Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 3
Capítulo 3




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Irritante.

Se fosse para Draco descrever a Weasley com apenas uma palavra, com certeza seria irritante.

Já não bastasse a pressão que sofria de seus pais, Voldemort e Snape, agora ainda tinha aquela voz fina martelando em sua cabeça. “Não seja quem esperam que você seja”. Oras, e desde quando Gina tinha alguma ideia de quem desejavam que ele fosse ou de quem era?

Estava deitado na grama fofa, recém adubada, próximo do Lago Negro, enquanto tentava colocar seus pensamentos em ordem. Tinha plena ciência que seu uniforme ficaria cheio de terra assim que se levantasse, mas não pareceu se importar muito. Uma brisa suave batia contra seus cabelos loiros, quase brancos, enquanto vez ou outra fechava os olhos cinzentos para aproveitá-la melhor.

Ficar encarando o Lago Negro tinha lá sua peculiaridade. Algumas vezes a lula gigante, tão famosa moradora do local, resolvia emergir das águas turvas e se deitar entre as pedras da beirinha. Era divertido de ver aquele bicho enorme simplesmente ali, contemplando a própria existência em silêncio, vez ou outra mexendo alguns daqueles tentáculos porosos e suavemente rosados para um lado e para o outro.

Quer dizer, ao menos era o que ouvia falar, pois Draco nunca tivera o prazer de vê-la em alguma peripécia. Sempre que conseguia achar aquele bicho, estava apenas boiando feito morta e não dava o menor sinal de vida. Logo, sumia novamente nas águas escuras e por lá ficava durante um bom tempo. Dificilmente era possível encontrar-se com ela mais que uma vez por mês.

Havia vários boatos de que a lula brincava com os alunos quando as embarcações pequenas passeavam pelo lago. Que ajudava qualquer um que caísse naquelas águas negras a não se afogar e, por vezes, jogava alguém de volta para a superfície. Mas ele mesmo nunca vira.

Draco chegara a conclusão de que não levava muito jeito com criaturas. Desde Dobby, o elfo doméstico que se rebelara contra sua família, até o incidente com Bicuço em seu terceiro ano. Não que ele não gostasse daquela maldita galinha gigante, quando a enfrentou só queria mesmo era desmoralizar o Potter.

Só que o tiro saiu pela culatra.

Quando deu por si, seu pai já havia dado a louca e mandado matar a porcaria do bicho. O mínimo que ele podia fazer era assistir. Talvez pendurar a cabeça daquela galinha gigante na sala comunal da sonserina também não fosse má ideia. Mas aí veio a Granger, socou seu nariz e estragou tudo.

Falando em criaturas, já havia uns dois ou três dias desde que conversara com a Weasley e planejava dar a ela mais tempo, conforme o combinado. Só não sabia de quanto tempo mais precisava. E era irritante ficar tentando pensar nisso, pois lhe dava dor de cabeça.

Ficava pensando que precisava de uma bela dose de sorte liquida, pois era muito azar ter encontrado com ela na Sala Precisa aquele dia, há quase uma semana. Desde então a Weasley não saia mais de seu pé e ele podia vê-la pelos corredores lhe encarando, numa inútil tentativa de ser discreta.

Por outro lado, era uma das poucas fontes de diversão que tinha ultimamente. Estava bem chato conversar com os outros sonserino e ele preferia ficar sozinho a ouvir Pansy lhe chamando por diminutivos de apelidos, como “amorzinho” e “Draquinho”. Argh.

Não se arrependia de ter rompido com ela, pelo contrário. Ficava feliz toda vez que a via tentando alguma coisa com os outros sonserinos por que, pelo menos, não estava mais no seu pé. O ruim é que como aquela insuportável ainda era monitora, vira e mexe tinha que fazer rondas com ela.

E é muito chato ficar circulando por aí com alguém que não abre a boca.

Pansy tinha levado muito para o pessoal, por Merlin. Fazia aquela cara de bunda (ainda pior do que a que já tinha) e ficava resmungando o caminho inteiro. Além de lhe desautorizar junto aos alunos mais novos.

Os alunos mais novos. Esses sim eram uma fonte inesgotável de diversão. Adorava quando podia introduzir uma turma aos novos aposentos e inventar uma porção de mentiras para deixá-los morrendo de medo de ir ao banheiro sozinhos.

O que não era exatamente mentira, se parasse para analisar, pois naquela porcaria de colégio haviam fantasmas e até uma merda de um cachorro de três cabeças escondido em alguma das torres. E depois diziam que ele que era excêntrico e com tendências suicidas. Sobreviver a Hogwarts era praticamente como escapar de um campo de guerra. 

Soltou um suspiro e sentou-se na grama, apanhando algumas pedrinhas entre os dedos e lançando com suavidade no lago. Queria poder apenas ser como qualquer um dos outros garotos de sua idade. Não ter que se preocupar em enfiar um monte de gente no castelo e, pior de tudo, matar o velho Dumbledore.

Draco tinha certeza plena e absoluta de que não ia conseguir matar aquele velho maldito. Não queria, não podia e nem tentaria, se dependesse apenas dele. Mas o que fazer quando a honra e sobrevivência de sua família está em jogo?

E isso era bem complicado, especialmente por que Voldemort tinha resolvido pegar pesado com seu pai pelo fracasso no ministério no ano anterior, em que Potter saiu correndo e gritando com uma profecia pelos corredores, e mudou a sede da “turminha do mal” para sua mansão. Agora, vira e mexe aquela cobra nojenta ficava passeando pela cozinha, quartos e até no banheiro! Era como viver em um filme de terror.

Não sabia se, quando saísse a noite para beber um copo d’água na cozinha ia tropeçar na cobra ou na capa de Voldemort. E, honestamente, não sabia dizer qual dos dois parecia mais com um réptil, visto que algumas vezes Nagini era até meio simpática.

Voldemort dizia às vezes que queria alimentar Nagini com o cadáver de Harry. E Draco não se incomodava com isso, mas a cobra parecia extremamente ofendida. Era como se ela estivesse dizendo “é essa porcaria que quer me dar para comer?

Já estava de saco cheio de ter todo aquele povo intruso em sua casa. Até mesmo a decoração estava diferente. Não que a mansão Malfoy fosse lá um local gostoso, quentinho e aconchegante. Mas por Merlin, tudo tinha limites! Havia pele de cobra em cima do armário da cozinha.

Só que o Malfoy tinha lá suas dúvidas de que isso seria motivação o suficiente para lhe fazer matar Dumbledore. Tudo bem que ele temia pelo bem de sua família, mas eles já eram bem grandinhos e sabiam perfeitamente no que estavam se metendo quando resolveram criar um clube com a merda do Voldemort, certo?

Quer dizer, ninguém que entra em um grupo para matar trouxas e afins se inscreve pensando “nossa, que povo bonzinho! ” Tinha ouvido falar que Voldemort, inclusive, entrava na mente de suas vítimas até deixá-las completamente loucas para, só quando implorassem a ele pela morte, lançar um baita Avada Kedrava na fuça.

Que morte legal, né? Pois é, Draco não pretendia morrer dessa forma. E também não pretendia que seus pais tivessem esse trágico fim, mas como diabos cometeria um assassinato?! 

E era isso que mais lhe irritava. Sempre que pensava nas tarefas que tinha que executar, lembrava-se da Weasley e de como suas frases faziam sentido. Era estranho e deixava Draco fora de si, pois a palavra dela não devia ter o menor valor, certo? Nunca teve. E então, de repente, aquela garota resolve aparecer e botar algum juízo em sua cabeça sem que tenha pedido.

Então começou a ouvir alguns passos se aproximando enquanto jogava as pedrinhas no lago. Virou-se para ver quem era e suspirou, girando os olhos e bufando em seguida.

— Lá vem você.

Mesmo sem ser convidada, Gina sentou-se ao lado dele e ajeitou a saia do uniforme para cobrir um pouco suas pernas. Colocou os livros que segurava ao seu lado e abraçou os joelhos, olhando para Draco de um jeito que ele não conseguia decifrar. Aqueles olhos castanhos, quase cor de mel, que a menina tinha estavam calmos àquela tarde de uma maneira nunca antes vista.

— Pensei que havia dito para você sair da minha frente e parar de me seguir.

Ela assentiu suavemente e começou a olhar para o lago negro, provavelmente também tentando ver a lula gigante. Os cabelos ruivos sacudiam quando a brisa batia de leve em seu rosto sardento e Draco se perguntou se seria possível contar quantas manchinhas ela possuía em apenas uma das bochechas.

Gina começou a tirar os sapatos e ficou apenas com as meias cinzentas do uniforme, afundando a ponta dos pés na grama e sentindo o geladinho da terra fofa. Também não ligou que aquilo iria deixar suas roupas sujas e relaxou enquanto tentava não se estressar com o Malfoy. Jamais permitiria que ele acabasse com seu bom-humor.

— Você disse. Aquele dia.

— Oh, então terei que lhe enviar memorandos diários?

Foi grosseria de Draco responder aquilo, mas, por algum motivo, ela riu. Só um pouquinho, olhando para o loiro enquanto mexia as pontas dos pés na grama.

— Não. Só queria saber se você estava bem.

— Correndo o risco de me soar repetitivo, Weasley, vou perguntar novamente. Desde quando você se importa?

E ela ergueu os ombros, ainda mexendo as pontas dos pés, parecendo plenamente tranquila aquela tarde enquanto observava o lago e via o sol da tarde refletir em suas águas. Faltava pouco tempo para que a grande estrela se pusesse e estava animada com a ideia de assistir daquele ponto da escola.

— Eu não sei. Não sei se me importo, na verdade. Só queria saber.

Draco assentiu e o olhar de Gina caiu sobre ele novamente. O garoto se deitou na grama e suspirou, colocando as mãos na nuca. Não pôde perceber, mas a gola de sua camisa branca estava toda suja de terra e a Weasley se perguntou se ele teria um mini ataque cardíaco quando fizesse tal constatação.

— Como você descobriu que eu venho aqui?

— Você mesmo disse que eu andei te seguindo após aquele dia, não foi?

E Draco suspirou. Tudo que lhe faltava na vida era mesmo ter alguém lhe seguindo por aí e dando palpites em suas ações. Pior de tudo era que justamente a pessoa genial que estava lhe seguindo era uma Weasley. Uma Weasley!

Mais chata que isso, impossível.

— O que você estava fazendo naquela sala, por falar nisso? Continua não sendo da minha conta?

Gina riu mais uma vez e esticou as pernas na grama, apoiando-se nos braços que se firmaram no chão atrás de suas costas. Sentiu com a ponta dos dedos alguns grãos de terra entrarem debaixo de suas unhas, mas não se importou.

— Eu estava fazendo um favor para Harry. Pode ser?

— Merlin me livre de saber que tipo de favores vocês trocam.

E ela tornou a rir, o que deixou Draco confuso. Geralmente ela se irritava quando zombava de Potter, mas parecia não poder se importar menos com as coisas que ele dizia.

— Sabe, prefiro ver você assim, emburrado e idiota, do que como estava o dia que te vi na Sala Precisa.

— Sempre bom ouvir elogios de você, Weasley.

Gina sorriu e deitou ao lado dele, de lado, apoiando a cabeça no próprio braço. Draco não pôde evitar de notar como o cabelo dela ficava mesmo parecendo fogo quando o sol da tarde batia contra os fios rubros, meio alaranjados. Achou até um pouco engraçado, para falar a verdade.

Pensou em dizer que ia assar marshmallows na cabeça dela, mas achou melhor não.

— Isso não precisa ser assim, Malfoy. Deixa eu ajudar você.

— Me ajudar? Como você pode me ajudar? Por que quer me ajudar? Quem disse que preciso da sua ajuda? Potter vai ficar decepcionado com você.

Gina suspirou e sacudiu a cabeça, balançando suavemente o cabelo. Desviou o olhar do Malfoy para o céu, que estava num misto incríveis de cores, variando do laranja para o rosa e azul, anunciando o pôr do sol que iria acontecer a qualquer minuto. Os raios fortes que batiam em sua pele clara deixavam-na com um aspecto dourado, como se houvessem salpicado ouro em seus braços e rosto. A brisa morna que eventualmente jogava alguns de seus fios vermelhos sobre seus olhos marrons lhe impedia de sentir qualquer desconforto causado pelo calor.

Draco parou de encarar a menina e voltou sua atenção para o lago negro, que permanecia tranquilo, com o ir e vir das águas suavemente impulsionadas pela brisa daquela tarde tão agradável. Seus cabelos loiros, quase brancos, ficavam quase brilhantes com toda aquela luz batendo em sua frente, fazendo-o sua pele parecer ainda mais clara do que já era.

— Você não conseguiria enxergar uma possibilidade de se salvar nem que ela dançasse na sua frente, né? Está sempre cego por essa sua prepotência idiota...

Gina continuou falando devagar, meio desconexa, enquanto fitava as nuvens se desmanchando como se fossem feitas de algodão. Não percebeu o vento lhe bagunçar o cabelo, enchendo sua nuca de folhinhas verdes da grama.

— Ah, e você é a minha possibilidade de salvação?

Draco perguntou sentando-se um pouco mais próximo dela, porém mantendo certa distância. Não era bom que se encostasse na Weasley de alguma forma e preferiu se prevenir. Gina assentiu rápido e várias vezes, retribuindo o olhar.

— Não me é conveniente que você auxilie na destruição do castelo. E você realmente acredita que, mesmo que Você-sabe-quem mate a todos nós e tome o mundo bruxo para si, ele irá poupar sua vida ou a de quem quer que seja, se estiver a fim de matar?

Draco ficou em silêncio, sem um argumento para apresentar a Gina, que assentiu num gesto rápido e parou de lhe encarar, como se houvesse acabado de confirmar uma suspeita. O Malfoy torceu o nariz e não conseguiu conter uma oportunidade de alfinetar a garota, tentando recuperar um pouco a moral que acabava de perder.

— Você sabe que o nome dele é Voldemort, certo? Só para esclarecer as coisas...

Gina bufou e revirou os olhos, fazendo uma breve pausa para retomar bons pensamentos e sentimentos em seu coração. Às vezes tinha que atingir um nível de paz de espírito digna de um ser místico para poder não estuporar Draco Malfoy ou servi-lo de alimento para a lula gigante.

— Saber o nome dele vai salvar você?

Perguntou sem muita delicadeza, arqueando as sobrancelhas ruivas, impondo a Draco que lhe respondesse de imediato, proeza que ele não conseguiu atingir. Logo que concluiu que o Malfoy não tinha uma resposta para aquela pergunta, sacudiu a cabeça negativamente, como se reprovasse a atitude dele.

— Ainda é capaz dele matar você e sua família só de pirraça, caso você ajude e tudo saia do jeito que ele pediu.

Draco coçou a cabeça e ficou de pé, incomodado, sem saber o que dizer, dando alguns passos para longe da menina, aproximando-se um pouco mais do lago e voltando a se sentar na grama, de costas para Gina. Era extremamente irritante quando ela conseguia deixa-lo sem resposta.

— E o que você quer que eu faça, Weasley?

Gina suspirou e ficou em silêncio por um minuto. A voz do Malfoy havia soado um pouco mais baixa e descontente que o restante da conversa, por isso decidiu se aproximar dele para responder. Levantou-se e caminhou descalça até ele, ajoelhando-se lentamente ao lado do garoto e lhe encarou, mesmo que ele estivesse com a cabeça baixa.

— O que você quer fazer, Malfoy? Quer mesmo ver todos mortos, até mesmo seus amigos, ou prefere fazer algo a respeito? Pensa nisso...

Gina limpou suavemente a barra de sua saia e levantou-se. Foi para perto de seus livros e calçados e segurou tudo meio desajeitada, quase deixando cair enquanto caminhava na direção do castelo, sem esperar uma resposta de Malfoy.

Draco não olhou para trás quando ela se foi e continuou sentado à beira do lago, jogando pedrinhas na água. Foi então que, inacreditavelmente, um dos imensos tentáculos rosados da lula gigante emergiu e fez um movimento de ir e vir parecido com um aceno, como se estivesse dando um “tchauzinho” para o Malfoy, que não pôde deixar de corresponder, com um sorriso abobalhado nos lábios.


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