Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 41
Você veio




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Quando, enfim, nossos lábios se separaram, meu coração estava em disparada, dividida entre o certo e o errado, fitei os seus olhos e me espantei ao perceber aquele brilho intenso, que jamais vi antes.

— Finalmente, Sarah. Você não sabe por quanto tempo esperei – Sua voz era cheia de calor e emoção, suas mãos ainda seguravam os meus braços, com delicada firmeza, meu coração pesou.

— Jean-Pierre, não podemos! – rebati mesmo sem querer, ele me encarou sem entender as minhas palavras. – Você está noivo de uma boa garota, uma mulher à sua altura, não pode se envolver com alguém como eu, uma mãe solteira, cheia de problemas.

— Sarah, eu conheço bem a sua história e não vejo nenhum problema nela. Além disso, eu sempre a amei, desde que a conheci, acho que desde que eu a vi a primeira vez, no jardim de infância – Ele me deu um sorriso triste, estou ao mesmo tempo chocada e lisonjeada.

 - Jean-Pierre, eu não posso fazer isso com você, estragar o seu futuro, a sua vida, colocando o peso de uma mulher com um filho nas suas costas, não seria justo!

— Eu é que sei o que seria bom ou ruim para a minha vida. E tenho certeza, que é você que eu quero, Sarah.

— Não posso! Simplesmente, não posso fazer isso com você – Abaixei a cabeça para não o encarar mais, tenho medo de mim mesma, não tenho coragem de ver seu semblante de decepção, suas mãos deslizaram pelos meus braços e me soltam.

— Se é assim, então, eu já vou. Mudarei para Saint-Antoine em duas semanas. Antes, virei aqui, para me despedir de David. Boa noite, Sarah.

Ele vai embora, fiquei parada ali na noite fria, vendo-o se distanciar, desejando segui-lo, mas sei que não seria certo.

O tempo passou dolorosamente depressa. A tarde de autógrafo do meu livro O Príncipe Olly e os guerreiros das galáxias, em uma das grandes livrarias da cidade, estava bastante movimentada. O livro se tornou um grande sucesso entre as crianças e eu tinha assinado um excelente contrato para torná-lo uma série literária, o que me rendeu um bom dinheiro, mas não era isso que me interessava naquele dia, sem prestar muita atenção nos livros, que colocavam na minha frente para autografar e os elogios e palavras de incentivo que me davam, por repetidas vezes, meus olhos vagavam pelo local a procura de um convidado muito especial. Eu havia mandado o convite pessoalmente, pelo correio e esperava muito que ele viesse, pois fazia mais de seis meses desde nosso último encontro, depois disso, nunca mais nos vemos ou nos falamos, esperava muito que houvesse me perdoado, pois não poderia conviver com seu rancor.

Naquele momento, diante de mim, um outro livro foi colocado, podia reconhecer na sua capa, a figura que lembrava Olivier, com seus olhos azuis e seu ar altivo, aquilo já não doía tanto.

— Para Jean-Pierre – Escutei sua voz, olhei para cima e o vi, seu rosto iluminado com um sorriso, que refletiu no meu.

— Jean-Pierre, você veio? – Não podia acreditar nem contive minha alegria.

 Ele me aguardou até o fim da sessão de autógrafos, que parecia interminável, depois, saímos para jantar e comemorarmos o nosso reencontro.

Andávamos pelas ruas de paralelepípedos, ainda molhados pela chuva que acabara de cair no começo da noite, procurávamos, sem muita preocupação, um lugar onde pudéssemos comer e conversar sossegados.

— Como estão sua nova casa e seu novo emprego?

— Bem, estou indo bem, pois sou o único médico da região, sendo assim, todos me conhecem e me procuram.

— E Monique?

— Terminamos, há algum tempo. Tínhamos objetivos diferentes, ela queria muito mais da vida do que uma pacata cidade do interior, nunca daríamos certo.

— Eu lamento, Jean-Pierre.

Finalmente, achamos um pequeno restaurante do nosso agrado, sentamos para jantar e conversamos durante horas, embalados pelas garrafas de vinho. Eu não podia negar que sentia muito a falta dele, daquela intimidade sem esforço, de simplesmente gostar de ficar juntos, ele me deixava em paz.

— Como está David?

— Ele está com saudades suas, sempre me pedindo para visitá-lo, na sua nova casa.

— Vai ser um prazer em tê-los comigo, apesar da casa está muito bagunçada não tive tempo para organizá-la ainda – Ele me olhou por um longo tempo, de um modo cálido. – Você está mais bonita do que nunca, Sarah.

Fiquei sem jeito, por um breve instante.

— Você também. Esta vida de interior fez muito bem a você, Jean-Pierre.

Saímos do restaurante e ganhamos a noite, agradavelmente, fresca, acendi um cigarro.

— Você ainda não deixou esse vício? – Repreendeu-me, dou-lhe um sorriso sem graça.

— Vai ficar hospedado com sua mãe? – perguntei, mas não queria que ele se fosse.

— Vou, mas só até amanhã, pegarei o último trem de domingo.

— E quando nós nos veremos outra vez?

— Quando for me visitar – Ele deu de ombros.

— E você quer que eu o visite.

— Essa é uma pergunta retórica – Dá um sorriso travesso.

Eu parei e o olhei, não consigo evitar, ele segurou o e rosto entre suas mãos e me beijou, suavemente, como se testando, não resisti e retribui, um longo e intenso beijo. Infinitos beijos, beijos represados, beijos guardados por muito tempo, beijos resgatados, todos os beijos que não foram beijados estavam ali naquele beijo.

Felizmente, a cidade está cheia de pequenos e discretos hotéis e é um deles que escolhemos para passar a noite, pois, não queríamos nos separar, já havíamos esperado tempo demais, porém, não conseguiríamos consumar o nosso amor nas casas dos nossos pais, das nossas infâncias. Telefonei para a minha mãe avisando que não voltaria para casa àquela noite, pois estava com Jean-Pierre.

— Até que enfim – foi a resposta dela, depois de uma risada.

Desliguei o telefone achando graça e contei para ele, que confessou que a sua mãe disse algo parecido. Assim, passamos toda a noite de sábado e o dia de domingo, nos beijando, nos acariciando, fazendo amor, conversando, rindo, descansando nos braços um do outro.

— E agora? – perguntei, aconchegada em seus braços.

— Agora, ficaremos juntos, você pode escrever em Saint-Antoine, arranjaremos uma boa escola para David lá.

— Você está me convidando para morar com você? Mas, é muito cedo!

— Sarah, nós nos conhecemos durante toda a nossa vida, não há duas pessoas no mundo que se conheçam melhor, então, por que esperar mais?

Eu concordei, e nós dois só nos separamos no começo da noite, ao levá-lo à estação do trem, onde nos despedimos, entre beijos, com a promessa, que nos reencontraríamos a muito em breve.


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