Uma Nova Chance escrita por Arikt


Capítulo 8
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, quanto tempo, não? Então, eu tenho que me desculpar pela demora em postar. Mas é que eu estive doente, o que prejudicou minha escrita. Assim como a Lucy, eu também sofro de um transtorno psicológico, e como ela tive que ficar internada um tempinho para poder me estabilizar novamente. E foi na clínica mesmo que terminei esse capítulo. Talvez eu demore também nos próximos, ainda não desenvolvi uma rotina de escrita. Então queria pedir um pouco da paciência de vocês. Agora já para a leitura! Espero que gostem!



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Lucy sabia que deveria estar estudando. Que deveria comer algo. Que deveria se levantar e abrir as cortinas. Sabia que deveria tomar alguma atitude. Mas ela simplesmente não conseguia.  

Nos últimos três dias, ficara isolada em seu quarto, deitada na cama, sem fazer nada além de dormir. Faltou na escola e no cursinho, não lia as mensagens no celular e se recusava a responder às perguntas preocupadas da governanta. 

Esse era o modo de sua mente escapar da forte sensação de decepção que se instaurou nela desde que descobriu a verdadeira identidade de Hideki. Não só decepção sentia, mas, também um grande desespero. Nada mais parecia estar fora daquela loucura de Raito. Não conseguiria fugir, por mais que tentasse.  

Tudo que desejara ao chegar em Tóquio era recobrar uma vida normal, onde poderia cursar uma faculdade e trabalhar no que gostava, sem preocupações, com uma rotina leve e feliz. Quando se viu presa ao segredo de Raito e conheceu Hideki, achou que pelo menos uma parte de sua vida ainda estava a salvo. Mero engano. 

Agora, desejava apenas desaparecer, nunca ter existido. Do que valia a vida, se a felicidade vivia escapando de suas mãos? 

O celular tocou. Lucy se virou para o criado mudo, vendo a luz da tela brilhar forte na penumbra do quarto, ardendo seus olhos. Não fez menção de querer pegar. Voltou para sua posição inicial, mas, infelizmente, esqueceu-se que havia deixado o aparelho configurado no autoatendimento para determinados números. 

― Lucy, que tal parar de ignorar minhas mensagens e dizer o que está acontecendo? ― A voz de Raito ressoou pelo aposento. ― Seu pai acabou de ligar para mim, perguntando o porquê de você não sair mais do quarto. 

Ela não conseguia entender como ainda não jogara aquele aparelho fora. Ignorou-o, encolhendo-se mais debaixo do cobertor. 

― Não vai me responder? Tem certeza de que quer continuar com isso? Está deixando até seu pai preocupado. ― Ele ficou quieto por um momento. Quando falou novamente, parecia aborrecido. ― Ok, você não me deixa outra escolha. 

A ligação caiu. A garota ficou do mesmo jeito, sentindo-se entorpecida. Mesmo que quisesse falar com o amigo, não achava que conseguiria. Acabou por cair em um sono leve, sem sequer ligar para o fato de que o mundo lá fora parecia sentir falta dela. 

Mas seu descanso não durou muito. Sem saber dizer quanto tempo depois, a porta do quarto foi aberta, fazendo-a cerrar as pálpebras com mais força por causa da claridade que adentrou o quarto, junto com um Raito de ar contrariado. Este sentou na cama, cruzando os braços e as pernas, fitando a amiga e tentando analisar o quão ruim a situação poderia estar. Ficou em silêncio por uns minutos, depois suspirou, passando a mão no rosto. 

― Lucy, nós não havíamos combinado que você deveria me avisar se começasse a piorar novamente? 

Ela continuou quieta, os olhos fechados, sem esboçar nenhuma reação. 

― Hey, não quer falar comigo? O que te fez ficar assim? 

A mão dele pousou no topo da cabeça dela, acariciando os cabelos embaraçados. Lucy fez uma careta. Não queria ouvir nada, nem falar nada. Queria ser deixada sozinha. Não acreditava mais que alguém realmente ligasse para o que ela sentia. Aquelas palavras, aquelas carícias, só tornavam tudo mais doloroso, pois sabia que possivelmente estava abandonada para lidar com sua dor. 

― Não pode adoecer de novo, Lucy. Faltando à aula dessa forma, se trancando nesse quarto escuro... Você emagreceu também. E precisa de um banho. 

― Me deixa em paz, por favor. ― Lucy, sem querer, começou a chorar. ― Não finja para mim. Eu não quero mais ser usada. Só está aqui por isso, não é? Não se importa realmente se eu morrer. 

Raito franziu o cenho, preocupado e intrigado ao mesmo tempo. 

― O que está falando, Lucy? Se eu não me importasse, não teria vindo te ver.  

― Não! Não é verdade! Ninguém sequer pensa em mim, ou em como me sinto! Apenas me usam em seus jogos como se eu fosse um brinquedo... Eu nem deveria estar viva, deveria ter conseguido quando tentei me matar! Por favor, vá embora! Eu quero sumir... 

Ela começou a soluçar desconsolada, escondendo o rosto no travesseiro. Estava em verdadeiro desespero. O garoto debruçou-se sobre ela, apertando-a em um abraço, sentindo o corpo dela se sacudir. 

― Pare com isso. Nada do que está dizendo é verdade. Algo te deixou triste, e você está tendo uma grande reação em cima disso. Lembre-se que os problemas sempre são menores do que eles realmente parecem. Vamos levantar dessa cama e tentar aumentar seu ânimo. Tenho certeza de que vai conseguir pensar melhor depois de um bom banho e uma boa refeição. 

Demorou algum tempo para que ela se acalmasse e deixasse que Raito cuidasse dela. Primeiro, ele a ajudou a tomar um banho quente. O garoto constatou que ela estava tendo uma crise depressiva, pois os reflexos da amiga estavam lentos e sua capacidade de reação a estímulos era baixa. Teve também que secá-la e colocar-lhe uma roupa, enquanto ela não parava de derramar lágrimas. 

Penteou os cabelos dela cuidadosamente, falando de coisas triviais da escola para tentar distraí-la. Viu que começou a surtir algum efeito quando ela parou de chorar. Foi até o armário de remédios e pegou os comprimidos, assim como um copo d’água. 

― Você ficou todos esses dias sem tomar a medicação, não é? É por isso que chegou nessa situação. Sabe que não pode parar do nada. Vê se continua com eles certinho, ok? ― disse, colocando-os na mão dela, certificando-se de que ela tomara todos. 

Depois, pediu que a governanta preparasse um lanche para os dois. Logo, ela trouxe uma bandeja carregada de torradas com geleia de morango e dois copos grandes com leite morno e achocolatado. De início Lucy, se recusou a comer, alegando que não tinha fome, mas Raito a forçou até ela ter comido uma quantidade considerável. 

Continuou tagarelando e a estimulando para que conversasse também. Não era a primeira vez que passava por isso, sabia como lidar, embora sempre fosse assustador ver a amiga naquele estado. Decidiu que deveriam fazer algo além de conversar. Procurou por algo entre as coisas da garota e achou um tabuleiro de damas. Eles costumavam jogar muito quando eram crianças. 

Sentados na cama, começaram uma partida atrás da outra, Raito tentando não dar espaço para que ela voltasse a pensar em coisas ruins. 

― Você... Ficou mesmo preocupado comigo, Raito? ― murmurou ela depois da quinta partida, encarando-o com aqueles olhos fundos de quem dormia sem realmente descansar. 

― Como não ficaria? Eu falei que você está errada em dizer que ninguém se importa. Eu me importo. Não vou sair daqui enquanto não vê-la bem novamente. 

Por sorte, sempre deixava agendado as mortes dos criminosos, depois do incidente com as câmeras. Poderia ficar hospedado com Lucy por alguns dias, sem problema algum. Realmente, não queria vê-la adoecendo mais uma vez. 

― Prometa que sempre vai se manter assim, que não vai esquecer quem você é agora. ― Ela estava séria. Aquela frase era quase uma ordem. 

― Como poderia esquecer? Esse é quem eu sou, Lucy. Se eu me esquecesse, teria me tornado outra pessoa, já não seria Raito Yagami. ― Ele deu um meio sorriso. ― Agora vamos, pare de pensar nessas coisas e jogue. Se continuar assim, vou ganhar mais uma vez.  

 

*** 

 

Lucy melhorou gradativamente, voltando à sua rotina normal de estudos. Recuperou o conteúdo perdido na escola sem maiores problemas e usou o restante dos dias para revisar o vestibular com Raito. Este, por sua vez, não mencionou assuntos sobre Kira com a amiga, em respeito ao estado delicado em que ela ainda se encontrava. Não queria estressá-la e ter de lidar com uma recaída. 

Hideki não entrou mais em contato com Lucy. Ela sabia que continuava sendo monitorada nas câmeras, então tentava parecer o menos suspeita que conseguia. Manteve sua palavra e nada falou sobre L com Raito. Na verdade, mesmo que ele não tivesse pedido isso, ela manteria segredo. Afinal, não conseguia encontrar vontade para conversar sobre esse assunto. Se pudesse esquecer que o detetive existia, com certeza o faria. 

Quanto mais pensava na proposta dele, mais se arrependia de tê-la aceitado. Não sabia onde estava com a cabeça ao sequer cogitar fazer parte de algo que poderia destruir Raito, mesmo que toda essa coisa de “Deus do Novo Mundo” a assustasse, dando-lhe a sensação de que estava se afastando cada vez mais de seu amigo. Mas, mesmo assim, ele ainda era seu amigo. Se não fosse, não teria feito tanto por ela nessa semana difícil. Não, não conseguiria nem mesmo assistir alguém tramando contra ele. 

Mas, mesmo assim, lá no fundo, sentia falta de conversar com Hideki. O modo despreocupado como se relacionavam, os momentos calmos que passaram juntos, tudo isso a deixava acordada até tarde, desejando que esse tempo voltasse. Percebeu que há muito não se sentia feliz como naqueles dias, e queria se sentir daquele modo de novo. 

Finalmente, o dia do exame chegou. Lucy, que ainda estava debilitada pelos dias sem comer, tratou de fazer um bom café da manhã para aguentar as longas horas de prova. Saiu de casa com uma hora de antecedência, pegando o metrô e depois andando calmamente até o campus da universidade. 

Era um lugar realmente espetacular. O grande Akamon a saudava com uma imponência assustadora, fazendo-a se sentir minúscula diante dele. Os alunos iam e vinham conversando entre si, alguns descansando preguiçosamente debaixo das Nogueiras que se espalhavam por ali. Ela se sentiu mais animada. A perspectiva de uma mudança, nem que fosse em uma pequena parte da rotina, já deixava tudo um pouco mais positivo.  

Faltando cinco minutos para o começo da prova, decidiu entrar na sala. Avistou Raito sentado em uma mesa perto da porta. Esboçou um sorriso na direção dele, que foi retribuído. Procurou por seu nome nas carteiras, e finalmente achou. Uma carteira ao lado do corredor.  

Sentou-se e ajeitou o material que usaria, uma pontada de nervosismo aparecendo. Tinha estudado, mas não deixava de se sentir insegura nesses momentos. Esperava que isso não a atrapalhasse. Para tentar se distrair, olhou para os demais candidatos ali presentes.  

Era melhor que não o tivesse feito. Quando viu quem estava sentado do outro lado do corredor, deu um pulo de susto e caiu da cadeira, fazendo um enorme barulho, atraindo a atenção de todos na sala. 

― Senhorita, você está bem? ― O fiscal veio correndo em sua direção, e a sala se encheu com murmúrios de riso. 

Vermelha como uma pimenta, aceitou a mão que o fiscal lhe estendia, levantando-se e recolocando a cadeira no lugar. 

― E-estou... Desculpe ― sussurrou. 

Ela não podia acreditar. Olhou de novo para ter certeza, segurando as bordas da mesa com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos. Os mesmos cabelos negros e desgrenhados. As mesmas olheiras. As mesmas roupas desleixadas. E os mesmos olhos intensos e grandes que a encaravam descaradamente, como se pudessem absorver todos os seus segredos. L... Lucy desviou o olhar, sentindo náuseas. O que ele estaria fazendo ali? 

A prova começou, mas a garota não conseguia se concentrar. Tinha a sensação de que aqueles olhos ainda a observavam e isso incomodava, ao mesmo tempo em que fazia descer arrepios por sua espinha dorsal. Ficou brava. Ficou alegre. Não sabia como reagir. Ainda tentava entender como uma única pessoa conseguia tirar tantos sentimentos dela de uma só vez. 

Quando acabou de responder todo o caderno, nem se deu ao trabalho de revisar. Entregou-o para o fiscal e saiu da sala, respirando fundo para conter a crise nervosa que tampava seus pulmões.  

Sentou-se em um banco no caminho que dava para fora da universidade, mexendo a perna compulsivamente. Ia esperar, e ia confrontá-lo sobre o sumiço e esse repentino encontro, provavelmente arquitetado por ele. Ou será que só estava procurando uma desculpa para falar com o homem novamente? Não. Ia retirar o acordo de entrar para aquela maluquice de investigação. 

Passou-se meia hora, e finalmente pôde ver a figura peculiar de L saindo do prédio. Ele a avistou e andou calmamente até chegar em frente a ela. Encararam-se por alguns segundos. 

― E então? Como acha que foi de prova? ― O detetive finalmente quebrou o silêncio. 

Lucy desviou o olhar, cruzando os braços.  

― Poderia ter sido melhor ― falou simplesmente, seca. 

L suspirou e se sentou ao lado da garota, ainda a encarando. 

― E está melhor da sua crise? Queria ter ligado, mas você estava com seu amigo. Não quis te criar uma situação complicada. E também não achei que eu pudesse ajudar, de qualquer forma. 

Ela voltou o rosto para o homem, a expressão azeda. 

― Me vigiou por todos esses dias, deveria saber a resposta. Duvido que realmente se importou o bastante para querer ajudar. 

Ele pareceu levemente ofendido. 

― Eu me importei, sim. Fiquei muito preocupado, na verdade. Ainda não acredita em meu apreço por você? 

― É um pouco difícil acreditar em alguém que primeiro finge ser meu amigo e depois some sem mais nem menos! ― ralhou para disfarçar as bochechas vermelhas. ― Aliás, o que veio fazer aqui? 

― O mesmo que você, eu suponho. 

Mesmo sem querer, Lucy soltou uma risada. 

― O quê? De repente sentiu vontade de ser universitário? ― Sua voz era debochada. 

― Bem, a pessoa ligada a Kira vai estudar aqui, assim como um dos suspeitos. Acho mais do que normal a decisão de frequentar esta universidade. E assistir às aulas vai ser uma experiência interessante, já que nunca fiz isso. 

A garota teria ficado ainda mais irritada com a resposta, se não fosse pela última parte. Piscou algumas vezes, confusa. 

― Espera, você nunca teve aulas antes? 

― Exato. Sempre aprendi tudo sozinho e muito mais rápido que pessoas comuns, então não era necessário eu estar em uma escola. 

― Bom, não perdeu muita coisa. 

― Por que acha isso? Você tem muitos problemas no colégio? 

Ela mordeu o lábio inferior e franziu as sobrancelhas, lembrando-se da sua experiência em instituições de ensino. 

― Não necessariamente. Mas, estudantes sabem como ser maldosos quando querem, e alguém como você poderia sofrer muito. 

― Você quis dizer alguém esquisito como eu? 

Lucy riu. 

― Eu não te acho esquisito. Só estranho. Mas, estranho de uma maneira legal. 

― Oh, espero que as pessoas da faculdade sejam como você, então. Com certeza tornaria tudo mais prazeroso. 

Sem perceber, ela esboçou um sorriso. Encararam-se novamente, mas dessa vez de um jeito suave, amigável, quase carinhoso. 

Ali se encontrava o Hideki que a garota tanto gostava de estar junto, fazendo-a se esquecer da raiva e da frustração que sentia e permitindo que ela sorrisse de novo. Mas poderia acreditar que aquilo era espontâneo? 

Queria muito poder voltar a ter a mesma confiança que tinha antes nele, mas seria impossível. Acima de qualquer amizade que pudessem ter, ele era o detetive e ela a investigada. Ele poderia até falar a verdade quando dizia se preocupar, mas com certeza via aquilo tudo como parte do próprio trabalho. Suspirou. 

― Quero retirar minha aceitação de entrar para a equipe de investigação. Não vou fazer parte disso, mesmo que for só para assistir. 

L pareceu surpreso, depois contrariado. 

― Está definitivamente do lado de Kira, então? ― A voz dele era inexpressiva como sempre, mas, Lucy percebeu que ele estava aborrecido. 

― Não! Não é isso. Só não vou conseguir ficar no meio desse fogo cruzado ― tentou explicar, encolhendo os ombros. 

― Você já está no meio do fogo cruzado, senhorita. 

Ele tinha razão. Já havia tido a mesma discussão com Raito antes. Mas não daria o braço a torcer. 

― Por que me quer tanto? Eu nunca nem cheguei perto do que é uma investigação. Raito é quem costumava ajudar o pai. Nunca gostei disso, e não vai ser agora que isso vai mudar. 

― Eu já lhe respondi: para vigiá-la de perto. 

― Então me prenda.  

― Para que Kira te mate antes de dizer quem ele é? Não é isso que quero. 

A garota soltou um suspiro frustrado. Levantou-se bruscamente, ajeitando a bolsa no ombro e o olhando brava. 

― Ótimo, faça como quiser! Mas não volto atrás, não vou me juntar a sua estúpida equipe! Já que me quer por perto tanto assim, pense em algo melhor! 

Ia virar-se para ir embora, mas foi chamada por ele. 

― Tenho mais uma coisa para lhe revelar. ― disse o detetive, também se levantando. 

― O quê? Você também é o Super Homem? 

― Não. Eu odeio parques de diversão.  

A garota franziu o cenho. Que tipo de conversa era essa, agora? 

― Então por que pediu para que nos encontrássemos em um da última vez? E você disse nunca ter ido. 

― Eu fui uma vez. Mas foi entediante. Quis um encontro lá porque soube que você gosta. 

Lucy ficou por alguns segundos quieta, encarando-o surpresa. Como ele descobriu algo tão aleatório? 

― Ok, eu não sei se fico feliz ou assustada com isso. Você parece um stalker assim. 

― Eu só queria que você se divertisse. ― Ele pareceu confuso. ― Perguntei ao senhor Yagami o que você gostava de fazer, e ele me deu essa informação, de que você e Raito costumavam ir bastante. 

― Ah, claro, o pai de Raito. ― deu uma risada sem graça. ― Acabo me esquecendo que trabalha com ele. É um pouco irônico que quisesse minha diversão, mas revelou que estava me investigando na mesma noite. Ou achou que eu ficaria feliz? 

― Na verdade, te contar não foi algo planejado. Quero dizer, já pretendia fazer isso, mas não sabia quando. Só aproveitei o momento. Não esperava que fosse te afetar tanto. 

Ela abaixou a cabeça e brincou com a barra da blusa listrada que vestia. Sentiu-se triste novamente.  

― Me afetou porque senti falta do meu amigo Hideki. Aquele que parecia ser sempre sincero comigo. ― murmurou, com uma genuína mágoa na voz. ― Bem, vou andando agora. Até mais, L. 

― Me chame de Ryuuzaki em público, por favor. Ou apenas Hideki. Espero que sejamos amigos novamente no campus, senhorita Chinatsu. 

Lucy revirou os olhos. Mais um nome falso. Mas, ele parecia tão triste, tão vulnerável naquela fala, que ela acabou sorrindo. Embora estivesse chateada, brava, irritada com L, ainda não conseguia odiá-lo ou desprezá-lo. Tudo nele lhe atraía, até mesmo aquela aparência estranha e destoante de todos. 

― Podemos pensar sobre isso. 

 

*** 

 

Os dois amigos estavam sentados no quarto de Raito, checando online suas colocações e notas. Ryuuku observava os dois adolescentes com um óbvio tédio. Sem prévio aviso, ele alçou voo saiu pela janela, deixando a garota intrigada. 

― Ele pode fazer isso? Sair sem sua companhia? ― perguntou, franzindo o cenho. 

― Eu não sou dono dele, Lucy. ― respondeu Raito, dando uma curta risada. 

Voltaram a atenção para o site da universidade. O garoto, como sempre, gabaritou e ficou em primeiro na classificação. Lucy não foi tão sortuda. Acertou apenas oitenta por cento da prova, mas, mesmo assim, conseguiu ficar em quinto no ranking de seu curso. 

― Bom, pelo menos não zerei, como pensei que faria. ― comentou ela, saindo da cadeira ao lado do amigo e indo deitar-se na cama, olhando para o teto. 

― Só não acho que vai ser tão fácil alguém esquecer do tombo que você levou. ― Ele sorriu, tirando sarro da situação. ― O que você viu lá? Um fantasma?  

― Quase isso. ― respondeu em um suspiro, ignorando a tentativa de Raito fazê-la ficar brava. 

Ainda tinha a conversa com L no campus na cabeça. Perguntava-se qual era a pontuação dele. Na verdade, não conseguia parar de pensar nele por um segundo sequer, o que era realmente frustrante. Lembrar de seus olhos negros a sondando, sua voz calma e inexpressiva, o corpo magro e a pele pálida... Novamente, os arrepios assaltaram sua espinha dorsal. Chegou à conclusão que estava ficando louca. Tinha que arranjar um jeito de tirá-lo de sua mente. 

Abanou a cabeça como se quisesse espantar um mosquito. Olhou para Raito. Continuava sentado em frente ao computador, pensativo. Seu perfil era impecável, assim como o corpo que ela sabia que ele tinha por debaixo daquelas roupas muito formais para um adolescente. Sempre perfeito. Acabou sendo atraída pelas coxas de músculos firmes, subindo os olhos um pouco mais do que devia. 

Involuntariamente, apertou os músculos das próprias coxas, respirando mais rápido. Sua mão descia e subia pelo próprio tronco, enquanto ainda observava o amigo. As mãos largas, os lábios finos e corados, os cabelos macios. Sabia o que aquilo significava. 

Sem pensar mais, foi até ele e sentou-se em seu colo na cadeira, de frente, uma perna para cada lado, atraindo a atenção dele para si. Raito a olhou assustado, depois deu um meio sorriso. 

― Ok, faz tempo que algo assim não acontece. ― comentou com um tom desconfiado. ― Como devo interpretar isso? 

Sentir as pernas masculinas sendo apertadas pelas suas próprias fazia Lucy ofegar e sair de si. Sem pestanejar por um segundo, beijou-o, o quadril indo de encontro ao dele de forma brusca, segurando nos fios lisos e macios do garoto. Naquela hora, era um animal feroz, que precisava ser saciado. Aprofundou o beijo, sentindo em cada músculo a adrenalina e a excitação de experimentar um sentimento que há tempos negligenciara. 

Raito, por sua vez, agarrou a cintura da amiga com força e correspondeu à altura. Luxúria era pouco para descrever o sentimento que agora o atacava por todos os lados. Deslizou os dedos pela coluna dela, constatando com satisfação como ela tremia e se chocava mais a ele. Apertou suas nádegas com força, depois as coxas, talvez um pouco aborrecido por querer aquilo até mais do que ela.  

Puxou os cabelos negros com brutalidade e separou seus lábios, sorrindo ofegante ao ver a face de Lucy com uma expressão de total desejo. 

― Por quê? O que deu em você? ― murmurou, voltando a segurar com força a cintura dela com a outra mão. 

― Não pergunte. ― respondeu a garota, também com a respiração acelerada. Lentamente ela levantou a camiseta branca que usava, tirando-a e deixando à mostra o busto branco e macio, coberto apenas por um delicado sutiã. ― Só me faça sentir isso de novo. Eu quero isso. 

Começou a desabotoar a camisa de Raito, respirando muito perto do pescoço dele, depois lambendo com a ponta da língua e enfim mordendo. O garoto perdeu o controle. Ela sabia que esse era seu ponto fraco. Levantou-se e, sustentando-a no colo, levou-a até a cama, jogando-a ali. Sentou-se por cima dos quadris dela, prendendo os pulsos finos para cima com uma mão, a outra no pescoço delicado. 

― Como quer que eu faça? 

Ela entendeu a pergunta. Um sorriso safado escapou de seus lábios. 

― Você sabe. Com força. Me foda com força. 

Raito não demorou a atender o pedido. Não se surpreendeu nem um pouco, pois a conhecia como ninguém. Não reclamava, era também seu estilo favorito. 

Lucy, por sua vez, sentia-se extasiada enquanto o resto de suas roupas eram arrancadas com violência. Sua mente viajou, e ela finalmente teve sua válvula de escape.  

Passaram o resto do dia no quarto sem serem interrompidos, nem mesmo por Ryuuk. Cansavam-se, dormiam, e recomeçavam tudo de novo, em um ciclo vicioso. A tensão sexual entre os dois estava forte e pulsante, era impossível não sentir o cheiro característico daquele ato no ar. 

Só pararam quando finalmente a luz da lua entrava pela janela da sacada aberta, assim como a fresca brisa da noite de primavera. O garoto sentava-se nu na cama, coberto apenas pelo lençol abaixo do quadril, perdido em pensamentos. A amiga estava ao seu lado, deitada de bruços, ressonando suavemente. 

― Sempre fiquei imaginando por que nunca namoramos. ― Raito quebrou a quietude, começando um carinhoso cafuné nos cabelos de Lucy. 

Ela virou-se de lado para encará-lo. Pela pálida claridade dava para ver marcas esverdeadas e arroxeadas na pele frágil. Suspirou, parando alguns segundos para ponderar a fala dele. 

― Por que você é um mulherengo egocêntrico que acha que ninguém está aos seus pés? ― brincou, dando risada. 

Ele riu também, olhando-a com os olhos estreitados. 

― Eu estou falando sério, engraçadinha. Nos conhecemos desde crianças, temos interesses em comum, sabemos tudo um do outro... ― deitou-se sobre o corpo dela, apoiando os cotovelos no colchão. ― E até isso é melhor do que o normal. Ainda não consigo entender. 

Lucy abraçou o pescoço do amigo, dando-lhe um beijo logo em seguida. Ele tinha razão. Pareciam feitos um para o outro, e ele a deixava mais que saciada. Mas, algo ainda faltava. Ela o amava sim, mas não no sentido romântico. Quando pensava em um parceiro, não era ele quem lhe vinha em mente. 

― Eu não sei, Raito. Você me ama dessa forma? 

Ele pensou por um momento, e fez um movimento negativo com a cabeça. 

― Não. E você? 

Ela fez o mesmo movimento. Ele franziu o cenho, mas logo sorriu torto. 

― Mas, quem disse que precisamos nos amar? Temos algo muito maior que isso. 

Dessa vez, foi Lucy quem sorriu. 

― Acho que estamos bem como estamos. ― ficou séria de repente, tirando delicadamente a franja de Raito da frente do rosto dele. ― Mas, tem uma coisa que me faria aceitar essa proposta, se decidisse fazê-la. 

― E o que seria? 

― Que você desistisse de toda essa coisa de Kira. Que voltasse a ser só o meu Raito. Quando você fala como Kira, me assusta. Não parece você.  

Ele soltou um silvo frustrado e deitou-se de barriga para cima ao lado dela. 

― Sabe que não posso parar. Só eu posso fazer isso, Lucy. ― A voz dele era grave e irritada. ― Estou tentando criar um mundo onde você, pessoas como você, possam viver felizes. E nada vai me impedir de conseguir isso. 

A garota já sabia da resposta antes de ele a falar. Suspirou, passando a mão pelo rosto dele e descendo para o abdômen magro e rígido, parando perto da virilha. Repousou a cabeça no ombro do amigo, uma expressão triste em seu rosto. 

Raito já havia escolhido seu caminho. A missão dela agora era não deixar que ele fosse consumido. 

― Eu gosto disso. ― falou ele de repente. ― Às vezes, me sinto solitário com toda essa história de Kira. Não posso contar a ninguém, contar com ninguém. Mas, com você é diferente. ― abraçou-a, entrelaçando as pernas nas dela. ― Você está aqui, agora. Sinto que você é a única em quem posso me apoiar. Diga-me que nunca vai me abandonar. 

Lucy ficou sem reação por uns segundos. Será que poderia fazer essa promessa, e cumpri-la? E por que tinha dúvidas? Renegou L para proteger Raito. Ela tinha que prometer. 

Beijou-o novamente, sentando nos quadris dele. Era melhor que nada falasse. Seu corpo às vezes se expressava melhor que suas palavras. 


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Notas finais do capítulo

Quaisquer opiniões, não se sintam acanhados em me dizerem! Até a próxima!



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