e as alegrias eram sempre gigantescas. Ela sabia que aquele momento era só um momento e que aquele beijo era só um beijo, motivado pelo clima de um baile de formatura, mas saber que era o momento dele, o 1º beijo dele, fez tudo ser maior e mais intenso.

— Porra, nerd sortudo do cacete. — diziam os garotos que os viam. Já, Lynn, não dizia nada. Ela engoliu seu despeito e voltou para o ginásio, para sorte do seu par, que ganhou um "beijaço".

Já Ken e Jeanete não viam nada a não ser os lábios um dos outro. Mas antes tivessem visto.

— EU POSSO SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI, KENTIN? — questionou o pai do garoto com a voz elevada.

— O que você pensa que está fazendo com seu primo, Jeanete? — assim como o pai da garota que só não se alterou por ter uma natureza mais calma.

Num instante, e num pulo, aqueles 2 estavam distantes um do outro e de pé, sem saber o que dizer a nenhum daqueles 2 homens parados a frente deles. Giles, o pai do Ken era o primogênito, o irmão mais forte, o durão, o mais nervoso, aquele que brigava por pouca coisa, porém, dos 3 irmãos era o mais flexível com o filho e a esposa. Já Andrey, o pai de Jeanete, o caçula, era o mais calmo e ponderado, porém o mais rígido com os filhos, aquele que nunca voltava atrás do que dizia e que não titubeava em castigá-los caso achasse necessário. Já o irmão do meio - que ficara em casa - era o equilíbrio entre os dois, o diplomático.

Eles tiveram muito que explicar quando chegaram em casa.

 

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Notas finais do capítulo

[1] Caso de nível 2 = caso sexual.



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