O Diário do Padre Thomas escrita por Wilmar Oliveira


Capítulo 7
23 de Outubro , 2003


Notas iniciais do capítulo

Dia triste na vida do Padre... Hoje acompanharemos o querido Padre, em um acontecimento triste em sua vida...
Além deste acontecimento, alguns novos mistérios se revelam a Thomas...
Seriam mistérios verdadeiros, ou apenas alucinações???



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Hoje foi um dia triste, ainda não posso acreditar em tudo o que está acontecendo. Minha mãe já não se encontra entre os vivos. Estou desolado e escrevendo em meu diário junto com as lágrimas que estão escorrendo de minha face.

A notícia de sua morte veio cedo,bem antes de eu sair para ir visitá-la. Meu telefone tocou várias vezes até que eu acordei, era mais ou menos quatro horas da madrugada quando olhei no identificador de chamadas e vi que era o número do hospital em que minha mãe estava internada. Minha reação foi ligar em desespero, pois só poderia pensar no pior. Uma secretaria me atendeu e pareceu surpresa ao me ouvir perguntando sobre minha mãe: “_Íamos ligar para o senhor justamente agora. Tenho uma notícia não muito agradável ao senhor, mas preferia que o senhor viesse até aqui.” Fiquei um tanto incomodado com o fato de que não haviam me ligado, mas concordei com a mulher e sai correndo de meu apartamento.

Cheguei no hospital aos prantos, pois meu peito já estava em total aperto. O médico confirmou o que eu já temia, porém eu fiquei surpreso ao saber que a morte de minha mãe não foi por complicações de sua doença, mas um possível suicídio.

Um policial veio até mim e me cumprimentou deixando seus sinceros sentimentos à cerca da morte de minha mãe: “_Foi algo um tanto tenebroso senhor Padre, eu ainda não estou acreditando que sua mãe foi capaz de tudo aquilo sozinha. Não estou afirmando nada, mas acredito que ela teve alguma ajuda, até porque uma faca não chega sozinha ao quarto de uma paciente.”

Perguntei com muito sofrimento como havia sido. Ele me respondeu prontamente: “_As enfermeiras escutaram gritos ensurdecedores vindos de dentro do quarto de sua mãe. Tentaram abrir a porta, mas a mesma se encontrava trancada por dentro. Um dos funcionários do hospital que arrombou a porta e lá encontraram sua mãe já falecida. Ela estava com cortes profundos por toda a extensão do antebraço, sua cama pingava sangue, a imagem que vimos foi como a de um filme de horror. Mas lhe afirmo novamente senhor Padre, eu conhecia sua mãe e sei que ela amava a vida, eu me recuso a acreditar em um suicídio da parte dela.”

Agradeci ao policial e perguntei quais seriam os próximos procedimentos. Ele me pediu calma, pois o corpo iria ser encaminhado ao legista para algumas investigações e amanhã o corpo estaria liberado para o sepultamento. Enquanto isso, segundo ele, eu deveria ir para casa descansar. Perguntei ao policial se eu poderia ver o corpo de minha mãe no quarto, ele me advertiu severamente dizendo que o quarto estava em uma situação aterradora. Eu implorei ao policial, pois eu queria ver com meus próprios olhos, eu ainda não acreditava em tudo aquilo que estava acontecendo. Ele demorou um pouco a concordar, mas o fez pedindo que eu o seguisse. Chegamos no quarto em que ela estava internada, eu relutei alguns instantes, respirei fundo e entrei.

A cena que eu vi ali era surreal. Minha mãe estava na cama, com os olhos arregalados, a boca aberta e com os braços abertos como uma terrível alusão à crucificação. Todo o seu antebraço possuía cortes profundos, seu pescoço também tinha um corte, a cama parecia um rio de sangue coagulado. Percebi algo que não notaram e arrepiei da cabeça aos pés. Olhei para o policial e disse: “_Veja aquilo, a cruz na parede, possui quatro braços e está escorrendo sangue.”

O policial me olhou um tanto confuso: “_Ela tem apenas dois braços e não tem sangue nenhum lá.”

Olhei novamente para a parede e a cruz estava em seu estado normal e impecável. Tive um surto ao ver Yuli do lado da cama de minha mãe, dei alguns passos para trás e esbarrei em um vaso cheio de rosas roxas que caíram ao chão e se mancharam de vermelho com o sangue de minha mãe.

Logo me lembrei do sonho que ela havia me contado, aquilo me deixou com um medo tremendo. Olhei para o lado da cama e Yuli não estava mais ali. Comecei a chorar aos soluços, aquilo não poderia ser real. Fui amparado pelo policial que me repreendeu dizendo que ele tinha avisado.

Na porta do hospital, o policial e a secretária que estavam ali, me instruíram a voltar para casa e descansar. Perguntaram se eu precisava de carona e respondi que não, eu necessitava refletir um pouco. A última coisa que me disseram é que amanhã eu poderia velar minha mãe e a enterrar decentemente. Pensei comigo mesmo: “Grande coisa, se isso pelo menos a trouxesse de volta.”

Caminhei lentamente pelas ruas, já eram mais ou menos sete horas da manhã, pessoas caminhavam apressadas para mais um dia de trabalho, motoristas estressados buzinavam furiosos com alguns que deixavam o trânsito lento. Vi três garotos roubando a bolsa de uma senhora que gritava desesperadamente por ajuda. Balancei a cabeça e fiquei pensando o porquê tudo isso, nós humanos nem deveríamos existir, somos meros fantoches do destino. Mas pensei melhor e talvez não exista um destino, talvez não exista nada. Enquanto eu tive esse pensamento, Sara apareceu do meu lado e caminhou junto comigo. A garotinha tinha um sorriso vencedor sobre o rosto e me fez a seguinte pergunta: “_Você está pronto para aceitar a verdade ou quer continuar neste mundo de mentiras?” Eu apenas a ignorei e continuei minha caminhada, pois para mim, ela não passava de pura alucinação de minha mente.

Finalmente havia chegado ao meu apartamento, quando abri a porta do meu quarto eu tive uma visão desagradável. Minha mãe estava deitada em minha cama com os braços abertos e com cortes nos antebraços, o sangue esguichava como uma cachoeira, minha cama estava ensopada de sangue. Um homem de cabelo grande e branco, totalmente raquítico e usando um crânio como uma máscara sobre o rosto, estava pregando uma de suas mãos com um prazer terrível. Eu comecei a chorar, estava totalmente sem forças de avançar contra aquilo - só poderia ser algum tipo de sonho - pensei comigo mesmo. A voz de Yuli em meu ouvido me fez estremecer, ela sussurou: “_Está gostando? Tenho certeza que a minha sogrinha não está.” Virei para trás rapidamente e não tinha ninguém ali, voltei meus olhos para minha cama e estava tudo nos conformes, a cama estava arrumada como eu a deixei pela manhã. Me sentei e fiquei terrivelmente inconsolável naquele momento, minha ficha sobre o que aconteceu à minha mãe ainda não havia caído desde então. Chorei aos soluços. Algo caiu de cima do meu guarda-roupa, levei um susto. Fui até o local, era uma caixa.  Eu a abri cuidadosamente, lá tinham fotos minhas e de minha mãe desde que eu era criança. Vi uma foto que eu não via a muito tempo, era a foto de meu pai, eu não cheguei a conhecê-lo. Minha mãe contava que meu pai não era uma boa pessoa e tinha muitos problemas com a polícia, além de ser um alcoólatra que se tornava violento quando bebia e a batia muito. Algo me incomodou naquele momento na foto, meu pai tinha um crucifixo de quatro braços dependurado no pescoço, o mesmo que William havia me entregado. Olhei mais algumas fotos e encontrei uma foto que eu havia tirado com Yuli na época em que namoramos, ela parecia estar muito feliz e eu também, pude me lembrar bem daquele dia pois nos divertimos muito, porém mamãe estava insuportável e falou muitas coisas desagradáveis para a garota, lembro-me que Yuli ficou furiosa. Tive um pensamento repentino: “As coisas seriam assim hoje se mamãe tivesse me deixado namorar com Yuli? Dei um tapa em minha testa, porque estaria eu pensando sobre aquilo?” Encontrei também uma fita vhs e um livro curioso, sua capa cheirava a mofo, tinha bem ao centro uma serpente envolta da cruz de quatro braços que tanto me persegue. Eu estava curioso, mas ao mesmo tempo não tinha forças para ler, eu ainda estava de coração partido.

Já é fim de noite, estou deitado em minha cama pensando em minha mãe. Meu tio, seu cunhado e irmão de meu pai, veio de longe para poder velar o corpo, sei disso porque ele me ligou desejando os pêsames. Alguns outros parentes e amigos com certeza virão para o enterro, mas não são muitos. Alguma lágrimas caíram de meu rosto alguns instantes atrás, relembrando a última vez que a visitei, não sei se fui um bom filho para ela, mas espero que ela descanse em paz onde estiver.

Pensei também sobre como seria a vida após a morte. Não acredito da forma que a igreja nos manda pregar, minha visão de vida após a morte é um pouco diferente, mas não vem ao caso agora. A única coisa da qual sei, é que estou terrivelmente abalado com a morte da pessoa que eu mais amava neste mundo. Agora tenho que dormir e descansar, afinal amanhã será um dia tão triste como foi hoje. Um dia de despedida.


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