Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 37
O primeiro aniversário




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Na tarde fria e cinzenta, eu caminhava apressada, lutando contra o forte vento, tentando manter meu guarda-chuva aberto, querendo me proteger da incessante chuva fina, até chegar ao meu objetivo. Empurrei a porta envidraçada e uma sineta tilinta anunciando a minha chegada, o homem atrás do balcão de vidro, que arrumava os diversos tipos de pães na vitrine, ergue os olhos para verificar quem havia entrado, enquanto fecho meu guarda-chuva, deixando uma poça de água no chão.

— Bom dia, Sarah – ele falou animado

— Bom dia, senhor Baptiste. Vim pegar a minha encomenda.

— Claro! Onde está David?

— Em casa com o meu pai – respondi, enquanto ele pegava um bolo branco escrito em glacê azul, feliz aniversário, David.

— Não acredito que o pequeno David já está fazendo um ano. O tempo passa tão rápido – ele deu um longo suspiro, com ar nostálgico, ao mesmo tempo que colocava o bolo na caixa e começava a embrulhá-lo.

— Sim, muito rápido mesmo – menti, já que para mim, foi um ano muito longo, pois mal conseguia dormir e me divertir muito pouco, vivia cansada, por cuidar do bebê dia e noite, sem tempo para mais nada.

— A vela é um presente meu – senhor Baptiste completou me entregando a caixa. - Dê os parabéns ao pequeno David por mim – recomendou, quando eu pagava.

— Sim, eu darei. Obrigada, senhor Baptiste.

Sai de novo na rua úmida, querendo proteger a caixa com o bolo da melhor maneira possível para não ficar molhada com a chuva, durante a breve caminhada até a minha casa, recordava-me das noites mal dormidas embalando David, da ansiedade e medo da primeira febre, do meu mal humor por não poder ir as festas e sair com os meus amigos, porque eu só tinha 18 nos. Em compensação, recordo-me com alegria do seu primeiro sorriso, de quando ele, pela primeira vez, me chamou de mãe. 

Hoje, na festa de aniversário de David serão apenas eu, meus pais, Mariane e a mãe de Jean Pierre, Simone, que me ajudou muito esse último ano, principalmente, depois que o filho entrou na faculdade de Medicina e mal tem tempo para nada. Eu desejava, sinceramente, que o meu amigo e padrinho de David, conseguisse vir, como prometeu, já que os estudos lhe tomam muito tempo, e eu sentia muita a sua falta, no entanto, era melhor assim, que ele seguisse o seu sonho e se realizasse.

Ao chegar em casa, encontrei David brincando no chão da sala, enquanto meu pai assistia futebol pela TV, mesmo não tendo reatado com minha mãe, ele estava frequentemente por lá, suponho que sentia falta da vida que tinha antes. Deixei o bolo sobre a mesa e fui em direção a ele.

— Ele deu muito trabalho? – quis saber, pois desde que terminei a escola, eu só cuidava do meu filho, pois teria que esperar mais um ou dois anos para que ele fosse para o maternal e eu pudesse voltar a estudar.

— Não. Ele se comportou muito bem. Não é mesmo, garotão? – meu pai afirmou, com um sorriso.

— Vou dar um banho nele agora e prepará-lo para o aniversário – digo, já pegando o bebê.

— Posso ajudar em alguma coisa, Sarah?

— Sim, por favor, encha alguns balões para enfeitar a sala, estão sobre a mesa de jantar.

Subo a escada, vou para o banheiro, encho a banheira e tiro a roupa do meu filho e colocou-o cuidadosamente na água morna. Ela dá um gritinho de felicidade e bate com as mãozinhas espalhando a água e eu lhe dou seu peixinho de borracha para brincar e observou-o por alguns breves segundos. David está cada vez mais parecido com Olivier, os meus olhos azuis profundos, os cabelos escuros, o tom de pele, sendo assim, como um verdadeiro martírio, sempre que olho para o meu filho, lembro-me do pai dele, como se não bastasse as outras tristes lembranças. Mas, ainda tenho a esperança que um dia esquecerei e serei feliz ao lado de uma pessoa que me ame de verdade.

Os poucos convidados já haviam chegados, para a festa de David, nada em especial, só alguns balões enfeitando e o bolo, mas faltava uma pessoa, achava que ele não viria, até o momento que a campainha tocou, apressei-me em atender e lá estava Jean-Pierre, parado, na frente da porta. Mal pode conter minha alegria ao rever o meu querido amigo, dei-lhe um grande abraço.

— É uma honra recebê-lo, doutor Jean-Pierre. Pensei que não viria – brinquei, nesse momento, percebo que ele parece mais velho e mais sério, como se em pouco meses, houvesse amadurecido.

— Futuro doutor! Como poderia faltar a festa de um ano do meu afilhado? - Entramos juntos na sala. – Olhe! Como ele cresceu! – disse, pegando o bebê no colo, que parece não se importa.

A comemoração chegou ao fim, quando o aniversariante adormeceu. Minha mãe o levou para o quarto, enquanto eu me despedia dos outros convidados, que saíram um a um, por fim sobramos só eu e Jean Pierre e um monte de pratos e copos sujos, que comecei a recolher.

— Eu ajudo você – Jean se ofereceu, já pegando alguns pratos sujos.

— Não precisa, você não tem aula amanhã pela manhã?

— Sim, mais ainda é cedo – E ele continuou a executar à tarefa.

Eu peguei o que sobrou do bolo e levei para cozinha, a fim de guardá-lo, Jean Pierre me seguiu, equilibrando uma pilha de copos e pratos na mão e colocou sobre a pia para lavá-los.

— Não, nada disso. Deixe isso comigo! – Empurrei-o para fora, contudo, ele resistiu.

— Nós dois juntos seremos mais rápidos – ele rebateu, eu concordei e iniciamos o nosso trabalho, juntos. Ele lavava e eu enxugava.

— Como está a faculdade? – perguntei cheia de curiosidade e com uma pontinha de inveja.

— Bem, tudo é muito diferente da escola, as pessoas, o lugar, os professores, tudo é novidade.

— Tem muitas garotas na sua turma? – queria saber, pois, quem sabe, ele poderia encontrar uma garota legal, a sua altura e que o merecesse.

— Algumas – ele deu de ombros, indiferente.

— Bonitas?

— Algumas, sim, outras, não – respondeu, sem emoção na voz.

Já no fim da noite, com a cozinha limpa, Jean Pierre não tinha mais motivos para permanecer ali, na minha casa, principalmente, porque acordaríamos bem cedo, ele pela faculdade e eu, por causa de David. Porém, ele ficou e conversamos e conversamos como nos velhos tempos.

— Você tem que ir – voltei a realidade.

— Você tem razão, já está tarde.

Eu o levei até a saída.

— Boa noite, Jean-Pierre. Foi muito revê-lo.

— Para mim, também. Boa noite, Sarah.

Dou-lhe um beijo carinhoso no rosto, muito feliz por vê-lo novamente, e observei afastar-se, noite a dentro, antes de fecha a porta.


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