O Diário do Padre Thomas escrita por Wilmar Oliveira


Capítulo 6
22 de Outubro, 2003


Notas iniciais do capítulo

Os dias de Thomas estão ficando mais tensos, um mistério surge... Quem seriam os Armenitas???



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Hoje acordei bem, consegui descansar finalmente depois de tanto tempo com a cabeça cheia. Eu parecia estar mais leve, minha vida parecia estar menos carregada. Entrei em meu banheiro, escovei os dentes e tomei uma ducha rápida, tudo como em um dia normal. Entrei em minha cozinha para tomar café da manhã, quando um arrepio me subiu a espinha. Senti passar alguém correndo por trás de mim e comecei a rir sozinho, na hora eu pensei em como eu estava sendo infantil, não havia o que temer, o trauma da morte de William que eu presenciei com meus próprios olhos estava passando, com toda a certeza que as visões cessariam. Voltei minha atenção à cozinha e fui preparar um café para tomar. Foi quando minha TV na sala ligou sozinha. Pelo barulho ela estava fora do ar, ouvi risos, em seguida ouvi minha TV sendo arremessada com violência contra a parede e logo depois o barulho dela se chocar contra o chão. Fiquei trêmulo e paralisado por alguns instantes, logo tomei coragem e perguntei: _Quem está ai?

Do meu lado a voz de Yuli respondeu: _Estou com fome, o que temos para o café?

Empurrei a garrafa de café que eu estava preparando e corri em direção à porta de saída de meu apartamento. Assim que abri a porta ouvi alguns risos, olhei para trás e la estava Sara dizendo: “_Estaremos esperando.” Fechei a porta com violência, eu estava transtornado.

Minha vizinha perguntou: _O senhor está bem Padre Thomas? - dei uma resposta qualquer e sai correndo dali.

Antes de ir até a igreja, resolvi ir visitar a casa onde o Padre Cristiano estaria realizando o rito de exorcismo. Chegando lá eu encontrei duas viaturas na porta, logo presenciei o Padre sendo levado pelos policiais enquanto ele implorava: _Eu não fiz nada, eu juro. Eu não matei o garoto, foram os demônios.

O policiais então colocaram ele na viatura e saíram. Ainda havia um pessoal no local e mais alguns policiais, fui até lá e perguntei a um policial o que tinha acontecido, ele me respondeu: “_O Padre Cristiano esfaqueou um garoto e fez a mesma coisa com toda a família do pobre, ele insistiu em dizer que o garoto estava dominado por demônios e que o próprio garoto fez tudo, mas temos certeza de que ele agiu com insanidade e imprudência.”

Engoli seco e perguntei ao policial se eu poderia ver o interior da residência, ele parou um momento, pensou e pediu para que eu o acompanhasse. O que eu vi então era obra de algo extremamente maligno. Dois adultos estavam crucificados, um homem crucificado mais em cima e bem na sua frente, na altura de seu peito, uma mulher também estava crucificada. Um garoto estava agonizando ao chão, cheguei perto e ele falou com uma voz incomum: “_Você vai morrer Padre.” Dei um salto para trás, o policial me olhou curioso como se nada de anormal tivesse acontecido ali. Olhei novamente para o garoto e ele estava morto. Quando eu estava saindo o policial me falou: _Acredito eu que aquele Padre que prendemos tenha alguma ligação com os Armenitas. Aquela palavra ficou na minha cabeça, afinal, o que seriam os Armenitas?

Fui correndo até a igreja, eu ainda não entendia o que realmente havia ocorrido ali. Enquanto eu respirava e me recompunha, parei  e pensei comigo mesmo em como eu tinha recebido o convite de que o Padre Cristiano estaria por ali hoje. Foi quando comecei a tremer de medo ao lembrar, pois o garoto que estava possuído, foi o mesmo que me entregou o folheto dizendo que o Padre estaria na cidade.

Saindo da igreja, eu caminhei pensando em tudo o que estava acontecendo comigo. Eu definitivamente estava ficando louco. Talvez a culpa fosse do cansaço que eu estava tendo por escutar tantas confissões malucas. E o que aconteceu hoje ao Padre Cristiano? Eu que nunca acreditei em demônios ou espíritos, agora estava começando realmente a ficar confuso, ou talvez o Padre fosse apenas um assassino como todos estavam dizendo. Acho que eu preciso de umas férias, eu estive pensando seriamente no assunto,  assim eu posso ficar mais perto da mamãe e posso ficar longe dessas pessoas malucas que andam me importunando.

Quando cheguei no prédio em que eu moro eu senti um leve arrepio, pois me lembrei do que aconteceu hoje de manhã em meu apartamento. Dependendo da situação, eu não iria dormir aqui hoje, com certeza iria procurar outro lugar ou ir ficar com mamãe.

Assim que cheguei na porta de meu apartamento, a vizinha me disse que tinha vindo uma jovem duas vezes me procurar. Perguntei como era a jovem, e ela me deu a descrição de Eleonora, ela não soube me dar maiores detalhes. Agradeci o recado e entrei. A primeira coisa que fui checar quando entrei foi a sala e para meu espanto, a TV intacta estava em seu lugar habitual, a sala arrumada sem nada fora do lugar e o cheiro costumeiro do meu apartamento. Achei estranho o fato de tudo estar perfeitamente arrumado e limpo, até porque eu quase não limpo minha casa e a minha sala sempre foi meio bagunçada. Fiquei pensando um pouco se eu não deixara aquele local assim, ou se havia a possibilidade de tudo ter permanecido intacto desde o último dia em que paguei para alguém vir fazer uma faxina. Resolvi não pensar em nada e ir pro meu quarto para continuar a escrever em meu diário. Em cima da minha cama porém, estava algo que me deixou tremendo da cabeça aos pés. Havia um bilhete escrito:

“Arrumei toda a bagunça que a Sarinha fez na sala, está tudo arrumadinho e limpinho. Beijos de seu amorzinho. Yuli...”

Quando eu li, comecei a ficar paranoico e a olhar para os lados, quando fui fixar novamente meus olhos no bilhete, eu estava apenas com a foto de William e a esposa em mãos, foto esta que antes tinha Sara ao lado do casal, mas curiosamente dessa vez, parecia ser a foto real da família sem a garota. O que significaria isso afinal? Começo a achar que eu tenho algum tipo de esquizofrenia paranoide, não há outra explicação. Agora vou dormir que amanhã é cedo, tenho que ir visitar minha mãe pela manhã.

Voltei a escrever aqui, pois tive a estranha impressão de ouvir passos no corredor, que vieram aumentando gradativamente até a porta do meu quarto, acabei ouvindo alguém suspirando. Fechei os olhos e contei até três, porém não houve movimento algum, pensei estar apenas delirando, mas os passos voltaram, dessa vez se afastando da porta e voltando de onde vieram. Escutei a TV ligando, o barulho de canal fora do ar começou baixo e foi aumentando gradativamente. Eu não sabia o que fazer, apenas peguei meu calmante que deixo do lado da cama e tomei. Agora enquanto eu comecei a escrever, todo o barulho se cessou, mas o sono veio com força, acho que dessa vez posso dormir tranquilo. A única coisa que eu gostaria realmente de saber, era qual a origem disso tudo. Estaria eu realmente ficando louco? Enfim, vou dormir e amanhã irei visitar a mamãe.


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