— Nada melhor do que voltar para casa né amor? — Perguntou Laura abrindo a porta e empurrando a cadeira de rodas em que Miguel estava.

— Para mim tanto faz. — Respondeu o policial indiferente.

Depois de quase quatro semanas, Miguel conseguiu alta do hospital. Muitas mudanças iriam acontecer. Laura olhou a casa toda e comentou:

— Vou ligar para o arquiteto. Temos que adaptar a casa para você. Assim, a sua vida será mais fácil.

— Faz o que você quiser! Estou pouco me fodendo!

A ruiva suspirou profundamente. Não vai ser fácil lidar com ele. A professora sentou-se no sofá, puxou a cadeira de Miguel e disse:

— Olha, sei que não está sendo fácil. Foi uma mudança repentina e que vai levar tempo para se adaptar. Mas, estou aqui com você! Não vou te abandonar! Aceite a minha ajuda, por favor.

— Não preciso da sua pena!

— Eu não estou te ajudando por pena! Eu estou aqui porque te amo! Foda-se se você está temporariamente paralítico, cego ou qualquer coisa do tipo. Eu vou gostar de você de qualquer jeito!

 — Só vou atrapalhar a sua vida.

— Não vai! Nossa rotina vai mudar um pouco sim... Mas, vamos encarar isso juntos! Só que vou precisar da sua ajuda também!

— Vai ser tão difícil! Não sei vou conseguir.

— Claro que vai conseguir! Você enfrentou os bandidos mais perigosos do país, isso aqui é apenas mais um desafio. Além de o médico falar que você tem 50% de chance de voltar a andar!! Esta probabilidade é incrível!

— Ele falou isso só pra me confortar.

— Para de falar besteira! Tem que pensar positivo!

— Como que quer que eu pense positivo? — Gritou Miguel com raiva. — Estou em uma porcaria de cadeiras de rodas! Minha vida, minha profissão e até nossa vida sexual completamente acabou! E ainda vou ser obrigado a ver pena nos olhos das outras pessoas! Vou depender de você! A liberdade que eu tanto pregava... Foi pra merda! Então, não venha com esse papinho de pensar positivo! — Exclamou Miguel jogando o abajur que ficava em cima do criado mudo no chão.

Laura colocou as mãos na boca como reação ao ato agressivo do policial. Tinha uma expressão de terror e seus olhos refletiam medo. Nunca tinha visto a áurea de Miguel tão negra e seus olhos tão vazios de vida. Ela encostou-se aos ombros do amado e sussurrou:

— Não precisa ser assim...

 — Tira a mão de mim! — Exclamou Miguel se afastando. — Me deixa sozinho!

— Tem certeza?

— Você acabou de ouvir o que eu falei? Ou é surda mesmo?

Laura não respondeu a grosseria. Pegou sua bolsa em cima do sofá e saiu de casa.

Passava-se das duas da tarde. A tarde estava bem ensolarada. O sol brilhava como nunca. Nenhuma nuvem no céu para atrapalhar o seu reinado como astro rei. Os pássaros cantavam, atraindo suas futuras companheiras. Os campos da cidade estavam completamente floridos. Crianças corriam expressando um sorriso de felicidade no rosto. Casais andavam de mãos dadas, rindo e se divertindo um na presença do outro. Laura via todo aquele cenário com melancolia. Gostaria de sentir tranquila com esse ambiente tão alto astral, mas, não conseguia. As palavras de Miguel ainda doíam muito. Tudo bem que ele está em um momento difícil... Mas não precisava declamar palavras tão grosas. Como fui tola! Pensar que tudo continuara a mesma coisa mesmo depois do acidente. Uma mão apertou delicadamente o seu ombro. Ela olhou para trás, sorriu timidamente e perguntou:

— O que faz aqui?

— Queria ver como você estava.

— Estou péssima Edu!

— Dá pra perceber. — Concordou Eduardo sentado ao lado da professora. — Lidar com o nosso delegado está sendo difícil, né?

— Difícil demais! E isso porque só é o começo! Imagina depois?

— Ele é cabeça dura demais e muito orgulho. Aquela situação pra ele deve ser horrível!

— Eu entendo a frustração dele! Acho que reagiria da mesma maneira. Só que ele está soltando frases que magoam... Que atingem de maneira certeira os sentimentos. Além de eu nunca ver os olhos do Miguel tão vazios de vida e de perspectiva.

— Acho que o Miguel precisa de um amigo.

 — Como assim?

— O Miguel precisa de alguém para desabafar. Todo homem precisa de um amigo para poder se distrair.

— Pode dar certo! Aliás, eu já sei o que fazer!

— O que está pensando?

— Logo saberás!