Come Together escrita por lamericana


Capítulo 4
Capítulo 4




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Eu tava chegando no meu armário quando vi que Matthew já me esperava por lá. Já se tornou um hábito depois do nosso encontro no parque na segunda passada. Desde então, ele tenta me convencer a conhecer pontos diferentes da cidade, mas sempre terminamos a noite na mesma lanchonete. E o pedido era sempre o mesmo: o líquido vermelho pastoso na taça gigante de milk-shake.

A única coisa de diferente essa manhã é o saco de papel pardo em uma das mãos de Matthew.

— Imaginei que você estaria com fome. – ele disse com um sorriso no rosto assim que me aproximei – Pão com queijo na chapa. Não é querendo me gabar, mas é uma das minhas especialidades.

Abri um sorriso, pegando o pacote da mão dele.

— Obrigada. E é um dos meus favoritos. – abri meu armário e peguei meu livro de biologia – Como você sabia que eu ia chegar em cima da hora e com fome?

— Um Cooper nunca revela seus segredos, cara Shine. Tem planos pra hoje?

— Stella me convidou para uma festa na cidade. Quer vir comigo? Não quero ficar segurando vela do resto do pessoal.

— Pode ser. Quer que eu te pegue que horas?

— Qual o seu problema com meu carro? Ele funciona. Não teve nenhum incidente desde que passou a ser meu.

— Nesse caso, minha querida, não é um problema meu com seu calhambeque. É um problema da estrada com ele. Seu fusquinha vai morrer no meio do caminho se você quiser ir com ele.

— Ok, vamos no seu carro. – revirei os olhos – Mesma hora de sempre, ok?

— Tá certo. – ele me deixou na frente da sala de biologia

James estava sentado na carteira compartilhada comigo. Ele parecia animado com a perspectiva da festa mais tarde, pelo jeito que conversava com Stella e um cara que eu não decorei o nome.

— Pru! Você vai hoje, não vai? – Stella tentou confirmar, assim que me viu

— Vou. Convidei o Matthew, se vocês não tiverem problema com isso.

Todos se entreolharam e garoto que eu não lembro o nome soltou uma risada nervosa.

— Você não está falando de Matthew Cooper, está? – ele perguntou

Stella deu uma cotovelada nele em repreensão.

— Harper! – James sibilou

— Ele mesmo. Algum problema?

— Pra ser sincera, não. – Stella disse – É que ele não fez muitas amizades por aqui desde que começou a morar com os Stuart. A gente sabe que ele não deve estar se adaptando a uma nova família, já que conheceu os pais e morou com a irmã até que ela morreu e tudo mais, mas é estranho.

— A verdade é que ele não fez nenhuma amizade de verdade com ninguém. – Harper emendou – Não nos leve a mal, ele parece ser gente boa, mas se uma pessoa significa mistério nessa cidade, essa pessoa é Matthew Cooper.

— Ele tem sido legal comigo. – falei e levantei o saco pardo – Inclusive, foi ele quem me trouxe café hoje.

Stella tirou o pacote da minha mão e o abriu.

— Garota, me ensina esse teu charme agora. Nunca que ninguém me trouxe café da manhã na escola quando eu tava precisando. – ela lamentou antes de se virar para Harper – Pelo menos aprende isso e me faz café quando tenho que ficar até tarde editando teus textos idiotas, garoto.

— Senhorita Jameson e senhor Smithe, poderiam se sentar em seus lugares, por favor? – a professora pediu

— Sim, senhora Mackenzie. – Harper respondeu pelos dois

Stella devolveu o saco na minha mesa e tirei o caderno da bolsa. Assim que terminou a aula, não esperei sair da sala para começar a comer. Já estava faminta e não iria aguentar esperar pelo intervalo. De fato, o queijo quente era incrível. Se brincar, o melhor que já comi na minha vida. O restante das aulas da manhã passou como um borrão na minha cabeça e, quando percebi, já era hora do almoço.

Joguei minhas coisas no armário e só fiquei com a carteira. Dessa vez, com alguma insistência, Matthew ia me deixar pagar o meu almoço. Assim que bati a porta do armário, vejo que ele estava parado do meu lado.

— Se eu fosse você, deixava essa carteira dentro do armário, que é o lugar dela. – ele falou em tom de sugestão

— E eu, se fosse você, deixava de prover todas as minhas refeições. – devolvi – Já não bastam todos os lanches que tivemos nessa semana, fora os almoços e o café de hoje?

Ele fingiu pensar.

— Minha resposta pra você é não. Foi mal se, em alguns aspectos, eu prefiro as coisas do jeito antigo. O cara pagando os passeios, pegando e deixando em casa, essas coisas.

— Tecnicamente, não estamos num encontro aqui na escola. Então acho que, se você quer continuar qualquer coisa que esteja acontecendo aqui – fiz um gesto me referindo a nós dois – você vai ter que se restringir a uma refeição por dia, seja ela café da manhã, almoço ou jantar.

— Recado dado e recebido. Mas sobre essa festa de mais tarde. Como vai ser?

— Pelo que Stella me contou ontem na aula de alemão, vai ser mais uma festa pré-baile.  Vão numa boate, acho, que vai ser quase um baile, só que menos formal. Vou comprar a roupa hoje de tarde.

— Não tem um vestido?

— Não é o fato de eu não ter nenhum vestido. Tecnicamente, tenho 4. Mas nenhum dos quatro é adequado pra uma festa dessa. Por isso vou ter que comprar.

— Será que seu carro vai aguentar?

— Sem piadas com o fusquinha. Ele é um cidadão idoso. Tem sentimentos. E é óbvio que ele vai aguentar. Pelo amor de Deus. Não é como se eu tivesse querendo atravessar o país nele. É só uma ida até a loja de vestidos e pronto.

— Vai querer companhia?

— Não, obrigada. Sophie Larsen já concordou em ir comigo. E seria sem graça se você visse o vestido antes da festa, não?

— Te ver nunca vai perder a graça.

Entramos na fila do almoço. Enquanto eu separava o meu prato, Matthew parecia estar atento ao que eu fazia. Assim que paguei pelo meu almoço e pegamos uma mesa, vi que não teríamos um almoço a sós como tivemos durante o resto da semana. Sophie, Stella, James e Harper se juntaram a nós dois. Becca veio logo depois.

— Prudence, tá confirmado pra depois da aula, né? – Sophie confirmou

— Tá sim. Se quiser, a gente pode ir direto daqui.

— Seria ótimo. Porque meu carro tá na oficina.

Todos começaram a falar da festa, de quem estaria lá e quais seriam os casais que se formariam por conta da festa e os que iriam se desmanchar.

— E você, Pru? Já tem ideia de como vai? – Stella me perguntou e todos os olhares se voltaram para mim

— Matthew vai me levar.

Todos se entreolharam e abafaram risinhos. Ótimo, agora todo mundo achava que a gente era um casal e eu seria questionada, mais cedo ou mais tarde, em que ponto estávamos do nosso “relacionamento”. Minha aposta para a primeira pessoa a fazer a pergunta seria Becca. Temos trigonometria juntas, o que abre espaço para ela ir comigo até a sala e perguntar.

A conversa continuou sobre a festa e percebi que Matthew estava estranhamente quieto e com a cara amarrada, como se a minha falta de reação para os risinhos do grupo tivesse o ofendido. Quando o sinal tocou, Matthew saiu quase correndo do refeitório. Fui atrás dele e o encontrei pegando o livro de trigonometria. Bati a porta do armário dele.

— Porque você tá assim comigo? Num segundo está todo caloroso, e no segundo seguinte vem com essa cara amarrada como se eu tivesse ameaçado matar seu bichinho de estimação. – reclamei

— Você não iria entender.

— Eu não passei duas semanas inteiras saindo com você, ouvindo The Doors e sei mais lá o que para não lhe entender. E se você acha que eu sou tão burra assim, me teste. O pior que pode acontecer seria eu me afastar. E acho que sou grandinha o suficiente para entender o que quer que seja.

Ele pegou meu braço praticamente me arrastou em direção ao meu armário, que ficava num corredor mais vazio. Enquanto eu abria a porta, ele começou a falar.

— Eu não gosto desse tipo de atenção constante.

— Surpresa, você deveria ser menos misterioso e um pouco mais extrovertido e teria menos desse tipo de atenção curiosa em cima de você. – rebati com ironia – E, se você falasse um pouco mais comigo, eu teria como reagir e até a esperar certos comportamentos seus. Agora você fica guardando esse monte de coisa pra você e eu não tenho como adivinhar o que você vai ou não gostar.

Ele respirou fundo e me olhou como se eu fosse uma criança que tivesse acabado de super simplificar uma coisa complexa e tinha errado tudo.

— Se eu lhe dissesse que eu não gosto desse tipo de gracinha que rolou no almoço com antecedência, você ia fazer o que? Expulsar todo mundo da mesa?

— Eu ia explicar que a gente ia ter uma conversa em particular. Eu recebi algum tipo de educação em casa, sabia? E não adianta você descontar as suas frustrações sobre excesso de atenção em mim, quando eu não tinha como saber que você não gosta disso. Na próxima vez fala. Minha bola de cristal quebrou.

Entrei na sala e sentei na mesma cadeira de sempre, até que me liguei que era dividida com Matthew. Ele sentou do meu lado e simplesmente começou a escrever um texto e não parecia que ia terminar de escrever tão cedo.

A professora entrou na sala, mandando todo mundo sentar. Pelo canto do olho, vi que Becca ia tentar falar alguma coisa comigo, mas desistiu ao ver que a professora não estava de brincadeira. Agradeci mentalmente, porque não estava disposta a responder isso. Não agora e não enquanto eu estiver ainda com raiva dele.

Na metade da aula, Matthew dobrou os papéis em que escreveu um texto e colocou em cima do meu livro. Peguei os papéis e botei na bolsa. Ia ler depois da aula, provavelmente no carro, enquanto esperasse por Sophie. Mas, definitivamente, não ia ler na frente dele.

Rezei para que a aula passasse mais rápido, para que eu pudesse ler o que ele queria dizer. Quando o sinal tocou, corri para o meu armário e troquei o livro de trigonometria pelo de álgebra.

Professor Herman provavelmente iria querer que eu ficasse até mais tarde se eu parecesse chateada com alguma coisa para poder conversar sobre a morte da minha mãe. Ele ainda não entendeu que eu estou ok com a morte dela e não ter uma mãe por perto não significa que vou entrar no mundo das drogas e morrer de overdose aos 20.

Assisti a aula tentando fingir que estava tudo bem e, assim como na aula de trigonometria, saí correndo da sala, só pra não dar chance ao professor de falar comigo.

Guardei meu livro no armário e fui pro carro. Tranquei as portas só pra ter certeza que não seria interrompida e comecei a ler o texto que Matthew tinha escrito. A letra dele era redonda, quase como um livro de caligrafia. Li até o final.

Tudo o que estava escrito fazia sentido, já que ele dizia que sempre cresceu sendo ensinado que não era uma boa receber atenção de muitas pessoas ao mesmo tempo e que, nas poucas vezes que isso aconteceu, não era uma coisa boa. Mas deixava de fora a resposta pra uma única pergunta: porque ele age como médico e monstro quando tá perto de mim? Porque não é só com a presença de um grupo maior de pessoas que ele muda de humor. No primeiro dia de aula, ele almoçou comigo, mas saiu do refeitório às pressas e depois fingiu que nada tinha acontecido na aula de trigonometria. Tudo isso era frustrante.

Meu celular começou a tocar, me dando um susto. Olhei o identificador e vi que era Sophie.

— Oi. Consegui sair da aula de educação física mais cedo. Qual o seu carro? – ela perguntou

— É um fusca amarelo. Já estou dentro.

Desliguei o telefone e joguei a bolsa para trás, mas deixei o papel no porta-luvas. Destravei a porta do passageiro para que Sophie entrasse. Ela jogou a bolsa dela no banco de trás e me deu as instruções de como chegar até a loja. Aparentemente, era uma que tinha uma melhor variedade de vestidos e não era tão cara, mas era mais distante da escola, quase na outra cidade.

— Eu sei que não é da minha conta, mas, o que aconteceu com o Matthew? – ela perguntou

— Digamos que ele não goste de ser o centro das atenções. Mas ele não é do tipo que vai arranjar briga por causa disso. Só fica enfezado.

Encostei na frente da loja de vestidos e descemos. Na vitrine, tinham alguns modelos extravagantes, mas vi que as manequins no interior tinham vestidos menos chamativos. Logo que entramos, Sophie se agarrou com três modelos, cada um de uma cor diferente, e foi até os provadores. Andei calmamente pelas araras até achar alguma coisa que chamasse a minha atenção. Encontrei um vestido vermelho frente única, que não tinha nada de mais pelo corte, mas era muito bonito. Olhei mais um pouco.

Enquanto isso, Sophie experimentou os três vestidos que escolheu e não gostou de nenhum. A vendedora separou um verde de um modelo diferente do que ela tinha provado. Entrei na cabine ao lado para experimentar o que escolhi.

— Prudence? Acho que já escolhi o meu, mas quero saber se ficou realmente bom. – Sophie disse, meio incerta

Saí da cabine. Ela estava linda. O verde combinou com ela.

— Sophie, você tá incrível. Você tem que levar esse vestido.

— Sério? E se você não levar esse daí eu te mato. Porque seu namorado vai adorar isso daí.

Fiquei da cor do vestido e a vendedora percebeu.

— Qual o nome do felizardo? – perguntou

— Matthew. – Sophie respondeu por mim. Pelo tom que usou, já era íntima da vendedora – É um irlandês gato.

A vendedora me olhou com um pouco do que pareceu ser admiração.

— Leve esse – ela me disse – Eu consigo um desconto pra você.

Voltei pra cabine e coloquei minha roupa de volta. Já conseguia imaginar a reação do meu pai para o vestido quando eu chegasse em casa. Provavelmente seria alguma piada ruim. “Não vai ser você quem vai precisar da bombinha nessa festa, vão ser os rapazes”. Revirei os meus olhos em antecipação ao que viria.

Paguei pela peça e fui pro carro de volta com Sophie. Ela me ensinou o caminho até a casa dela que, por ironia do destino, era a dois quarteirões da minha.

— Te vejo mais tarde, então. – ela começou a se despedir – E muito obrigada pela carona de hoje.

— Quando precisar de carona, pode pedir. Moro logo ali. E eu que agradeço. Até mais tarde.

Assim que entrei em casa, chequei a secretária eletrônica. Tinha um recado pro meu pai, de alguém o chamando para um jogo que aconteceria domingo.

Subi pro meu quarto com o vestido e o pendurei na frente do guarda-roupa. Tentei procurar um sapato que desse pra usar na festa e que não me deixaria parecendo uma girafa, mas não tive muito sucesso. Peguei um salto preto e deixei perto do guarda-roupa.

Desci de novo para tentar fazer um lanche antes de começar a me arrumar, mas fui parada quando ouvi a campainha tocando.

— Já vai!

Quando abri, vi o sr. Stuart parado na porta. Me segurei pra não cair dura com o susto.

— Senhor Stuart. Que surpresa! – exclamei

— Boa tarde, Prudence. Você parece muito com a sua mãe.

— Hm. Obrigada. O senhor quer entrar? Meu pai ainda não chegou, mas deve aparecer a qualquer momento.

— Na verdade só queria lhe perguntar se viu meu filho por aí. Ele não atendeu o celular e ainda não voltou pra casa.

— Não vi o Matthew depois da aula, para falar a verdade. Mas combinamos em ir numa festa hoje à noite com o pessoal da escola.

— Uma festa?

— É. Stella Jameson me convidou e chamei Matthew como meu par. Ele não falou com o senhor?

— Deve ter falado com a mãe dele. – ele fez uma pausa – De qualquer forma, obrigado. Se ele aparecer por aqui...

— Peço para ele falar com o senhor. Pode deixar.

Sr. Stuart saiu e fechei a porta. Matthew tinha sumido. Essa conversa estranha tinha sido basicamente sobre isso. Liguei para Matthew. Talvez ele me atenderia. No terceiro toque, fui recebida pela caixa postal. Tentei de novo. Dessa vez, ele atendeu.

— O que é? – ele atendeu ríspido

— Seu pai passou aqui procurando por você. – ouvi ele bufando do outro lado da linha – Ok, acho que tenho que pedir desculpas pelo meu comportamento de hoje. Sei que não tenho direito nenhum de exigir saber de tudo da sua vida. Eu só tive a impressão de que.... Sei lá. Talvez a gente tivesse caminhando pra alguma coisa.

— Vou passar por aí. Não quero discutir isso no telefone.

Ele desligou. Em pouco tempo, já estava batendo na minha porta.

— Sugiro que ligue pro seu pai. – disse enquanto entregava meu celular a ele – Fique à vontade quanto ao tempo de ligação.

— Falei com ele no caminho pra cá. – ele fechou a porta atrás de si. Colocou meu celular no aparador de chaves – Admito que também tenho que pedir desculpas aqui. Não fui claro com você sobre o que eu queria e tudo mais. Mas não acho que ainda é o momento para um relacionamento.

Isso não faz o menor sentido. No primeiro dia de aula, ele insinuou que eu tinha que ter um encontro de verdade. Passamos duas semanas saindo juntos todos os dias desde então. E agora ele vem me dizer que não é o momento para um relacionamento?

— Então porque todos os encontros? – questionei

Ele suspirou.

— É complicado.

— Já lhe disse pra não me subestimar. Hoje, inclusive.

Matthew deu um passo em minha direção.

— Ajuda em alguma coisa eu dizer que não tem nada a ver com você?

— Não muito. Continuo querendo saber.

— E se eu prometer que, quando puder, eu vou te explicar tudo?

— Continua não ajudando, mas é um avanço. Só queria dizer que as pessoas já acham que estamos namorando.

— E o que você acha disso?

Dei de ombros.

— As pessoas erram. E, às vezes, veem coisas onde não tem.

Ele deu mais um passo em minha direção.

— Acho melhor você comer. Não acho que vá ter muita comida na festa.

— Eu ia fazer isso antes do seu pai vir lhe procurar. – retorqui, andando até a cozinha.

Comecei a separar o que eu ia usar para um sanduíche quando ele segurou as minhas mãos por trás. Ele afastou meu cabelo para o lado.

— Porque não me deixa fazer isso? Você pode ver alguma música pra gente, enquanto isso.

Aceitei a sugestão dele e soltei a faca em cima do balcão. Subi até meu quarto e peguei uns CDs que trouxe de Riverside. Quando coloquei no sistema de som, Matthew pareceu surpreso com a minha escolha.

— Pensava que não gostava de The Doors. Principalmente depois do seu acesso de raiva.

Revirei os olhos.

— Não é que eu não goste de The Doors. Eu só prefiro ouvir a música deles sozinha.

— Vê se ficou bom.

Ele me entregou o sanduíche que fez. Realmente, estava muito bom.

— Como você consegue? Digo, com as mesmas coisas que você fez esse sanduíche, eu não conseguiria fazer um nem metade tão bom.

Ele deu de ombros.

— Como eu já lhe disse, um Cooper nunca conta seus segredos. Vai querer alguma coisa pra acompanhar?

— O eu você tem em mente?

Ele atravessou a cozinha e me beijou. Só me afastei para pegar um pouco de ar. Senti meu rosto esquentar.

— Acho que as coisas ficaram ainda mais confusas.

— Eu ficaria feliz em ficar mais tempo para acabar com a confusão, mas acho que, se ficar, não vamos mais para a festa hoje. A não ser que você tenha desistido de ir.

— Não, não desisti de ir. Você vem às 8?

— Venho.

Assim que ele terminou de falar, meu pai abriu a porta. Não precisei olhar pra ele pra saber que ele estava surpreso.

— Obrigado por ter emprestado o CD. – Matthew agradeceu – E desculpa não ter devolvido hoje na aula.

— Sem problema. Pai, tem recado pra você na secretária eletrônica.

— Vocês vão sair hoje? – meu pai perguntou olhando para Matthew

— Vamos sim senhor. – Matthew respondeu – Volto às 8 para buscar a Prudence. Vamos numa festa com o pessoal da escola.

— Tome conta dela, viu? – meu pai se voltou pra mim – Comprou o vestido que queria?

— Comprei. Daqui a pouco eu vou começar a me arrumar e você vai ver como é. E se você não for se arrumar, Matthew, você não vai ver nunca.

Matthew se despediu e foi pra casa. Meu pai ouviu o recado e ficou me olhando estranho enquanto eu tirava o CD do sistema de som.

— Que horas ele chegou? – meu pai finalmente perguntou

— Tinha nem meia hora. A gente conversou um pouco, ele devolveu o CD de The Doors, botei pra tocar e você chegou.

— Tome cuidado, viu?

— Pai, não precisamos ter essa conversa, né?

— Infelizmente, não dá pra você ter essa conversa com a sua mãe.

— Fique tranquilo. Eu tenho juízo. Agora vou me arrumar.

Subi as escadas e separei a calcinha que ia usar. Tomei um banho demorado e vesti a calcinha. Sequei o cabelo e me enrolei na toalha antes de ir pro meu quarto. Me vesti e decidi não por muita maquiagem. Assim que terminei de me arrumar, desci para esperar Matthew.

Meu pai tirou os olhos da tv por um instante para me ver.

— O que achou? – perguntei

— Bonito vestido. Só podia fechar um pouco o decote.

— É um pouquinho tarde pra isso. – Matthew tocou a campainha – Eu disse. Eu te amo, estou levando a bombinha, o celular, dinheiro e a identidade. Te amo.


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