Tudo por você escrita por Lilissantana1


Capítulo 8
Capítulo 8 - Penélope em casa


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Estou postando com calma agora, pq quero ter uma reserva de capítulos para que a sequência fique exatamente como planejei. Obrigada às meninas por estarem aqui acompanhando a fic. AMO! Anna, Rosas, Carina, Mis, Gabi e Evans, BJO



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PENÉLOPE

 

Estava em casa há apenas um dia mas titia já tinha feito todas as perguntas possíveis e imagináveis sobre qualquer assunto que conseguiu pensar. No final daquela tarde iriamos à missa. Ela nunca falta a missa da tarde quando está disponível em casa. Deitada na minha cama, com as mãos sobre o estômago, eu olhava a rua e via apenas o céu de frio depois de uma chuva fina. As nuvens passando lentamente, as árvores se movendo ao saber da brisa. Apesar de ter pensado muito nos meus livros quando estava no meu dormitório, naquele instante não sentia disposição para ler.

Flufy, meu gato amarelo, entrou no meu quarto, miou, veio, se encostou em mim, afofou meu moletom me obrigando a afastar as mãos. Depois, ronronando, se deitou na minha barriga. Afaguei os pelos macios enquanto ele se enrolava em mim.

— Penny... - ouvi, e Victória surgiu de repente na porta. Como essa mulher caminha e não faz barulho? juro que não sei, sempre que transito pela casa parece que estou arrastando os móveis.

— Sim. - respondi olhando na direção da porta.

A figura esguia me olhava carinhosamente.

— Vamos fazer um lanche?

Suspirei.

— Não estou com fome. - expliquei deslizando os dedos pelo corpo macio de Flufy.– Acho que vou comer depois.

Ela não disse nada, ficou parada no mesmo lugar me mostrando que aquela pergunta não fora um convite que esperava qualquer outro tipo de resposta que não fosse a positiva. Suspirei novamente, passei as mãos pela barriga do meu gato e o coloquei sobre a colcha antes de me levantar e seguir Victória até a cozinha.

— Você está muito magra. - ela me disse enquanto descíamos as escadas lado a lado.

— Estou bem. Tenho me alimentado só com coisas saudáveis. - expliquei. Eu seguia sem beber refrigerante. Nunca tomo nada que tenha álcool. Carne quase nunca. Gorduras, menos ainda. Ou seja, estava em absoluta concordância com nossa dieta regular.

Ela me espionou de alto a baixo como se não acreditasse.

— Verdade? Está tão pálida!

— Sim, é verdade. - concordei sorrindo – E estou pálida porque não tomo sol... - nem ela poderia contestar esse fato.

Ela passou as mãos pelo meu moletom.

— Então são essas suas roupas que a deixam tão magra.

— Pode ser. - respondi puxando a barra do moletom para a frente. Eu sempre compro números maiores.

— Está na hora de fazer alguma mudança no seu vestuário. - ela emendou sem me olhar.

Já alcançávamos os último degrau e pensei que Victória não ouvira minha pergunta.

— Mudar?

Titia parou a meio caminho do corredor que nos levaria para a cozinha e me mostrou que ouvira a pergunta:

— O que você acha de comprarmos algo diferente dessas suas calças de moletom e dessas blusas largas?

Sorri.

— Pensei nisso há alguns dias. - falei a verdade.

Parecendo animada ela determinou:

— Então vamos fazer isso depois do lanche.

— E a missa? - perguntei quase sem acreditar que ela me ajudaria nisso.

— Não vamos nos atrasar, há bastante tempo.

— Está bem. - conclui sentando junto a mesa, observando Victória se mover.

A roupa dela é sóbria no trabalho ou em casa. E não é porque ela é advogada. Todas as roupas dela são totalmente formais. Calças, saias, vestidos. Casacos. Camisas. Blazers. Não há uma única peça que você diga: isto poderia ser usado em um passeio pelo parque. Ou no cinema. Tipo. Ela não usa jeans. Balancei a cabeça pensando que talvez ela nunca tenha feito passeios em parques ou cinemas... afinal para que cinema? Ela raramente assisti TV, exceto aqueles programas tipo Master Chef, ou coisas sobre tribunais, leis e afins.

Seu cabelo está sempre arrumado num coque alto e bem feito. A maquiagem é leve. E apesar de toda essa discrição, ela é linda. Absolutamente maravilhosa. Mais alta do que eu, elegante, charmosa. Mas... tem um temperamento muito, muito, muito difícil. É dominadora e autoritária. E eu sou uma das poucas pessoas que conhecem um lado mais suave e carinhoso dela.

— O que sugere que eu compre? - perguntei antes de colocar o sanduíche de pepino na boca.

— Acho que vai precisar de calças jeans. Camisas. Blusas. Essas coisas.

Calças jeans...? eu ia gostar disso! Pensei. Mas, definitivamente, quando ela me apresentou o que tinha em mente não achei que seria uma boa. As calças eram retas e sem forma. Precisavam ser ajustadas no comprimento. As camisas eram tão ou mais sóbrias que as dela. Não pude pegar camisetas. E eu queria camisetas. Também queria blusas. Suéteres. Nem precisava, claro que não precisava, ser como aqueles que a Josy usa. Mas, poderiam ser mais delicados e coloridos. Por que preciso usar apenas cinza, preto e bege? De repente um azul ficaria legal, ou vermelho... um rosa... via tantas cores diferentes sobre o balcão! Nem sabia qual era o mais bonito.

Mas, não contestei, não tenho o hábito de contestar Victória. Ela é tão persuasiva. Acostumada a ser obedecida. Acabo sempre dizendo sim. E no final da tarde, enquanto seguíamos para a igreja no carro dela, eu estava vestida com outras roupas. Mas continuava a me sentir como se estivesse usando as minhas velhas roupas de sempre. A alteração maior estava no fato de que não eram tão largas, mas continuavam sem qualquer cor...

 

******************

 

Quando a noite chegou já estava de volta ao meu quarto me questionando: Por que aquela visita estava sendo tão...tão sem graça? Eu gostava tanto de casa! Gostava tanto das minhas coisas. Dos meus livros. Do meu gato. Do meu quarto e da minha cama grande de casal sempre perfumada e macia.

Estranhamente eu queria voltar para o dormitório. Fazer algo útil. Reler os livros de sempre já não me interessava. O material que encomendei com o dinheiro das aulas particulares só chegaria depois do feriado. Isso queria dizer que não havia nada de novo. Talvez conseguisse algo na biblioteca central da cidade. Como faltava um dia para o feriado ainda estava aberta. No manhã seguinte iria até lá procurar alguma coisa que ocupasse o meu tempo.

Vi a foto de meus pais junto a cabeceira da cama. Um casal bonito sorrindo abraçado. Não lembrava direito deles. Ele era arqueólogo e mamãe o acompanhava onde fosse, sempre. Eles me levavam quando havia possibilidades disso. Tenho algumas fotos em sítios arqueológicos. Mas, quando eles foram para o Peru eu fiquei. Fiquei com Victória. Se tivesse ido com eles teria morrido também. O carro deles caiu numa ribanceira e só foi encontrado meses depois por causa das buscas que minha tia montou.

Ah! Ela é determinada. Será que falei sobre mais essa qualidade dela?

Me atirei na cama erguendo o porta-retratos acima da cabeça, olhando para eles. Eles pareciam felizes. Acho que eles se amavam. Ao menos nas fotos eles parecem sempre um casal feliz. Tia Victória já me confirmou que eles se davam muito bem. E apesar de sempre garantir que a irmã caçula estaria viva se não tivesse se casado com meu pai, também fala que me ama demais para considerar um erro total o casamento deles.

De repente um rosto bronzeado permeou as lembranças de um passado do qual tenho pouquíssimas lembranças. Os olhos estreitos. Os lábios desenhados. A forma como ele me ignorou no último dia. Estava dizendo a mim mesma que me sentiria do mesmo jeito se qualquer um dos outros tivesse agido como ele agiu. Mas, lá, bem no fundo do meu inconsciente consciente sabia que em se tratando de Dean as regras praticamente não se aplicavam.

Me remexi na cama, larguei o porta-retratos ao meu lado enroscando o corpo com as mãos e fiquei assim por um tempo indeterminado. Sem pensar em nada. No final, cansei de tanto silêncio, solidão e marasmo e acabei dormindo ali, do mesmo jeito, sem me acomodar melhor. Sem tirar as roupas. Sem me preocupar que acordaria amassada e desfeita.

 

*************

 

Ao despertar percebi que a manhã já estava em movimento acelerado. Não costumo dormir tanto assim. Mas talvez seja pela alteração de rotina, pelo clima cinza do lado de fora, pela preguiça que se instalara em mim, sei lá. Fato é que naquele dia a cama me parecia convidativa e agradável. Porém, depois de um longo banho morno me senti melhor. Mais animada. Desci, havia um bilhete preso a geladeira dando conta de que Victória fora ao escritório e estaria de volta para o almoço.

Sozinha.

Pensei olhando em volta. Poderia aproveitar o tempo para ir a biblioteca como planejara. Desci em direção a garagem, peguei meu carro e segui para um dos lugares que mais frequentei durante os anos escolares. Estava preparada para pegar algum livro qualquer. Não precisava ser sobre história, historiadores ou arqueologia.

Na verdade ficção seria o alvo desta vez. E estava no setor correto quando vi um cara passar por mim. Olhei com o canto do olho. Era magro, do estilo muito magro. Cabelos escuros. Ele parou um pouco a frente e parecia compenetrado na busca de algum livro, aproveitei o momento para olhar. Sim, eu o conhecia, era coincidência demais, mas ali estava Patrick Sullivan, um dos amigos de Taylor. Um dos jogadores de basquete da nossa escola. Um daqueles que me ignorou a vida toda. Que apesar de não ser conhecido pela beleza ou pela qualidade como jogador, se considerava acima do restante.

De repente ele me olhou. Lançou um breve e surpreendente sorriso na minha direção e disse:

— Oi.

Tive aquele maldito ímpeto de olhar para trás, para os lados. Será que havia alguém perto de mim a quem ele cumprimentara?

— A gente se conhece? - falou com os olhos levemente apertados.

Sim, a gente se conhecia. A professora de química o colocara para fazer dupla comigo nas aulas. Mas era óbvio que apenas eu lembrava desse fato.

— Fomos colegas. - falei sem me mover omitindo as várias aulas em que sentamos lado a lado por duas horas seguidas.

Ele mexeu a cabeça naquele gesto de reconhecimento mesmo sem saber de quem se tratava, tenho certeza. Era certo que ele não lembrava de mim.

Mesmo assim falou:

— Legal.

E eu pensei: não mudou nada. Falta cérebro dentro dessa caixa craniana. Saudades dos “meus” jogadores de futebol. Saudades da capacidade que Dean tem de tornar qualquer assunto irônico ou descontraído. De suas tiradas brincalhonas.

— Veio para passar o feriado? - perguntei me sentindo uma idiota. Como se dentro da minha caixa craniana também não tivesse um cérebro “malhado”.

— Sim. E você? - não importava, ele conseguia ser mais idiota do que eu.

— Sim. - dei uma olhada para a prateleira insistindo naquele papo sem futuro apenas porque queria falar com alguém – Estava meio monótono em casa, resolvi pegar algo para ler.

Dar explicações para um estranho que não era estranho, mas que absolutamente não fazia ideia de quem eu era, com certeza não fazia parte das minhas habilidades. Mas, fui em frente. Estava querendo treinar minha capacidade de conviver com pessoas que não fossem jogadores de futebol sarados, gostosos, metidos, lindos e... presunçosos arrogantes.

Voltei a encará-lo e tentei parecer simpática:

— E você?

— Estou com minha irmã. - ele respondeu dando de ombros. Era óbvio que o livro não deveria ser para ele. Patrick nunca foi muito de ler.

De repente ele se afastou da prateleira. Deu alguns passos em minha direção. Apertei a mãos contra o livro que segurava, tentando controlar a vontade de sair correndo dali quando ele falou em um tom simpático:

— Quer tomar alguma coisa comigo?

— Tomar o quê? Ainda é de manhã. - mais uma vez bancando a estúpida. Praticamente chamando o cara de bêbado.

Ele girou os olhos de forma engraçada antes de falar:

— Pensei num suco ou algo assim... - acho que não compreendeu o que eu quis dizer. Ufa! Que alívio.

Respirei fundo, recoloquei o livro na prateleira. Uma oportunidade de ouro aquela para testar o principio da minha vida social. Tomar um suco com um colega e parceiro nas aulas de química... que me ignorava.

— Está bem...

Seguimos para uma lanchonete no final da quadra. No caminho vi o carro de Victória passar por nós. Ela me olhou, disfarcei, fingi que não a tinha visto. Patrick falava sem parar sobre sua fraternidade. Sobre as festas. Sobre os amigos. Sobre as noitadas jogando ou bebendo. E absolutamente nada sobre o curso que fazia. Quase suspirei. Será que todo universitário era idiota assim? Será que não havia um único cara nesse contingente todo que fosse ao menos um pouco parecido comigo? Que tivesse um pouco de inteligência? Que fosse mais focado? Que não pensasse só em beber e fazer festa?

Talvez aí, nesse ponto, estivesse o motivo pelo qual Victória nunca se relacionou com ninguém além de mim e da família dela. Encontrar alguém que combine com a gente parece como buscar uma agulha num palheiro. Nunca entendi tão bem o conceito desse ditado popular quanto naquele momento em que Patrick estava sentado diante de mim falando merda... isso mesmo... merda!

Oh céus!

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo teremos um pouco de Dean e uma parte de sua família. Vamos descobrir sobre eles... BJO obrigada a todas q comentam, e tbm a todas q estão acompanhando. É muito bom ter vcs aqui.
Até!