Come Together escrita por lamericana


Capítulo 2
Capítulo 2




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Primeiro dia de aula numa escola nova é sempre a mesma coisa. Tenho que ir na secretaria pegar a caderneta, meus horários e o mapa da escola, registrar a minha bombinha como medicamento que tem que sempre estar comigo e ir de sala em sala. Sempre vou ser tratada como o brinquedo novo pelos outros alunos.

Assim que peguei meu horário na secretaria, notei que meu pai tinha esquecido de trazer o atestado médico, mesmo tendo dito que tinha enviado.

— Oi. – chamei a secretária de novo – Acho que meu pai esqueceu de trazer meu atestado médico. Por conta da asma, não vou poder fazer educação física.

— Desculpa, querida. Entreguei o seu horário antes da correção. Ele mandou seu atestado sim. – ela vasculhou um pouco entre os papéis – Aqui está o seu horário certo.

— Obrigada.

— Bem-vinda a Farnsworth.

Fui pra minha primeira aula, de biologia. No caminho, fui abordada por um garoto de cabelo preto que não devia ser muito mais alto que eu. Tá certo que não sou baixa, muito longe disso. Mas sou alta para uma garota. Ele devia ter 1,75m.

— Oi. – ele disse com um sorriso e tentando me fazer parar de andar – Você deve ser a garota nova. Sou James.

— Oi, James. Sou a garota nova e gosto de andar e falar ao mesmo tempo.

Ele se tocou e começou a andar do meu lado.

— Qual seu nome?

Hesitei um pouco antes de responder. Eu sempre ficava tentada a usar meu nome do meio, mas sempre acabava optando pelo meu primeiro.

— Prudence. E a minha aula agora é biologia.

— A minha também. Espero que goste da aula da Sra. Mackenzie.

Enquanto íamos para a sala de biologia, garoto não parava de falar sobre como eram os professores. Até que ele começou a falar da aula de educação física, como era sempre divertida e nem parecia uma aula.

— Quando é sua aula de educação física?

— Eu não faço educação física.

— Como assim não faz educação física? Todo mundo é obrigado a fazer.

— Meu médico e a minha asma dizem diferente. – mostrei o meu horário com o buraco deixado pela educação física.

Antes que ele pudesse responder, o sinal tocou e a professora entrou na sala. James saiu pra sentar e deixei minha caderneta em cima da mesa dela e procurei um lugar pra sentar. As carteiras eram organizadas em duplas. Acabei tendo que sentar do lado do garoto falante. A professora começou dando boas-vindas à turma e mencionando a minha presença. Depois disso, começou o assunto, dizendo que esse semestre seria pesado. Mas começou explicando um assunto que eu já tinha visto em Riverside. Por garantia, tomei nota do que ela falava.

Na saída da sala, encontrei Matthew parado na frente do meu armário. Ele notou que eu estava sendo “acompanhada” por James.

— Vejo que já fez amigos. – ele me alfinetou assim que me aproximei. Achei estranha a intimidade que ele se deu, principalmente considerando que mal olhou na minha cara quando entregou as chaves da casa pro meu pai. E praticamente não falou comigo no jantar que os pais dele deram de boas-vindas pra mim e pro meu pai.

James olhou confuso pra nós dois.

— Vocês se conhecem? – questionou

— Meu pai trabalha pros pais dele. – respondi simplesmente – E os pais dele já foram meus vizinhos há uns anos.

— James, se importa se eu der um tour na escola com Prudence? À sós? – Matthew perguntou

— Tudo bem. – James levantou as mãos em sinal de rendição – Tenho que falar com Becca sobre as coisas do anuário, de qualquer jeito.

Ele se afastou, acenando pra mim. Acenei de volta.

— Não é meio cedo pra anuário? – questionei

— Essa escola tem o hábito de começar a organização um pouco cedo demais. E desculpa se fui meio distante no jantar dos meus pais. Eu tava num dia ruim.

Meio distante é eufemismo, né? Ele mal abriu a boca pra falar com quem quer que fosse, quanto mais comigo. Ou melhor, ele praticamente não abriu a boca pra nada, nem pra comer. Aquele jantar foi um fiasco, pra dizer o mínimo.

Joguei meu livro de biologia no armário e peguei o de inglês. Matthew entendeu como um sinal para irmos andando pra aula de inglês.

— Tudo bem. – tirei por menos

— Queria poder me desculpar com você. Por ter sido um babaca com você quando chegou na casa.

— Tudo bem. Não precisa pedir desculpas por isso.

— Agora me diga, o que você tava fazendo com o Mulholland? Ele é um idiota.

— Ele foi a primeira pessoa que falou comigo, pra falar a verdade. Não foi muito uma questão de escolha. – dei de ombros

Matthew me deixou na frente da sala de inglês.

— Tenho aula de espanhol agora. Te vejo no almoço?

— Pode ser.

Entrei na aula de inglês. Por sorte, o professor não pediu que eu fosse me apresentar na frente dos outros alunos. Na última aula antes do almoço, a de alemão, não tive a mesma sorte.

— Turma, temos uma aluna nova aqui conosco – o professor, Herr Zimmermann, anunciou – Você poderia se apresentar? É só se levantar da sua cadeira e falar seu nome, idade e de onde veio.

— Meu nome é Prudence Shine, tenho 16 anos e me mudei de Riverside, mas nasci em Springfield. – eu disse

— Obrigado, Prudence.

E ele deu a aula normalmente. Assim que o sinal tocou, joguei meu material na mochila e vi que Matthew já estava me esperando na porta.

— Liberado mais cedo da aula de ...? – perguntei

— Álgebra? Na verdade, não fui liberado mais cedo. É que a sala é aqui do lado. E vi você entrando. – ele me deu o braço, num gesto para que eu o acompanhasse – O que tem achado de Farnsworth High?

— Normal. Não que eu goste de ter que me apresentar na frente da sala toda, como Herr Zimmermann me fez fazer no começo da aula, mas não consigo ter nenhuma reação anormal a isso. Já to acostumada.

Entramos na fila para o almoço. Vi que Matthew não botou quase nada na bandeja dele, o que me fez parecer uma ogra que nunca viu comida na vida em comparação. Isso porque eu botei o que sempre comi: uns três rolinhos de enchilada, um refrigerante e um chocolate pequeno. Assim que ele chegou no caixa, apontou pro meu prato.

— Vou pagar o dela também. – ele disse como se fosse a coisa mais rotineira da vida dele

— Não vai não. Eu tenho dinheiro. Posso pagar meu almoço. – protestei

— Aceite como um convite de boas-vindas, Shine. Qualquer coisa, você me paga depois.

Ele tirou o dinheiro da carteira e entregou à atendente, que parecia não ter a capacidade de tirar os olhos dele.

Eu entendo que Matthew é lindo. De verdade. Posso não estar afim de me arranjar um namorado agora, mas eu não sou cega. O cabelo ruivo ondulado na altura dos ombros e a cara de que saiu de um pôster de cinema dos anos 50, somada à postura de bad boy misterioso atrai qualquer pessoa. Mas a reação da garota tava extrapolando um pouco os limites.

Caminhamos até uma mesa vazia. Ficamos só nós dois na mesa, o que pareceu muito solitário, mas ao mesmo tempo era reconfortante por eu não ter que responder as perguntas de sempre por ser a novata. Matthew mal encostou na comida que botou no prato e ficou estranhamente calado.

— Você tem irmãos? – perguntei, tentando ocupar o nosso silêncio

— Não. Pelo menos não agora. Minha irmã morreu.

— Desculpa. Eu não devia ter perguntado sobre isso.

— Não, tudo bem. Ela morreu quando eu era ainda pequeno. Morei com ela depois da morte dos meus pais. Por isso fui parar num orfanato. Depois fui adotado pelos Stuart. E, pelo que vi no jantar semana passada, é só você e seu pai.

— É. Ele tentou ter algumas namoradas, mas sem muito sucesso. Acho que eu espantava as garotas, que deviam achar que ele ainda era casado.

— E você?

— O que tem eu?

— Já teve algum namorado?

Senti meu rosto esquentar. Muito provavelmente, eu estava mais vermelha que o cabelo dele.

— Não. Me mudei muito pra conseguir um namoro. – Matthew encostou um pouco a cadeira dele à minha

— E já saiu num encontro? Não estou falando desses “sair com um grupo grande que por acaso tem seu amor platônico”, mas sair só você e um garoto.

Matthew estava se inclinando em minha direção, o que me deixou desconfortável.

— Hm, não.

— Então resolvido. Passo na sua casa às oito. Leve a sua bombinha. Você vai precisar.

Matthew se levantou com o prato praticamente intocado e o levou até a lixeira. Ele saiu do refeitório como se o nosso almoço não tivesse acontecido. Terminei o restinho de enchilada, peguei o chocolate, jogando na bolsa e levei o prato pra lixeira. Levei o refrigerante comigo.

Enquanto eu ia pra aula, o sinal tocou. Na sala de trigonometria, encontrei as carteiras organizadas da mesma maneira que na aula de biologia. Matthew estava sentado sem par. Deixei a minha caderneta na mesa da professora e sentei do lado de Matthew.

— Seu amigo ali parece decepcionado por você sentar aqui comigo. – ele comentou apontando para James, que estava do outro lado da sala

— Ele não vai morrer se eu sentar com você.

— Mas to sentindo daqui o ciúmes dele.

Dei de ombros. Matthew parecia satisfeito com a reação que ele estava provocando em James. Assisti a aula de trigonometria como todas as outras daquele dia: anotando o que parecia importante, prestando atenção no que a professora falava.

Assim que o sinal tocou, Matthew saiu da mesa, me lembrando do encontro que teríamos mais tarde. Enquanto eu caminhava até o meu armário, uma menina que eu já tinha visto na aula de biologia e de alemão estava me esperando do lado.

— Eu poderia falar com você? – ela pediu

— Estou ouvindo.

— Sou Stella Jameson. Tivemos aula de biologia e alemão juntas. – acenei com a cabeça, deixando a entender que lembrava dela – Seu nome é Prudence, não é? – concordei com outro aceno – Vi que você ficou meio só hoje.

— Eu tava com Matthew. – a frase saiu meio que como uma pergunta

— Eu sei, eu sei. É que ele é meio solitário.

— Entendo. Mas não tenho um problema com isso.

Ela ignorou completamente o que eu disse.

— Eu e um pessoal daqui da escola vamos para a cidade na sexta que vem. Vai ter uma festa por lá. Quer vir com a gente?

— Vou ver em casa e depois de falo qualquer coisa. Mas tenho aula de álgebra agora.

Fui seguindo o caminho que fiz pra aula de alemão e entrei na sala seguinte. Como fiz em todas as outras aulas, deixei minha caderneta em cima da mesa e escolhi uma carteira desocupada pra sentar. O professor entrou na sala e estranhou a caderneta em cima da mesa dele.

— Quem é... – ele leu meu nome – Prudence Aoi...

— Sou eu. – me acusei, levantando a mão – Prudence Shine.

Ele mandou todo mundo se sentar e começou a aula. Quando o sinal tocou, indicando que o meu dia de aula tinha acabado, o professor me chamou.

— De onde vem seu nome do meio? – ele questionou

— É irlandês. Minha mãe era de lá.

— Era?

— Ela morreu há uns 12 anos.

Eu sabia muito bem onde essa conversa ia parar só de ver a expressão de preocupação dele. Muito provavelmente ele faria uma anotação na minha caderneta dizendo que eu deveria frequentar algum psicólogo, de preferência o da escola, para falar sobre a morte da minha mãe.

— Senhor Herman, eu to bem. Já superei a morte dela. – afirmei – Meu pai me fez ir a vários tipos de terapia pra lidar com isso. – não era uma mentira. Meu pai me fez ir até em uma sessão de grito primal, que foi muito louca, mas foi a que ele mais achou que eu iria praticar durante a adolescência.

— Tudo bem, então. Saiba que, se quiser conversar, minha porta está aberta.

Concordei com a cabeça. Peguei a minha caderneta, deixei meus livros no armário e fui pra secretaria entregar a bendita da caderneta.

— Como foi seu dia, querida? – perguntou a moça no balcão com um sorriso

— Foi bom. Obrigada. – devolvi o sorriso

Assim que saí do prédio principal, vi que estava chovendo e que tinha esquecido o guarda-chuva em casa. Tirei a bombinha da bolsa e saí correndo até a parada de ônibus. Quando terminei de usar a bombinha, um carro parou na minha frente. O dono do carro baixou o vidro e vi que era Matthew.

— Um carro não é o suficiente? – perguntei

— Esse não é meu. É do meu pai. O meu teve que ficar no mecânico agora de manhã. To indo pegar ele e vou precisar de ajuda pra levar os dois carros pra casa. – ele viu meu receio – O ônibus demora e eu posso te deixar em casa.

— Ok. Mas você vai realmente me deixar em casa, né?

— No tanto que não roube meu carro...


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