Sombra de Lobo escrita por Sarah


Capítulo 6
Capítulo 06




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Sirius acordou na manhã seguinte com o barulho de Remus remexendo em suas bolsas com uma expressão exasperada.

— O quê? — ele perguntou no lugar de bom dia.

— Acho que esqueci o meu conjunto de barbear na última pousada onde paramos.

— Pegue o meu — Sirius ofereceu, sentando-se na cama.

Remus fez isso, mas ao abrir o estojo acabou deixando-o cair sobre o colchão. A empunhadura da lâmina era de prata: uma cobra se destacava em relevo, os olhos duas esmeraldas incrustradas. Ele lhe deu um olhar interrogativo.

— É uma das poucas coisas que eu peguei de casa — informou. — Mas não estão amaldiçoados, não precisa se preocupar.

Lupin sorriu, porém fechou o estojo com cuidado, como se ele pudesse explodir de repente, e o colocou de volta no lugar.

— Faz um tempo que estou pensando em deixar a barba crescer. Acho que vai ficar bom.

Oh, Sirius duvidava que algo pudesse ficar ruim nele. Estava prestes a dizer isso para Remus quando ele desviou o olhar, fazendo seu estômago se revirar desconfortavelmente.

Ao perceber que Remus não diria nada sobre a noite anterior, Sirius também trincou os dentes. Os dois não falaram sobre o assunto naquela manhã, nem nos dias que se seguiram, e Sirius esperou o gelo se infiltrar entre eles — acordar no mesmo quarto seria constrangedor, Remus se tornaria cada vez mais silencioso, eles evitariam todo o tipo de toque, até que isso prejudicasse uma caçada e eles decidissem que era melhor seguirem em frente sozinhos.

Sirius esperou, mas a distância não veio. Ao contrário, Remus passou a se aninhar em sua cama para fazer pesquisas, às vezes deixando seus pés se tocarem. Ele sempre levantava mais cedo do que Sirius, e agora não deixava mais seu despertador tocar, acordando-o com um ligeiro aperto nos ombros e palavras suaves. Por sua vez, Sirius inclinava-se mais baixo contra o corpo de Remus quando precisava ver algo que ele tinha achado em um livro. Suas mãos passaram a vagar até a base das costas de Remus quando os dois percorriam lugares assombrados nas suas caçadas, se certificando de que Remus estava ao seu lado, vivo e quente em contraste com os espíritos.

Uma noite, Lupin passou uma caneca de chá — camomila, adoçado com mel —, e em seguida tomou sua mão.

— Você está manchado de tinta.

Eles tinham passado o dia pintando símbolos de proteção num hospital abandonado, esperando que aquilo afastasse os fantasmas dali. Sirius já tinha se banhado, mas aparentemente um pouco de tinta verde sobrevivera. Os dedos de Remus traçaram as costas da sua mão e o seu pulso, as unhas arranhando um pouco a pele para tirar a tinta. Em algum momento esse objetivo se perdeu e o toque tornou-se uma carícia. Remus contornou os nós dos seus dedos e a cicatriz que ele ganhara ao socar um garoto na cara pela primeira vez. De volta ao seu pulso, ele desenhou padrões aleatórios que fizeram um arrepio escorrer por sua espinha.

Sirius tentou beijá-lo. Ele alcançou a face de Remus no alto das maças do seu rosto e deslizou a boca por sua bochecha lentamente, respirando contra a pele de Remus, sentindo sua barba por fazer. Mas, ao final, seus lábios apenas roçaram nos lábios de Remus antes que o outro se afastasse.

Ele encarou o chão, o rosto vermelho e a expressão de alguém que está machucado. Não havia repulsa, o entanto; era mais como se Remus sentisse que devia se desculpar.

Sirius pousou a caneca de chá sobre o criado-mudo. Deuses, ele tinha sido estúpido. Não era para ele voltar a se sentir daquele jeito depois de James. Pegou seu casaco no cabide atrás da porta e saiu em direção ao bar mais próximo, meio esperando que Remus o seguisse, porém isso não aconteceu.

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Sirius passou todo o caminho de dois dias até uma cidade chamada Barrie em silêncio, dirigindo a maior parte do tempo. Remus não tentou puxar assunto, no entanto, em algum ponto do segundo dia, ele tomou coragem e estendeu o braço, apoiando-o sobre o seu ombro esquerdo como se estivesse simplesmente procurando uma posição mais confortável para ficar. Sirius o olhou de esguelha diante do gesto, mas não contestou, e Remus ficou um longo tempo daquela forma.

Ao menos com James tinha sido fácil compreender que ele estava em uma causa perdida. James não gostava de homens. Remus, por sua vez, nunca demonstrara um apreço específico pelas moças nos bares, tinha — quase — dito que gostava dele e agia como se realmente gostasse; mas, então, parecia prestes a fugir cada vez que Sirius se aproximava. Os toques de Remus eram cálidos, porém Sirius tinha a sensação de que só alimentavam a frustração que ardia no seu peito.

Os dois chegaram na cidade um pouco antes do anoitecer. Por um instante Sirius considerou arranjar um quarto separado, mas logo dispensou a ideia. Ele queria dar um passo à frente no que quer que tinha com Remus, não atrás. Não teria feito diferença de qualquer forma, pois quando Sirius saiu do banheiro não havia nenhum sinal de Remus ao redor, e ele sabia que o outro não voltaria antes do amanhecer. Num ímpeto de raiva, Sirius procurou o preparado de bebida alcoólica que Remus tinha dado a ele depois de os dois terem espantado o diabo do jardim daquela senhora. Não encontrou nada, o que significava que Remus tinha levado a garrafa com ele.

Sirius não dormiu até as quatro da manhã, fumando um cigarro atrás do outro apesar da placa no quarto que indicava que era proibido fumar ali dentro. Ao menos ele foi decente o bastante para fazer isso na janela, observando a lua cheia subir e descer no céu através da própria fumaça. Quando ele finalmente adormeceu, seu sono não durou muito. 

Acordou sobressaltado com o som de algo caindo. O relógio no criado mudo que ficava entre as camas marcava seis horas da manhã. Ainda estava escuro lá fora. Sirius levou um par de segundos para afastar o sono completamente, esfregando os olhos e passando as mãos pelo cabelo. Ao concentrar-se em Remus, percebeu que ele estava cambaleando, meio apoiado contra a parede.

— Porra, Remus! — Sirius falou e foi até ele, substituindo a parede na missão de ampará-lo.

Guiou o outro até que ele estivesse sentado na sua cama, que era a mais próxima.

— Eu... — Lupin começou a dizer, porém Sirius o cortou.

— Não me diga que está bem. Não precisa me contar o que diabos você saiu para fazer, nem como terminou assim, mas não me diga que está bem.

Remus ficou em silêncio por um momento, encarando-o com um olhar surpreso, e, então, concordou.

— Estou cansado. — Ele cheirava a bebida, especiarias e terra. — Tão cansado, Sirius.

— Me diga que remédios você precisa, e eu vou pegar para você. Café? Chá? Qualquer coisa.

Remus balançou a cabeça, dessa vez em negativa.

— Apenas fique aqui por um instante — ele disse inclinando-se em sua direção para descansar o peso do corpo contra o seu torso.

Em vez disso, Sirius o acolheu, envolvendo-o num abraço. Deixou suas mãos correrem pelas costas dele, muito suavemente, caso houvesse algum hematoma por baixo da roupa. Ocasionalmente levava os dedos até o cabelo de Remus, afagando os fios e acariciando sua nuca. Remus suspirou uma e outra vez. Ele tinha a cabeça apoiada em seu ombro, e Sirius podia sentir a respiração dele no seu pescoço. Às vezes, os lábios de Remus resvalavam na sobre o seu ponto de pulso. Esse fato refletia em sua virilha de forma agoniante.

Seus toques deviam ter um efeito semelhante, pois foi Remus quem cedeu primeiro. Ele afastou-se com um último resvalar de lábios sobre a pele, buscando sua boca logo em seguida. Foi como se ele estivesse se deixando cair, lânguido em seus braços, beijando-o de forma lenta e delicada. Sirius apenas acompanhou o seu ritmo, passando as mãos pela face dele de forma suave, mas firme.

Quando o beijo esmoreceu e Sirius voltou a fitar Remus, teve a impressão de que ele estava prestes a chorar. Deslizou os dedos por seu pescoço e clavícula, e então de volta ao seu rosto, contornando os lábios e as maçãs do rosto dele, porque se Remus de fato chorasse seria assustador e ele não saberia o que fazer.

— Estou tão fodido, Sirius. Eu não devia ter permitido nada disso.

— Eu quero estar com você, Remus. De verdade. Não vou voltar atrás nisso.

— Você não sabe o que está dizendo — o outro murmurou, mas não se afastou.

Dessa vez foi Sirius a escorregar os lábios pelo pescoço de Remus, lambendo e sugando a pele, colocando beijos em sua garganta. Remus estremeceu e deixou escapar um gemido sufocado. Sirius alcançou a entreperna de Remus, sentindo-o completamente duro contra sua palma.

Voltou a beijá-lo, acelerando um pouco o gesto, mordendo os lábios de Remus ao final, ao mesmo tempo em que abria o zíper das calças dele. Sirius acariciou o contorno da sua mandíbula com os lábios, sentindo o suspiro de Remus, e inclinou-se para baixo.

— Você vai me odiar em algum momento, Sirius — Remus disse meio desesperado, mas a forma como as mãos dele passavam por seu cabelo era repleta de carinho.

— Você está sendo tolo... Por favor, Remus.

Oh, ele devia ter percebido o quanto Sirius precisava daquilo, porque, afinal, deixou-o ajoelhar-se entre suas pernas. O aperto de Remus sobre seus ombros tornou-se mais firme quando Sirius terminou de puxar as calças dele para baixo.

A coisa foi um pouco apressada. Sirius poderia ter ido mais devagar, tomado o seu tempo, mas no fundo temia que Remus pudesse afastá-lo a qualquer instante. Ao fim, sua preocupação foi infundada. Remus pareceu derreter-se. A respiração dele era pesada e suas pernas estavam tremendo um pouco numa mistura de cansaço e excitação. Sirius provou gosto de sal e um odor almiscarado, que o remeteu a coisas selvagens, encheu seus sentidos quando ele acariciou a virilha de Remus com a ponta do nariz. Seu pescoço doeu um pouco — céus, fazia séculos desde que ele tinha feito aquilo pela última vez —, mas valeu a pena pelo som estrangulado que Remus fez quando o prazer o atingiu, puxando involuntariamente seu cabelo no processo.

Remus pendeu para trás enquanto Sirius limpava a boca com as costas das mãos. Ele o encarou com um misto de incredulidade e devoção, parecendo igualmente assustado e encantado com o que tinha acabado de acontecer. Lupin tomou fôlego numa tentativa de se recompor.

Sirius tomou consciência de que seus joelhos estavam doendo, mas não ousou se mover, não enquanto Remus não decidisse se iria aceitar aquilo ou fugir novamente. Seu coração batia muito depressa, e ao mesmo tempo parecia ter sumido do peito. Seu estômago ardia com nervosismo.

— Remus...? — Sirius sussurrou e viu Remus engolir em seco, seu pomo de adão subindo e descendo através da garganta.

Ele se inclinou. Por um instante Sirius teve certeza de que o outro iria afastá-lo, sair correndo do quarto, mas Remus o puxou com força e o beijou novamente.

Meia hora depois, quando Sirius saiu do banheiro, encontrou Remus dormindo na sua cama e juntou-se a ele, aconchegando-se de forma que Remus descansasse sobre o seu peito.

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Remus não voltou a afastá-lo nos dias que se seguiram, mas às vezes ainda o encarava como se sentisse culpa. Sempre era Sirius a procurar beijá-lo, embora Remus o tocasse em cada oportunidade e tivesse seguido até sua cama sem dizer nada todas as noites. Enquanto seguiam para outra cidade — onde um Atshen aparentemente tinha tentado devorar uma senhora de oitenta anos — Sirius dirigindo, ele esticou o braço e acariciou sua nuca durante quase todo o percurso.

Foram sete dias e três cidades adiante até que Remus tivesse coragem para girar sobre ele na cama de solteiro que os dois dividiam e pressionar seus corpos juntos de uma forma que sugeria mais do que aconchego.

Eles fizeram amor calmamente, com toques suaves. Sirius beijou as cicatrizes de Remus até que ele estivesse confortável nas suas mãos, e arfou quando Remus pousou as mãos em sua cintura, deslizando a palma por suas costas e por nádegas em seguida. Eles se beijaram, Remus mordiscou seus mamilos, contou suas costelas. Sirius desenhou as clavículas dele com aponta da língua, derretendo-se no cheiro bom do seu cabelo. Houve apenas um suspiro quando Remus gozou, mas as mãos dele fecharam-se sobre os seus ombros com tanta força que certamente haveria uma marca roxa ali quando acordassem.

Os dois adormeceram com as pernas entrelaçadas. No dia seguinte, porém, Remus voltou olhar para Sirius com preocupação, como se temesse que os dois tivessem ido longe demais.

— É por sermos dois homens? — Sirius perguntou de repente, assim que Remus terminou de vestir uma camiseta com os dizeres “you shall not pass”. — É isso que incomoda você?

Remus prendeu a respiração por um segundo.

— É mais complicado do que isso.

— É por causa do que eu falei sobre James? Eu superei isso, Remus, superei muito tempo antes dele se casar e de nós dois começarmos a caçar juntos. Quando eu digo que quero estar com você, estou dizendo a verdade.

Sirius sentiu-se corar ao dizer aquilo, mas ao menos o rosto de Remus também se tornou intensamente vermelho.

— Também não estou com ciúmes de James. Não é isso.

— Você vai me deixar saber o que é em algum momento?

Lentamente, como se nunca tivesse realmente pensado nessa possibilidade, Remus aquiesceu.

— Vou, em breve. — As palavras pareceram doer nele, mas aquilo soou como uma promessa.

Sirius se aproximou, beijando Remus sobre a fronte.

— Tudo bem.


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