Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 42
Tudo nas nossas vidas estava perfeito.




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Por causa de David, eu e Jean-Pierre resolvemos ir com calma, com medo da reação do meu filho, já que eu havia criado a história de um super-herói interplanetário, que seria o seu pai, com a promessa que um dia voltaria para ficar conosco, por isso, ficamos receosos de uma possível rejeição a minha relação com Jean Pierre. Assim, começamos passando os fins de semanas juntos na casa dele, em Saint-Antoine, depois, vieram as férias de verão, os dias ensolarados no campo ao ar livre, entre piquenique e brincadeiras. E com o meu trabalho de escritora, não estava presa a lugares ou horários. Por fim, David se acostumou e passou a gostar daquela ideia de uma família que nunca teve. E, no fim do outono, eu e Jean Pierre nos casamos em uma cerimônia bela e singela, somente com alguns amigos e familiares, e fomos viver juntos, definitivamente. Não sabia porque havia demorado tanto para aceitar o amor de Jean-Pierre, mas, quem sabe, era o tempo certo, pois, éramos adultos e com nossas vidas resolvidas, assim, ficou mais fácil ser feliz.

David se adaptou bem a escola e a pequena cidade, onde todos nos conheciam e a vida era mais calma e simples. Nós íamos a feira na praça principal, que acontecia todos os sábados, onde tomávamos sorvete e comprávamos os produtos da região, conversávamos com os vizinhos, eu cuidava da nossa casa, do meu filho, escrevia e, principalmente, amava Jean Pierre.

Foi no 2º ano de casamento que decidimos que já era a hora de ter um filho nosso, então, parei de evitar e nos empenhávamos bastante para realizar nosso desejo. E, alguns meses depois, minha menstruação falhou e, dessa vez, eu fiquei muito feliz, pois esperava muito por isso. O teste de gravidez deu positivo. Jean-Pierre não cabia em si de tanta felicidade, contou para todo muito, recebíamos parabéns e vários presentes para o bebê. David estava maravilhado com a chegada de um irmãozinho ou uma irmãzinha, naossa pequena família cresceria. A nossa casa toda exalava alegria, tudo estava perfeito. Já começávamos a fazer uma lista de prováveis nomes, mesmo que minha barriga ainda não aparecesse, nem mesmo sentia os terríveis enjoos matinais que tive na primeira gravidez.

No entanto, a magia se quebrou, quando em uma madrugada, acordei com cólicas terríveis e minhas roupas e cama banhadas em sangue.

— Jean Pierre! – gritei, desesperada. – O bebê! Eu estou perdendo o bebê!

— Calma, Sarah. Temos que ir a um hospital imediatamente!

— E David?

— Vou pedir a Celine que fique com ele – disse, correndo escadas abaixo, enquanto se vestia com a primeira roupa que encontrou, indo para a casa vizinha em frente.

Depois voltou, ajudou-me a colocar um roupão, para me proteger e me levou para fora. Celine já estava lá em baixo, usando um roupão sobre a roupa de dormir.

— Fiquem tranquilos, eu cuidarei de David – disse, no momento, que eu entrava no carro.

 No hospital, a dolorosa constatação, eu realmente havia perdido o bebê, o que deixou todos arrasados, principalmente, o meu querido Jean-Pierre.

 Após essa decepção, desisti por um tempo da ideia de ter outro filho, a vida era boa como estava, quando recebi a proposta de escrever e ilustrar mais um livro infantil. Pensei em recusar, não tinha ideia sobre o que escrever, pois meus padrões eram altos, depois do sucesso da minha série literária sobre o príncipe Olly, contudo, eles pagariam muito bem, o dinheiro serviria para reformamos a casa em que morávamos, que era bonita e grande, mas um tanto antiquada e desgastada pelo tempo, assim eu aceitei a proposta.

 Sem inspiração, passava horas diante da minha mesa de desenho, tentando imaginar uma história, começava um desenho para em seguida desistir e uma pilha de papéis amassados se acumulava na lixeira ao meu lado, isso estava me deixando cada vez mais estressada, com medo que precisasse devolver o dinheiro do adiantamento pelo livro, pois boa parte já havíamos gastado com a reforma da casa. Os dias e semanas se passavam e eu sem nenhuma ideia, comecei a ficar irritada, por esse bloqueio criativo. Nessa época, David passava uma grande parte do seu tempo livre fora de casa, brincando com os outros garotos da vizinhança. A monótona rotina diária em frente da mesa de trabalho era quebrada com a visita da minha vizinha Celine, uma senhora doce e amável, que trazia iguarias deliciosas para o lanche da tarde, quando tomávamos chá e conversávamos sobre assuntos variáveis. E foi ela que me falou do estudo do seu marido a respeito os tais buracos de minhocas, que seriam passagem espaciais para outras dimensões, então tive uma ideia de criar um personagem que viajasse para outros lugares e tempo através desses buracos. Daí por diante, sentei-me em frente à minha mesa e as ideias iam brotando com facilidade e o livro foi saindo página por página até o fim. O dia que fui até o correio mandá-lo para a minha editora, sentia-me leve e feliz, porém, um tanto ansiosa, com receio que eles não gostassem da minha nova história, meu estômago estava embrulhado, tanto que até o cigarro me deixava ainda mais enjoada. Ao regressar para casa, passando na frente da vitrine da confeitaria ao lado da agência dos correios e vi aqueles doces suculentos com maravilhosos recheios transbordando e salpicados por fina chuva de açúcar, não resisti e entrei para comer, pelo menos, um. Parada diante do balcão, fiquei em dúvida do que escolher, no entanto, minha boca se encheu de água ao ver a linda torta de creme com morangos. Pedi um pedaço e devorei tudo em um piscar de olhos, imaginando que fosse por pura ansiedade.

Voltei para a rua e continuei o meu caminho a pé para casa, dei uma parada na farmácia para comprar alguns itens que faltam lá, então deparei com a prateleira de absorventes, um sinal de alerta se acendeu na minha cabeça, pensei um pouco e não consegui me lembrar quando foi a minha última menstruação, entrei em pânico. Larguei tudo que estava na minha mão, comprei um teste de gravidez e corri para casa, indo direto para o banheiro, foram minutos intermináveis e meu coração quase parou quando as listras azuis surgiram confirmando as minhas suspeitas. Eu estava grávida outra vez, fiquei com medo de perder o bebê novamente, por isso demorei algum tempo para conta a Jean Pierre, mas não consegui disfarçar muito bem, fiquei agitada e tensa, exaltada por qualquer bobagem. Até o meu marido me questionar, então não pude mais esconder a verdade e ele que ficou radiante com a possibilidade de ser pai, mais uma vez.

E, apesar de meus receios, Cecília nasceu linda, perfeita e saudável para a alegria de todos nós. Minha mãe veio para passar alguns dias a minha casa, para me ajudar a cuidar do meu novo bebê.

Além disso, meu livro foi publicado e teve uma boa aceitação do público, as crianças adoraram minhas novas histórias cheias de aventuras espaciais e viagens no tempo, consegui um bom sucesso, fui até indicada para ganhar um prêmio de literária infanto-juvenil. Tudo nas nossos vidas estava perfeito.


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