Tudo por você escrita por Lilissantana1


Capítulo 23
Capítulo 23 - Dean e Penélope


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Bom final de tarde para vcs. Um beijão para as maravilhosas Caryne, Beca, Mary e Rosas. q bom q vcs ainda estão aqui. OBRIGADA!



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DEAN

 

A casa estava vazia.

Lenta e cuidadosamente caminhei pelas peças grandes e bem arejadas. Minha prancha estava presa a parede, ao lado da porta que dava acesso à área lateral. Eu sentia falta do surf. Passar um tempo no mar, pegando as ondas perfeitas daqui era tudo o que eu andava precisando para relaxar. O maior problema disso residia na condição de que para ter uma coisa, precisaria enfrentar a outra. Bem menos agradável.

Peguei a mochila largada no meio da sala mal conseguindo conter o desejo de dar meia volta e sair pela mesma porta que entrei segundos antes. Ninguém notaria. Andrew e Sam estavam caminhando, surfando, correndo. Sei lá! O negócio que importava era que eles não estavam em casa. Porém, não fui embora. Acabei subindo os degraus de dois em dois em direção ao segundo piso, onde ficavam os quartos.

A escada tem dois lances e faz um barulho rangido quando você sobe por ela, especialmente quando você tem mais de oitenta quilos, como é o meu caso. Não sei porque Andrew não conserta isso. Parei no topo. Estupidez a minha, claro que ele não vai perder tempo com uma besteira como essa. Degraus rangendo. Sempre tem ondas demais para pegar durante o dia. E luaus demais para participar a noite. Sem tempo para um problema tão estúpido quanto esse.

Entrei no meu quarto. Estava limpo. Lençóis dobrados sobre a cadeira. Toalhas no banheiro. Milagre! Larguei a mochila sobre a cama e comecei a retirar as roupas. Me sentindo cansado acabei por jogar tudo que pretendia usar na primeira prateleira do roupeiro e ouvi o telefone tocar. Deveria ser Diana querendo saber como foi a viagem. Se eu já vira meu pai. E como Sam está. Mas, quem me esperava do outro lado da linha não era minha mãe.

Na real, fiquei surpreso. Mas, mais do que surpreso, feliz. Nossa última conversa não terminou muito bem.

— Oi Penny!

Falei me jogando sobre o colchão d'água que eu detesto.

— Ei Dean. Tudo bem? Como foi a viagem?

Não era minha mãe mas as perguntas eram quase as mesmas.

— Já viu seu pai e namorada dele?

As mesmas.

— A casa está vazia. - falei tranquilo. - Cheguei a pouco, não vi ninguém.

— Será tranquilo, você vai ver... - apesar de não sentir a mesma segurança que ela, tentei crer naquelas palavras.

— Tomara! - falei quase em sentindo de prece.

Me remexi ajustando um pé sobre o outro para tirar fora os tênis antes de perguntar:

— E Victória? - metade do motivo do nosso desentendimento na última ligação.

Penny sabia o que eu queria dizer com aquela pergunta. Ficou muito claro a insatisfação que sinto com esse negócio de nos esconder da tia dela, da minha mãe. Por que não podemos falar estamos ficando? Eu sei que a demora dela em me ligar só pode ter como motivo principal o fato de Victória não saber de mim. Como você pode ligar tranquilamente para alguém que não existe?

Penny respondeu:

— Está bem. Se preparando para o ano novo.

Saindo pela tangente. Pensei.

— Não foi isso o que eu perguntei Penélope. - talvez estivesse puxando demais a corda. Mas essa indecisão de Penny em tomar uma atitude me incomoda.

— Sei que não. - constrangida. Isso queria dizer que nada mudou. Sem querer liberei um pouco da irritação que me preenchia com uma bufada.

Tá certo que um pouco dessa chateação, irritação, zanga, se devia a Sam, a obrigação de ter visitado meu pai. Mas, porra! Penny não estava ajudando nada mentindo para a tia desse jeito.

— Não sei como contar a ela Dean... - e as respostas dela não ajudavam muito.

— Você ao menos tentou?

— Não.

Me sentei outra vez. Nossas duas últimas conversas não foram exatamente amigáveis. Estava ficando chato aquele negócio de me esconder das pessoas. Se ela não contasse a Victória agora, nós voltaríamos para o campus no mesmo esquema que estávamos quando saímos. Ela não falaria para mais ninguém sobre nós. E sinceridade, ficar escondido é coisa de adolescente ou de amantes. E eu não sou nem uma coisa e nem outra.

— Estou me sentindo péssima. - ela falou de repente. Havia culpa em sua voz. Culpa por não ter contado sobre nós? Me perguntei. Só poderia ser.

— Por sua falta de coragem? - perguntei quase no automático. Sem me importar em mostrar com mais clareza o quanto me sentia incomodado.

Ela demorou a responder acendendo uma luz na minha cabeça.

— Tem mais alguma coisa para se sentir péssima Penny?

Um suspiro longo. Péssimo presságio.

— Você está ficando com outra pessoa? - não seria a primeira vez que isso acontece comigo. Mas juro que não esperava que Penélope, aquela Penélope que me jogou na cara o calhorda que eu era, fizesse esse tipo de coisa. Agisse exatamente como aqueles a quem ela critica. Por um segundo pensei que seria melhor ter ficado com Josy ou qualquer outra. Se ia receber o mesmo de sempre. Pra que ter algum sentimento envolvido?

— Não! - ela falou firme – Não fiquei com ninguém. Estou ficando apenas com você.

— Inferno! - falei mais alto do que desejava – Tá acontecendo o que então Penny?

— Minha tia está jogando um cara, um estagiário do escritório dela, pra cima de mim.

As palavras saíram rapidamente. Eu as processei mais rápido ainda. A raiva correu no meu sangue como fogo.

— E você? - perguntei segurando a respiração.

— Eu...

— Você não ficou com ele... - ela disse que não ficara com ninguém, e a merda é que eu acredito. Mas estava fulo com essa situação que só acontecia porque ela não tinha coragem de falar sobre nós.

— Não...

— Mas... - havia um mas ou ela não se sentiria péssima.

— Ele tem me convidado para sair.

Outra bufada. Óbvio que ele faria isso. Mesmo que não se interessasse pela sobrinha, estava agradando a tia.

— Ele quer agradar sua tia. - larguei áspero. Há muito tempo não era áspero com ninguém além de Sam.

Então, no melhor estilo vamos colocar a culpa no outro ela resolveu que se sentia ofendida.

— Ele não pode estar interessado em mim?

Sim. Penélope parecia ofendida com meu comentário.

Que porra era essa?

— Só porque foi a Victória quem me apresentou a ele? Que me deu a entender que gostaria de me ver com ele, não quer dizer que Wandril não tenha se interessado por mim.

Wandril! Repeti mentalmente.

— Peraí! - falei erguendo a mão como se ela pudesse me ver. - Você está pensando em atender sua tia? Tá a fim de ficar com ele para agradar sua tia?– será que eu estava entendendo bem?

— Ia ser mais fácil pra você e pra mim. - anunciou com aquela estúpida mania de ser racional e eu chutei a primeira coisa que encontrei. Minha mochila. Ela bateu contra a porta do quarto que imediatamente se abriu. Era meu pai com os cabelos molhados e roupa de mergulho.

— Dean! - falou de braços abertos. - Tá brigando com quem? Com sua mãe?

— Oi pai... não é a Diana não... - respondi meio sem jeito.

Ele me abraçou. Foi bom. Sinto a falta dele de verdade. Enquanto a gente morava junto ele era um pai amigão, carinhoso.

— Cara você está grande! - falou batendo com as mãos nas minhas costas.

Sorri. Ele sempre dizia isso.

— Muita malhação... - respondi quando ele me soltou. Ainda segurando o telefone na mão e mostrando a ele o aparelho pedi. - Preciso concluir o papo... já desço.

Ele apertou o olho em sinal de concordância. Depois bateu no meu braço conferindo a largura. Soltou um sorriso acompanhado de positivo e se foi.

— Te espero pra um lanche. Vem logo!

Ouvi o som dos passos. A escada rangendo. Como será que esse som passou batido quando ele subiu? Simples! Eu estava tão irritado que não conseguia ouvir nada além da minha irritação.

— Penny... - falei voltando a atenção ao telefone.

Ela já tinha desligado. Aproveitou a deixa! Pensei com vontade de jogar todas as minhas roupas na mochila e pegar o primeiro transporte com destino a cidade dela. Porém, imediatamente percebi que só o que aqueles dias me guardavam eram problemas. A porta do meu quarto se abriu de novo. Uma mulher de cabelos longos e loiros surgiu pela fresta. Ela nem batia mais. Merda!

— Oi Dean...

Miando recostou o ombro na porta. Usava apenas um biquíni minúsculo deixando livres as tatuagens que recobrem o ombro direito.

— Oi Sam. - falei entredentes. - Tudo bem?

— Como foi a viagem?

Entrou mesmo sem ter sido convidada.

— Ótima!

Puta merda! Aquela mulher parada na minha frente tinha um corpo escultural, sabia disso e só usava roupas que salientassem seus dotes. Cintura fina, coxas redondinhas, seios grandes e firmes. Tudo isso em uma pele dourada e sedosa. Os olhos verdes parecendo sair do rosto de boneca Barbie.

— Seu pai e eu estávamos com saudades.

Mas quando ela fala. Todo e qualquer encanto se vai. Porque você sabe o que ela quer. Te seduzir. Acabar com a sua vida. Te colocar na posição de cachorro pidão. Como aconteceu com Andrew.

— Por falar nele, vou descer. Andrew ia preparar um lanche...

Ela ficou parada da minha frente. Com as mãos na cintura. Me olhando direto nos olhos. Diante da porta.

— Dá licença aí Sam... - pedi ficando de lado, o mais longe possível dela.

— Deixei tudo arrumadinho pra você. - anunciou mostrando os lençóis sobre a cadeira.

Ela? Duvido! Mas, tá valendo. Finjo que acredito.

— Valeu.

Fingi um sorriso. Ela sabe bem que é fingimento. Mesmo assim, sorri de volta, daquele jeito sedutor.

— Vamos lá... - falei e logo gritei – Tô descendo Andrew. Espero que o lanche esteja pronto.

Sam demorou mais do que eu esperava para me dar passada, mas acabei saindo do quarto ileso, anotando duas considerações importantes para aquela noite. Primeiro, trancar a porta do quarto. Segundo, ligar para Penélope e acabar com aquela maldita confusão de uma vez. Se ela achava que seria fácil pular fora por causa do medinho que sentia da tia, estava muito enganada.

 

PENÉLOPE

 

Victória chegou carregando o restante das compras para o jantar de ano novo. Havia duas pessoas na cozinha, e alguém arrumando o espaço na sala de estar. Os convidados do Natal não seriam os mesmos que nos acompanhariam na virada.

De onde eu estava, sentada perto da TV com um pote de sorvete na frente, pensei que aquela era a hora certa. Não havia motivos para protelar mais. Mesmo sabendo que Dean e eu era uma história fadada ao fracasso em alguns meses, devia contar para minha tia. Até porque, se durasse seis meses, eu queria aproveitar esses seis meses. Se durasse três meses, eu queria aproveitar esses três meses. Seriam meus. Uma experiência minha. Que só seria vivida intensamente se Victória tivesse conhecimento dela.

Olhei a tela do celular lembrando da conversa. Ele estava irritado. Tinha razão para estar. E eu ainda banquei a ofendidinha porque não estava a fim de assumir minha responsabilidade nos nossos desentendimentos. Mal começou e quem estava prestes a dar um fim não era ele, mas eu. Com todo esse medo que me atropela a vida.

— Victória... - falei me erguendo do lugar, seguindo minha tia até a cozinha onde ela ia largar os pacotes.

— Está tudo pronto... - disse sem me olhar.

Havia taças, copos, talheres, louças organizadas sobre as bancadas. Logo tudo aquilo seria colocado na mesa da sala de jantar.

— Perfeito como sempre. - falei parando junto ao balcão perto da porta.

Finalmente ela me olhou. Sorriu. Parecia satisfeita. Aquela era a hora de agir.

— Nós podemos conversar?

Perguntei sem respirar.

— É algo importante? - ela voltou a dar atenção as coisas que estavam acomodadas nas bancadas. Como se conferisse detalhes.

— Sim, é importante.

Passei os olhos pelas mulheres que trabalhavam preparando a comida. Elas vinham sempre que minha tia oferecia jantares, comemorativos ou de negócios. Sempre as mesmas. Victória confiava nelas sem pestanejar.

— É sobre o seu segredinho?

Seus olhos de águia seguraram os meus. Fingi uma segurança que não sentia:

— Sim. É sobre o meu segredinho. - aquela raposa estava apenas esperando que eu falasse. Algumas vezes eu a detesto.

— Então conte.

Sugeriu voltando a caminhar, mexendo aqui e ali, como se não estivesse interessada no que eu tinha para dizer.

— Estou “conhecendo” uma pessoa.

Ainda desinteressada.

— Conhecendo ou namorando?

— Estamos nos conhecendo.

— Para mim parece algo mais do que simplesmente se conhecer. Ele é bastante insistente. - parou o que estava fazendo me olhou – supondo que seja ele.

Sorri. Ela conseguia se superar.

— Afinal, para tanto mistério. Deve ser algo inusitado ou que você acredita que eu desaprovarei.

Ficando totalmente de frente para mim ela insistiu:

— Então, qual das opções? A inusitada ou a desaprovada?

Balancei a cabeça. Não queria dizer assim de cara que ela o desaprovaria. Apesar de minha tia ter acertado na mosca.

— É ele. O nome dele é Dean. - Victória desviou o olhar antes que eu concluísse: - Ele é jogador de futebol. - aquela com certeza era a informação mais relevante de toda a conversa. - Você se incomodaria se fosse ela?

— Me incomodaria menos do que saber que ele é jogador. Jogadores não combinam com pessoas como nós.

— Pessoas como nós. - falei me ajeitando no lugar.

Ela ergueu uma mão a balançando no ar daquele modo que só ela sabe fazer.

— Sim, jogadores estão intimamente ligados a coisas como bebidas, drogas, festas, orgias, mulheres... e nós não somos o tipo de mulheres que se sentem atraídas por isso, nem por jogadores.

Também achei isso. Pensei, mas não disse.

— Você poderia conhecer o Dean antes de tirar conclusões apressadas.

— Certamente que essa será nossa meta para os próximos meses. Supondo que esse “conhecimento” siga em frente.

Victória jamais deixaria a oportunidade de me alfinetar, passar.

— Eu gosto dele.

Confessei.

— Ele gosta de você? - perguntou vindo em minha direção.

— Gosta.

Um leve balançar de cabeça, em concordância a minha fala. Ela não disse nada, mas eu sei que a mente de minha tia nunca para de funcionar.

— Nenhuma recriminação a mais? - questionei quando ela passou por mim, tomando a direção do corredor.

— Você não é mais criança Penny. Acho que preciso aceitar algumas das suas decisões. Mesmo que não concorde com elas.

Surpreendentemente, foi mais fácil do que imaginei. Agora restava ao Dean a incumbência de fazer Victória alterar sua percepção quanto aos jogadores de futebol. Ergui os olhos em uma prece rápida em agradeciemento. Sabendo que tudo o que deveria fazer naquele momento era falar com o Dean, acabar com nossos desentendimentos. Urgentemente!


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Notas finais do capítulo

Finalmente!
Acho que agora a vida segue seu rumo.
BJOOOOOOOOOOOOOOOO super especial para as meninas que estão acompanhando. Adoro ter vcs por aqui. Até o próximo!



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