Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 38
Aproveitando a vida




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O tempo passou muito rápido, e quando David estava com quase três anos e foi para creche, eu pude voltar a frequentar em um curso de desenho durante o dia, no entanto, precisava trabalhar para ajudar nas despesas. Claro que não era a Escola das Artes, mesmo assim fiquei feliz, pois poderia realizar uma parte do meu sonho.

Havia arranjado um emprego de meio período em uma cafeteria, à noite, enquanto, minha mãe cuidava do meu filho, não ganhava muito, mas em algumas noites as gorjetas eram boas, pelo menos, tenho o meu dinheiro, que podia gastar conosco. Não é nada fácil, pois precisava correr o tempo todo e aproveitava cada tempinho livre para estudar, por isso, mal conseguia ver meus amigos ou sair.

Foi no trabalho na cafeteria onde conheci Carlos. Ele era espanhol, alguns anos mais velho do que eu e trabalhava lá como cozinheiro no meu turno, engraçado e bonito, tem um jeito um tanto sedutor e confiante e se interessou por mim logo de cara, então, ficávamos em um velado joguinho de sedução por algum tempo, porque eu não o levava muito a sério. Várias vezes, por um longo tempo, ele me convidando para sair e eu sempre recusava com uma desculpa qualquer, pois, depois de Olivier, nunca mais me envolvi com ninguém, não queria mais sofrer e ainda tinha o meu filho pequeno que me ocupava. Porém, Carlos foi insistente, e não posso negar que de algum jeito ele me lembrava Olivier, talvez por aquela maneira um tanto inconsequente de ser ou seu ar de segurança ou por parecer sempre distante, despertando em mim um certo interesse. Por isso, finalmente, concordei de sairmos juntos, só para me divertir um pouco, marcamos para um dia que os dois tivéssemos de folga e minha mãe ficaria com o meu filho.

Naquela noite, encontrei com Carlos todo arrumado e perfumado, que me levou a um bar bem animado, onde todos conversam e falam alto, notei que a maioria dos frequentadores são seus conterrâneos, muitos se conhecem e cumprimentando-se efusivamente. Ocupamos uma mesa de canto, mais afastada do burburinho, para podermos conversar melhor, ele pediu uma cerveja para nós dois e me ofereceu um cigarro, que aceito com prazer, pois há algum tempo não faço isso, beber e fumar, sair com um homem e me divertir, no entanto, não sei o que falar, visto que nos últimos anos, só fico em casa cuidando de um bebê, mas, não precisei me preocupar, já que ele falou por nós dois, contando-me sobre sua infância na Andaluzia, porque veio para aqui, atrás de uma mulher, como não deu certo o relacionamento entre eles, mesmo assim resolver ficar, pois havia gostado da cidade. Ele me fez rir, com suas tiradas engraçadas, como há muito tempo eu não fazia, nem tentou nada mais íntimo. Sem querer esconder nada, contei a ele sobre o meu filho, que não se abalou com minha revelação. E no fim da noite, levou-me até a minha casa, parados em frente ao meu portão, enquanto nos despedimos, Carlos segurou as minhas mãos e me beijou suavemente, pegando-me de surpresa, mesmo assim retribui o beijo, mas pelo susto. Sentir seus lábios contra os meus foi esquisito, pois desde Olivier, eu não beijei mais ninguém, não esperava nada em especial, jamais o que sentia quando beijava o pai do meu filho e o meu primeiro amor, não aquela emoção e empolgação que ardia por dentro, e o que eu senti foi apenas um beijo morno, talvez, o problema fosse comigo, com meus sentimentos anestesiados depois de tudo que ocorreu, não quero mais me envolver tanto com outra pessoa tão intensamente, a ponto de perder o controle e a lucidez. Nunca mais quero me apaixonar de novo.

— Boa noite, garota – disse, com a voz quente e macia, ao nos separarmos.

— Boa noite, Carlos.

Foi assim que começou o meu relacionamento com Carlos. Não pretendia que ficasse muito sério, nós nos encontrávamos no trabalho quase todos os dias, saímos algumas noites, para beber, às vezes dançávamos e, sempre, nos beijamos e abraçávamos. Quando as coisas começaram a esquentar, podia pular fora ou deixar segui em frente, como as mãos de Carlos cada vez mais audaciosas e seus beijos mais provocantes, acendendo o meu desejo adormecido, mesmo assim, ainda estava receosa de prosseguir, mas eu era muito jovem para pensar assim, tinha o direito e a vontade de continuar a minha vida, apaixonar-me novamente e ser feliz ao lado de um outro homem.

Aquela noite foi especialmente divertida, eu estava feliz, havíamos dançando muito, encontrado com amigos, sentia-me como uma garota comum de 20 anos e não uma mãe solteira de uma criança pequena, com toda aquela responsabilidade. Carlos estava muito carinhoso, dançamos muitas músicas românticas, juntinho, enquanto nos beijávamos e ele me convidou para ir ao seu apartamento e eu aceitei, mesmo receosa.

Ele dividia o pequeno lugar com outros dois rapazes, que, felizmente, não estariam lá aquela noite, pois um trabalhava como garçom e outro como segurança de uma boate que funcionava até o amanhecer. Entrei no apartamento, que está todo bagunçado, há roupas espalhadas, garrafas de cerveja vazia e caixas de pizza esquecidas sobre a pia.

— Desculpe a bagunça – ele se adiantou e começou a recolher o que podia, em uma tentativa inútil de melhorar a situação. – Esses caras são uns porcos!

— Não tem importância – Sou sincera.

Ele larga o que está fazendo e se aproxima de mim.

— Vem cá! – disse, com a voz suave, puxando-me pela cintura, meu corpo grudado no dele, beijando-me.

Mais tarde, estamos nus, relaxados e aconchegados, na cama de solteiro dele, sinto-me um tanto estranha, pois não pude deixar de relembrar como era com Olivier, apesar de Carlos ser muito mais experiente, não foi tão intenso como antes, no entanto, foi bom sentir o desejo de outro homem por mim, me perceber mulher outra vez.

— Preciso ir – anunciei, já me levantando.

— Não vá. Fique um pouco mais – ele pede com a voz branda.

— Não posso, preciso cuidar do meu filho.

— Quando é que você vai me apresentar ao garoto? – ele quer saber e eu me assustei com tal possibilidade, imaginando se ainda era muito cedo para o introduzir na vida do meu filho.

— Em breve.

Com o tempo, o meu relacionamento com Carlos ficou mais sério, não que eu estivesse envolvida, não havia sentimentos intensos, mas era agradável ter alguém para compartilhar os muitos bons momentos e me divertir um pouco. Saíamos muito sozinhos ou com amigos, para dançar e beber, acabava a noite, fazendo sexo, meio embriagada na cama de Carlos, chegava em casa de madrugada, e meu filho estava dormindo, estava tirando o atraso por não aproveitar a vida por todos aqueles anos, até o ponto que minha mãe veio reclamar comigo.

— Você escolheu ser mãe, então assuma suas responsabilidades, não pode colocar seu filho de lado, pois já tem a Escola de artes, seu emprego e, agora, esse seu namorado, quando vai encontrar um tempo para ele? – falou de modo sério e ressentido.

— Mãe, eu só tenho 20 anos e tenho direito de me divertir um pouco! – rebato, aborrecida.

— E ele só tem dois anos e tem o direito de ter uma mãe! - Aquelas palavras me feriram muito, pensando se estava sendo muito egoísta, colocando meu filho de lado, pois ele não tinha culpa das minhas escolhas e meus erros.


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