Bishounen Senshi Sailor Moon escrita por Bella P


Capítulo 19
Capitulo 19




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Você se lembra? – Serenity perguntou, debruçada sobre o balcão do castelo, mirando a Terra ao longe. O seu vestido longo tinha a bainha arrastando no chão, como uma cauda curta. Naquela noite o cabelo longo e prateado esta solto, flutuando ao redor do corpo esguio dela como um manto de fios brilhando sob a luz das estrelas. – De como sentávamos nesta varanda, você em meu colo, admirando a Terra com um olhar fascinado e apaixonado e me dizia: “mamãe, por que não podemos ir morar lá”? – ela riu, ainda sem virar para encarar Usagi. – Você detestava as noites gélidas da lua. Detestava como o sol sempre brilhava fracamente sobre nós, como a nossa paisagem branca e imutável era entendiante, como os selenitas sempre pareciam os mesmos, e amava a variedade de cores que a Terra mostrava ter, em sua natureza, em seus habitantes. Como a atmosfera iluminada pelo sol era bela, seus mares e suas florestas. Eu não deveria ter ficado surpresa por você ter se apaixonado pelo seu príncipe, não é mesmo?

Rainha Serenity. – Usagi disse em um tom de reverência e a rainha finalmente virou para encará-lo, com um sorriso triste em seu rosto bonito e um olhar apagado.

Olhe para você. – Serenity ofegou ao mirá-lo. – Um rapaz, em poucos anos, um homem. – ela aproximou-se dele, depositando a palma de sua mão sobre a bochecha de Usagi em um gesto carinhoso. – Você está tão lindo quanto da primeira vez em que eu o segurei em meus braços.

Majestade... – Usagi a segurou pelo pulso erguido e contra a sua bochecha. Agora os olhos de Serenity brilhavam por causa das lágrimas.

Eu sinto muito, Selene. – ela pediu. – Eu nunca fui uma mulher de fibra e coragem como todos acharam que eu era. Eu era apenas uma máscara, uma fachada frágil, esperando o momento certo para desmoronar, mas eu sempre soube que você teria sucesso onde eu falhei.

Metalia. – Usagi murmurou o nome, porque o simples toque de Serenity em seu rosto o fez ver tudo, compreender tudo, decifrar nas entrelinhas a dor e o arrependimento da rainha.

Salve-a, Selene. Por favor, salve-a.

Majestade, – Usagi repetiu com pesar. – Metalia está além da salvação. – Serenity deu outro sorriso triste para ele.

Eu sei. – ela recuou mais um passo. – Mas a salvação tem várias formas. – Usagi inspirou profundamente, ganhando resolução somente neste gesto. A ordem estava clara, o pedido de sua rainha, em um tom suplicante, foi captado e devidamente coompreendido.

Eu sinto muito, Serenity. – disse a ela. Serenity não teve um final feliz, mas ao menos Usagi daria à ela este último desejo.

Eu também. Traga-a de volta para mim, Sailor Moon. E que você e Endymion tenham o Destino abençoado pelos deuses. O Destino que Metalia e eu não tivemos. – e com isto ela desapareceu.

Assim que Serenity sumiu, Usagi abriu os olhos.

 

oOo

 

Ikuko abriu a porta esperando qualquer um, menos Naru com o seu rosto suave e inocente e grandes olhos verdes.

— Oi tia. – ela disse naquele tom baixo e doce dela e a presença dela ali, na soleira de sua casa, lembrou a mulher de épocas mais simples. Um tempo onde a única preocupação dela como mãe era que os seus filhos estivessem bem alimentados, bem vestidos, que fossem crianças educadas e adultos generosos, que estivessem lá por ela quando ela estivesse velhinha. Que Usagi passasse de ano, que crescesse e amadurecesse mais um pouco, arrumasse uma namoradinha, tivesse o coração partido na descoberta do amor, que a adolescência dele fosse tranquila, que ele tivesse um grande futuro pela frente, e não que estivesse nas mãos de uma criatura que queria dominar a Terra e desejava a sua morte.

Ikuko engoliu o soluço e a muito custo conseguiu evitar que lágrimas brotassem em seus olhos. Com dificuldade, ela deu um sorriso para Naru, mas não acreditava que a menina tivesse comprado a sua máscara de tranquilidade. Não quando horas antes ela bateu na casa da garota, desesperada, a procura de Usagi.

— A senhora encontrou Usagi? – a pergunta não deveria pegá-la de surpresa. A única razão para Naru visitar a casa dos Tsukinos era Usagi, então era lógico que ela estava ali por causa do que aconteceu mais cedo. Mas, ainda sim, as palavras dela sufocaram Ikuko, a fizeram engolir em seco e tropeçar em sua resposta.

— Usagi, ele, eu... Quero dizer. – Naru suspirou.

— Usagi... está bem? – a menina perguntou, com hesitação, e o modo como ela desviou o olhar, o modo como os seus dedos pequenos torceram a barra de seu vestido, o modo como havia culpa e vergonha estampados no rosto dela, indicava que havia mais nesta história do que deixava transparecer.

— O que você quer dizer com isto, Naru? – o tom de Ikuko era duro. O tom de uma mãe que queria saber a verdade por detrás da travessura de um filho. Naru corou, hesitou e finalmente voltou a encarar Ikuko.

— Eu sinto muito, tia. Eu devia ter te contado antes, mas não sei por que eu não o fiz. Acho que não pensei que as coisas chegariam neste nível. – Ikuko estreitou os olhos para ela, deu um passo para o lado e a convidou para entrar, fechando a porta assim que ela passou e deixando o bafo quente das altas temperaturas que assolavam a cidade do lado de fora.

Luna explicara que as mudanças climáticas que afetavam o mundo era coisa de Metalia. A notícia daquela manhã, além do ataque no Zepp Tokyo, era que o Vesúvio despertara depois de anos, que um furacão assolava a costa do Atlântico, nos EUA, em uma época em que furacões não eram comuns na região. Terremotos ocorriam na América Central, violentas tempestades tropicais na América do Sul. Calor intenso na Europa como acontecia no Japão. Era o Reino Negro saindo de seu confinamento e espalhando a sua influência sombria ao redor do mundo.

— O que você deveria ter me contado antes, Naru? – Ikuko exigiu e viu os olhos da menina rodarem o primeiro andar da casa, a procura de algo, alguém. – Kenji foi trabalhar e Shingo está brincando na casa de um amigo. – explicou e Naru inspirou profundamente antes de dizer.

— Usagi? É Sailor Moon. Usagi é Sailor Moon. – a menina esperou pela reação explosiva de Ikuko, ao menos por indignação e raiva por saber do perigo e confusão em que Usagi se metera, mas Ikuko permaneceu a personificação da calma. – A senhora já sabia. – atestou quando percebeu porque Ikuko não havia feito um escândalo.

— Você aceita um refresco? – Ikuko ofereceu e tomou o caminho da cozinha, ouvindo os passos abafados e o slap slap dos chinelos de Naru poucos segundos depois, a seguindo.

— Tia? – a menina chamou ao sentar-se à mesa e enquanto Ikuko recolhia uma jarra de refresco de dentro da geladeira e dois copos do armário, acomodando-se ao lado dela à mesa e servindo a bebida.

— Há quanto tempo você sabe que Usagi é Sailor Moon?

— Desde o ataque daqueles monstros a joalheiria da minha família.

— Isso já faz meses. – Naru tomou um gole de sua bebida, e abaixou os olhos, envergonhada.

— Eu sei. Me desculpe.

— Como você descobriu? Pensei que a transformação dos senshis protegiam a identidade deles.

— De estranhos que não os conhecem à fundo ou fingem não ver o óbvio. Mas eu conheço Usagi a minha vida inteira. A senhora também, se encontrasse Sailor Moon em batalha, descobriria quem ele era. – Ikuko fez um “hum” sob a respiração. A lógica dela fazia sentido, em todas as vertentes.

Entendia porque Naru não lhe contara nada. Quando os sailor senshis surgiram, para salvar Tóquio, com os seus uniformes espalhafatosos, os seus golpes que mais lembravam magia vinda de personagens de mangá e os monstros vindos de desenhos infantis, ninguém deu muito crédito para esses ataques. Muitos acharam que fosse alguma jogada de marketing para divulgar algum vídeo game novo, ou novo desenho, que seria lançado. Mas, o passar dos meses mostrou que a coisa era mais séria do que aparentava ser. Os ataques estavam sendo mais destrutivos, pessoas estavam tendo mais do que energia sugada, muitas estavam ficando verdadeiramente feridas. Os efeitos colaterais eram enormes e as autoridades estavam começando a ficar preocupadas, conjecturando que o Japão estava sofrendo uma onda de terrorismo doméstico que concentrava-se principalmente na capital.

Mal sabiam eles que a situação seria em uma escala global, bastava Metalia libertar-se.

— Há quanto tempo a senhora sabe? – Naru questionou e Ikuko suspirou.

— Algumas horas. Encontrei os outros senshis...

— Makoto, Ami e Rei. – Ikuko arqueou as sobrancelhas para a menina.

— Lógica. No momento em que eles três entraram na vida de Usagi, Sailor Moon ganha mais companheiros de batalha. Foi por isso também que eu não te contei nada. Usagi não estava sozinho, então achei que ele estaria bem, seguro, até a senhora aparecer hoje de manhã procurando por ele. Foi quando eu percebi o quanto havia sido burra e que alguma coisa estava errada. – Ikuko suspirou mais uma vez. – Usagi está bem, tia? – os olhos verdes da menina eram preocupação pura e a mulher pegou uma mão pequena com a sua em um gesto de consolo.

— Não sei. – Ikuko apertou mais os dedos de Naru quando a menina ofegou e arregalou os olhos. – Mas ele vai ficar. Os outros sailor vão salvá-lo. – falou para a menina o mantra que repetia para si mesma desde que voltou para casa. – Enquanto esperamos, quer me fazer companhia? – pediu e Naru assentiu em concordância com a proposta. Porque esta era a única coisa que podiam fazer naquele momento: esperar e rezar. Rezar para que tudo terminasse bem.

 

oOo

 

O cenário que eles encontraram assim que o teleporte terminou foi um deserto de neve e gelo. Zoisite e Jadeite espertamente não os levaram diretamente para dentro do castelo, mas sim para um local mais afastado da construção principal, perto de um muro enorme e coberto por ervas daninhas congeladas. Nevava ao redor deles, as rosas que flanqueavam a estrada que levava até a entrada do castelo eram a única fonte de cor naquela paisagem branca. Vermelhas como sangue fresco, imaculadas mesmo diante da temperatura gélida e do vento frio.

Mamoru levou um choque que em nada tinha a ver com o vento congelante que bateu em suas bochechas quentes. Ver o castelo, miraculosamente inteiro, em pé, trazia-lhe lembranças doces e amargas à mente. Aquela construção foi o símbolo de uma época em que a sua família era o centro do poder na Terra. O reinado deles surpassou a influência e o território do Império Romano e foi facilmente derrubado como um castelo de cartas.

— Sabe aquelas bolas de cristais com paisagens de neve dentro? Me sinto em uma delas. – Júpiter resmungou, esfregando os braços e trincando os dentes para que esses não batessem. – Vocês não estão sentindo frio? – ele perguntou para Mercúrio e Vênus cujos uniformes não eram muito propícios para aquele clima.

— A Lua era igualmente fria durante a noite, só não nevava porque não tinha umidade o suficiente para isto. – Vênus deu de ombros durante a sua explicação.

— Eu sou a senshi da água e do gelo. Eu não sinto frio. – Mercúrio comentou, em um tom levemente presunçoso, e Júpiter abriu um largo sorriso maroto para ela.

— “O frio não vai mesmo me incomodar”. — ele cantarolou e recebeu um tapa na nuca de Marte e um rolar de olhos. – E qual é a sua desculpa? – o senshi perguntou ao companheiro que não parecia nada perturbado pela baixa temperatura.

— Fogo. Ou esqueceu qual é a minha fonte principal de poder?

— Acabaram? – Zoisite comentou, seco. Nunca ficou muito tempo na presença dos senshis para saber como eles agiam fora do ambiente de batalha e era surreal e familiar o modo de interação deles, porque era a mesma forma que os quatro generais e Endymion interagiam. Talvez a Terra e a Lua não tenham sido tão diferentes assim.

— E agora? Como vamos entrar? – Júpiter questionou, parando de roçar as mãos nos braços, porque de nada estava adiantando.

— Ala leste? – Zoisite murmurou para Jadeite. Uma fileira de árvores secas, com largos troncos e cobertas de neve os camuflava das vistas de quem arriscasse um relance pelas grandes janelas dos andares superiores do castelo, e os uniformes em grande parte branco dos sailors colaboravam. Endymion que era a exceção, que se destacava de forma dolorosa do grupo com as suas roupas negras.

— Os fundos não seriam melhor? A cozinha, talvez? Os corredores de acesso à ela são menos guardados. – Jadeite rebateu.

— Ou – Mamoru interrompeu os dois generais. – podemos ir pelas masmorras. – disse displicente e bateu com o pé no chão três vezes, fazendo um tump tump tump ecoar ao redor do grupo. Jadeite e Zoisite coraram. O túnel de fuga que passava pelas masmorras era um dos segredos mais bem guardados do castelo, de conhecimento de poucos e usado por muitas vezes pelos próprios generais e Endymion para “fugirem” para a cidade para uma noite na esbórnia.

Mamoru espalhou a neve com a sola de sua bota, revelando a porta do alçapão que, quando aberta, rangeu de forma ruidosa e fez todos congelarem e tensionarem os ombros. O barulho havia sido alto demais para o vento que soprava ocultar e por um minuto eles esperaram pelo aparecimento dos outros generais, mas nada aconteceu e eles descobriram o porquê quando uma explosão estourou os vidros da ala oeste, junto com boa parte de sua parede, formando um buraco de onde saía uma nuvem de fumaça densa e cinzenta.

— Quer saber? – Mamoru largou a alça do alçapão, fazendo este retornar com outro tump para o lugar. – Eu voto em irmos pela porta da frente.

— Firmou, amigo. – Júpiter declarou e não esperou pela decisão de seus companheiros, apenas correu na direção do castelo. Mercúrio ainda abriu a boca para protestar algo, dizer que era péssima ideia e que a intenção era eles não serem detectados tão cedo, terem a vantagem do ataque surpresa até o último minuto, e não simplesmente cair de cabeça no combate, mas outra explosão estourou mais vidros de janelas, fez blocos de pedra espatifaram-se no chão coberto de neve e então Kunzite veio voando por entre a nuvem de fumaça e entre escombros. O seu encontro com o chão foi claramente doloroso, porque algo estalou assim que ele bateu no solo, e Mercúrio ofegou quando na borda do buraco, assim que o vento soprou a fumaça pra longe, surgiu Usagi.

Mas aquele não era o Usagi que ela conhecia. As suas vestes não eram o uniforme de Sailor Moon, mas sim trajes completamente brancos, das calças, as botas e ao casaco. Sobre este haviam braçadeiras, caneleiras, joelheiras e peitoral de puro prata, que reluzia contra a luz fraca da manhã. O seu cabelo loiro estava repartido de modo que deixava a mostra o símbolo de meia lua da família real e em uma das mãos ele segurava um cetro de lâminas duplas.

O olhar de Usagi saiu de Kunzite, metros abaixo dele, caído e gemendo de dor pelos ossos quebrados, e foi para Júpiter que parou com um deslizar pelo caminho congelado. De Júpiter, os orbes azuis seguiram para os outros senshis e Mamoru. Mercúrio esperou que o amigo dissesse alguma coisa, desse a eles ao menos um sorriso de reconhecimento ao vê–los ali, ao ver que eles vieram resgatá–lo, mas tudo o que ele fez foi inclinar a cabeça levemente pro lado, como se estivesse ouvindo algo vindo de dentro do castelo, e então desapareceu das vistas deles.

— O que diabos foi aquilo? – Júpiter soltou assim que os outros senshis se aproximaram, chocado com o que tinha presenciado.

— Aquele... – Kunzite grunhiu, erguendo-se com dificuldade do chão e abraçando com o braço direito, o esquerdo contra o peito. – foi o príncipe Selene. – os senshis colocaram-se em posição de combate, embora nenhum deles acreditasse que Kunzite fosse de grande ameaça no momento. O homem estava mais pálido que o normal e suor descia pelo seu rosto, mostrando que ele estava sentindo dor demais para investir em qualquer ataque. Além do mais, o olhar do general estava cravado em Mamoru, de modo que ele nem ao menos dava atenção aos sailors. – Alteza. – ele ofegou, em um tom de reverência, e tentou fazer uma reverência, mas o braço ferido não o deixou ir muito longe.

— Kunzite? – Zoisite deu um passo à frente. O seu tom era hesitante e seu olhar desconfiado, mas ele ainda tinha esperanças. Esperanças de que Kunzite tenha conseguido libertar–se da influência da Escuridão e visto a luz. – Você voltou a ser... Você? – Zoisite perguntou com hesitação e Kunzite piscou repetidamente antes de compreender o que o homem mais novo quis dizer.

— Se você quer saber se eu lembro de como a rainha Metalia usou a Escuridão para nos manipular e nos enganar, nos fazendo atacar e massacrar um povo que nada nos fez, é, eu lembro.

— Graças aos deuses! – Zoisite gritou, animado, jogando-e contra Kunzite e o abraçando com força. O general ficou branco como papel diante do impacto do corpo menor contra o seu, justamente sobre o seu braço quebrado, e só não desmaiou por pura força de vontade.

— Zoisite! – Jadeite gritou quando viu Kunzite perder completamente a cor e com delicadeza soltou Zoisite do outro homem.

— Oh! – Zoisite disse em tom inocente, piscando os seus olhos claros repetidamente. – Me desculpe. – pediu.

— O que está acontecendo lá dentro? – Mamoru perguntou. Ainda tinha um pé atrás com os generais. Na verdade, tinha os dois, mas confessava que lá no fundo estava feliz por pouco a pouco tê-los de volta ao seu lado.

— Selene acordou. – Kunzite comentou, com a atenção voltada para o braço quebrado e que era avaliado por Jadeite. – E está de mau-humor.

 

oOo

 

Usagi sentou lentamente sobre o altar, piscando os olhos repetidamente para colocá-los em foco. Era estranho lembrar-se da vida passada em uma porrada só. As memórias de Selene e do Milênio de Prata pareciam um sonho que iria esvair a qualquer momento, mas não esvaía, e Usagi tinha plena consciência de que elas eram reais.

A energia do Cristal de Prata não mais pulsava ao seu redor, mas ele a sentia de forma latente dentro de si. O Cristal de Prata tinha forma, como qualquer outra joia, mas geralmente preferia acolher-se dentro do calor do corpo de seu guardião, aninhando-se contra a sua aura e procurando aconchego nesta.

Usagi desceu do altar quando sentiu-se completamente desperto. O ambiente a sua volta lhe era estranho, mas ele não precisava ser um gênio para adivinhar onde estava. Além da única janela que havia naquela sala, uma paisagem branca e coberta de neve apresentava-se aos seus olhos. Não havia horizonte ao longe, ou outras construções. A única cor naquele cenário era o caminho de rosas que vinha dos portões de bronze até a entrada do castelo.

Usagi afastou-se da janela, deixando a pesada cortina de veludo que erguera voltar para o lugar. Havia um silêncio sepulcral no castelo, mas aquela quietude toda não o enganava. Estava no coração do Reino Negro e armadilhas deveriam estar montadas em cada esquina. Ainda sim, Usagi aventurou-se para fora de sua suposta prisão. Ele tinha uma missão a cumprir. Não, era mais um favor, e não sairia dali até realizar o último desejo de sua mãe.

Serenity havia sido caridosa com Metalia, mostrado mais piedade do que a outra rainha jamais demonstrou, a trancando em outra dimensão e em sua própria casa. Na verdade, Serenity criara uma prisão dentro da prisão, pois trancafiara Metalia em uma redoma de gelo e cristal, ironicamente, na sala do trono, segundo informações do próprio Cristal de Prata. Agora a função de Usagi era encontrar o dito salão.

O corredor era tão vazio quanto o restante daquela construção, embora tivesse tapeçarias e móveis o decorando, junto com quadros que pareciam observar atentos o progresso de Usagi. E talvez observassem.

Um vento frio encanado soprou, causando um arrepio no corpo de Usagi. O som de metal estalando no ar rimbombou pelas paredes quando o cajado, que na verdade nunca fora um cajado mas duas espadas unidas em uma só, de lâmina dupla surgiu na mão dele. No ponto de encontro entre o punho das duas espadas surgiu um cilindro de vidro e dentro deste o Cristal de Prata, do tamanho de uma bola de gude, girava langorosamente sobre o próprio eixo, sem nenhuma pressa neste mundo.

Algo bateu as costas de Usagi. Uma porta de madeira havia sido fechada pelo vento que soprava, dando um ar mais macabro àquele cenário. A sua esquerda, uma outra porta rangeu, expondo a Usagi o que parecia ser um quarto pelo qual ele teria passado direto se algo no aposento não estivesse atiçando a sua curiosidade.

Usagi entrou no quarto, um ambiente espaçoso e que mostrava ser mais do que um aposento para acolher visitas da corte. A cama de dossel conseguiria abrigar três adultos confortavelmente, as cortinas de veludo que a adornava eram de um tom intenso de vermelho, quase vinho, deveria ter ao menos umas dez almofadas a enfeitando, junto com vários travesseiros e a colcha que a cobria era bordada com fios de ouro e da mesma cor das cortinas penduradas no dossel.

Usagi depositou o cajado sobre o baú ao pé da cama e em seguida percorreu a ponta dos dedos sobre o tampo de uma mesa de mogno. Tinteiro e pergaminhos estavam arrumados cuidadosamente a esquerda. A direita havia livros de capa de couro e espinha costurada com corda, prendendo as páginas escritas a mão. Um suave cheiro de rosas permeava o quarto, embora não houvesse nenhum sinal da flor no ambiente.

Quando Usagi abriu a porta do armário, encontrou peças de roupas que lhe eram extremamente familiares. Ele conhecia aquela capa de viagem e aquela jaqueta de caçada a qual ele recolheu do gancho que a prendia e deslizou a palma sobre o couro macio e gasto pelo tempo. A roupa ainda estava morna, como se o seu dono a tivesse retirado do corpo poucos minutos antes e a colocado no armário.

Algo tilintou dentro do bolso da jaqueta e ao enfiar a mão neste, Usagi pescou com as pontas dos dedos uma corrente, a puxando até que esta revelou um pesado medalhão em sua ponta. Usagi lembrava-se dessa joia. O medalhão era uma caixinha de música, um dos poucos presentes que recebera na vida de seu pai, e que ele dera para Endymion como presente de aniversário.

Usagi colocou o medalhão de volta ao bolso da jaqueta e com um brilho dourado esta desapareceu de suas mãos, indo abrigar-se no mesmo subespaço em que as suas roupas costumavam se esconder quando ele se transformava. Ele recolheu o cajado de sobre o baú, lançando um longo olhar para a cama, e franziu as sobrancelhas quando algo fez um baixo crec no quarto.

Usagi não pensou, apenas reagiu e girou, bloqueando com uma das lâminas a espada de cristal que vieram com toda força, em um arco, na direção de sua cabeça.

— Sailor Moon. – Kunzite disse com desprezo e Usagi deu um sorriso de canto de boca para o general, que aplicava pressão na espada, forçando a lâmina para baixo.

Um clique soou e então uma lâmina soltou da outra, desfazendo o cajado, e Kunzite só teve tempo de dar um salto para o lado quando a espada cortou o ar e a onda de choque que ela emanou causou uma explosão de tremer toda aquela ala do castelo e abrir um buraco onde estava a janela. Kunzite arregalou os olhos diante da potência do golpe e voltou o olhar para Sailor Moon, que sorria de canto de boca para o general, com um ar presunçoso. Foi então que ele reparou que a roupa do senshi estava completamente diferente. E aquele traje, aquela armadura prateada como a superfície da lua, ele vira apenas uma única vez.

— Selene. – ofegou ao reconhecer com quem estava lidando.

Usagi manteve o sorriso intacto, uniu novamente as espadas e o Cristal de Prata, que havia buscado refúgio dentro dele quando ele desconectou as armas, retornou a sua posição prévia e emanou um pulso de luz no instante em que Usagi girou a arma sobre a cabeça e enterrou uma das pontas no chão. Outra onda de choque foi emanada pela arma, mais poderosa do que a anterior, e que arremessou Kunzite buraco da parede afora, junto com pedaços de móveis e decoração.

O som de algo batendo contra a neve e quebrando fez Usagi subir na beira do buraco para ver se não havia causado muito estrago. A sua intenção não era matar o general, apenas tirá-lo do caminho e dar-lhe um choque de realidade, exorcizando a Escuridão de dentro dele com o poder do Cristal de Prata. O problema era que Usagi ainda não sabia usar a joia direito, e não era porque ele não se lembrava como usá-la, mas porque ele nunca completou o treinamento sob a tutela da rainha Serenity, portanto era provável que ele tenha exagerado na dose sem querer.

Um movimento no campo periférico de sua visão lhe chamou a atenção e o seu olhar encontrou os dos sailors por um instante, e Usagi confessava que por dentro ele estava feliz em ver os amigos, em ver Mamoru, embora soubesse que o seu rosto não estivesse demonstrando nada. Acontece que ele estava sendo movido a pura determinação, portanto sentia-se levemente desconectado da realidade. O suficiente para não conseguir esboçar nenhuma emoção ao ver os amigos ali.

O som de algo metálico batendo contra o chão de pedra chegou aos ouvidos de Usagi, que inclinou um pouco a cabeça na direção do barulho. O som se repetiu e ele apertou os dedos no cabo de seu cajado e desceu do beiral, cruzando o quarto destruído em largas passadas e chegando ao corredor. Um fuushh foi o único aviso que Usagi teve e por reflexo ele abaixou-se no instante em que a lâmina do machado cravou-se na superfície de um quadro. Quando ele recuou, erguendo a cabeça, foi para ver uma armadura completa que soltava o machado do quadro. Às costas dela haviam outras, empunhando vários tipos de armas, e bloqueando o corredor.

Usagi tinha a leve suspeita de que aquele seria o caminho para a sala do trono, para Metalia. Agora ele só tinha que arrancar aqueles empecilhos dali.

Com uma expressão fechada e cenho franzido, Usagi desfez a conexão das espadas, transformando-as em duas armas ao invés de uma, e inspirou profundamente, travando os pés no chão e engolindo em seco quando a primeira armadura praticamente voou em sua direção, o atacando.

 

oOo

 

— Este lugar é macabro. – Marte comentou quando eles entraram no castelo, pela porta da frente. Do que adiantava eles tentarem um ataque surpresa se Sailor Moon já tinha praticamente denunciado a presença deles ali?

— Me lembra o castelo da Bela e a Fera. – olhares intrigados caíram sobre Júpiter. – O quê? Eu tive infância, eu vi desenhos. E vão me dizer que não lembra? Escondido, um clima eternamente de inverno, interior sombrio e cheio de perigos a qualquer canto.

— Se os objetos de decoração começarem a cantar, eu não respondo por mim. – Vênus resmungou.

— O que é a Bela e a Fera? – Zoisite disse, com genuína curiosidade permeando a sua voz.

— Amigo. – Júpiter colocou um braço sobre os ombros do general, que curiosamente era mais baixo do que ele. Um enorme sorriso estava no rosto do senshi, o que fez Zoisite corar. – Se sairmos daqui vivos, eu tenho tanta coisa pra te ensinar, jovem padawan.

Padawan? – Zoisite repetiu, confuso não só com as colocações de Júpiter, como pela familiaridade com que o sailor o tratava, como se até ontem eles não estivessem tentando se matar.

O olhar irado de Jadeite não demoveu Júpiter de sua posição, mas fez Zoisite ter plena consciência do gesto íntimo e, ainda envergonhado, sair de sob o braço do senshi. Júpiter não pareceu incomodado com a óbvia rejeição, na verdade ele continuava sorrindo naquele tom de flerte para Zoisite. Isto até que Mercúrio pigarreou e o sorriso no rosto de Júpiter desfez-se para ser substituído por um olhar culpado quando ele mirou a garota que tinha ambas as sobrancelhas erguidas na direção dele.

— Se vocês já terminaram. – Kunzite grunhiu. Seu braço ainda doía, mas ele já sentia que os seus poderes estavam curando pouco a pouco o osso quebrado. – Marte não está de todo errado. Há armadilhas ao longo do castelo e Beryl já deve saber que Sailor Moon acordou. O desprendimento de energia foi o suficiente para alertá-la. Além do mais, ainda temos a questão do Nephlyte.

— Que questão do Nephlyte? – Mercúrio comentou.

— A questão de que ele ainda está sob a influência do Reino Negro, portanto... – Jadeite começou a explicar quando foi interrompido por uma chuva de cristais afiados que voaram na direção deles, os fazendo sair da linha de ataque em um pulo e refugiar-se atrás de colunas e móveis, em pontos separados do hall de entrada. – ele pode atacar a qualquer momento. – completou quando viu o último general no topo da escadaria, flanqueado por youmas que, ironicamente, foram criados a partir de peças de decoração do castelo.

— Sério mesmo? – ele ouviu Vênus resmungar ao longe e Júpiter gargalhar de um ponto mais perto de onde Jadeite estava.

— Será que eles vão cantar “Seja o nosso convidado”? Essa eu pagaria para ver. – o senshi disse entre gargalhadas.

— Júpiter! – Mercúrio repreendeu o companheiro e a voz dela soou da mesma direção que Júpiter estava. Aparentemente, ambos procuraram refúgio juntos.

— Você precisa melhorar o seu senso de humor, Elsa. – Júpiter gracejou e Jadeite pôde jurar que ouviu Mercúrio rosnar. O general não era muito familiarizado com os senshis, mas Mercúrio sempre lhe deu a impressão de ser a mais calma dos sailors, aquela que não perdia a paciência fácil, exceto quando Júpiter estava envolvido, ao que parecia.

Vênus deu um olhar para além da coluna, para a escadaria onde Nephlyte estava e os youmas que desciam de forma desajeitada os degraus. Aparentemente candelabros e relógios cucos não eram uma boa matéria prima para criar monstros sobrenaturais.

— Algo me diz que se quisermos chegar a Sailor Moon, teremos que passar por eles. – ela comentou com Mamoru que usava um aparador como barreira de proteção para a segunda chuva de farpas de cristais que foram na direção deles.

— Nós não temos nem ideia de para onde Moon foi. – Marte resmungou atrás de uma cadeira que mais parecia uma almofada de alfinetes de tão espetada que estava. – Este castelo é enorme, ele pode estar em qualquer lugar.

— Eu apostaria no salão do trono. – Kunzite comentou, atrás de outra coluna. – É lá que está a prisão de Metalia. Nós seguramos Nephlyte. – ele disse, trocando olhares com os outros dois generais, que assentiram em concordância. – Vocês vão pro salão do trono.

— Ótimo plano, exceto pelo detalhe de que não sabemos onde é o salão do trono. – Marte resmungou e Kunzite meneou a cabeça na direção de Mamoru.

— Endymion sabe. – declarou e Mamoru assentiu em concordância. Quanto mais tempo passava dentro do castelo, mais lembrava da sua arquitetura, decoração, de sua planta baixa e de seus segredos e sentia um pesar ao ver um lugar que em tempos passados foi cheio de vida e luz, hoje lembrar somente uma catacumba.

— Decidido? – Júpiter chamou de onde estava. – Um. – contou, com eletricidade estalando ao longo de seus braços enquanto uma névoa gelada começava a rodear o corpo de Mercúrio, também em preparação para o ataque.

— Dois. – Vênus continuou, com a sua corrente surgindo no ar e estalando quando ela a esticou com as duas mãos. Marte tinha bolas de fogo flutuando sobre as palmas e deu um último relance a todos antes de terminar a contagem.

— Três! – gritou e saiu de seu esconderijo, disparando as bolas de fogo, sendo seguido por todos, e dando início ao que eles esperavam ser a batalha final contra o Reino Negro.


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