Temari se encontrou espancando mais uma vez a porta do banheiro pela manhã. Como raios Shikamaru poderia demorar mais do que ela? Quase um ano de casados e ela ainda não havia se acostumado com isso e, especialmente hoje, ele parecia mais pensativo do que o normal, o que significava mais tempo embaixo do chuveiro.

Ela se perguntava se ele havia pensado alguma coisa sobre o aniversário de casamento deles. Temari não queria dar o braço a torcer e admitir que queria fazer algo, mas Shikamaru às vezes era tão lerdo que ela não duvidaria que ele tivesse esquecido a data.

Estava com o braço a meio caminho de socar a porta mais uma vez quando esta foi aberta e seu marido, com os reflexos de um ninja, segurou seu punho no ar.

—Calma. - ele disse encarando ela verdadeiramente assustado. - Eu nem demorei tanto assim.

—Como sempre. - ela revirou os olhos puxando o braço de volta. - Você apenas diz isso porque não cresceu com irmãos, não dava para enrolar muito porque Kankuro no banheiro demorava cerca de uma hora e meia só se maquiando.

—É, eu sei, você já repetiu isso algumas vezes. - Shikamaru respondeu rindo, Temari às vezes surtava com coisas tão pequenas. -Não entendo porque essa pressa toda, você já não está pronta?

—Sim, mas prometi a Karui que não me atrasaria. E está chovendo… - ela falou a última frase um pouco corada, odiava admitir seu medo irracional pela chuva.

—Eu sei. - ele disse se aproximando e dando-lhe um beijo na testa. - Mas daqui até o escritório da Aliança chegamos em 15 minutos, você não vai se atrasar.

O escritório da Aliança era um prédio recém-construído no norte da cidade. Era longe do Edifício Hokage, onde Shikamaru trabalhava, e servia como escritório diplomático para os representante de cada vila que morava em Konoha trabalhava resolvendo os assuntos burocráticos de seus respectivos países. Como esperado, Temari era a representante de Suna enquanto que Karui era representante de Kumo.

Com ambos prontos, Shikamaru pegou o grande guarda-chuva preto, saiu primeiro e o abriu, Temari não gostava nem mesmo se sentir uma gota de chuva. A loira o seguiu e segurou o braço do marido enquanto os dois caminhavam.

—Parece que essa chuva não vai passar tão cedo. - ela afirmou vendo a chuva contínua e fina. Chuvas rápidas em Konoha costumam ser bastante volumosas.

—Então parece que terei que te buscar no trabalho também, que problemático. - Temari riu, sabia que se pedisse, Shikamaru a buscaria todos os dias. Ele só não fazia isso porque ela mesma não permitia.

—O que acha de fazermos alguma coisa depois para que seja menos problemático? - ela sugeriu e o rosto de Shikamaru assumiu uma expressão sugestiva.

—Estou gostando do que escuto. - ela deu um tapa no ombro dele.

—Pare de agir como um adolescente, Shikamaru! Estava pensando em sairmos depois do expediente para comermos uns dangos, não voltar para casa e fazer o que fazemos todos os dias.

—Eu não me importo com essa rotina. - ele abriu novamente um sorriso sugestivo e recebeu outro tapa. - Mas está certo, faz tempo que não saímos para comer uns dangos. Vamos no lugar de sempre?

O lugar de sempre trazia lembranças a Temari.

Depois do incidente da chuva, ela levou mais de seis meses para voltar a Konoha. Estava tão envergonhada de seu medo irracional que conseguiu enrolar Gaara para que ele não a enviasse para a outra vila tão cedo.

—Bom, Temari, não sei qual o seu problema em ir para Konoha. - o mais novo disse fazendo-a engolir em seco. - Mas não tenho escapatória. Preciso entregar esses documentos para a Hokage e os únicos ninja dessa vila que eu confio completamente são você e Kankuro e…

—Kankuro já está em missão no norte do País do Vento, eu sei. - ela completou a frase do irmão. - Pode contar comigo.

E então lá estava ela nos portões da Folha e ele a esperando, como sempre. Ela não havia cumprido com a palavra de que pediria a Godaime que trocasse seu acompanhante, Shikamaru havia sido tão atencioso naquele dia que ela acharia injusto levar uma reclamação sobre ele a Hokage. Ao mesmo tempo, não o queria ali, não depois dele tê-la visto tão fragilizada.

—Quanto tempo. - ele comentou enquanto se aproximava e ela pode notar que ele havia crescido um pouco durante esse período. -Fiquei até preocupado de algo ter acontecido.

—Me poupe da sua preocupação. - ela respondeu irritada andando alguns passos a frente dele.

—Não seja tão rude, Temari. - ele disse a alcançando. - Da última vez, você me disse que as coisas em sua vila estavam estáveis, que nem todo mundo queria Gaara como Kazekage. Você é irmã dele, poderiam te usar para afetá-lo. - disse a última parte em voz baixa.

—Como se fossem capazes de me usar. - ela rosnou em resposta fazendo-o apenas falar um “problemática”.

Seguiram em silêncio lado a lado até o escritório da Hokage, onde Temari entrou sozinha deixando Shikamaru a sua espera do lado de fora.

O rapaz bufou e se encostou no parapeito da janela admirando a vila. Aquela garota conseguia ser completamente irritante. Ela sumia da vila por mais de seis meses e depois acha ridículo ele se preocupar!

Olhou para o céu admirando as nuvens fofas e brancas no céu multicolor de fim de tarde. Para ele, nenhuma paisagem era tão bonita quanto as cores do crepúsculo, a linha fina vermelha no horizonte indo de degrade para um laranja, amarelo, verde, azul claro e finalmente um azul escuro no final. Shikamaru poderia ficar ali até que o azul mais escuro dominasse todo o espaço e suas queridas nuvens se tornassem escuras demais para serem admiradas, mas seu devaneio foi interrompido ao ouvir o barulho da porta da sala atrás de si se abrindo.

—O que está fazendo aí? - ouviu a voz ríspida de Temari e finalmente se virou com a expressão mais entediada possível, ela tinha que interromper o seu momento de paz.

—Observando as nuvens, mas se você já quiser ir… - ele não terminou a frase pois a garota havia se aproximado e encarava a janela.

—Não é a primeira vez que vejo o pôr do sol de Konoha. - ela começou - Mas é a primeira vez que vejo desse ângulo. - ele estranhou o fato dela falar tanto. -Em Suna, o céu fica completamente vermelho e não temos árvores. É uma vista bem bonita. - ela se apoiou no parapeito ao lado dele fazendo-o corar.

Ser acompanhante de Temari era isso, Shikamaru nunca sabia quando ela falaria normalmente ou quando ela seria grossa. Nunca imaginou que ela pudesse ter medo de chuva ou que gostaria de parar e admirar o pôr do sol, mas ali estava ela fazendo-o comprovar o quanto inesperada era. Em silêncio, viram o céu escurecer e as luzes da cidade acenderem aos poucos.

—Ainda está cedo para voltar ao hotel. - ponderou Temari e Shikamaru sentiu medo do que poderia vir a seguir. -Me leve para fazer alguma coisa. - parecia mais uma ordem do que um pedido e ele não viu escolha a não ser atender.

—Já experimentou os dangos de Konoha? - ela negou com a cabeça, não fazia ideia do que seria aquilo. Ele continuou. -Tem um lugar aqui perto que vende, faz bastante sucesso entre os estrangeiros, se quiser…

—Sim. - ela respondeu sem nem mesmo deixá-lo continuar.

Talvez Temari já tivesse passado em frente aquela lojinha milhares de vezes, mas nunca havia focado nela direito. Era uma construção simples de madeira com uma fachada branca e azul. Por dentro, as mesas eram de madeira e havia uma vitrine de vidro exibindo os doces além do cheiro de chá que saia pela cozinha.

Sentaram-se perto da porta e Temari não pode deixar de reparar que a instrutora da segunda etapa do exame chunin estava comendo os bolinhos no palito num dos cantos da loja.

—Esse é um dos lugares favoritos da Anko. - disse Shikamaru como se estivesse lendo sua mente e em seguida lhe entregando o espetinho com três bolinhos.

Temari encarou aquilo com certa curiosidade, era tão bonitinho que tinha até pena de comer e estragar o arranjo. Deu a primeira mordida no cor de rosa e deixou que o sabor doce invadisse sua boca, era tão leve e com um gosto tão sútil, bem diferente de qualquer coisa que ela tivesse em seu país.

—Isso é realmente uma delícia. - disse mordendo a bolinha branca. - A partir de hoje, passa a ser sua obrigação me trazer aqui sempre que eu vier a Konoha. - Shikamaru riu.

Eles ficaram mais algum tempo na lojinha com Temari implicando com ele. No fim das contas, ela pagou tudo alegando que estava devendo a ele pelo café da última vez e que ela não era mulher de ficar dependendo de homem.

A Temari do presente sorriu lembrando de como Shikamaru cumprira o pedido dela levando-a a loja de dangos cada vez que ela retornasse a Konoha.

—Eu gostava da tradição de irmos à loja de dangos. - ela comentou ao marido.

—Eu gostava de ter uma desculpa para sair com você sem que fosse considerado um encontro. Teria sido problemático demais te chamar para sair. - ele respondeu fazendo-a corar. -Está entregue. - ele comentou quando chegaram no hall do prédio da Aliança. -Mais tarde eu te busco. - disse-lhe beijando a testa e ela ficou observando o marido debaixo do grande guarda-chuva preto andar em direção ao seu trabalho depois de todo aquele desvio.

Shikamaru poderia não ser o tipo de marido que ela imaginava para si quando era mais nova, porém eram essas pequenas coisas como a levar na loja de dangos ou ao trabalho em dias de chuva que a fazia perceber que ele era o único.