Ponto Final escrita por Lize Parili


Capítulo 3
Ponto Final




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— Onde você foi, Kentin? Eu vou embora hoje e você resolve sumir! Bela consideração comigo. — reclamou Jeanete, cujo humor não estava dos melhores.  Embora ela tenha explicado ao pai que aquele tinha sido apenas um beijo motivado pelo clima do baile e que ela e o primo eram apenas isso, primos e amigos, não teve jeito de amansar a fera. Suas férias de verão com o primo na casa da avó dele, em Mônaco, foram para o buraco.  Desde que a avó materna do Ken mudou para Mônaco, há 5 anos, que eles passavam o verão com ela e aquele seria o 2º ano que Jeanete não ia junto, pois no verão anterior ela estava ingressando na escola militar, mais cedo, por querer fazer um curso de verão sobre código Morse.

  — Desculpe-me, Jeanete. Eu tive que fazer uma coisa. — disse ele com cara de quem havia aprontado.

— Coisa? Que coisa? — questionou. — Pela sua cara não foi coisa boa. Conta logo, vai!

— Antes prometa que não vai brigar comigo.

— Ah, nem vem com essa. Você sabe que se eu achar que você fez besteira eu vou brigar contigo, mesmo jurando que não vou.

— Prometa ao menos que não vai gritar, nem surtar.

— Ta. Isso eu posso prometer. Agora fala.

— Eu fui levar o presente de despedida da Lynn. — falou e tão rápido que Jeanete não entendeu direito, pedindo que ele repetisse devagar, mas ouviu bem o nome Lynn e só isso já a estressou. Assim que ele repetiu, sem olhar para ela, a garota coçou a nuca e mordeu o lábio para se conter e não gritar com ele, como prometido.

— Vou terminar de arrumar as minhas coisas. — disse ela levantando do sofá e indo para o quarto de hóspedes. Ken não esperava aquela reação. Ela nunca o ignorou. — Mas antes me diz uma coisa. — quis saber, voltando do meio do caminho, fula da vida. — Ela foi legal desta vez ou se desfez de você, de novo? Você bancou o cachorrinho e mendigou atenção de novo ou aproveitou o que rolou entre a gente para, pelo menos, fingir que foi vê-la por amizade e não por carência? Até se você resolveu dar uma de conquistadorzinho barato é mais aceitável, porque acredito que até você deva ter um limite pra humilhação.

— Por que você está falando assim comigo, Ane? — Jeanete nunca havia falado com tamanha ironia com ele antes, até porque ela não era daquele jeito. Aquilo o deixou confuso. Ela havia dito que nada mudaria entre eles.

— Aposto que você contou a ela que a escola militar também fica em Paris, sendo assim, você pode ir visitá-la de vez em sempre. Então... ela te deu o novo endereço dela?

— Se você quer mesmo saber, eu nem mesmo a vi. — contou, de cara fechada, chateado com a cena da prima. — E fui lá para vê-la, sim, me despedir, porque ela viaja hoje. Mas eu lembrei de tudo o que ela me fez e das coisas que você me disse, naquela noite, no ponto, antes de... você sabe... E eu percebi que você estava certa e entendi que ela não merece que eu a ame, então eu deixei a caixa com o ursinho na porta da casa dela e vim embora. Eu pensei em jogá-lo fora, mas resolvi deixá-lo lá, simbolizando meu último gesto de amor por ela, meu ponto final nesta história que nem mesmo chegou a ter um começo.

Jeanete ouviu aquilo tudo calada e admirada. Ela não imaginou que seu primo pudesse, enfim, acordar daquele amor platônico sem futuro algum.

— Eu banquei a idiota, não é? — perguntou com cara de cachorro sem dono, sentando ao lado dele no sofá.

— Na verdade, você bancou a namorada ciumenta. — disse ele com um sorriso tímido e suas bochechas coradas. Lembrar daquele beijo ainda o deixava sem graça, apesar de já ter passado uma semana.

— Nossa. É mesmo. — percebeu ela, rindo em seguida. — Mas você sabe que eu fico brava quando você se deixa ser pisoteado e aquela garota te magoou demais. Eu nem a conheço e a raiva que eu sinto dela é de matar, só por saber o que ela te fez. Acho que se um dia você vier a ficar com ela, eu nem sei o que sou capaz de fazer com você!

— Não se preocupe, isso nunca vai acontecer. Ela nunca se interessaria por mim.

— Ei, sem essa. Não se desvalorize. Ela é só uma idiota que não consegue ver nada além de aparência.  — Ken apenas sorriu.

— Quer ajuda com a mala?

— Não. Mas eu quero uns biscoitinhos caseiros pra viagem.

E assim seguiu o resto da manhã. Ken em meio à farinha, ovos, leite, gotas de chocolate e outros ingredientes e Jeanete passando e engomando sua farda, engraxando e lustrando o sapato e escovando o cap. No fim da tarde, no aeroporto, eles se despediram e prometeram manter contato durante as férias. Jeanete levou consigo a lembrança de um baile de formatura e um pote cheio de biscoitos e Ken repetiu a si mesmo, enquanto a via caminhar para a área de embarque que a partir daquele verão tudo seria diferente, ele seria diferente. Sua história até aquele dia estava ganhando um ponto final e uma nova começaria a ser escrita naquele verão, na praia.

Agora, se ele vai conseguir se manter firme àquele pensamento e àquele desejo, é outra história.

 

~~ Fim ~~


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Notas finais do capítulo

Então, é isso...rs
Espero que tenham gostado desta pequena fic do Ken.
Não sou muito boa para escrever histórias curtas, então, desculpem-se se deixo-vos curiosos sobre o que acontece depois...rs Quem sabe um dia eu dê continuidade a essa história. Por enquanto preciso direcionar minha atenção aos projetos que já tenho em andamento.

Paz e Luz!



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