Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 53
Preciso de ajuda




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Ele avançou o mais rápido que podia, no escuro e naquele terreno acidentado, entramos em outra sala totalmente enevoada, o cheiro era forte e enjoativo dominava o lugar, dava para ver vultos se mexendo lentamente, pessoas em transe pelo uso de drogas, pareciam zumbis. Eu estava com muito medo.

— Vamos embora, Louis – segurei o braço dele e pedi outra vez, mas ele não me ouviu.

— É aqui! Viu? Estamos em outra dimensão, são pessoas perdidas, elas não sabem como voltar.

— Não, Louis, são apenas drogados – sussurrei, alguém gemeu, fiquei em alerta.

— André! André! – O velho começou a gritar, os outros respondiam com palavras sem sentido, uma mulher começou a rir, quase um grunhido.- André!

— André! – alguém chamou de sacanagem.

— André é o papai! Eu vim levá-lo para casa! – Louis ignorava os outros sons e avançava com dificuldade.

— André! É o papai! - Uma mulher repetiu com a voz rouca.

— Vamos embora, senhor Fraser! – implorei mais uma vez.

Mais adiante, um homem se levantou, não dava para ver quase nada, apenas um vulto, e saiu andando em passos vacilantes, na direção oposta à nossa.

— André! – Louis gritou, de novo, e ensaiou uma corrida, deu alguns passos e tropeçou e caiu de barriga para baixo, gemeu.

 Meus olhos já estavam acostumados com a escuridão, fui na sua direção e me ajoelhei ao lado dele. Não dava para ver o seu rosto, mas conseguia ouvir sua respiração difícil, parecia estar sufocando, tateie e o virei de barriga para cima, ele estava suado e frio, abri a sua camisa, querendo ajudá-lo a respirar. Ele respirava cada vez com mais dificuldade e gemia baixinho, o ar esfumaçado piorava a situação.

— Louis, vamos, levante-se! – Tentei ajudá-lo a ficar de pé, mas, o seu corpo era muito pesado, ele não auxiliava, estava mole e respirava ofegante.

Precisava fazer alguma coisa, precisava procurar ajuda, mas não podia deixar ele assim sozinho, naquele lugar. Enfiei as minhas mãos debaixo dos braços dele e, com toda a minha força, tentei puxá-lo para longe dos drogados, colocá-lo em um lugar mais seguro, mas ele é pesado e tinha muita coisa no chão, que não me deixava arrastá-lo.

— Louis, acorde! Por favor! – Pedi, tenho que admitir que quase chorando, mas ele não respondia, não se mexia, sua respiração estava mais difícil, lembrava a da minha mãe no final da doença. Minha mãe.... Precisava salvar Louis! – Aguenta firme que eu já volto! – disse no ouvido dele e sai correndo, tropeçando em coisas caídas no chão, batendo em pontas, me machucando, não percebi nada disso, só corria, achando que estava na direção certa, o lugar era muito grande e estava bastante escuro, não sabia por onde viemos, mas tinha que achar a saída, tinha que conseguir socorro, antes que ele morresse!

Uma tênue claridade, a saída revelada pela luz que vem da iluminação da rua. Passei pela pequena fresta do portão, corri até o fim da rua, parei na esquina, olhei para um lado e para o outro, não sei por onde ir. Precisava de um telefone para chamar ajuda, corri pela rua, com medo de me perder, de não achar mais o lugar, observei em volta tentando memorizar o caminho. Finalmente, achei uma loja, uma tabacaria, onde só uma mulher entediada estava atrás do balcão, mexer no celular.

— Preciso de ajuda. Tem um homem morrendo – disse a ela, aflito.

— Você está falando sério, garoto? – Vi logo pela cara dela que não acreditou em mim.

— Sim, estou. Preciso do seu telefone.

Mesmo de má vontade, ela me entregou o aparelho e eu digitei o número que minha mãe me fez decorar.

— Preciso de ajuda. Tem um homem morrendo – falei assim que alguém atende, me enchendo de perguntas. –Você não está entendo tem um homem morrendo agora, enquanto estamos perdendo tempo.

— Qual é o seu endereço? – Olhei para a mulher pedindo ajuda, ela me deu o endereço de onde estamos, repeti ao telefone

— Mas, ele não está aqui. Está em outro lugar. Eu não sei onde fica.

— Como poderemos ajudá-lo, se não soubermos onde ele está.

— Eu não moro aqui, só sei que é uma espécie de fabrica abandonada, um grande edifício cinza - explico em desespero.

— Você não sabe a rua.

— Não! Só sei que tem um monte de drogados lá dentro.

— Você estava usando drogas?

— Não, só vim ajudar um amigo a achar o filho dele. E agora, ele está morrendo! Ele é velho, deve ter uns 60 ou 70 anos.

— Eu já consegui sua localização, sabemos qual é o lugar que está falando, vou mandar um carro de polícia até aí.

— Mande uma ambulância também.

Sabia que estava encrencado e, depois, daquela antiga história de roubo, podia ser preso, então, pensei em fugir, mas eles nunca achariam Louis lá dentro e ele morreria, retornei para a rua do prédio abandonado, pensei em voltar e ficar ao lado dele, mas era melhor esperar a ajuda ali fora.

 Não demorou muito, o carro de polícia surgiu com a sirene ligada, iam acabar assustando os viciados lá dentro, poderiam pisotear Louis, caído ali no chão.

Fiquei parado, enquanto os polícias saiam do carro, dois homens grandes com cara de poucos amigos, um negro e um branco, eu estava amedrontado, mas disfarcei.

— Ei, garoto. Foi você que ligou para emergência? – o polícia negro falou.

— Sim, tem um homem, um velho caído lá dentro, acho que teve um infarto ou coisa parecida.

 - Vamos ver isso. Vocês sabem que isso é um antro de viciados? Vieram comprar drogas? – Foi a vez do policial branco.

— Não, meu amigo veio procurar o filho dele.

— O velho?

— Sim.

— E trouxe você, um garoto? – Confirmei com a cabeça. – Por que as famílias não pedem ajuda? Acham que podem resolver tudo, sozinhos – O policial negro falou para o companheiro. – Vamos entrar.

 Eles me mandaram ficar do lado de fora, mas eu disse que poderia encontrar Louis mais rápido, porque sabia onde eu o deixei. Com lanternas nas mãos, entramos no lugar e ao contrário do que eu esperava, não houve tumulto nenhum, porque as pessoas estavam tão chapadas que nem conseguiam fugir. Mesmo com as lanternas, foi difícil encontrar Louis, ele estava no mesmo lugar, imóvel, parei com medo de me aproximar, achei que estivesse morto, mas o policial negro de ajoelhou ao lado dele e sentiu o seu pulso.

— Está vivo, mas o pulso está muito fraco. Chame uma ambulância, depressa – disse para o companheiro que acionou o rádio, enquanto eu soltei o ar preso no peito.

Felizmente, a ambulância chegou bem rápido, Louis foi retirado lá de dentro, sobre os olhares apáticos dos viciados, ninguém se importou comigo, só quando quis entrar na ambulância com ele.

— Você é parente dele? – O paramédico perguntou. .

— Sou neto dele. Posso passar o telefone da família – E mesmo em dúvida, me deixaram entrar e fomos para o hospital de emergência mais próximo.


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