Bishounen Senshi Sailor Moon escrita por Bella P


Capítulo 10
Capítulo 10




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Ser convidado para um baile da realeza europeia havia sido mais fácil do que tentar algum contato direto que fosse com a estrela pop em ascensão Minako Aino.

Usagi não era muito fã do estilo. Para ele, solos pesados de guitarra e baterias esporrentas eram mais a sua praia. Sim, Usagi gostava de rock e até hoje não entendia por que as pessoas ainda se surpreendiam quando ele dizia isto. Havia algo em sua testa que dizia que ele era obrigado a apreciar somente baladas românticas? Mas o que Usagi menos gostava no gênero pop era a histeria que os fãs dos artistas dessa área encenavam.

Minako Aino tinha quinze anos, comecara carreira aos dez, como apresentadora de programa em um canal infantil, e logo estourou para além das fronteiras do Japão. Cinco anos depois já tinha três discos lançados, doze singles no topo das paradas de sucesso, capa de centenas de revistas e ícone da moda adolescente. Era nativa de Tóquio, mas passava mais tempo viajando do que em sua cidade natal. Ao retornar para Tóquio, para uma curta temporada de shows, hospedara-se em um hotel de luxo no coração da cidade e, agora, a frente do hotel estava lotada de fãs gritando e balançando cartazes e tirando selfies daquele momento como se estivessem no próprio show da cantora.

A oportunidade de ir a aquele “evento” sem parecer um peixe fora d’água surgiu quando Naru arregalou grandes e claros olhos verdes para Usagi, ao final da aula, e implorou pela companhia do amigo nesta visita ao hotel. Os rumores eram de que Minako selecionaria alguns poucos fãs que estivessem na porta do hotel para fazer um meet and greet gratuito.

Usagi, sinceramente, não queria estar ali, pois havia um mangá novinho em folha em casa para ele ler, entre uma hora de estudo e outra. O ano letivo terminava em poucas semanas e, como mandava a tradição, Usagi tiraria o atraso em todas as provas finais e passaria de raspão, como sempre. Usagi sabia que se fosse um estudante dedicado como Ami, não precisaria correr para recuperar o tempo perdido já nos 45 minutos do segundo tempo, mas estudar era um tédio, ler aquelas equações que ele sabia que não lhe serviriam para mais nada na vida a não ser passar de ano era mais tédio ainda. Mas, ainda sim, ele precisava desvendar o mistério que era a nova sailor, portanto os estudos e, principalmente, o mangá, teriam que ficar para depois.

— Lá está ela! – alguém gritou na multidão aglomerada atrás das grades de contenção e o escândalo começou, gritos de todos querendo chamar a atenção da jovem estrela.

Usagi era mais alto do que a maioria do público ao seu redor, que era composto praticamente só de meninas, portando conseguiu ver acima das cabeças Minako, além da porta de vidro do hotel, trajando um vestido rendado, sandália de salto, enormes óculos escuros cobrindo metade de seu rosto e os cabelos loiros balançando as costas dela como uma cortina feita de ouro.

Minako Aino era familiar. Uma familiaridade que ia além de já ter visto o rosto da jovem em matérias de blogs, vídeo clipes, capas de revistas, entrevistas e apresentações na TV. A familiaridade vinha de antes. Muitos anos antes. Milênios antes, na verdade.

Usagi tentou dar um passo à frente, hipnotizado com o que via, com o coração aos pulos dentro do peito. Havia algo em Minako, algo que lhe dizia que eles estavam perto, muito perto do fim.

— Princesa Serenity. – Usagi murmurou, duas palavras que foram abafadas pelos gritos que ficaram ainda mais altos quando Minako deixou o saguão do hotel e ganhou a calçada. Duas palavras que foram levadas pelo vento e pareceram chegar aos ouvidos da cantora porque, naquele instante, ela virou na direção de Usagi e os olhos azuis do jovem encontraram os azuis da garota, que eram muito mal escondidos pelas lentes dos óculos.

Minako sorriu para Usagi e lentamente levou o indicador a boca, o pousando sobre os lábios, e soltou um suave shhh sob a respiração. E então Usagi teve a certeza de que acabara de encontrar a princesa perdida do Milênio de Prata.

 

oOo

 

— Você tem certeza? – Luna perguntou pela enésima vez e Usagi grunhiu, cobrindo o rosto com a almofada e torcendo para sufocar-se com ela, assim não precisaria ouvir a gata perguntar mais uma vez se ele tinha a certeza de que Minako Aino era a princesa da Lua.

— Luna, não foi você mesma que disse que nós saberíamos quem era a princesa assim que a víssemos? Que Usagi, como líder dos senshis, saberia quem era a princesa assim que a visse? – Ami interrompeu a gata antes que ela perguntasse mais uma vez se Usagi estava certo do que descobrira. O amigo, ainda largado sobre o chão de madeira corrida de uma das salas de chá do Templo Hikawa parecia estar perdendo a paciência pouco a pouco com a conselheira.

— É que não faz sentido. A princesa da lua não era uma guerreira. – Luna respondeu, começando a perambular, com uma expressão intrigada no focinho.

Usagi grunhiu e num impulso pôs-se sentado, retirando a almofada do rosto.

— São os tempos modernos, Luna, aceite isto. E faz sentido. Minako é chamada de a nova princesinha do pop japonês, de uma forma ou de outra ela manteve a coroa, mesmo sem ter mais o Milênio de Prata. – Usagi disse com um resmungo.

— A questão não é esta. – Rei entrou na conversa, ainda vestia os seus trajes de sacerdote e beliscava alguns dos biscoitos dipostos no prato na mesa de centro. – A questão é se ela tem o Cristal de Prata ou não, se o Reino Negro sabe quem ela é e como vamos conseguir falar com ela. Ela é famosa, aproximar-se dela não será fácil. Então, ideias?

Ami fez que não com a cabeça. Não tinha um pai influente como Rei.

— O seu pai é jornalista, certo, Usagi? – a menina perguntou ao rapaz que acabara de dar um enorme gole em seu suco.

— Jornalista esportivo. Fotógrafo, na verdade. O ramo dele nunca o colocaria perto de Minako e todos os contatos dele são do ramo do esporte. É mais fácil eu conhecer o Cristiano Ronaldo do que Minako Aino.

Os olhares de Rei, Ami e Usagi foram para Makoto.

— Meus pais são correspondentes de guerra e estão no Iraque. É mais fácil você conhecer membros da Al-Qaeda com a ajuda deles do que uma estrela do pop.

— Ou vocês poderiam apenas esperar. – Luna parou de perambular e mirou os quatro senshis como se questionasse a inteligência deles a cada hora do dia. – E aguardar que a princesa venha até vocês. Ela reconheceu Usagi na frente do hotel, ela irá ao encontro de vocês, é só terem paciência.

— Não sei se tenho tanta paciência assim. – Makoto resmungou. – Os ataques de Zoisite estão ficando cada vez mais violentos e na noite anterior ele trouxe companhia.

Na noite anterior Zoisite trouxera mais dois generais do Reino Negro com ele e um exército de youmas que atacaram justamente a Disney. O parque, como sempre, estava lotado e a quantidade de energia que eles conseguiram recolher para o Reino Negro com certeza foi o suficiente para acelerar a recuperação de Metalia, ajudá-la a sair da prisão que a rainha Serenity a colocou na batalha que destruiu o Milênio de Prata.

Kunzite e Nephlyte eram tão letais quanto Zoiscite e igualmente sem coração e pareciam não apenas focados em acabar com os senshis, mas pareciam ter completa ideia de qual era a missão dos sailors. Eles sabiam que os guerreiros estavam em busca do Cristal de Prata e da princesa da Lua, de quem eles nutriam um grande desprezo. Segundo Luna, os generais também estiveram na primeira guerra entre Metalia e o Milênio de Prata e as suas lembranças estavam melhor preservadas do que as dos senshis e da própria conselheira. Ao menos eles lembravam o suficiente para terem uma vaga ideia de como era o rosto da princesa, e isto significava que Minako corria perigo. Sendo uma sailor ou não, o Reino Negro estava entrando em desespero e estava ficando impaciente. Talvez, assim como os sailors, Metalia e Beryl também sentiam que a grande batalha, a batalha final, se aproximava, bastava eles colocarem a mão no Cristal de Prata. A questão agora era saber quem seria o vencedor nesta corrida atrás do Cristal.

Usagi desejava fervorosamente que fossem os senshis. Porque, além do Reino Negro, ainda havia Tuxedo Kamen que queria o Cristal por razões misteriosas. Mais uma razão para eles reunirem-se com Minako o quanto antes. Eles precisavam saber se a princesa estava com o Cristal.

— Ainda sim, apressar as coisas não adiantará de nada. Aparentemente a princesa reteve as suas memórias após a encarnação e só deu as caras depois que todos os sailors se reuniram. Ela virá até nós, basta ter paciência. Virá e nos ajudará. – Luna disse com uma convicção que, sinceramente, Usagi não sentia. Se, hipoteticamente, a princesa reteve todas as suas memórias da vida passada, por que ela não evitou o despertar do Reino Negro antes? Não tinha poder para isto?

Usagi suspeitava que não. Assim como suspeitava que, por mais que desejasse o contrário, a princesa não deveria estar de posse do Cristal de Prata.

 

oOo

 

— Você não deveria estar estudando? – foi a primeira coisa que Mamoru disse ao entrar no Arcade e ver Usagi debruçado sobre o balcão, lendo algo. Quando aproximou-se do garoto, viu que ele tinha a atenção toda focada em um mangá.

— Você não deveria estar cuidando da sua vida? – Usagi respondeu sem desviar os olhos dos quadrinhos.

— Só me preocupo com a sua educação. – Mamoru disse ao sentar-se no banco ao lado de Usagi e garoto soltou um ruído do fundo da garganta que assemelhou-se a uma risada de deboche. – As provas finais estão chegando. Se não estudar, vai repetir de ano.

— Não que isto seja da sua conta, embora você esteja tornando da sua conta. – Usagi fechou o mangá com um estalo e girou sobre o assento para encarar Mamoru. – Mas só falta passar em Química e Matemática e Ami está me ajudando nesta questão.

— Você? Quase aprovado? – Mamoru zombou e Usagi o respondeu com um sorriso irônico e palavras falsamente doces.

— Coisas surpreendentes podem acontecer com qualquer um.

— Não com você. – Mamoru provocou e o sorriso no rosto de Usagi desapareceu e os olhos dele estreitaram-se naquela expressão que Mamoru amava, aquela que mostrava que Usagi estava a um passo de explodir, mas continha-se a tempo. E Mamoru era doido para ver Usagi explodir. Para ver as íris azuis brilhando de fúria, o rosto rubro e os punhos cerrados firmemente.

— Chiba! – Usagi disse entre dentes cerrados. – Você não tem nada melhor pra fazer da vida além de me encher o saco? – o sorriso provocador de Mamoru ficou largo e ele abriu a boca para responder com uma alfinetada a mais, mas uma nova voz o interrompeu.

— Eu estava me perguntando a mesma coisa. – a postura defensiva de Usagi se desfez e ele virou com uma expressão chocada para a recém-chegada.

— Pri... – ele começou a dizer, mas a estranha o calou com o indicador sobre os lábios dele e um sorriso charmoso que o fez ficar rubro e não era de raiva.

Desta vez foi Mamoru quem cerrou os dentes e mirou a estranha com desagrado. Não, estranha não. Mesmo com o lenço envolvendo a cabeça e escondendo os cabelos, o óculos escuros e as roupas chiques, Mamoru sabia quem era aquela garota. O rosto dela estava aparecendo na maioria dos letreiros eletrônicos de Tóquio. Minako Aino retornava para casa após um tour pela Europa e faria apenas dois shows exclusivos na capital do Japão.

E agora, a requisitada e aclamada estrela do pop estava em uma loja de jogos + lanchonete, no distrito de Juuban, calando Usagi com um dedo sobre os lábios dele como se ambos possuíssem uma intimidade de anos. E talvez possuíssem. Motoki havia sido gentil em compartilhar tudo o que sabia sobre Usagi, mas havia muita coisa da vida, da intimidade do colegial, que Mamoru desconhecia e que adoraria conhecer. O problema é que ele preferia abordar Usagi pisando nos calos dele, porque adorava ver o jovem perder aquela pose de galã, de príncipe de contos de fadas, e unir-se aos meros mortais nesta terra de emoções exacerbadas e conflitos de egos. Era algo que Mamoru não conseguia evitar desde o primeiro momento em que pôs os olhos naquele rapaz tão belo e tão intrigante. Havia uma familiaridade em seus embates com Usagi, como se os mesmos sempre tivesse feito parte de sua vida, até mesmo de seu passado que ele não lembrava.

— Amiga sua, Tsukino? – Mamoru disse com desagrado. Havia algo em Minako Aino que o incomodava e não era a liberdade que ela tomara em tocar Usagi onde Mamoru adoraria tocar, mas com os próprios lábios, mas era algo no modo como ela o olhava, ainda mais depois que retirou os óculos do rosto. Havia desprezo no rosto de Minako. Desprezo dirigido a Mamoru. A jovem não gostava do universitário por alguma razão, como se esse ele tivesse feito algo que a ofendera muito. Mamoru só gostaria de saber o quê.

Usagi abriu a boca, depois a fechou. Amiga dele? Não exatamente. Minako sorriu para ele e deu-lhe uma piscadela de olho em um gesto cúmplice.

— Vamos conversar? – ela pediu, um pedido que soou mais como uma ordem e, aos tropeços, Usagi saiu do banco e seguiu a outra jovem que parecia desfilar através do Arcade a caminho de uma das mesas vazias.

Mamoru observou Usagi partir, seguindo Aino como um cãozinho fiel, com ódio crescente brotando dentro de si. Usagi impressionava-se fácil na presença de pessoas bonitas, especialmente pessoas bonitas que flertavam com ele, mas normalmente este deslumbramento não durava muito tempo, apenas o suficiente para ele recuperar o seu eixo após ter sido pego de surpresa. Mas com Minako parecia que o deslumbramento estava durando mais tempo que o necessário. Sentados à mesa, frente a frente, Usagi olhava Minako com admiração e com a expressão de quem não acreditava que estava na presença da mulher.

Mamoru soltou um muxoxo e girou sobre o banco, dando as costas para a dupla para não ter que presenciar mais daquele momento patético. Nunca pensou que Usagi seria como um adolescente cabeça de vento qualquer que ficava fascinado com uma estrela do pop que era mais marketing do que realidade.

— Aquela é...? – Motoki perguntou ao voltar da cozinha para detrás do balcão e ver a cena que apresentava-se no Arcade praticamente vazio para o horário. Durante as semanas de provas finais nos colégios, a loja costumava ficar as moscas, pois os seus usuais clientes estavam preocupados demais em passar de ano do que jogar vídeo games.

— É. – Mamoru respondeu seco.

— De onde ela conhece Usagi? – Mamoru deu de ombros.

Usagi era popular, mas não era tão popular assim.

— Então. – Usagi disse sem jeito. Era a Princesa de Lua na sua frente, uma mulher da qual não se lembrava direito, mas que o intimidava e o fascinava completamente.

— Então. – Minako repetiu com um sorriso em seu rosto bonito e que não era mais escondido pelos óculos enormes, mas o lenço, cobrindo os cabelos dourados, continuava no lugar. – O que você lembra do Milênio de Prata?

— Sinceramente? Praticamente nada.

Minako sorriu novamente e inclinou-se sobre a mesa, cruzando os dedos delicadamente na altura do queixo.

— Como foi que você me reconheceu?

— Luna me disse que, como líder dos senshis, eu conseguiria “sentir” a princesa.

Um brilho de reconhecimento surgiu nos olhos de Minako a menção do nome de Luna.

— E ela disse o por quê? – Usagi encolheu os ombros e um gesto de “não”. – Nós éramos mais próximos um do outro do que as outras senshis. – Usagi empalideceu e arregalou os olhos diante do sorriso cheio de implicações que Minako lhe deu.

Minako era linda, de postura real, uma verdadeira princesa. Era famosa e popular e qualquer pessoa teria uma grande sorte em namorá-la. Mas, no momento, os interesses de Usagi eram outros. O interesse dele estava em outro alguém. Alguém que estava sentado ao balcão e que não parava de olhá-lo desde que Minako o puxou para aquela mesa mais reservada, ao canto do Arcade.

Minako riu, com certeza vendo os pensamentos de Usagi estampados em sua expressão de horror.

— Éramos bons amigos. De todas as sailors, Moon era que se aproximava mais da minha idade. As outras senshis eram mais velhas. Confesso que fiquei feliz ao ver que, desta vez, não será assim. – Minako estendeu ambas as mãos com as palmas para cima, na direção de Usagi, que relutou um segundo antes de depositar as suas próprias mãos grandes, de dedos magros e desajeitadas, sobre as palmas pequenas e macias da garota.

Um choque percorreu o braço de Usagi quando a sua pele tocou a de Minako. Algumas lembranças desconexas projetaram-se em sua mente, como um filme com partes faltando. A imagem de uma bela mulher de longos cabelos platinados, presos em dois coques ao topo e laterais da cabeça, com o restante dos fios descendo como cascatas sobre os ombros magros e pálidos, surgiu em frente aos olhos de Usagi. Era como se o Arcade tivesse desaparecido ao redor dele e ele tivesse sido transportado para o antigo Milênio de Prata.

A mulher do penteado curioso sorriu para Usagi. Ela usava um longo vestido igualmente prata, com detalhes em dourado e cuja saia balançava suavemente com a brisa que soprava.

Rainha Serenity” A mente de Usagi ofereceu.

Aquela era a Rainha Serenity, sorrindo e lhe estendendo a mão.

Ao lado da rainha, estava Minako. O cabelo dourado também balançando ao vento, usando um vestido rosa tão claro, que parecia ser branco, e também com detalhes em dourado. Minako sorria da mesma forma delicada e doce que Serenity sorria para Usagi e ele sabia que a cena deveria ser-lhe familiar. Afinal, era a lembrança de uma outra vida sendo trazida de volta a sua mente, projetada em frente aos seus olhos como se fosse uma sessão de cinema, mas não era. A cena era estranha, Minako e Serenity não formavam uma paisagem ideal, lado a lado, como rainha e princesa do Milênio de Prata. Havia algo faltando, havia alguém faltando.

Usagi recolheu as mãos abruptamente, lançando a Minako um olhar intrigado. A garota também o olhava de volta, em expectativa e curiosidade.

— O que você viu? – ela perguntou e Usagi franziu as sobrancelhas. Não havia visto muito, na verdade. A cena de Serenity e Minako, lado a lado, o incomodara por demais, porque havia algo extremamente errado nesta.

— Você e a rainha Serenity, lado a lado, no Milênio de Prata. Princesa e rainha lado a lado. – Usagi explicou e agora que o título saía de sua boca, depois dessa visão, ele também parecia errado. Chamar Minako de princesa parecia errado. – Luna me disse que a princesa da Lua não era uma senshi. – disse em um tom quase acusador e Minako recolheu as mãos, ainda sorrindo, como se nada no mundo pudesse abalá-la. E sinceramente? Aquela pose dela já estava começando a irritar Usagi.

— Não é o disfarce perfeito? Ninguém jamais imaginaria que a mimada princesa da Lua seria uma sailor guerreira. – Usagi mordeu o lábio inferior para impedir-se de dizer um impropério. Queria defender a integridade da princesa, dizer que ela não era mimada, mas não conhecia tão bem assim a mulher para saber se o que ela dizia era verdade ou não. A princesa da Lua poderia ter sido mimada em outra vida. A posição lhe daria esse defeito de caráter.

— Mas agora você resolveu mostrar quem você é, então o disfarce foi para o ralo.

— Não exatamente. Vocês sailors sabem quem eu sou, e ninguém mais.

— Tem certeza? – Usagi perguntou com desconfiança e Minako o olhou com curiosidade.

— Do que você está falando?

— O ataque de ontem ao parque da Disney, com três generais do Reino Negro comandando um exército de youmas. Zoisite, em um momento de descontrole, disse que nos mataria antes de completarmos a nossa missão. Antes de nos reencontrarmos com a princesa da Lua. Não faço ideia de como ele sabia que estávamos procurando você, mas note que ele usou “reencontrar” e não encontrar, o que deixa claro que ele queria impedir um encontro nosso, portanto deve ter uma ideia de quem você é.

— Se ele tivesse, ele teria atacado a mim, que seria mais fácil. Afinal, eu estaria sozinha e indefesa.

— Não se estiver de posse do Cristal de Prata. Luna me falou grandes coisas sobre o Cristal. Um objeto mágico capaz de aprisionar uma força poderosa como a rainha Metalia e reencarnar almas seria o suficiente para transformar os generais e todo o Reino Negro em pó.

— Não dê muito crédito ao Cristal. A pedra é poderosa por causa de quem a empunha e as Serenity sempre souberam usar o Cristal a sua potência máxima. Não é um feito para qualquer um.

Usagi recostou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito.

— Ou você não lembra de como usar o Cristal de Prata a sua máxima potência ou você não tem a pedra. Minhas apostas estão na segunda opção. – Minako imitou a posição de Usagi e sorriu marotamente para ele.

— Por que diz isto?

— Porque você está se escondendo sob o manto de senshi e agora veio nos procurar. Pelo controle que você tem dos seus poderes, pelo que vi ao tocá-la, presumo que você tem as suas memórias há tempos, portanto tem acompanhado os nossos passos desde o nosso ressurgimento. Os sailors estão atuando há meses em Tóquio, lutando contra o Reino Negro e te procurando e procurando o Cristal de Prata, e só agora você vem fazer contato?

— Caso você não tenha percebido, eu tenho uma vida fora dessa vida de senshi. Eu tenho uma carreira para administrar. – Minako disse com petulância.

— Eu também tenho uma vida fora da vida de senshi e ainda sim perco noites de sono lutando contra youmas, minhas notas só não caíram mais por milagre divino e por Ami, meu corpo vive em constante estado de dor por causa dos hematomas e ferimentos e o estresse me fez desenvolver insônia. Já menti tanto para a minha família que eu tenho certeza que já tenho vaga garantida no Inferno. Eu tinha uma vida antes de Luna aparecer nela, e, ainda sim, no momento em que vesti o manto de Sailor Moon, esta vida ficou em segundo plano.

— Isso não é problema meu. – Minako deu de ombros. – Eu estava bem em meu canto antes de vocês começarem essa guerrinha de vocês pelo Cristal de Prata. – o sangue de Usagi borbulhou nas veias diante do pouco caso que ela fazia com toda esta situação. Num instante ele descruzou os braços e espalmou a mão sobre a mesa com força. O som estalado ecoou por todo o Arcade e fez Minako pular na cadeira de susto ao ver-se sob um olhar azulado irado.

— Onde está o Cristal de Prata, princesa? – Usagi sibilou entre os dentes. Era esta a doce e delicada princesa da Lua que eles deveriam guardar, respeitar e venerar? Luna andou contando algumas mentiras para eles, ou as memórias da gata do Milênio de Prata estavam piores do que pareciam.

Tudo o que Usagi via era uma garota arrogante, mimada e que só deu as caras por conveniência. Minako deveria estar sentindo que o Reino Negro estava cada vez mais próximo em descobrir a identidade da princesa reencarnada e usou o manto das senshis como disfarce para jogar Beryl e os seus generais fora da trilha de pistas que tinham, ao mesmo tempo em que procurava os outros sailors para pedir abrigo. Estava claro que a garota não estava de posse do Cristal, talvez nem soubesse onde este estava, o que mantinha a missão dos senshis de pé e firme e forte. Mas a ideia de que somente ela podia manipular a pedra a sua capacidade máxima incomodava Usagi. Minako não parecia muito disposta a salvar a Terra e a humanidade.

— Seguro. – Minako disse mais uma vez com petulância.

— Aino... – Usagi repetiu em tom de advertência.

— Você não pode se lembrar do Milênio de Prata, mas eu me lembro. Sabe quem começou a guerra? A Terra. Sabe por quê? Porque os humanos são um bando de invejosos. Rainha Metalia era uma rainha como Serenity, com poderes e com súditos fiéis, que via no reino da Lua mais uma conquista para o seu vasto império. Beryl era uma tola apaixonada pelo príncipe herdeiro e que não conseguiu o afeto dele, mas conseguiu cair nas boas graças da rainha que decidiu que teria o Milênio de Prata para si e o Cristal de Prata, nem que fosse a força. Rainha Metalia é apenas um espelho do egoísmo e ambição da humanidade. Acha mesmo que eu gostei de ter reencarnado aqui? Nem um pouco. Mas o legado do Milênio de Prata precisava ser continuado, mesmo que o reino físico em si não exista mais. Mas a rainha Serenity não disse nada sobre termos que proteger a humanidade. A nossa missão, na verdade, é reerguer o Milênio de Prata. Se rainha Metalia resolver explodir a Terra, não é problema meu. Não é problema nosso!

Usagi levantou tão rápido da cadeira que a mesma foi ao chão com um estrondo. De rabo de olho ele viu que Mamoru e Motoki vinham na direção deles, com expressões preocupadas, provavelmente porque a cena que viam era Minako com olhos largos, querendo sumir sobre a cadeira de tanto que se encolhia-se contra o encosto desta, e Usagi apoiando-se sobre a mesa, com o rosto vermelho de fúria.

— Então que você reerga o seu adorado Milênio de Prata sozinha, princesa. – Usagi disse entre dentes e rapidamente, antes que Mamoru e Motoki alcançassem a mesa e ouvissem a conversa deles. – Porque a minha ajuda, você não terá.

Usagi recuou, dando um último olhar irado para Minako, e a passos apressados passou por entre a dupla de amigos, que ainda o olhavam com preocupação, e deixou o Arcade antes que fizesse algo de que se arrependesse, como virar a mão na cara da princesa.

Independemente dos pecados passados da humanidade, a Terra era o lar deles agora. Minako não poderia dar a mínima para este planeta, mas Usagi dava. Para o planeta, para os seus amigos que vivia neste, para a sua família. Humanos ambiciosos e ferindo inocentes sempre existiriam e Usagi não era tolo em acreditar que no Milênio de Prata não existisse pessoas igualmente mau caráter. Parecia que Minako e Luna tinham uma visão muito fantasiosa daquele reino. O Milênio de Prata que elas pintavam era tão surreal que parecia de mentira. Usagi não acreditava que fosse realmente assim, como também não acreditava que rainha Serenity fosse igualmente isenta de culpa no conflito. Não existia um ditado que dizia “quando um não quer, dois não brigam”?

Antes, lembrar-se de uma vida que passou e que terminou de forma trágica não era a prioridade de Usagi, agora era. Ele precisava saber o que realmente aconteceu naquela guerra, precisava saber quem mentia e quem dizia a verdade, precisava saber a verdadeira razão por detrás do ataque da rainha Metalia.

Usagi parou a meio caminho de casa quando as palavras de Minako voltaram a sua mente.

Beryl era uma tola apaixonada pelo príncipe herdeiro...

Beryl foi apaixonada pelo príncipe herdeiro, pelo príncipe da Terra.

E isto? Isto, ao invés do Milênio de Prata e princesa Minako, lhe era estranhamente familiar.

O príncipe da Terra lhe era familiar.


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