A verdade sobre Eles escrita por Jhulliaty


Capítulo 13
Capítulo 12 — Isso é tão insano quanto framboesa


Notas iniciais do capítulo

ESSE É MEU MUNDO



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Aqueles lugares sempre foram um pé na cova de tão pacatos e diplomáticos.

Festas entediantes que faziam as pessoas irem só por serem mais entediantes que elas mesmas.

Talvez uma perna de coelho a ajudasse.

A mulher de cabelos rosados caminhou por todo o salão a passos leves, como se desse pulos entre o tempo, desviando de corpos parados, conversando.

Corpos, nada a mais. Não possuíam assuntos importantes, nem mesmo tinham algum motivo para estar lá, somente eram corpos vagantes que foram parar ali, naquele salão de festas.

Corpos vestindo branco, igual ela.

Mesmo que ela parecesse mais o Coelho da Rainha de Copas, com seu véu vermelho por cima dos ombros.

A mulher parou na frente do bar e ajeitou o vestido branco longo, arrumando o lenço vermelho de seus braços, colocando de uma forma que mostrasse seus ombros claros.

— Senhorita. — O bartender se pronunciou, se curvando um pouco. A mulher sorriu em retorno e se sentou em uma das mesas.

Não era exatamente hora para se beber, mas a falta do que fazer leva as pessoas a lugares estranhos.

— Um Whisky Blue Label, por favor. — Quando o homem já se distanciava, acabou por querer dar um adendo — Com bastante gelo, antes que me esqueça.

— Sim, senhorita.

O homem não devia falar, não podia também, estava trabalhando, era proibido, entretanto ela sabia que na mente dele devia ser um pequeno inferno toda aquela cordialidade e formalidades.

O pensamento fez a mulher quase dar risada.

Pessoas patéticas.

Entretanto, tirando o garçom falso, ela estava mesmo ali, na cerimônia para falar com o Deus da Morte.

Por que queriam aquilo? Nem mesmo ela sabia, seu culto era outro, mas ainda assim, seu pai lhe chamou para lá.

Seu pai adotivo, líder de uma Igreja Católica, se interessando por um Deus que não era seu Deus, o único Deus supremo.

Quando a bebida chegou e o homem colocou o apoio do copo na mesa, a mulher cogitou jogar fogo no líquido e ver se aquilo despertava seu pai besta.

Talvez estar perto de morrer fazia as pessoas realizarem coisas sem pensar.

Suspirou e pegou o copo com a mão enluvada, dando um gole suave.

Se fosse ela, se fosse na Igreja dela...

Só podiam estar de palhaçada, Deus da Morte?

Se existia um único Deus, somente ele podia dar e tirar a vida.

O vestido branco, agora, parecia sem sentido. Deveria ter vindo com seu habitual vestido rosa, talvez daquela forma não conseguissem invocar essa coisa que estava por vir.

Mais um gole desceu pela sua garganta.

Afinal, por que iriam querer invocar um Deus da Morte? Mesmo que ele exista, é como se suicidar.

— Irmãos e irmãs! — O padre pronunciou. — Estamos aqui para orar pelo nosso Deus supremo e tentar a comunicação direta com ele! — Mentiroso. — Então, meus irmãos, rezem comigo para o nosso Deus Supremo!

Iria começar.

A mulher deixou o resto da bebida e se levantou, passando a mão nos cabelos longos rosados e se encaminhando para o meio do salão, como todas as pessoas ali presentes.

Era desnecessário tudo aquilo, nada viria.

O pianista começou a tocar sua música enquanto todos se sentavam.

— Venham, meus irmãos! — Ele sempre brandia alto demais, todos estavam perto, não havia necessidade — Estamos aqui hoje para nos comunicar com o nosso supremo, e todo poderoso, Deus!

A mulher se colocou quase aos pés do Padre e ajoelhou-se no chão, deixando o vestido branco ficar ao seu redor, e juntou as mãos na frente da boca.

— Amém. — Todos disseram.

Aquele ritual sempre foi o mesmo, porém... a música era um diferencial que ela nunca havia pensado, não tinha nem porquê.

Havia um sorriso psicótico por trás das mãos juntas.

Não iria dar certo.

— Oh, Deus todo poderoso — Ele se ajoelhou também, ficando de frente para a estátua de mármore onde Jesus estava crucificado. —, você pode me ouvir? — O piano tocava agitado ao fundo, mais como se estivesse desesperado para fazer as palavras do homem chegarem ao Deus — Eu clamo que ouça minhas palavras!

— Amém!

O uníssono foi tão bonito, que ninguém mais sequer respirou após isso.

A mulher manteve as mãos na frente da boca e os olhos fechados.

Aquilo estava estranho, seu pai, o padre, deveria continuar a fazer a reza depois da palavra, mas...

Ela abriu os olhos, e tudo refletia ao vermelho.

Uma mulher, brandindo uma foice vermelha e preta, caminhava em sua direção.

Uma bestial meio gato, com dois rabos e orelhas de gato, olhava diretamente para ela, com seus olhos verdes.

Olhos verdes e uma jaqueta vermelha longa.

Não era permitido vermelho na Igreja...

A mulher se jogou para trás, caindo sentada no chão.

— Ah, desculpe, lhe assustei. — A gata à sua frente deu um sorriso meio sem graça enquanto olhava ao redor — Espera — Alguma ficha pareceu cair naquela hora —, por que você me vê?

A mulher olhou, aterrorizada, para aquela à frente enquanto se encolhia sem perceber.

Era... A Morte? Eles haviam conseguido?

A Morte não deveria usar preto?

Os olhos da mulher mostravam o medo de sua alma e o ar lhe faltou nos pulmões. 
A Morte abriu um sorriso em compaixão.

A menina iria morrer tão jovem, e em uma Igreja

— Quem... — Ela se arrastava para longe, se empurrando no chão com as mãos — Quem é você?!

— A Morte, você me chamou — Os olhos da Morte variavam entre um verde escuro para vermelho — mas pode me chamar de Kissani — Era a catedral de São Basílio. — Eu vim lhe buscar.

A mulher acenava negativamente, quase em transe.

Não.

Não.

Não, não, não! Não era possível!

Ela se levantou, meio sem jeito.

Ela seria levada agora.

—Não pode ser real — Ela sentia as lágrimas e a dor no peito —, não tem como isso ser verdade! — Começou a andar para trás, passo por passo, tentando se afastar da Morte.

— Se somente você me vê — Quando os olhos da Morte ficaram vermelhos e ela empunhou a foice, Kissani tomou uma decisão — então é quem terei que levar para longe da vida, mas não será o Inferno que lhe aguarda, como você tem pensado a tanto tempo, Rabbit. Venha, sua irmã lhe aguarda.

O corpo da garota despencou em desespero quando ouviu seu nome, suas pernas não aguentavam mais a realidade.

A Morte esboçou um sorriso carinhoso enquanto o corpo da mulher ficou paralisado no tempo, em meio a descida.

Os cabelos rosas pareciam ter ficado em um eterno loop de subida, enquanto seu corpo lentamente caía de joelhos.

Os olhos vermelhos da garota acompanharam para cima, enquanto ela via o vitral de Jesus e seus pais entrar em sua visão.

Por um segundo, um milésimo de segundo, ela viu Maria a segurando, como uma mãe segura seu precioso bebê.

Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela sentia o vento chegar perto do seu pescoço, e então, o barulho.

O barulho de asas gigantes enchia o ar enquanto ela sentia mãos em suas pernas e braços.

O ar retornou ao pulmão quando o tempo voltou a rodar.

O barulho que uma Rabbit não fazia sozinha.


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Notas finais do capítulo

E EU ESTOU TOMANDO ELE À FORÇA!



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