James não podia acreditar na piada sem graça que era a sua vida. Como em 15 anos de idade, ele vai passar o natal sem a sua família? 

Arrastando o malão pela grama, voltando ao castelo, ele se indignava em como foi tão burro em perder o Expresso de Hogwarts e agora estava sujeito a só conseguir voltar para casa no dia seguinte, ou pior, só no seguinte do dia seguinte. Isso só podia ser piada. 

O que mais irritava James era que naquele dia nada havia dado certo. O feitiço despertador não funcionou como o esperado e ele perdeu o café da manhã. Tudo bem, isso foi facilmente resolvido por algum elfo doméstico misericordioso que o deixou pegar comida da cozinha. Depois, algumas coisas suas importante sumiram, sua varinha e suas cuecas eram uma delas. Após um tempo procurando elas apareceram embaixo da cama de Sirius, mesmo o rapaz tendo olhado embaixo de cada uma das camas daquele dormitório. Era ridículo alguém estar lhe pregando uma peça enquanto ele estava sozinho. Com certeza iria descobrir quem era o engraçadinho. 

Choramingou enquanto seu malão se desengonçava no chão de pedras. Um mini Remus, fruto da sua imaginação, apareceu em seu ombro dizendo que ele deveria tê-lo escutado e partido no dia anterior à tarde, junto com ele, Sirius e Peter, afinal, Sirius iria passar o natal com os Potter de qualquer forma, qual o sentindo de ir depois? Automaticamente sua cabeça formou a cena do rapaz se deliciando com todas as comidas de sua mãe e tentando abrir seus presentes embaixo da árvore. Ele realmente esperava que aquele cachorro ao menos não marcasse território, fazendo xixi no pé de sua cama. 

Ele não disse aos amigos, mas a razão com que ele não queria ir junto com eles no mesmo dia, tinha nome, sobrenome e estava encostado na parede de pedras como se já adivinhasse que James passaria por ali. O que de certa forma não era estranho porque Severus sempre adivinhava onde o namorado está. 

James soltou o malão bruscamente, aquela era a outra parte da sua irritação. Ele havia sim adiado sua partida, mas em vão, porque Sev havia desaparecido mesmo depois de dizer que passaria as festas de final de ano em Hogwarts e que eles iriam se encontrar em seu dormitório na Grifinória para se despedirem. 

— Você parece bravo. – Disse o rapaz. James entortou a cabeça, ele não parecia bravo. Ele estava furioso. 

— Acordei atrasado, coisas minhas sumiram, perdi o trem, vou passar o meu feriado favorito longe de casa. Eu não apenas pareço estar bravo. 

Severus sorriu levemente, seu namorado ficava ainda mais adorável quando estava bravo. Tão bravo quando um filhote de gato siamês. James mordeu a parte interna da bochecha tentando não ceder aquele sorriso, era um fato de que na frente de muitas pessoas Sev quase nunca sorria, mas com ele era diferente. Entre James e Severus era tudo sempre especialmente diferente. Entretanto, ele estava bravo com o rapaz pelo bolo que levou no dia anterior, então não, sorrisos e covinhas não iriam derrubá-lo. 

Seus braços se cruzaram e sua cabeça se virou pra enxergar um ponto longe. 

— Pelo visto você resolveu perceber que eu existo. 

— Me desculpe. – Disse tentando descruzar os braços do namorado para abraçá-lo. – Eu não consegui sair das masmorras ontem à noite. 

A cabeça de James virou rapidamente, indignado. 

— Merlin, você é o monitor chefe! Foi a desculpa mais esfarrapada que me deu. 

Severus pressionou os lábios para não rir. James estava batendo seu pézinho direito no chão, como fazia quando estava bravo. Definitivamente um gatinho siamês. O rapaz puxou o outro pelo braço que tentou se desvencilhar, mas cedeu ao aperto, sua cabeça no ombro dele agora.

— Vamos lá James, já passou e estamos aqui agora. O seu dormitório está vazio? – Um sorriso no rosto de James iluminou seu rosto minutos atrás irritado. 

— Está. – Respondeu, levantando a cabeça para encara-lo - Mas ainda estou bravo com você. 

Severus olhou para cima, rindo, movimentou o punho levemente para um feitiço de leveza que fez o malão de James levitar facilmente. Seus dedos se entrelaçaram na mão do menino. 

— Te darei seu presente e então poderei te ajudar a encontrar suas cuecas perdidas. – Disse enquanto caminhavam pelo corredor até as escadarias.

James parou de repente, fazendo Severus tropeçar nos próprios pés. 

— Como você sabe que minhas cuecas desapareceram? 

O rapaz ficou pálido. 

— E-Eu...Bom... 

James agora estava novamente com os braços cruzados. A sobrancelha levantada e os lábios franzidos. Aquele eram todos os sinais de encrenca. Oh, Merlin...

— Tá bom. – Suspirou – Fui eu quem sumiu com seus pertences e também fiz de tudo com que você se atrasasse para não conseguir pegar o trem. 

O rosto de Severus estava triste, ele não se sentia bem fazendo todas aquelas coisas mas, ele estava desesperado, era o primeiro natal em que eles estavam namorando, porque pelo menos a noite do dia 24 poderia ser dele e no outro dia ele ficaria com a família como sempre fez ao longo de sua vida. 

Mas James não estava disposto a entender aquela história no momento, e sem deixar que o rapaz começasse a se explicar, o empurrou levemente para que saísse de seu caminho e se pôs a subir as escadas até a Torre da Grifinoria. 

— James por favor, espera! 

Severus sabia que correr atrás do rapaz não iria adiantar, teimoso e orgulhoso como seu namorado era, só restava esperar que a raiva passasse antes que o sono soasse meia-noite. 

—x- 

James se jogou na cama de braços cruzados, olhando para o teto com os olhos marejados. Ele odiava brigar com Sev mais do que odiava perder um jogo de quadribol. Mas também não era pra menos, certo? Ele mentiu e agiu pelas costas dele, seu próprio namorado! 

Algumas horas mais tarde, depois que o jovem Potter já estava banhado e ainda emburrado sobre os lençóis, alguém mexeu na maçaneta, a porta se escancarou sozinha o deixando alerto. Mas a varinha foi abaixada quando debaixo da capa de invisibilidade saiu o seu namorado arrependido. 

— Vim devolver sua capa. – Disse baixo. 

— Bela desculpa. – Respondeu ácido, os olhos miúdos. Severus suspirou, sem convite se subiu na cama de cobertores vermelhos, próximo ao rapaz. 

James não iria olhar para aqueles olhinhos negros brilhantes de cachorrinho abandonado. Eles tinham efeito muito maior que o sorriso único com covinhas, não ia rolar. Seu rosto se manteve para uma foto dos amigos já sua cabeceira. 

— Vim lhe trazer seu presente também. – Um barulho de vidro fez o rapaz ajeitar os óculos para olhar a mão do namorado. 

Era uma rosa, dourada e brilhante, dentro de uma redoma de vidro. Simples. Mas tão, tão bela. James a segurou nas mãos. Não evitando sorrir dessa vez.

— É como a rosa do conto de fada trouxa que você me contou. – Disse, ainda encantado pela beleza do presente. Severus concordou com a cabeça. James não gostava de ler, nem de estudar, então o modo que ele encontrou para que o namorado não levasse bomba em toda prova foi de a cada final de uma matéria estudada, Severus lhe contaria uma história que James ainda não conhecia. 

A Bela e a Fera foi a última e se tornou uma das favoritas. 

Talvez aquele gesto tenha sido demais para o orgulho de James, o rapaz colocou a redoma no criado mudo ao lado de sua cama, onde com certeza ficaria ali para que olhasse e lembrasse do namorado todos os dias e o abraçou com carinho. 

— Eu só queria passar um tempo a mais com você. Mal te vi nessas últimas semanas, talvez eu tenha exagerado, mas foi a única forma que eu encontrei e--- 

James o interrompeu o beijando levemente, ele compreendia e perdoava. Era até fofo saber que Severus o precisava tanto assim a ponto de trapacear sua viagem de volta para casa só para tê-lo daquela forma, o beijando enquanto fazia carinho em seu cabelo. 

— Eu sinto muito, os garotos tomaram meu tempo e enfim, eu realmente acho que seja a hora de saberem que estamos juntos. 

Severus prendeu a respiração. Seu coração batendo forte.

— Você tem certeza? 

— Você não quer? – Perguntou confuso. 

— Sim eu quero mas é que... Bom, seus amigos eles não gostam muito de mim e tem a Evans, eles, eles vão preferir que você fique com ela. – Sua fala era rápida, suas bochechas estavam vermelhas. James apertou seu rosto com as mãos. 

— Se as pessoas soubesse o quão fofo você consegue ser, tenho certeza que não implicariam tanto. Não se preocupe, nos daremos um jeito e você não vai mais precisar de planos mirabolantes para ficar comigo. 

Um sorriso pintou no rosto de Severus. Um sorriso só de James, a melhor parte do rapaz pálido e tímida só pertencia ao outro de cabelos cacheados e pele morena. 

O sino da torre bateu doze vezes. Eles ficaram em silêncio contando as badaladas para eles mesmo. 

Se encararam com um sorriso.

— Eu te amo, Sev. Feliz Natal. 

— Eu te amo mais.