Histórias Cruzadas escrita por calivillas
— Tio Jean-Pierre, que bom que veio! – David corre em direção a Jean-Pierre, que o levantou bem no alto e rodopiaram no meio da sala, entre gargalhadas, depois, o homem segura o menino no colo, dando-lhe um beijo no rosto.
— É claro que eu viria no aniversário de 7 anos do meu afilhado favorito!
— Mamãe me disse que você estava muito ocupado, trabalhando em um hospital, por isso, talvez, não visse.
— Mas, eu sempre terei tempo para você, meu amiguinho. Onde está a sua mãe?
— Na cozinha.
— Eu vou lá falar com ela. Vai brincar com seus amigos.
E colocou David no chão, que voltou, correndo, para o meio da algazarra das outras crianças. Jean entrou na cozinha e eu levei um susto ao vê-lo parado na porta, deixando de lado as bandejas, que estou arrumando, correndo na sua direção e nos abraçamos.
— Eu não acredito que você veio! – disse, empolgada, pois, estou verdadeiramente muito feliz por ele está ali.
— Eu tinha que vir.
— E Monique? – perguntei sobre a sua noiva.
— Ela está de plantão, não pode vir, mas mandou os parabéns para David e comprou um presente – Ele me entregou um pacote de uma loja de roupa de uma marca bem cara, eu tive que disfarçar o meu contentamento por ela não ter vindo, porque, definitivamente, não gosto do seu jeito esnobe e de seu ar de superioridade daquela mulher. – Posso ajudar? – Jean-Pierre pergunta, sinto-me agradecida.
— Sim, não pensei que haveria tantas crianças. Venha me ajude aqui a servir esses sucos – pedi, ele tirou o paletó e o pendurou no encosto de uma cadeira, arregaçou as mangas da camisa social e começou a despejar o suco nos copos.
— Soube da novidade – disse de modo casual e eu o interroguei com o olhar. – Sobre a publicação do seu livro. Parabéns! Agora, eu tenho uma amiga escritora.
— Aquilo, é só uma história boba, que eu inventei para explicar para David, porque o seu pai não estava por perto, então, resolvi passar para o papel, para não me esquecer ou cair em contradição. David levou para escola, virou uma febre por lá e o pai de um amiguinho dele, que é editor, resolveu publicar a história do príncipe Olly, o defensor da galáxia – completei com um tom sarcasmo.
— Fico muito feliz por você, Sarah.
— Não sei se dará certo – Dou de ombros. - Agora, vá até lá e sirva isso! - Apontei para a bandeja com os copos, que ele acabou de encher. – Mas, cuidado, lá fora é uma verdadeira selva.
A festa foi muito mais agitada que nos anos anteriores, com crianças barulhentas, alegres e animadas, correndo e brincando por todos os cantos da casa e adultos atentos e cansados.
E quando o último pequeno convidado se foi, eu e minha mãe olhamos em volta, para toda aquela grande confusão e suspiramos desanimadas, antes de colocarmos as mãos-a-obra. Enquanto isso, meu pai e Jean Pierre conversavam animados sobre o campeonato de futebol e David abria seus presentes, despedaçando os pacotes.
— Vocês querem ajuda? – Jean-Pierre se ofereceu, prontamente.
— Por favor, você poderia colocar David na cama, enquanto damos um jeito por aqui – respondi.
— Vamos lá, garotão! Hora de dormir!
— Não, por favor, tio Jean. Eu quero brincar com os meus brinquedos novos! – ele suplicou, choroso.
— Você ouviu sua mãe! Vamos! – Ele foi firme e segurou David no colo com facilidade e subiu as escadas.
Não percebi a hora passar, entredita na minha tarefa de arrumação, mas sei que foi um bom tempo depois, quando Jean Pierre retornou para a sala.
— Ele demorou a dormir?
— Estava muito agitado pela festa, por isso, ficamos conversando por algum tempo. Ele me contou sobre o príncipe Olly e suas aventuras. Quer ajuda?
— Não, já estou quase terminando, vou deixar o resto para amanhã. Minha mãe já foi dormir, está exausta, a coitada.
— Eu também já vou – disse, indo para a cozinha pegar o seu paletó, mas não quero que ele vá.
— Fique um pouco mais – insisto, ele assente com a cabeça.
— Vamos lá para fora, eu preciso fumar um cigarro – falei, pegando o meu casaco, o maço de cigarros, abri a porta e saímos para a noite fria.
— Você ainda não abandonou esse péssimo hábito? – ele questionou, de um jeito aborrecido.
— Não, ajuda a me acalmar, mas não fumo dentro de casa ou na frente de David.
Acendi o cigarro e dou uma longa tragada, Jean observa com uma expressão de reprovação, no entanto, não diz nada.
— David me falou sobre a sua história, parece que ficou mais feliz ao saber que seu pai não o abandonou e que o ama.
— Foi melhor assim, mesmo acreditando em um pai de mentira, é melhor que vê-lo sofrer, achando que não era desejado.
— Ele me pediu para ser seu pai, enquanto o seu verdadeiro pai não volta – Jean Pierre confessou, eu o encarei abismada. – Mesmo achando que seu pai é um herói, ele preferia ter um pai de verdade.
— Eu não sei o que dizer ou que fazer, Jean – disse e as lágrimas rolam pelo meu rosto de tristeza por meu filho ser tão infeliz por não ter um pai.
Jean-Pierre percebeu minha angústia, secou as minhas lágrimas com os polegares, depois, envolvem-me em um abraço, sinto-me reconfortada com o calor do seu corpo, encostei a cabeça no seu peito e ouvi o seu coração bater forte, quero ficar ali, nos seus braços, protegida, para sempre.
— Sarah, recebi uma proposta de emprego, em uma cidade há duas horas daqui chamada Saint-Antoine e penso em aceitar.
Aquilo me chocou, senti um aperto no coração e me espreitei mais contra o seu corpo.
— Será bom para você? – perguntei, entre as pregas das suas roupas.
— Sim, será.
— Monique deve estar muito feliz por isso.
— Ela não irá, não é isso que pretende para sua carreira, ser um médico do interior.
— E é isso que você quer?
— É, quero ir embora, para um lugar mais calmo e tranquilo, onde poderei começar uma nova vida.
— Eu e David sentiremos tanto a sua falta, Jean-Pierre – Olhei para cima e encontro seus olhos verdes com um brilho intenso.
— Eu também sentirei a sua, Sarah – Ele se inclina na minha direção e, pela primeira vez, nossos lábios se tocaram.
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