Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 2
Capítulo 2




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Improvável.

Gina não podia pensar em outra palavra para descrever o que estava prestes a fazer.

Desde o dia em que havia descoberto os planos de Malfoy e se encontrado com ele na Sala Precisa, não conseguiu mais tirar de sua cabeça as terríveis possibilidades que se colocavam à sua frente. Mesmo que ele não houvesse confirmado que ia mesmo dar uma porta de entrada para Você-sabe-quem, a ruiva tinha certeza absoluta de que era isso. Não podia ser outra coisa.

Mas, mesmo com essa certeza absoluta, não tinha coragem de contar para Harry o que estava acontecendo. Só mentia. Dizia que não conseguia mais segui-lo, que ele não estava aprontando nada... por vezes nem ela mesma entendia o motivo de não contar logo o que tinha visto.

Talvez fosse por estar com um pouco de mágoa de Harry. Era muito difícil continuar gostando de alguém que não te dá atenção e vive se oferecendo para outras meninas ou fugindo à noite sem dizer para onde vai. Já não bastasse tê-la rejeitado em seu primeiro ano, tinha de conviver com a distância entre eles que parecia aumentar mais e mais a cada dia.

Se sentia meio usada e não gostava nem um pouco disso. Gina era popular, bonita e inteligente. Podia ter o garoto que quisesse e, no entanto, ficava perdendo seu tempo sendo competente e boazinha para um bobão de cicatriz que nem se lembrava da existência dela. Ficar ali, se insinuando para ele também tinha limites.

Ou talvez fosse por que Gina não achava justo descobrir tudo e deixar os créditos para aqueles três. Ela tinha nas mãos uma boa chance de conseguir saber ainda mais de Malfoy e de seus planos macabros, como poderia ignorar isso tudo para apenas passar adiante uma informação? Afinal de contas, era ou não uma pessoa competente? Claro que sim!

Gina decidiu que ela mesma teria que dar conta disso. E era exatamente a medida que havia passado a noite toda pensando em exercer que parecia tão improvável.

Em seus dias observando Draco Malfoy, Gina percebeu que, na verdade, ele era bem mais sozinho do que aparentava. Claro que andava cercado por Crabbe, Goyle, Zabini e aquela nojenta da Parkinson, mas não era o tempo todo. Ele andava meio imerso nos próprios pensamentos e parecia não querer compartilhá-los nem mesmo com seus seguidores.

Também treinava quadribol sozinho, se sentava à beira do Lago Negro para tacar pedrinhas e passava horas na biblioteca lendo sobre magia negra e poções. Eventualmente perturbava alguns alunos novatos, pois, como ainda era monitor da sonserina, tinha o direito de ficar dando algumas penitências. Não era lá uma vida muito animada.

Gina decidiu que iria tentar se comunicar com o Malfoy mais uma vez. Talvez conseguisse implantar uma mensagem subliminar na cabeça dele para que parasse com aquela ideia maluca de ceder Hogwarts para Você-sabe-quem e fosse fazer algo mais útil.

Já estava há algum tempo olhando para ele de rabo de olho enquanto segurava seus livros e se esgueirava pelas estantes da biblioteca. Não gostava muito daquele lugar, tinha que admitir. O cheiro de mofo que ficava sempre impregnado no ar era incômodo e lhe fazia fungar repetidamente quando permanecia ali por muito tempo.

Para uma biblioteca, aquela ali não era das melhoras. Gina acreditava que Dumbledore nunca precisava de qualquer porcaria de livro que ficava ali, pois, se ele entrasse lá algum dia por cinco minutos com certeza colocaria mais iluminação e mandaria alguém conjurar um pano de chão para limpar aquele lugar cheio de fungos.

Colocou uma mecha do cabelo vermelho atrás da orelha salpicada de sardas e respirou fundo antes de caminhar cheia de coragem para a mesma mesa que ele utilizava, num canto um pouco mais reservado.

O bom e o ruim da biblioteca era o silêncio. O lado positivo é que Gina conseguia ouvir melhor seus próprios pensamentos e talvez conseguisse achar boas palavras para dizer Malfoy. O ruim, é que ele ouviu seus passos barulhentos se aproximando e ergueu os olhos na direção dela antes que houvesse bolado uma boa introdução.

Gina parou de caminhar e ficou olhando para o rosto pálido de Malfoy enquanto pensava em algo para dizer. Ele, por sua vez, fechou o livro e ergueu uma das sobrancelhas. Parecia infinitamente mais calmo e controlado que em seu último encontro, na Sala Precisa, três dias atrás. Estava usando o uniforme do colégio, o que era raro, pois sempre vestia a mesma roupa preta, parecendo querer se tornar uma sombra ou sabe-se lá Merlin o que. E, claro, o broche de monitor grudado à capa.

A Weasley ficou pensando, por um momento, se ele reparava em seus uniformes e no fato de já estarem até um pouco desbotados. Com certeza que sim.

— Weasley. Tenho visto muito você nos últimos dias. Estou realmente achando que está me espionando. Ou quer entrar para a sonserina?

Gina engoliu uma má resposta e deu mais um passo na direção dele. Draco puxou a cadeira que estava ao seu lado e indicou com um aceno de cabeça que ela se sentasse.

A ruiva hesitou. Não esperava por um convite assim, logo de cara, mas aceitou. Tinha certo receio daquele garoto, especialmente pelos acontecimentos de seu primeiro ano com o diário que foram causados por Lúcio. Não sabia ao certo se o Malfoy sabia ou não das intenções do pai, mas preferia não se arriscar.

Colocou os livros em cima da mesa e encarou o loiro, que deu uma risada irônica e pegou seus livros para olhar as capas.

— O que você tem aqui? “Ave ou Avião”, “Qual Vassoura” e “A Vida Social e Hábitos dos Trouxas Britânicos”. Eca, Weasley. Que mau gosto. Tirando o de quadribol, é claro. Me esqueci que você joga.

— O que você quer comigo, Malfoy?

Gina não se deixou abalar pela acidez dos comentários em relação aos livros e resolveu ir direto ao assunto. Muito lhe agradou a brecha que ele lhe deu (como se também estivesse a fim de falar com ela) e aproveitou para ir engatando ao assunto que lhe interessava.

— Eu posso lhe perguntar a mesma coisa. Notei você me olhando desde que nos vimos na Sala Precisa. Pensei que você quisesse deixar aquele dia para lá.

— E eu quero.

— Não, não é o que parece. Você está procurando uma brecha para falar comigo. E aqui está ela. Diga o que quer e pare de ficar me seguindo, pode ser?

A ruiva umedeceu os lábios. Tinha se esquecido de que, quando não está totalmente desequilibrado, Malfoy até que é inteligente. Decidiu não perder o controle ou demonstrar medo. Estavam na biblioteca, o que ele lhe faria ali? Todo mundo ia saber...

— Certo. Eu queria falar com você.

— Então, Weasley, esse fato eu já conheço. O que me interessa é: sobre o que quer falar comigo?

Ele a encarou com uma feição meio cínica e meio curiosa. Malfoy devia mesmo querer saber o motivo. Será que se Gina contasse que sabia de seu plano, ele iria bolar um esquema para matá-la depois? Ia chamar Você-sabe-quem e pedir ajuda?

Não. Gina achou pouco provável. Não ia ser bom para o Malfoy admitir para Você-sabe-quem que a garota Weasley já sabia de tudo. Não seria nem um pouquinho legal para ele que alguém soubesse disso. Qualquer pessoa.

E talvez fosse por isso que tinha dado a ela a brecha que precisava. Queria negociar.

— Estou esperando.

Malfoy arqueou as sobrancelhas e Gina respirou fundo. “Que se foda”, pensou, “vou falar a verdade. Ou, pelo menos, uma parte dela”.

— Eu sei o que você está planejando fazer com os armários da Sala Precisa. E queria te pedir para não fazer.

Draco arqueou as sobrancelhas, pouco surpreso. De fato, o Malfoy já sabia que ela havia descoberto e só queria ouvi-la admitir. Mas Gina estava apegada ao sentimento de que ele não iria matá-la por que não traria qualquer vantagem aos planos de Você-sabe-quem.

— Você contou para alguém?

Ela sacudiu a cabeça negativamente e continuou encarando seus olhos cinzentos, que não pareciam bravos ou impacientes. Draco suspirou e apoiou a testa na mão cujo braço estava apoiado na mesa.

— Certo. O que você quer para continuar de boca fechada?

Gina olhou para ele, também pouco surpresa com a pergunta. Já esperava pela barganha do Malfoy e decidiu não ser inflexível.

— Tempo. Não muito, mas um pouco. Pode conseguir isso? Por favor?

— Depende. O que fará com o tempo que eu lhe der?

Gina sacudiu a cabeça e soltou uma risada baixinha de nervoso. Estava preocupada em não fazer barulho para que ninguém fosse lhe chamar a atenção e notasse uma Weasley e um Malfoy dividindo a mesa da biblioteca.

— Eu não faço ideia. Mas não vou contar para ninguém, prometo.

— De que me vale sua promessa, Weasley? Acha que confio em você? Acha que não sei que vai sair daqui correndo e ir contar para o santo Harry Potter que o terrível Draco Malfoy está te perturbando?

Gina arfou. Como explicar para ele que não ia abrir a boca? Não havia um jeito certo de fazer com que Malfoy acreditasse e confiasse nela. Afinal, que tipo de pessoa idiota crê em algo que a pessoa que está te seguindo diz?

— Eu... eu não sei o que dizer, mas pode ficar tranquilo em relação a isso. Não vou contar para ninguém. Não vai me servir de nada.

— Não vai lhe servir de nada?

Desta vez Draco pareceu surpreso. Gina assentiu repetidamente e o encarou nos olhos, como se pedisse por clemência.

— O que eu ganharia dizendo isso para alguém? Só serviria para me tirar o pouco tempo que tenho de tentar...

— Tentar?

Draco olhou para ela de uma forma que Gina nunca havia visto. Ele se endireitou na cadeira baixou a vista, suspirando por um momento.

— Tentar, Weasley? Tentar o quê? Me impedir?

— Quem disse que eu vou impedir alguma coisa?

Gina se atreveu a segurar as mãos de Malfoy com as suas e ele pareceu realmente assombrado ao sentir o toque dela. Porém, não teve ímpeto o suficiente para se livrar dos dedos quentes da Weasley, que lhe olhava nos olhos, muito menos amedrontada que há cinco minutos.

— Não vou tentar te impedir de fazer. Eu não digo a você o que fazer ou não fazer.

Draco sacudiu a cabeça negativamente e começou a falar com descrença.

— O que vai fazer então? Olhar o castelo cair em ruínas ao seu redor? Não parece muito grifinório de sua parte.

— Lembra o que eu te disse na Sala Precisa aquele dia?

Gina soltou as mãos geladas de Draco e ele continuou olhando para ela, que se aproximava um pouco mais para poder falar mais baixo.

— Não seja quem as pessoas querem que você seja. Lembra? Quero tentar descobrir se essa ideia estapafúrdia vem de você ou não. Por que não acredito que tenha saído da sua cabeça.

— E desde quando você se importa?

Essa pergunta desarmou a Weasley, que se manteve em silêncio observando o Malfoy se afastar dela.

— Desde quando qualquer um se importa com quem eu sou ou com o que quero fazer? Ninguém se importa, e sabe do que mais, Weasley? Talvez não importe mesmo. Tudo que me interessa é manter minha mãe viva e eu farei o que for necessário para que isso aconteça, sendo ideia minha ou não.

Ele bufou baixinho e fechou os olhos, virando-se na direção da janela e não mais mantendo contato visual com Gina. A ruiva não sabia ao certo o que fazer, mas pôde compreender um pouco melhor a situação em que ele se encontrava. Bem no fogo cruzado, a única porta entre Você-sabe-quem e Hogwarts.

E era triste ver que realmente não tinha com quem conversar sobre isso.

— Malfoy...

Gina falou baixinho, olhando para ele, que não retribuía a atenção. Mesmo assim, ela sabia que estava escutando.

— Por favor. Só me dê um pouco de tempo. Use esse tempo que vai me dar para pensar...

Draco a interrompeu, ainda sem lhe encarar.

— Não quero pensar, Weasley. Também não quero mais falar com você. Pegue essas porcarias de livros e saia daqui. Você terá seu precioso tempo se eu não te ver na minha frente pelos próximos dias.

Gina torceu os dedos, mas se levantou, como ele dissera. Apanhou seus livros e parou na frente dele, olhando em seus olhos com um pouco de esperança nos olhos.

— Obrigada, Malfoy.

E saiu caminhando da biblioteca, desta vez carregando não só as próprias esperanças de conseguir argumentos para impedir o Malfoy, como também as do próprio garoto, que torcia para que ela soubesse mesmo o que fazer com o tempo que ele lhe dera e impedisse aquela porcaria de plano de dar certo.


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Notas finais do capítulo

Oi gente, vi que uma galera andou lendo, e gostaria de incentivar vocês a deixarem comentários. Se ninguém se interessar mesmo, não vou ficar postando uma fanfic de mais de 20 capítulos para não receber UM comentariozinho, certo? Até pq a fanfic já está quase toda escrita e não compensa para mim parar de divulgar os caps, mas se estiver mesmo TÃO RUIM ASSIM, ai eu paro de postar, pq né? :/



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