Bishounen Senshi Sailor Moon escrita por Bella P


Capítulo 12
Capítulo 12




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O apartamento de Mamoru era exatamente como Usagi imaginou que seria o apartamento de um jovem solteiro de vinte e poucos anos e rico. Era um lugar espaçoso, ao invés dos tradicionais apartamentos econômicos que mais pareciam uma caixa de sapato do que um lar. A sala de estar era ampla, com uma varanda de portas de vidro e cuja vista era do distrito de Juuban que, olhado do alto, com todas as suas luzes acesas, formava uma linda paisagem. Havia sobre um móvel de metal uma aparelhagem de som de última geração acoplada a uma enorme TV LCD. O sofá era de couro preto e extremamente confortável. A cozinha americana era ligada a sala e por sobre o balcão Usagi viu eletrodomésticos de inox, uma geladeira daquelas caras que fazem gelo na porta, um fogão de seis bocas, armários de metal escovado com portas de vidro, tudo em um designer clean e extremamente elegante, o tipo de decoração que fascinaria a sua mãe.

E pensar na mãe fez a dor na perna de Usagi ficar pior, um reflexo da dor que sentia no coração. O que ele tinha feito, mesmo que de forma inconsciente, havia sido cruel e ele se sentia horrível. E se ele se sentia horrível, imagina Ikuko?

Usagi precisava voltar para casa com urgência, precisava pedir desculpas, implorar perdão. Ikuko não merecia os seus desaforos e muito menos ser alvo da raiva provocada pelo estresse. Ikuko que sempre foi até paciente demais com o filho desleixado.

— Usagi? – Mamoru o chamou e Usagi piscou, vendo que o homem agora estava ajoelhado na sua frente.

Assim que chegaram no apartamento, Mamoru o guiara para o sofá e sumira em um corredor. Agora ele tinha voltado com uma bacia, uma jarra d’água, toalhas e uma grande caixa escrito “primeiros socorros” na tampa.

— Coloque o pé na bacia. – Usagi obedeceu o pedido de Mamoru, retesando instintivamente os músculos dos ombros porque ele sabia exatamente o que o universitário iria fazer. E não deu outra. Assim que Usagi pôs o pé na bacia, Mamoru despejou a água gelada ao longo de sua perna, lavando sangue e sujeira e fazendo Usagi trincar os dentes diante da ardência que o processo estava causando.

— Estranho. – Mamoru murmurou quando a última placa de sangue seco descolou da perna de Usagi e deixou a mostra o ferimento que não parecia tão ruim assim. Não pela quantidade de sangue que soltou.

— O que é estranho? – Usagi inclinou-se sobre o próprio corpo para ver o estado da perna e, como suspeitava, a mesma já começava a cicatrizar. Era por isso que ele não queria ter ido para o hospital. A queda havia sido feia, mas as dores no seu corpo já diminuíam, assim como a ardência na perna. O estado do ferimento, agora, o fazia parecer um ferimento de horas ao invés de minutos.

Mamoru mordeu o lábio inferior mas nada comentou. As particularidades de Usagi não eram algo que ele queria focar no momento. Com cuidado, ele retirou a perna de Usagi de dentro da bacia, a empurrando para o lado e depois depositando o pé dele no chão. Gentilmente ele secou a perna ferida e em seguida aplicou uma pomada antibacteriana, só por garantia. Quando terminou e ergueu os olhos, viu que Usagi o mirava com uma intensidade como se quisesse despir Mamoru por completo e desvendar os segredos mais obscuros da alma dele.

— Usagi. – Mamoru ofegou quando a ponta dos dedos do rapaz tocaram levemente o seu queixo, subiram por sua bochecha e têmpora, traçando os detalhes de seu rosto como se quisesse imprimi-los em sua mente. – Usagi... – Mamoru repetiu o nome em um tom de advertência. O toque de Usagi era íntimo e cheio de promessas e o controle de Mamoru esvaia-se a cada deslizar dos dedos sobre o seu rosto, queixo, pescoço, até chegarem na nuca e emaranharem-se com as pontas de seu cabelo.

Usagi o puxou em sua direção e Mamoru deixou-se levar até que lábios úmidos e mornos tocaram os seus. As mãos de Mamoru, que antes pairavam sobre a perna ferida de Usagi, subiram lentamente ao longo desta, espalmaram nas coxas firmes, sentindo o tecido áspero da bermuda roçar contra as suas palmas. Usagi grunhiu diante do toque e deslizou sobre o sofá, aproximando-se mais de Mamoru e o encaixando entre as suas pernas abertas. As mãos de Mamoru saíram das coxas, procuraram a cintura do garoto, penetraram sob a camisa e encontraram pele macia e quente. E então, entre o beijo e carícias, Usagi gemeu. Um som rouco que brotou do fundo de sua garganta, um som que enviou uma descarga elétrica pelo corpo de Mamoru e limou o último resquício de controle que ele tinha.

Em um piscar de olhos Mamoru estava ajoelhado entre as pernas de Usagi, deixando que o garoto desse o compasso daquele beijo. No piscar de olhos seguinte, ele estava sentado no sofá, com Usagi em seu colo, esfregando-se contra o seu corpo e gemendo deliciosamente contra a sua boca enquanto a mente de Mamoru martelava dizendo que aquilo era errado. E o errado não era porque Usagi ainda era menor de idade, mas por outra razão que Mamoru não sabia explicar.

Mas, ainda sim, era um errado tão bom.

Os dedos de Usagi estavam enterrados nas mechas negras do cabelo de Mamoru, os lábios dele o devoravam, seus corpos estavam tão colados que nem mesmo um sopro de ar passava entre eles, as mãos de Mamoru percorriam as costas de Usagi, sob a camisa, e desceram sinuosamente pelas mesmas, encontrando residência em um traseiro empinado e carnudo. Usagi gemeu contra a boca de Mamoru quando este apertou de forma generosa o seu traseiro, o apalpou e começou a puxar e repuxar a bermuda como se quisesse arrancá-la a força.

Em um momento eles se separaram em busca de ar, os seus rostos se afastaram poucos centímetros e Mamoru viu com prazer o olhar vidrado de Usagi, os lábios molhados e entreabertos. Os olhos brilhantes de Usagi estavam focados na boca de Mamoru, na ponta da língua que apareceu para lamber o lábio inferior

— Quer dizer que eu não tinha nenhuma chance. – Mamoru soltou, divertido e com uma voz rouca.

— Cala a boca! – Usagi respondeu e estava prestes a investir contra o rapaz, capturar aquela língua ferina com a sua, quando algo esquentou sobre o seu peito e começou a vibrar e a brilhar.

Mamoru, que aproximara-se de Usagi no momento em que o garoto partiu para outro beijo, surpreendeu-se ao não encontrar os lábios quentes dele. E mais do que isto, no segundo seguinte, Usagi estava saindo de seu colo aos tropeços, murmurando várias desculpas.

— Eu preciso ir. Desculpe, mas eu preciso ir. – o garoto balbuciava enquanto ia a caminho da porta e calçava os tênis perto desta de forma desajeitada.

— Usagi! – Mamoru levantou do sofá com dificuldade, pois a sua interação com Usagi despertara uma certa parte de seu corpo que fazia algum tempo não era estimulada de tal maneira. Aliás, Mamoru estava surpreso ao ver que Usagi conseguiu afastar-se dele de forma tão ligeira quando deveria estar na mesma situação.

— Desculpa, mas eu preciso ir. – o garoto repetiu quando finalmente conseguiu colocar o tênis ao mesmo tempo em que Mamoru cruzou a sala na direção dele.

— Usagi, espera! – Mamoru o chamou, o segurando pelo cotovelo e o virando. Seja por qual razão Usagi tenha subitamente mudado de ideia, ele ainda estava ferido e sem condições de voltar andando para casa. – Eu te... – a carona que Mamoru iria oferecer morreu em sua boca quando os seus olhos foram atraídos por uma luz piscando intensamente sob a camisa de Usagi. Com uma mão ainda segurando o cotovelo do garoto, Mamoru levou a outra na direção do pescoço dele. Havia uma fina corrente de ouro sobre a pele alva, por onde Mamoru passou um dedo e foi puxando a joia lentamente para fora da camisa de Usagi.

A cena parecia estar acontecendo em câmara lenta. Usagi permanecia imóvel e em nenhum momento dava indicações de que iria impedir o progresso de Mamoru enquanto o próprio Mamoru terminava de puxar o cordão e expunha o pingente piscando. O pingente que era absurdamente familiar para Mamoru, que ele vira dezenas de vezes presos a uma gravata vermelha, no uniforme de um guerreiro bem conhecido dele.

— Eu sinto muito. – Usagi pediu, pelo quê, nenhum dos dois saberia dizer, mas o choque do que tinha acabado de descobrir fez Mamoru soltar o garoto que deixou o apartamento as pressas, batendo a porta ao sair.

Mamoru ficou ali, parado, piscando, atônito pelo que descobrira. Pelo que jamais imaginaria ser possível:

Usagi era Sailor Moon.

 

oOo

 

Usagi aterrissou na entrada do Zepp Tokyo, considerando aquele silêncio mais do que suspeito, mas não deixando isto impedi-lo de entrar no local, mesmo que todos os seus sentidos gritassem para ele que este plano era uma má ideia. Mas não era como se ele tivesse pensando racionalmente no momento, não é mesmo, pois deixara o apartamento de Mamoru ainda aturdido pelo fato de que não impediu o homem de descobrir a verdade. Porque Mamoru descobriu a verdade, isto ficou estampado nos olhos dele. No momento em que ele puxou o amuleto para fora da camisa de Usagi, ele soube do que a joia se tratava. E ao mesmo tempo em que Mamoru descobriu a verdade, Usagi também fez o mesmo, porque só havia uma pessoa, além dos senshis, que reconheceria o colar como o broche que adornava a gravata de Sailor Moon e Mamoru encaixava-se perfeitamente em todas as características de Tuxedo Kamen.

E o beijo? Pelos deuses, o que foi aquele beijo? O que deu em Usagi para beijar o outro homem? Tesão? Paixão? Loucura? Usagi só sabia dizer que quando viu Mamoru ajoelhado aos seus pés, quando sentiu o toque dele na sua pele, fogo correu pelas suas veias, o acendendo por completo, o incitando, o provocando a fazer alguma coisa. E então, ele se jogou contra o universitário e clamou aqueles lábios que eram o sonho de consumo da maioria dos jovens de Juuban.

Usagi sorriu matreiro. Enquanto eles sonhavam com a boca de Mamoru, com o toque dele, com o corpo dele contra os seus, Usagi experimentou isto tudo e deixaria-se levar para experimentar muito mais se o amuleto não tivesse dado o alerta de perigo.

— Usagi? – veio o sussurro do comunicador dentro da orelha de Usagi. A voz de Ami estava quase sumida, mas ela não parecia prestes a perder a consciência ou com dor, mas sim falando baixo para não acusar a sua posição.

— Eu estou aqui. – Usagi respondeu em um tom igualmente baixo. O Zepp Tokyo estava escurecido e ao subir os degraus de acesso a entrada principal, ele notou que uma estranha névoa tomava o local.

Até onde sabia, há esta hora, deveria estar rolando um show de Minako Aino, mas o lugar estava estranhamente vazio e mergulhado em um ar macabro digno de filmes de terror. E, bem, em filmes de terror o certo seria Usagi dar meia volta e não entrar naquele lugar que era garantia de morte certa, mas não era como se Usagi tivesse muita opção, não é mesmo? Os seus amigos precisavam de ajuda e, além do mais, ele não era nenhuma mocinha indefesa.

Os bumerangues surgiram nas mãos de Usagi assim que ele cruzou as portas de vidro. O lugar todo estava sob névoa, os corredores tinham luzes fracas e piscando e a pouca iluminação extra que havia vinha da lua cheia que entrava pelas janelas altas.

— Ami? – Usagi chamou novamente, em um tom baixo. – Onde vocês estão? – não que Ami ceder a posição dela, ou de qualquer um dos outros senshis, fosse de grande ajuda. Usagi não conhecia a planta daquele lugar e a névoa e a escuridão não o ajudaria a se encontrar.

— Onde você está? – Ami sussurrou de volta.

— Hall de entrada. O que esta acontecendo, Ami? – a menina não respondeu por segundos que pareceram uma vida para Usagi. O ambiente não era apenas assustador, mas criava uma tensão desagradável e que estava pesando nos ombros de Sailor Moon.

— O Reino Negro descobriu. Descobriu quem é a princesa. – o coração de Usagi falhou uma batida no peito.

— Minako? – ele indagou, com centenas de perguntas em uma só.

Minako estava bem? O Reino Negro a pegou? O Reino Negro a matou?

— Presente. – uma voz familiar soou no comunicador.

— Ela está comigo. – Ami completou. – Mas eu perdi contato visual e de áudio com Júpiter e Marte.

— Zoisite transformou isto daqui em um labirinto dos horrores. – Minako completou.

— Como assim? – Usagi perguntou no momento que outra voz familiar ecoou por um dos corredores.

— Usagi? – Usagi virou sobre os saltos, na direção da voz.

— Mãe? – murmurou e ouviu de seu comunicador tragadas ruidosas de ar.

— Sailor Moon! – Minako berrou em seu ouvido. Ou ao menos tentou berrar enquanto mantinha a voz em um tom de sussurro. – Usagi, me ouça bem! Qualquer coisa que você ver ou ouvir, não é real!

— O quê? – Usagi perguntou, mas a voz de Ikuko ecoou de novo por todo o lugar.

— Usagi?! – havia apreensão no tom dela, apreensão e dor. – USAGI! – veio o chamado seguido por um grito gutural de pura dor.

— MÃE! – Usagi gritou de volta, tomando o corredor de onde o berro havia vindo.

— Sailor Moon, não! – alguém gritou em seu ouvido, um eco distante e abafado pelo pulsar do sangue de Usagi em suas orelhas, enquanto a névoa ficava mais densa a medida em que ele se aprofundava no corredor.

— Usagi! – Ikuko chamou de novo, seguido de um grito de dor que fez o pânico crescer dentro de Usagi e ele acelerar a sua corrida até que parou com um deslize em frente a portas duplas de ferro, de onde mais gritos vinham.

Usagi tentou abrir a porta, mas a enorme maçaneta não se movia.

— USAGI! – Ikuko berrou. Um grito agoniado, um grito de dor. O grito de quem estava sendo torturado até as suas últimas forças.

Usagi recuou e deu um chute na porta, e outro, e mais outro e ouviu o metal ranger e amassar sob os seus golpes poderosos até que, com um estrondo, a porta abriu e deu visão para um enorme hall, com dezenas de fileiras de cadeiras e um palco ao final destas. Sobre o palco estava Ikuko, pendurada pelos punhos que sangravam, assim como os vários outros ferimentos de seu corpo. O seu vestido floral estava em trapos, mal a cobrindo, e os seus olhos vazios miravam Usagi de forma acusadora.

— MÃE! – Usagi correu na direção do palco e quando estava perto deste, deu impulso para em um salto pôr-se sobre este, mas algo envolveu-se em seu tornozelo esquerdo, o puxou com força e o trouxe de volta ao chão em uma queda extremamente dolorida.

Usagi virou sobre o corpo, erguendo um braço, pronto para arremessar o seu bumerangue em seu atacante, mas quem viu na outra ponta da corrente dourada e brilhante, com elos em forma de corações, foi Minako.

— Mi...

— Vênus. – ela o cortou.

— Vênus. – Usagi rosnou o título com desmedido desprezo e puxou a perna, dando um tranco na corrente, mas Vênus permaneceu impassível no lugar.

— Ela não é quem você pensa que é, Moon. – se Vênus viesse lhe dizer que Ikuko não era a sua mãe porque uma criatura qualquer, em uma vida que não existia mais, também o parira, Usagi não responderia por si. Já carregava dentro de si a culpa de ter dito essas palavras horrorosas para Ikuko, não precisava de Minako para lembrá-lo de seus pecados.

— Não. – Vênus disse com convicção. – Olhe de novo. – Usagi grunhiu, tentado a não obedecê-la, mas assim o fez, mesmo que a contragosto.

Virando novamente sobre o corpo, ele mirou o palco, onde Ikuko ainda encontrava-se pendurada, quase nua, mas agora o seu corpo tremia, tremia com as gargalhadas agudas e irritantes que ela soltava.

A risada da sua mãe não era assim.

As correntes que a prendia sumiram e Ikuko pousou com as pontas dos pés sobre o palco e lançou à Sailor Moon um olhar maldoso.

— Usagi? – havia puro divertimento e deleite na voz dela e Usagi franziu as sobrancelhas e pôs-se de pé quando sentiu a corrente de Vênus soltá-lo. Com os bumerangues ainda em mãos e agora extremamente desconfiado, ele recuou vários passos até parar ao lado da outra senshi.

— Quem é você? – Usagi sibilou entre dentes. Quem era esta criatura que ousava usar o rosto de sua mãe?

A pergunta pareceu incentivar o desconhecido que pouco a pouco foi tomando outra forma, a forma de um homem alto, cabelo curto e ondulado, olhos cinzentos, pele alva e porte aristocrático. Assim que Ikuko sumiu para dar lugar ao que era certamente um general do Reino Negro (e quantos esse maldito reino ainda tinha?), assim que ele fez-se conhecer, a névoa que cercava todo o lugar foi subitamente aspirada para a palma da mão dele, sendo aprisionada em uma pequena redoma de vidro que em um piscar desapareceu.

— A Névoa da Verdade e do Medo. Traz à tona os seus piores medos e revela segredos através deles, Usagi. – Usagi apertou os bumerangues com força, querendo muito atirá-los na cara daquele sujeito, mas o toque suave de Vênus, no meio de suas costas, o manteve imóvel.

— A propósito, eu sou Jadeite, um dos Quatro Generais do Reino Negro. – graças a tudo que era mais sagrado que eram apenas quatro generais, porque Usagi já estava de saco cheio de ver essas criaturas brotando do chão como vermes. – Agora, vamos ao que interessa. – Jadeite estalou os dedos e às costas dele grande refletores se acenderam, iluminando duas figuras acorrentadas e penduradas, pairando a poucos centímetros do chão. As suas bocas estavam amordaçadas e eram apontadas para os seus rostos duas lanças que eram empunhadas por Kunzite e Zoisite.

O olhar mortal que Marte e Júpiter lançavam para os generais dizia que assim que eles conseguissem se soltar daquelas amarras, o Reino Negro iria sofrer baixas.

— Onde está Mercúrio? – Usagi murmurou para Minako ao seu lado, baixo o suficiente para somente ela ouvir.

Vênus rodou o olhar pela casa de show que agora era uma zona só, pois o público fugiu o mais rápido que pôde assim que o ataque do Reino Negro começou, mas não encontrou nem sombra de Mercúrio. Apenas esperava que esta estivesse bem e, de preferência, bem escondida, para ser o elemento surpresa deles.

— Princesa. – Jadeite chamou e o olhar de Minako foi para o general, um olhar que demonstrava desagrado e desafio. – Temos uma questão simples para resolver aqui. Seus senshis, vivos, em troca do Cristal de Prata.

Usagi soltou uma risada de escárnio.

— Que tal essa resposta? Não! – rebateu e Zoisite sorriu maldosamente, espetando com a ponta da lança a bochecha de Marte e arrancando um filete de sangue.

— Princesa, deixará um mero serviçal dizer o que você tem que fazer? – Jadeite zombou e Usagi deu um passo a frente, com toda a intenção de ao menos quebrar o nariz empinado daquele sujeito, mas a mão enluvada de Vênus, desta vez sobre o seu antebraço, o parou.

Usagi viu de rabo de olho que o olhar de Minako desviou-se por um milésimo de segundo do rosto de Jadeite, foi para Marte e Júpiter e então para uma sombra que moveu-se atrás dos dois senshis aprisionados, antes de voltar para o rosto de Jadeite. Usagi, por sua vez, sentiu como se alguém o observasse intensamente, um olhar que lhe queimava a nuca e fazia um arrepio familiar percorrer o seu corpo.

— Princesa Serenity! – Jadeite gritou, já perdendo a paciência com Vênus e Moon, que permaneciam calados. Kunzite, mais afoito e para incentivar os senshis, usou a ponta da lança sem a lâmina para acertar Júpiter bem sobre um rim. O sailor grunhiu e tentou encolher o corpo em uma posição fetal, para aliviar a dor, mas estar pendurado pelos pulsos tornava o feito impossível, fora que a posição já tornava complicado a respiração e a mordaça não facilitava as coisas. Marte e ele só permaneciam conscientes porque os seus poderes estavam tentando curar exaustivamente os abusos que os seus corpos estavam sofrendo, oxigenando o sangue o máximo que podia, mas uma hora até mesmo esses iriam cansar.

— Última chance, princesa. – o tom de Jadeite não era de ameaça, mas sim uma promessa concreta de que se não tivesse o Cristal no próximo segundo, Marte e Júpiter estariam mortos.

Vênus apertou as correntes entre os dedos, considerando as possibilidades, e mirou Marte e Júpiter nos olhos. Ambos deram discretas negativas com a cabeça e ela olhou para Sailor Moon, ao seu lado, que tinha as sobrancelhas franzidas e os lábios crispados.

— Moon? – o chamou, pedindo por orientação. Afinal, ele ainda era o líder dos senshis.

— No três. – Usagi respondeu de volta, mas não moveu um músculo. Porém Minako pôde ver os dedos dele apertarem com mais força a ponta de um de seus bumerangues. – Um. – Vênus trocou discretamente o peso do corpo de uma perna pra outra, mudando o seu centro de equilíbrio para impulsioná-la em um ataque para cima de Jadeite. – Dois. – um fushhh soou acima da cabeça deles e algo acertou o holofote que iluminava Marte, cessando a luz e fazendo chover cacos de vidro e faíscas sobre o senshi e Zoisite. – Três! – o bumerangue de Sailor Moon voou em direção a outro holofote, o estourando com violência e quase o derrubando de seu suporte, mergulhando o lugar no breu. Uma névoa gélida invadiu o recinto escurecido e o som de metal estalando ecoou por todo o lugar, seguido do grito de Jadeite quando a corrente de Vênus, única fonte de luz naquela escuridão, envolveu o seu pescoço.

E então, veio o caos.

Um rastro de fogo percorreu a névoa densa e Usagi viu Kunzite sair desajeitadamente do caminho do golpe. Um vulto correu a sua esquerda, alto, de cabelos esvoaçantes e Usagi não pensou duas vezes em arremessar o outro bumerangue. A ausência do som de uma espada bloqueando o ataque do bumerangue e o grunhido de dor mostravam que ele acertou o alvo.

Estática percorreu o ar, anunciando a tempestade de raios que estava para vir. Literalmente a tempestade de raios que estava para vir, pois a estática indicava que Júpiter estava carregando, e que ele estava furioso.

— Júpiter, não! Há água nesta névoa! – a voz de Mercúrio ecoou por todos os cantos, o que era bom, pois assim o inimigo não saberia onde ela estava, mas também era ruim porque Usagi não sabia onde nenhum de seus senshis estava. Apenas Vênus, graças a sua corrente brilhante, mas até esta estava ficando cada vez mais difícil de enxergar devido a névoa densa.

Usagi pressionou o comunicador dentro de sua orelha.

— Mercúrio, recolha a névoa. – ordenou. O golpe de Mercúrio estava lhes dando vantagens e desvantagens e Usagi não precisava ver Ami para saber que ela hesitava, mas pensava como ele. A névoa ajudara como elemento surpresa, mas agora só causava complicações.

Pouco a pouco o golpe foi retrocedendo, clareando o cenário o máximo que pôde. A ausência de luzes mais intensas que as luzes de emergência nas paredes e no chão ainda tornava complicado de ver as coisas, mas não o suficiente para Usagi não perceber a sombra mexendo às suas costas, o ataque que veio cortando o ar, a espada afiada de cristal que encontrou bloqueio em um dos bumerangues de Usagi.

— Usagi. – Zoisite disse maldosamente, com um sorriso presunçoso e aplicando mais força no golpe, tentando desfazer o bloqueio de Usagi. O problema era que o general esqueceu que Sailor Moon possuía duas armas, a qual ele controlava a seu bel prazer.

Usagi retornou o sorriso de Zoisite com um igual. O general estava lhe dando nos nervos fazia tempos, e o seu sorriso alargou quando viu o brilho dourado girando a toda velocidade, retornando para o seu dono com impetuosidade e determinação. Como se tivesse vida própria, o bumerangue aumentou a velocidade e Zoisite só percebeu que havia algo errado quando a arma o acertou em cheio na cabeça, fazendo ressoar um sonoro crac e derrubando o general como um peso morto no chão.

Em outros tempos Usagi sentiria-se culpado pelo uso excessivo de violência, em outros tempos Usagi pediria desculpas pelo que fez, em outros tempos que não fossem tempos de guerra, onde ele teve que crescer mais rápido que o esperado e endurecer o seu coração de maneira desagradável. Era um líder e tinha como responsabilidade não apenas salvar o planeta, a sua família, mas os seus senshis e até mesmo a irritante da princesa da Lua.

— Não! – o grito ecoou pela casa de shows e alguém o segurou pela cintura, o tirando em um pulo da linha de tiro e dos cristais afiados que cravaram-se no chão exatamente onde Sailor Moon estava segundo antes.

Usagi pousou, não precisando olhar por sobre o ombro para saber quem o salvara do ataque furioso de Jadeite. O braço em sua cintura, coberto por uma manga negra, o corpo maior que o seu, às suas costas, lhe dava clara ideia de quem era o seu cavalheiro da armadura brilhante.

— Tuxedo Kamen. – Usagi cumprimentou sem nenhuma emoção na voz e sentiu o braço o soltar.

— Sailor Moon. – veio a resposta seca de Tuxedo Kamen e Usagi olhou por sobre o ombro para ver olhos estreitos e brilhando de raiva por detrás da máscara branca. Usagi arqueou uma sobrancelha para ele. Por que Mamoru estava irritado? Que razão ele tinha para estar irritado? Porque Usagi não contara à ele que era Sailor Moon? Era piada, certo?

Mamoru também não dissera em nenhum momento que era o guerreiro mascarado, posando de ladrão, atrás do Cristal de Prata. Aliás, ao lembrar-se disso, Usagi recuou um passo e olhou com desconfiança para o homem.

— O que foi? – Mamoru soltou atravessado ao ver a mudança de postura de Usagi, assim como o viu lançar um olhar preocupado para a nova sailor, de uniforme laranja e uma corrente que usava como chicote, que degladiava com um dos generais.

— Eu perguntaria novamente o que você quer com o Cristal de Prata, mas acho que não é uma boa hora.

— E acho que também não te interessa. – Mamoru tinha as suas razões, os sailor tinham as deles, e, até onde lhe dizia respeito, Usagi não parecia disposto a compartilhar os motivos dele para querer o Cristal. Por que Mamoru tinha que fazer o mesmo?

Usagi crispou os lábios em uma expressão de desagrado. A relação entre Mamoru e ele sempre foi complicada, portanto deveria ter suspeitado antes que o universitário era o guerreiro mascarado, porque a mesma tensão e atração que existia entre Mamoru e Usagi existia entre Sailor Moon e Tuxedo Kamen.

— Sailor Moon! – o grito de Jadeite ecoava ódio puro e Usagi virou para ver o homem erguer-se ao lado do corpo ainda caído de Zoisite. Usagi quis rolar os olhos diante do drama que o outro general estava fazendo. O bumerangue bateu com força, mas no máximo daria uma bruta dor de cabeça ao general caído. Jadeite deveria saber disto.

Ou não.

Usagi recuou um passo e Mamoru o imitou quando pequenos e brilhantes cristais surgiram na palma da mão do general, flutuando poucos milímetros acima desta.

— Jadeite é apaixonado por Zoisite. – Mamoru murmurou às costas de Usagi.

— O quê? – Usagi deu um relance por cima do ombro para o homem e voltou rapidamente a sua atenção para o general. Geralmente os sailors só lidavam com Zoisite, portanto não viram interações o suficiente entre os generais para saberem qual era a profundidade da relação deles.

Mamoru piscou repetidamente, querendo saber de onde aquela informação havia vindo. Nunca ficara tempo o suficiente na presença dos generais para saber sobre as suas vidas íntimas mas, de alguma forma, ele sabia. Como?

Os cristais na mão de Jadeite pulsaram com uma luz escura e então voaram em disparada na direção de Usagi que preparou-se para o impacto que não veio. Quando chegaram bem perto do senshi, os cristais dispersaram e sumiram por entre as fileiras de cadeiras.

— Não! – alguém gritou. Usagi achou ser Júpiter, mas por que o amigo protestava, ele não fazia ideia. Ao menos não fez ideia por alguns segundos, porque logo depois que os cristais desapareceram, braços pálidos surgiram de entre as cadeiras, dedos fecharam-se como garras nos encostos e corpos levantavam-se de forma desajeitada, em sua maioria meninas, meninas adolescentes. O público que não conseguiu fugir durante o ataque e que Usagi nem percebera estar ali.

— Vamos ver se com esses humanos você terá a mesma insensibilidade que teve com Zoisite. – Jadeite riu maldoso e Usagi empalideceu. Zoisite aguentava o tranco, aquelas meninas não. Aquelas meninas de olhares vazios, andar desajeitado e com afiadas espadas de cristal que invocaram do além.

E então, mais uma vez, o caos reinou.


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