Fora nessa sua humanidade - na qual muitos eram descrentes - que eu me perdi. Ou, pelo menos, acreditava ter me perdido.

Sendo sincera - talvez esse seja o mínimo que eu deva a esse diário-, o caos já muito me incomodou. Todo aquele barulho, toda aquela incerteza. Jogar-se à deriva num mar, sem sequer ter a certeza de que sabe nadar.

Acredito, agora, que fora isso que me atraiu tanto na escrita, quando tudo começou - essa ideia (errônea) de que tudo estava sob controle. 

Brincando com o corpo rotundo da caneta entre os dedos, eu sorrio para mim mesma, traduzindo inconscientemente para as páginas o presente devaneio - como ocorreu com todas essas memórias, que tomaram a minha mão e contaram suas próprias histórias. Estar perdida em minhas próprias lembranças, a ponto delas escreverem por si só: não seria esse, também, um tipo de caos?

E à medida que miro o dicionário no canto da mesa, só me resta rir.

Semântica: em interpretação livre, o estudo com o qual eu passei noites incontáveis procurando respostas em meio a verbetes e notas de rodapé - só para encontrar a resposta em você.

Em todo aquele barulho, em toda aquela incerteza.