Efeito Borboleta escrita por deboradb


Capítulo 16
Realidade Alternativa (Parte 2).


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei! kkkk
O capítulo está bem intenso e triste, mas espero de coração que gostem.
Tenham uma boa leitura...



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Uma vez eu havia lido em um livro sobre uma antiga lenda oriental, que falava sobre um fio vermelho responsável por interligar pessoas destinadas a serem um só. Não importava quantas vezes o fio fosse esticado, enrolado, ou até mesmo se desse mil voltas em torno do planeta, nada e nem ninguém jamais seria capaz de impedir que as duas pessoas entrelaçadas se encontrassem. Esse fio vermelho tinha um dono, um dono chamado destino, então ele nunca, em hipótese alguma poderia ser quebrado. Mas nem sempre as pessoas destinadas tinham o seu final feliz logo de cara, às vezes eles passavam por momentos decisivos que os separavam, porém o fio permanecia lá, inquebrável. Esse fato poderia ocorrer quando os destinados perdiam o caminho um para o outro, por vezes apenas um descuido, por outras um erro de cálculos, ou então por conta da morte. O fato era que eles sempre estariam conectados, independente do tempo, do lugar ou da hora.

Quando li sobre aquilo desacreditei, pois para mim não passava de uma mera bobagem. Mas agora, agora eu tinha absoluta certeza de que a força que me interligava a Katniss era na verdade o fio vermelho comando pelo destino, o mesmo destino que por vezes havia se mostrado tão cruel em relação as nossas vidas. Então, como eu poderia confiar nele? A verdade era que eu não podia, pois apesar de o fio vermelho ser inquebrável, ao longo de nossas vidas sempre haveria dois grandes amores, um com quem você poderia casar, ter filhos, formar uma verdadeira família. Com essa pessoa você conseguiria o companheirismo máximo, sendo feliz pelo resto da vida. E também havia aquela outra pessoa, aquela que você sempre perderia. Alguém que nasceu tão conectado a você ao ponto de as forças da química escaparem da razão e impedirem, sempre, você de encontrar o final feliz. Até que um dia, já cansado de tentar, você partiria para o próximo, encontrando assim o outro amor, mas você não passaria uma noite sequer sem desejar um beijo, um abraço ou carinho da sua alma gêmea. E apesar de um pouco confuso, eu sabia que Katniss era aquele amor que eu sempre perderia, entretanto, eu estava disposto a lutar por ela até o meu último suspiro. Jamais desistiria de nós, pois, certas vezes, se desprendia mais energia discutindo com quem se ama, do que fazendo amor com quem se aprecia. Por isso, o meu objetivo agora era achar uma forma de concertar a bagunça que eu havia criado na linha do tempo e tentar, de alguma forma, encontrar o nosso final feliz.

No exato instante em que saio do quarto de Katniss – ainda com a respiração ofegante e o coração acelerado – avisto Thomas sentado à mesa de jantar, parecendo bem concentrado enquanto digita em uma calculadora e logo em seguida anota algo em um pedaço de papel. Aproximo-me lentamente dele e quando paro ao seu lado, meus olhos são rapidamente direcionados para a manchete na capa do jornal sobre a mesa, onde havia uma foto de Johanna e em baixo a legenda de pessoa desaparecida. Aquele fato me surpreendeu bastante, já que naquela outra realidade era exatamente tudo ao contrario, mas pelo visto, tudo menos o fato de a Mason permanecer desaparecida.

— Hey, Thomas. — chamo, atraindo sua atenção — Estou incomodando?

— Não, de maneira alguma. Só estava aqui fazendo algumas contas. Sabe como é, né? Eu amo lidar com as contas. — brinca — Quanto tempo, não?

— Muito tempo. — sorrio amarelo — Mas é muito bom estar aqui novamente... Você está exatamente o mesmo.

— Ótimo, porque eu ficaria assustado se não parecesse comigo mesmo... — ele ri, mas logo sua expressão risonha é substituída por uma séria ao analisar-me minuciosamente — Está tudo bem? — pergunta com o cenho levemente franzido e solto todo o ar de meus pulmões. Ele conhecia-me muito bem para saber que algo estava me incomodando.

— Eu... Eu não sei... — murmuro um pouco perdido — Eu só estou muito preocupado com a Katniss. Sinto muito pelo que aconteceu com ela.

— Todos sentimos... — suspira — Basta apenas alguns segundos para que a vida de uma pessoa mude completamente. — acrescenta com pesar.

— Por um acaso ela está... chateada comigo por eu não ter mantido contato? — pergunto meio temeroso.

— Ela estava desapontada, mas sabe que você se importa. — seus olhos fitam os meus com carinho e com uma certa dose de tristeza — Eu sei o quão difícil é processar tudo isso. Demorou anos para nós.

— Eu imagino, mas quero que saiba que, independente do que aconteça, sempre estarei aqui para a Katniss. Sempre. — declaro com sinceridade.

— Eu sei que estará, Peeta. — sorri de forma doce — E acho que está sendo ótimo para a Katniss ver você. Então não são apenas notícias ruins em Arcadia Bay... ou são? — ele eleva uma sobrancelha e acabo soltando um riso baixo.

— Não, não são. — nego ao mesmo tempo em que levo minhas mãos até os bolsos de minha calça, tentando de algum modo deixar o nervosismo de lado — Ahn... Eu me surpreendi bastante com todos os equipamentos de alta tecnologia no novo quarto da Katniss. Deve ter sido bem caro, não?

— E como. Daria para comprar algumas mansões com todo o custo. — ri sem humor — O seguro até ajuda, mas... Não sei, Peeta. — ele solta um suspiro frustrado — Essas contas são bem esmagadoras. Temos que hipotecar a nossa casa e isso é bem assustador... Mas nós superaremos.

— Tenho certeza que sim. — sorrio tristemente, sentindo-me péssimo — Bom, agora eu tenho que subir para pegar uma coisa para a Katniss... Foi ótimo falar com você novamente, Thomas.

— Você está agindo como se fosse à última vez... — observa, estreitando olhos em minha direção e isso me deixa um tanto quanto desconfortável, mas logo em seguida ele sorri, desistindo de tentar encontrar alguma resposta em minha expressão — Está tudo bem, Peeta. Até daqui a pouco então.

— Até. — lanço-lhe um último olhar antes de seguir para o segundo andar da casa.

Era extremamente bom conversar com Thomas novamente, mas de fato, talvez aquela realmente fosse a nossa última conversa. Eu ainda estava completamente confuso, perdido e extasiado por conta daquela nova realidade. Estava sentindo-me extremamente culpado por fazer Katniss e sua família passarem por tudo aquilo. Eu poderia muito bem dar a ela a chance de deixar o Thomas vivo, mas aquilo seria cruel demais. Entretanto, eles eram uma família novamente, então, quem eu era para julgar?

Suspiro pesadamente ao adentrar o banheiro, sentindo um leve tremor trespassar por meu corpo antes de começar a vasculhar os armários em busca da morfina de Katniss, encontrando o pequeno frasco em uma das prateleiras segundos depois.

Nunca achei que entregaria morfina para a minha melhor amiga.

Saio do banheiro de cabeça baixa, pensando em um modo de reverter toda aquela situação sem que mais ninguém precisasse se machucar, quando acabo trombando com Clara já no final das escadas e por pouco não vamos de encontro ao chão.

— Clara! Caramba! Desculpa. Eu estava tão distraído que não a vi. — desculpo-me rapidamente, escondendo de modo disfarçado a morfina dentro do bolso de minha calça.

— Sem problemas, querido. Acidentes acontecem. — ela sorri, mas sua expressão demonstra completa exaustão — Você parece preocupado... Está tudo bem? — questiona, analisando-me com atenção.

— Sim, está... — forço um sorriso — Deve ser somente cansaço. Dormir em uma poltrona não me parece mais tão confortável como antigamente.

— E de fato, não é. — ela solta uma risadinha — Fora que, você e a Katniss agora estão muito mais quietos do que naquela época.

— Bem mais quietos. — rimos — É tão bom acordar aqui novamente... — solto um suspiro nostálgico.

— Thomas e eu amamos isso. Finalmente ver você e a Katniss juntos depois de todos esses anos... depois do acidente... — seu tom de voz se torna baixo.

— Eu sei, mais ainda não é o suficiente, Clara. Eu queria e poderia ser um amigo muito melhor para a Katniss. — comento meio cabisbaixo.

— Ah, Peeta, você é o melhor amigo da Niss por um motivo... Você está aqui, agora, justo no momento em que ela mais precisa. — ela me lança um sorriso sincero ao mesmo tempo em que afaga meu ombro com carinho.

— E eu não irei mais embora. — afirmo, tentando retribuir seu sorriso da melhor forma que consigo — Ahn... Clara, quem ajuda a Katniss quando vocês estão trabalhando? — questiono quando a pergunta surge em minha mente segundos depois.

— Bem, temos vários enfermeiros e zeladores rotativos... e a Katniss ainda causa problemas, apesar de não conseguir se mexer... — ela solta um riso melancólico e logo em seguida suspira pesadamente — A verdade é que a condição da Katniss não está melhorando, Peeta. O sistema respiratório dela está bem fraco e ela... ela... — suas palavras se perdem no ar e seus olhos se tornam marejados.

— Oh, meu Deus! — exclamo após concluir sua linha de raciocínio, sentindo todo o ar se esvair de meus pulmões — E-Eu sinto muito por vocês terem que passar por tudo isso... De verdade... Eu não sabia que... que a Katniss... Céus! — levo as mãos até meus cabelos, sentindo a culpa recair sobre meus ombros como uma tonelada, deixando minhas pernas bambas e o meu coração apertado. Eu a estava perdendo mais uma vez.

— Bons ou ruins, eu procuro abraçar todos os momentos com minhas filhas e meu marido. — ela enxuga algumas lágrimas solitárias que escorreram por suas bochechas — É isso que significa ser uma família. E nós sempre seremos uma, não importa o que aconteça.

— Como... Como você está com tudo isso? — pergunto com certa dificuldade devido ao bolo que havia se formado em minha garganta.

— Estou levando, e fazendo o melhor que posso. Não vou mentir, Peeta, é difícil... muito difícil na verdade, mas ninguém disse que a vida era fácil aqui em Arcadia Bay. — confessa e eu a abraço apertado, tentando passar através daquele gesto de carinho um pouco de conforto para ela e, no fundo, para mim também.

Ficamos abraçados e em completo silêncio por longos minutos, até nos separarmos e sorrimos um para o outro, sorriso esse que carregava uma grande e pesada carga emocional de ambas as partes.

— Bom, é melhor eu voltar para a Katniss agora... Foi ótimo falar com você, Clara. — despeço-me, tentando ao máximo fazer com que minha voz não saia tão quebrada quanto eu estava me sentindo.

— Foi ótimo falar com você também, querido. — ela beija minha bochecha com carinho antes de sumir escada acima, deixando-me ali, sozinho e com os pensamentos a mil.

Solto um suspiro um tanto quanto pesado, enquanto minha visão se torna embaçada por conta das lágrimas, porém não permito que elas me escapem. Eu não podia fraquejar. Não ali. Não naquele momento. Por isso entreabri meus lábios, permitindo que a passagem de ar fosse feita com mais facilidade e assim, consegui acalmar as batidas descompassadas de meu coração antes de seguir rumo ao quarto de Katniss.

Ao adentrar o mesmo, logo tive os olhos tempestuosos da morena sobre mim, o que me fez abrir um pequeno sorriso enquanto me aproximava de sua cama.

— Finalmente. — ela solta com certo alivio — Dê a pílula azul para mim... — pede e rapidamente retiro e pequeno frasco de meu bolso.

— Sinto muito pela demora. Sou curioso, mas não muito preciso.

— Tudo bem, agora... Só vá em frente e coloque. É fácil... e indolor. — fala, indicando o Equipo com o olhar.

— Ahn... Ok, mas prepare-se para gritar caso eu ferre com tudo. — comento meio nervoso e ela solta uma risadinha.

— Ah, acredite, eu vou gritar. — desta vez sou eu quem rio, mas logo o silêncio se apossa do quarto, enquanto me concentro na tarefa de injetar a morfina em seu equipo de soro. Após executar minha tarefa, volto-me para Katniss novamente, vendo sua expressão se tornar aliviada — Minhas dores só estão piorando cada vez mais... mas você me pegou em um bom dia. — ela lança-me um pequeno e triste sorriso — Eu estou tão feliz por você estar aqui comigo, Peeta... — seus olhos se prendem nos meus — Está vendo, já estou ficando sentimental... e doidona. — acrescenta com humor e acabo rindo.

— Você é tão fofa. — falo de modo divertido — Precisa de mais alguma coisa?

— Hmm... Fale se eu estiver sendo emotiva demais, mas você poderia pegar um dos álbuns de fotografia logo ali? — indica com o olhar à escrivaninha do outro lado do quarto, próximo a janela — Eu queria ver algumas fotografias nossa de quando éramos crianças.

— Por favor, meu diário é tipo o ápice emotivo. — brinco enquanto vou em direção à escrivaninha, tendo o prazer de ouvir o doce som de sua risada — Além do mais, Peeta Mellark jamais perderia uma oportunidade fotográfica com Katniss Everdeen. — acrescento ao pegar o álbum já desgastado pelo tempo. Volto para a poltrona perto de sua cama e posiciono o álbum sobre suas pernas — Assim está bom?

— Está perfeito. — responde, e então começamos a observar as diversas fotografias — Minha nossa! Olha como éramos pequenos aqui! Parecíamos brinquedos!

— Eu lembro bem daquele dia no farol. — comento com um sorriso ao encarar nossas versões mais jovens na fotografia.

— Meu pai estava indignado com a gente. Ele tentou nos dar um intervalo...

— E você riu dele. — completo — Meu pai teria me exilado. — balanço a cabeça e acabamos rindo. Folheio mais algumas páginas até dar de cara com outra foto nossa, só que agora trajados de piratas.

— Uou, que foto incrível! Estávamos tão legais com as roupas de pirata. — seus olhos adquirem um brilho encantador.

— Deveríamos ter dominado Arcadia Bay quando tivemos a oportunidade. — deixo escapar um suspiro, sentindo saudades daquela época. Tudo parecia tão mais fácil, mais feliz. Bem diferente de agora, onde o simples fato de respirar já parece causar problemas.

— Ainda há tempo para você... — ela solta em um tom baixo.

Abro e fecho a boca algumas vezes com a intenção de retrucar suas palavras, porém acabo desistindo. Talvez naquele momento o silêncio fosse o melhor condutor. Viro a página novamente e sinto meu corpo gelar ao dar de cara com a foto responsável pela minha volta ao passado.

— Ah, cara! Aqui estávamos fazendo panquecas. Eu adoro essa nossa fotografia. — a morena sorri com sinceridade — É difícil acreditar que meu pai tirou essa foto há apenas cinco anos.

— Parece literalmente que foi ontem... — murmuro.

— Eu queria que fosse. — declara com uma expressão triste.

— Eu também. — volto minha atenção para a fotografia, sentindo um leve arrepio percorrer minha espinha quando minha mente é bombardeada com todos os recentes e dolorosos acontecimentos.

A função de uma fotografia sempre fora congelar momentos da nossa história pra que pudéssemos recordar no futuro. Mas no meu caso, ao invés de recordar, eu havia sido transportado para o dito cujo momento, podendo assim, alterar os fatos. Só não achei que ao salvar a vida de uma pessoa, eu condenaria tantas outras ao sofrimento.

Mas... talvez eu possa concertar as coisas, ou pelo menos tentar mais uma vez.

— Eu não tenho muito tempo, Peeta. — a voz tremula de Katniss quebra o silêncio, fazendo com que eu desperte de meus pensamentos.

— Como? — pergunto com o cenho levemente franzido, me sentindo um pouco perdido ao encará-la.

— Meu sistema respiratório está falhando, Peeta... e só está piorando cada vez mais. — ela solta um suspiro sôfrego — Ouvi os médicos falarem sobre ele quando acharam que eu estava apagada. Então sei que estou somente adiando o inevitável e, consequentemente, fazendo meus pais e minha irmãzinha sofrerem. E não era assim que eu queria que as coisas acabassem. — seus olhos se tornam marejados e adquirem um tom mais escuro, podendo assim, serem facilmente comparados a um mar revolto em meio a uma tempestade.

— O quê? O que está dizendo? — pergunto em um misto de preocupação, medo e apreensão.

— Estou dizendo que estar com você de novo foi muito especial. Eu só queria me sentir como quando éramos crianças, correndo por Arcádia Bay... quando tudo era possível. — um soluço escapa por seus lábios conforme as lágrimas vão seguindo caminho por suas bochechas — E você fez com que eu me sentisse dessa maneira hoje. E eu só quero que esse tempo com você seja a minha última memória... entende? — ela funga.

— Sim, entendo. — respondo em um tom baixo depois do que pareceram horas em silêncio, onde ficamos apenas nos encarando, cada um provando o gosto de suas próprias lágrimas.

— Então... basta apenas você aumentar a dosagem até o máximo e...

— Katniss, eu não... eu não posso. — a interrompo com a voz embargada, sentindo meu coração se tornar cada vez mais apertado em meu peito.

— Mas você disse que entende... — tenta argumentar enquanto seus olhos adquirirem uma tonalidade avermelhada por conta do choro.

E foi ali, naquele momento, ao ver o sofrimento e a angústia tão vividos em seus olhos que eu soube que, vê-la sofrer havia se tornado a minha maior fraqueza, ainda mais por saber que aquele sofrimento era minha culpa. Em uma tentativa frustrada de tentar salvá-la de uma vez por todas, eu havia simplesmente destruído sua vida. E jamais conseguiria me perdoar por aquilo. Jamais.

— E eu entendo, Katniss, de verdade. E acaba comigo ver você sentindo dor, mas não tenho o direito de fazer isso. — falo um tanto quanto desesperado, aproximando-me mais de seu corpo para poder segurar suas mãos, mesmo sabendo que ela não podia sentir o meu toque.

— Eu sou uma adulta e estou dando a você o direito. — rebate em um tom suplicante.

— Mas a Clara, o Thomas... e a Prim...

— Eu já me despedi deles... — interrompe-me — Porém eles se recusam a realizarem os meus desejos. Mas você vai, não é?

— Eu não... Eu não posso... N-Não posso matá-la com uma overdose, Katniss... Não posso. — choro, sentindo-me completamente quebrado por dentro.

— Peeta, eu estou morrendo por causa da minha doença e não por conta da dose. Ela apenas... acelera o processo. — declara e os sons de nossos soluços se misturam pelo quarto — Eu prefiro mil vezes ir embora em uma onda do que em uma pedra... e apenas quero que o meu melhor amigo me ajude. — suplica.

— E eu vou ajudá-la, mas não dessa forma. — levo uma de minhas mãos até o seu rosto para enxugar suas lágrimas — Você tem que acreditar em mim, Katniss. Por favor. — peço, e então vejo um sorriso irônico surgir em seus lábios.

— Por que, Peeta? Você só está vacilando comigo como todo mundo! — ela me lança um olhar raivoso antes de virar o rosto bruscamente, fazendo minha mão caiar sobre o travesseiro — Por que você não vai embora agora? É o que você quer desde que chegou aqui, não é? Então vá embora e não volte nunca mais! — despeja com amargura, fazendo o peso da culpa se tornar ainda maior sobre os meus ombros. Mas eu não iria embora. E enquanto eu tivesse 1% de chance, também não iria desistir.

— Katniss, olha para mim... Por favor. — peço em uma suplica, sentindo um gosto amargo subir por minha garganta e, meio que relutante, ela volta seus olhos tempestuosos para os meus novamente. Em um movimento rápido e até mesmo calculado, logo colo nossas testas, vendo suas orbes acinzentadas se arregalarem levemente, surpresas pela minha aproximação repentina — Eu jamais deixarei você, Katniss... Não desta vez. — é o que digo antes de colar meus lábios nos seus em um beijo salgado devido as nossas lágrimas, mas que ao mesmo tempo é intenso e cheio de significados.

Segundos depois resolvo descolar nossos lábios, dando de cara com a morena ainda de olhos fechados, parecendo estar em completo deleite devido às inúmeras sensações que aquele beijo nos proporcionou, sendo que entre elas, as principais se resumiam em nossos corações acelerados e as respirações completamente descompassadas. Aquela constatação me fez sorrir com sinceridade, e então resolvi guardar para mim cada mínimo detalhe de sua face tão serena naquele curto momento de torpor antes de, finalmente, afastar-me para segurar firmemente por entre os dedos a fotografia responsável por me levar de volta ao passado.

— Sinto muito, Thomas... — murmuro em um lamento, vendo algumas de minhas lágrimas irem de encontro à imagem com as nossas versões mais jovens e sorridentes.

Vamos lá, Peeta. Está na hora de concertar as coisas.

— Peeta? — ouço a morena me chamar, porém não a encaro, apenas respiro fundo e concentro-me na fotografia a minha frente, vendo a mesma se tornar cada vez mais embaçada conforme as luzes vão aumentando, e então fecho os meus olhos, sentindo o meu corpo ser puxando pela força altamente gravitacional da linha do tempo. Era como se eu estivesse em queda livre em um vácuo infinito e completamente silencioso. Uma sensação realmente estranha e da qual eu jamais me familiarizaria.

Quando o clique da câmera finalmente foi ouvido, eu abri novamente os meus olhos, dando de cara com as versões mais jovens de Thomas e Katniss. A partir daquele momento tudo aconteceu exatamente como da primeira vez, os diálogos, as brincadeiras, os sorrisos, as risadas... Mas eu estava alheio a tudo aquilo enquanto encarava fixamente o fogo queimando na lareira, lutando contra as malditas lágrimas que insistiam em escorrerem por minhas bochechas. Foi então que o telefone tocou, fazendo o meu coração ser fortemente esmagado pela angústia, pela raiva, pelo medo e pela tristeza sufocante de saber que, por mais que eu voltasse um milhão de vezes no tempo, eu jamais conseguiria salvar todas as pessoas.

Com as mãos um pouco tremulas devido a todas as emoções, retirei do bolso a fotografia que Thomas havia acabado de tirar, analisando por uma última vez o brilho de felicidade estampado tanto nos olhos de Katniss quanto nos meus, para logo em seguida jogá-la na lareira, vendo o fogo devastar rapidamente a nossa imagem sorridente. Eu me sentia tão quebrado, devastado, mas acima de tudo, eu me sentia impotente.

Ao fundo eu pude ouvir a voz de Thomas se despedindo de Katniss e aquilo só serviu para fazer o fluxo de minhas lágrimas se tornarem ainda maior. As últimas palavras trocadas. A última brincadeira. O último sorriso. A última vez em que pai e filha olhavam um nos olhos do outro. Como o destino, o senhor condutor do fio vermelho responsável por interligar as pessoas destinadas umas as outras, poderia ser tão cruel? Seria mesmo ele responsável por aquela tragédia? Ou a vida havia simplesmente se aliado a morte e decidido que o tempo de Thomas já havia chegado ao fim? Existia algo maior regendo nossa existência ou tudo acontecia de forma mais ou menos aleatória? Tempo, destino, vida, morte, era tudo tão complexo, tão relativo, inúmeras perguntas para poucas respostas. Mas a dor permanecia lá, dilacerando cada vez mais o meu coração. Do que adiantava ter o poder em minhas mãos se eu não seria capaz de impedir o sofrimento daqueles que eu mais amava?

— Peeta? Está tudo bem? — a voz doce e preocupada da versão mais jovem Katniss surge a minhas costas — Você está agindo de uma forma bem estranha... Aconteceu algo? — questiona, e então viro o meu corpo em sua direção, permitindo que a mesma veja as lágrimas em meus olhos.

— Katniss, eu sinto muito... — minha voz sai embargada — Eu tentei tornar as coisas diferentes para você... Eu... Eu tentei... Sinto muito.

— Ahn... Eu não sei exatamente do que você está falando, mas... você já fez as coisas ficarem diferentes, tipo a minha vida inteira. — ela sorri de forma encantadora — Você é o meu melhor amigo. Eu tenho você e uma grande família. Para que lamentar? — ela leva as mãos até minhas bochechas para enxugar minhas lágrimas — Seremos melhores amigos para sempre e... quando crescermos, vamos dominar o mundo.

— Escute, independente do que aconteça, quero que seja forte. Mesmo que você sinta que não estive ao seu lado... Seja forte, pois eu nunca abandonarei você, Katniss. — declaro segurando-a pelos ombros. Se eu não podia mudar o passado, tentaria pelo menos fazer o futuro menos doloroso — Eu sempre cuidarei de você. Sempre. — eu a puxo para um abraço apertado, fazendo minhas lágrimas caírem sobre o seu ombro quando, de uma hora para outra, uma pontada forte atinge minha cabeça e aos pouco o cenário a minha volta vai se tornando distorcido, indicando que a hora de voltar para a minha verdadeira realidade havia enfim chegado. E desta vez, eu faria as coisas do jeito certo.


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês acharam do capítulo? Bem triste, não? Katniss pedindo ao Peeta para matá-la com uma overdose foi bem desesperador, nossa! Escrevi esse trecho com o coração na mão. E esse final? Demorou, mas o Peeta finalmente aprendeu que ele não pode mudar tudo e que de agora em diante ele tem que pensar muito bem antes de tomar qualquer decisão.

Bom, realmente espero que a demora tenha valido a pena. Tentarei ao máximo não demorar tanto com o próximo capítulo, está bem? Mas é que a inspiração está realmente difícil de ser encontrada kkkk

Beijão e até... ♥