Efeito Borboleta escrita por deboradb


Capítulo 2
Manipulando o Tempo.


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo kkkk espero não ter demorado.
Queria agradecer a todos os que favoritaram e que comentaram, fico muito feliz por saber que estão gostando da história. Espero que gostem desse segundo capítulo. Boa leitura :)



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Meus olhos estavam arregalados e analisavam toda a sala de aula com espanto. Meu coração encontrava-se em um estado crítico de pulsação acelerada e o ar parecia não querer entrar por minhas vias respiratórias. Meu corpo estava trêmulo e tudo só piorava conforme algumas pontadas eram sentidas em minha cabeça. Eu estava quase entrando em pânico. Mas que porra era aquela que estava acontecendo? Era algo insano e completamente sem sentido. Em um momento eu me encontrava no banheiro vendo minha melhor amiga ser morta por Gale, e no outro eu estava de volta a minha aula de fotografia. Como era possível? Estaria eu tendo um sonho dentro de outro sonho?

— Alfred Hitchcock uma vez disse que os filmes eram “pequenas partes do tempo”. Mas ele poderia estar falando de fotografia, e provavelmente foi o que aconteceu. — desperto de meus questionamentos internos com a voz de Seneca.

Não. Não era possível que eu estivesse tendo um sonho dentro de outro, pois tinha a absoluta certeza de que já havia assistido a aquela aula.

— Essas “partes do tempo” podem nos mostrar a nossa glória e a nossa tristeza; desde cores até o “chiaroescuro”.

As palavras de Seneca só confirmaram as minhas suspeitas, pois aquele era o momento em que Madge seria ridicularizada por Clove. E não precisei aguardar mais que dois segundos para logo capturar a imagem de Clove atirando a bolinha de papel em Madge. Puta merda!

O que diabos está acontecendo? Será que estou ficando louco?

Sinto o ar se tornar escasso em meus pulmões, dificultando a minha respiração. O professor permanece falando, mas sua voz chega abafada aos meus ouvidos. E, em um movimento de puro nervosismo e inquietação, acabo batendo acertando o cotovelo em minha câmera que estava em cima da mesa, fazendo a mesma se estilhaçar no chão. Droga! Mas que azar.

— Agora, vocês podem me dar um exemplo de um fotógrafo que capturou a condição humana nesse contexto do claro-escuro?

Certo, se estou maluco, é melhor ir até o final... Eu consigo mesmo voltar no tempo?

Tento acalmar as batidas desenfreadas de meu coração, para só então conseguir respirar normalmente. Dou uma boa olhada nos colegas a minha volta, certificando-me de todos estarem concentrados na aula, para então erguer minha mão em direção à câmera, exatamente como fiz no banheiro. Fecho os meus olhos e respiro profundamente. Bastam apenas alguns segundos para eu sentir um leve tremor trespassar meu corpo, juntamente com uma pequena fisgada na cabeça, intensificando a dor que ali eu já sentia. Quando enfim as sensações estranhas passam, abro meus olhos lentamente, somente para deparar-me com minha câmera sobre a mesa, intacta, como se nada tivesse acontecido.

Eu fiz... isso? Puta merda, eu realmente fiz isso!

Aquilo era assustadoramente estranho e insano. Como era possível? Analiso minhas mãos um pouco tremulas, sentindo um misto de pavor e excitação. Era como se eu fosse uma máquina do tempo humana. Sentia-me dentro de um dos filmes de ficção cientifica que costumava assistir.

Ok, Peeta, não enlouqueça. Não ainda. Mantenha a calma.

—... Por causa das imagens de rostos sem esperança que ela costumava fotografar. Você se sente completamente aterrorizado com as mães tristes e seus filhos. — a voz cheia de egocentrismo de Glimmer me desperta de meus devaneios.

Uma lista imensa de perguntas já era elaborada pela minha mente conflitosa, no entanto, eu necessitava de provas ainda mais concretas para ter certeza de que não havia ingerido nenhum tipo de droga por engano. Então me recordei de que quando tirei minha selfie, Seneca me fez uma pergunta. Se isso acontecesse novamente, eu teria a prova de que não estava ficando louco e que aquilo era sério.

— Sério, eu poderia enquadrar qualquer pessoa em um canto escuro e capturar nela um momento de desespero... — pego minha câmera com cuidado, direcionando a lente para mim e tiro a fotografia, consequentemente atraindo a atenção de boa parte dos alunos, incluindo o professor — Acho que o Sr. Mellark acabou de tirar o que vocês crianças chamam de selfie. Uma palavra idiota para uma tradição fotográfica incrível. E o Peeta... Bom, ele tem um dom. — seus olhos me analisam através das lentes dos óculos — Agora, Peeta, já que você capturou nosso interesse e claramente quer participar da conversa, pode nos dizer o nome do processo que deu origem aos primeiros autorretratos?

Meus olhos estavam levemente arregalados diante a constatação de que eu não estava sonhando ou até mesmo drogado. Aquilo era verdadeiro, era real. Eu realmente tinha o poder de voltar no tempo. Mas como? Katniss. Seu nome grita em meus pensamentos, fazendo todos os meus músculos tencionarem. Se eu realmente havia voltado no tempo, então tinha a possibilidade de ela ainda estar viva.

Droga, eu preciso chegar logo ao banheiro! Preciso salvá-la!

— Desculpe-me, professor, mas estou passando mal. Poderia me dar licença? — tento parecer o mais convincente possível.

— Boa tentativa, Peeta. Mas você não vai se safar tão facilmente. Vamos ter uma conversinha após a aula. — avisa me fitando seriamente — Alguém por aqui sabe a resposta correta?

Mas que merda! Agora o Seneca quer que eu fique aqui após a aula. E eu preciso de tempo para salvar Katniss.

— Louis Daguerre. — Glimmer responde de pronto — Foi um pintor francês que criou o Daguerreótipos, um processo que deu um estilo reflexivo aos autorretratos, como um espelho.

— Muito bem, Glimmer. — ele elogia a loira.

Bom, e se eu voltar no tempo e der a resposta certa para ele?

Elevo minha mão mais uma vez e concentro-me no exato instante em que ele havia me feito à pergunta. O ambiente ao meu redor começou a tornar-se destorcido e a retroceder rapidamente. Senti o tremor subir por meu corpo e uma fisgada um pouco incomoda atingir meu cérebro.

— Agora, Peeta, já que você capturou nosso interesse e claramente quer participar da conversa, pode nos dizer o nome do processo que deu origem aos primeiros autorretratos?

— O processo Daguerreótipo. Inventado por um pintor francês chamado... Ahn... Louis Daguerre. – respondo rapidamente.

— Alguém esteve lendo além de fotografar. Bom trabalho, Peeta. — parabeniza-me e ouço Glimmer bufar a minha esquerda.

— O processo daguerreótipo tornou o retrato muito popular, principalmente porque trouxe uma imagem clara e definida. Vocês poderão aprender mais quando terminarem de ler os capítulos que falei. E o Peeta, até agora, está bem à frente de todos. — o sinal toca, fazendo-me suspirar de alivio e ao mesmo tempo de nervoso. O professor Seneca avisa sobre a importância de entregar uma fotografia para participar da competição Heróis do Cotidiano, da qual não dou muita importância. Naquele momento eu só queria chegar o mais rápido possível ao banheiro para salvar Katniss.

De modo apressado e desengonçado, guardo minhas coisas rapidamente dentro da mochila e me dirijo até a porta, porém antes que eu tenha a chance de sair da sala, sou barrado por Seneca.

— Estou vendo você, Peeta Mellark. Nem pense em sair daqui até conversarmos sobre a sua participação. — o amaldiçoo mentalmente enquanto sigo a passos pesados em sua direção — Eu jamais deixaria uma das futuras estrelas da fotografia não enviar uma foto.

— Não estou lhe evitando, Sr. Crane, é só que eu...

— Está ganhando tempo? Esperando o ilusório “momento certo”? — questiona em tom de complemento ao interromper-me.

— Exatamente.

— Peeta, não espere demais. O John Lennon uma vez disse que: A vida é aquilo que acontece quando você está fazendo outros planos. — aconselha-me — Pode ir, não quero detê-lo. — ele volta-se novamente para Glimmer, que havia permanecido em silêncio durante todo o nosso diálogo.

Saio o mais rápido que consigo da sala, esperando chegar ao banheiro a tempo. Era uma situação bastante complicada e preocupante, saber que Katniss estava correndo perigo me deixava extremamente apavorado. E apesar de querer muito, não podia contar a ninguém o ocorrido, iriam achar me chamar de maluco e com certeza ririam da minha cara. Com o coração na mão, corri o mais depressa possível, esbarrando em alguns alunos pelo corredor, até chegar à porta do banheiro, ofegante. Hesitei por não mais de três segundos e finalmente adentrei o mesmo.

Certo, Peeta. Refaça cada passo... Lave o rosto. Rasgue a foto. E tire uma fotografia da bela borboleta.

Após ter refeito todos os passos, ouço a porta ser aberta, e então tudo volta a acontecer. Sinto minha respiração tornar-se descompassada enquanto minhas mãos começam a soar. Concentre-se Peeta, você precisa salvar a Katniss! Começo a vasculhar o carrinho de limpeza como da última vez, a procura de algo que possa me ajudar, e mais uma vez não encontro nada de útil. Bufo de modo frustrado enquanto levo as mãos até meus cabelos.

— Deixe-os fora disso, vadia. — ouço a voz de Gale sair entre dentes e inclino-me para observá-los.

— Posso dizer a todo mundo que Gale Hawthorne não passa de um retardado que implora como uma garotinha e fala sozinho. — Katniss o empurra com deboche.

— Você não faz ideia de quem eu sou, ou onde está se metendo! – rosna ao retirar a arma do casaco e apontar para Katniss.

Mas que droga, Peeta! Você precisa salvar a Katniss, agora!

— De onde você tirou isso? — ouço-a perguntar assustada — O que está fazendo? Qual é? Abaixa essa coisa!

Nunca me diga o que fazer. Estou muito cansado de pessoas tentando me controlar!

Sinto o desespero tomar conta de meu corpo, e é então que avisto o alarme de incêndio, quase imperceptível atrás de algumas vassouras. Contudo, necessito de algo para poder quebrar o vidro. Eis que rapidamente afasto o carrinho de limpeza do lugar e encontro uma caixa de ferramentas. Perfeito. Abro-a rapidamente e meus olhos se prendem em um martelo.

— Você terá muito mais problemas por isso do que por causa das drogas...

— Ninguém sentiria falta de uma retardada, sentiria?

Retiro-o da caixa de modo afobado, e em um movimento rápido, quebro o vidro e aciono o alarme de incêndio. O barulho ensurdecedor de sirenes começa a ecoar por todos os lados, fazendo-me suspirara aliviado.

— Ah, não... — ouço a voz de Gale sobressaltar o barulho do alarme e instantaneamente me volto para observá-los, bem a tempo de ver Katniss dar uma joelhada bem nos “países baixos” do Hawthorne.

— Nunca mais encoste em mim, sua aberração! — ela profere enfurecida antes de sair do banheiro.

— Outro dia de merda. — Gale resmunga antes de pegar a arma e ir embora.

Não consigo evitar mais um suspiro aliviado. Katniss estava viva, estava bem. Mas, mesmo a salvando, ainda custava acreditar que eu realmente conseguia voltar no tempo e mudar os acontecimentos. Como isso foi acontecer? Quando eu ganhei esses meus poderes? Por hora, aquilo não importa. O que realmente importava era saber que Katniss estava são e salva.

Aproximo-me de uma das pias e jogo água em meu rosto, em uma tentativa de acalmar os meus nervos. Saber que se eu não tivesse esses “poderes” a minha morena poderia estar morta, fazia uma dor dilacerante tomar conta do meu coração e da minha alma. Fecho os olhos por alguns instantes e balanço a cabeça para espantar as lembranças ruins, saindo do banheiro logo em seguida, somente para dar de cara com o segurança Abernathy.

— Ei, você ouviu o alarme de incêndio? Isso significa que deveria estar lá fora. — repreende-me duramente.

— Eu tive que usar o banheiro. — minto, não necessariamente.

— Vocês sempre usam essa desculpa. — resmunga em um revirar de olhos.

— Desculpa para o quê? — pergunto um tanto confuso.

— Para seja lá o que você esteja planejando. Sua cara está coberta de culpa.

— O alarme me assustou, oras. — argumento.

— Então vaza daqui, garoto. Ou você está escondendo algo? Hein? — ele se aproxima de mim, de modo intimidador.

—Obrigado, Sr. Abernathy, a situação está sob controle. Não temos uma emergência aqui. — intervém o diretor Snow, a alguns metros de nós. — Agora, deixe o Sr. Mellark em paz e desligue o alarme, já que este é seu trabalho. — Haymitch prontamente o obedece, mas antes de sair, lança-me um olhar severo. Meio acanhado, coloco as mãos nos bolsos e aproximo-me do diretor.

— Você parece um pouco estressado. Está tudo bem? — pergunta ao analisar-me com atenção.

— Está sim, eu só... estou um pouco preocupado com o meu futuro. — tento soar tranquilo diante a inverdade de minhas palavras.

— Você está suado. — observa — É só isso mesmo? Você pode sempre confiar em mim, Peeta.

— Sei disso, diretor. — tento sorrir — Não se preocupe. De verdade, estou bem. E obrigado por me salvar do Haymitch.

— Sempre que precisar, Sr. Mellark. Até mais.

— Até. — dou-lhe as costas e saio da escola indo em direção ao campus. O sol brilhava alto no céu enquanto a brisa fresca soprava tranquilamente, levando consigo algumas folhas. Alguns alunos passeavam de lá para cá, outros simplesmente descansavam debaixo das árvores, sem se importarem com os problemas, sem se importarem com o tempo.

Senti mais uma vez a leve fisgada em meu cérebro e prontamente busquei um banco para sentar-me. Devia ser somente o cansaço psicológico, afinal, foram muitas coisas para apenas algumas horas. Estava completamente confuso, ainda tentando entender tudo o que acabara de acontecer. Em um dia eu era apenas um cara normal que ai a escola e amava fotografia, no outro, via a minha melhor amiga morrer e em contra partida, descobria habilidades que me permitiam voltar no tempo. Isso tudo parecia uma tremenda loucura. Quando foi que no mundo real o impossível passou a ser possível?

Respirei fundo e balancei a cabeça, tentando deixar minha mente limpa antes que enlouqueça com todas as perguntas. O vento soprou mais uma vez, trazendo consigo um cartaz de desaparecidos. O peguei com cuidado para analisar, e nele havia uma foto de uma garota, bastante bonita por sinal. Os cabelos na altura dos ombros, acompanhados de algumas mexas avermelhas. Ela estava sorrindo e parecia realmente feliz. Li a descrição onde falava seu nome. Johanna Mason, 19 anos, desaparecida há meses. Havia também um número de telefone para entrar em contado caso alguém soubesse de algo. Fiquei imaginando como deveria estar à família daquela garota. Desde que voltei para a cidade, via sempre esses cartazes a procura dela por todos os lados, deviam estar desesperados.

Deixei o cartaz de lado ao avistar Katniss passar não muito longe de mim. De modo afobado, apressei-me e fui até ela, meu coração começando a acelerar.

— Katniss. — chamo, e no exato instante em que ela se vira, abraço-a bem apertado. As lembranças de seu corpo ensanguentado, sem vida, caído no piso do banheiro vieram como bombardeios em minha mente, fazendo-me apertá-la ainda mais em meus braços.

Acalme-se Peeta. Ela está bem. Ela está segura. E o mais importante, ela está viva.

— Posso saber por que você fez isso? — pergunta, empurrando-me para longe antes de cruza os braços emburrada.

— Por nada, eu só... estou feliz por você estar bem. — respondo meio sem graça, e como resposta, ela revira os olhos.

— Engraçado você se importar agora, depois de ter passado cinco anos sem me mandar nenhuma mensagem. — alfineta com um sorriso sarcástico.

— Katniss, eu já diss...

— Esqueça, Mellark. Não quero ouvir suas desculpas. Agora se me der licença, não posso me atrasar para a aula. — ela dá um tapinha em meu ombro antes de sair, sem me dar à chance de argumentar.

Eu sabia que havia pisado – e feio – na bola com ela, mas estava disposto a fazer de tudo para que nossa amizade voltasse a ser como era cinco anos atrás. Seria difícil, extremamente difícil se tratando de Katniss Everdeen, mas eu iria conseguir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. E quanto ao próximo capítulo, não sei ao certo que dia irei postar, mas farei o possível para não demorar. Beijão e até...