Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 15
Capítulo Quinze


Notas iniciais do capítulo

Olá, amados leitores! Como estão? :)
Queria agradecer a todos vocês, leitores, por lerem minha história. Isso me deixa muito feliz, de coração!
Boa leitura! ♥



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— O que vocês estão fazendo aqui? – Uma voz ecoou, fazendo Ruzgar me soltar as pressas.

— Mamãe... — Ruzgar gaguejou, os lábios tremendo e os olhos se enchendo de lágrimas.

— Eu ouvi tudo! — Sevda estava parada nos olhando. O rosto pálido, boca entreaberta como se estivesse em completo horror e os olhos marejados. — Então, seu pai sempre esteve certo?

— Me desculpe... — Ruzgar sussurrou com pesar.

 — E eu sempre defendendo você, Ruzgar! — Vociferou — Uma aberração.

— Não diga isso, mamãe, por favor! — Ruzgar suplicou.

— E você, Sevilin, eu acreditava que era um bom rapaz. Uma boa companhia para meu filho — Sevda balançou a cabeça negativamente — Mas é a própria Lilith!

Abaixei a cabeça. Sentindo lágrimas se formarem.  Deveria ter percebido que Sevda nunca nos apoiaria. Um barulho forte e alto me fez levantar o rosto. Ruzgar estava com uma mão no rosto que estava avermelhado, enquanto lágrimas rolavam. Pela situação, deduzi que Sevda havia dado um forte tapa no rosto de seu filho, que continuava calado enquanto ela continuava a dizer palavras duras a Ruzgar e a mim. Eu não conseguia prestar atenção em nada do que ela dizia. Eu me sentia sufocado dentro de mim mesmo.

Ruzgar chorava incontrolavelmente, queria poder consolá-lo. Queria muito. Mas eu estava paralisado, de mãos atadas.  Eu o amo. Mas às vezes o amor não é o suficiente.

— Eu te criei com tanto amor e carinho, pra você me destruir desse jeito, Ruzgar? — A voz de Sevda se elevava a cada palavra.

“Seria egoísmo meu se começasse a rezar agora?” pensei aflito.

Obviamente, seria. Deus, com toda certeza, estará me enviando as piores pragas possíveis e impossíveis.

Mais palavras horríveis vindo de Sevda. E eu simplesmente me desliguei e comecei a chorar. Com toda certeza, ela espalharia a verdade por toda Constantinopla.

Eu só queria que minha mãe estivesse viva para me embalar em seus braços como costumava fazer quando eu chorava.

Sevda falava e falava. E eu apenas chorava.

— O que diabos vocês estão fazendo aqui? — Ayvaz se aproximou me puxando para trás, ficando em minha frente.

— Você sempre soube, Ayvaz? — Sedva perguntou.

— Sim, eu sempre soube! — Deu de ombros.

Todos sabem e ninguém faz nada? — Chiou indignada

— Você está se precipitando, mamãe... — Ruzgar soltou um suspiro.

— Cale a boca, Ruzgar! — Sevda falou irascível.

Eu me espantei naquele momento. Sevda sempre tratou o filho com tanto carinho... Será que de agora em diante seria diferente?

Sim, e a culpa seria totalmente minha, pensei.

 — Todos, não, Sevda. Poucos que sabem.

— E quem é que sabe dessa imbecilidade?

— O pai de Sevilin, eu e... Agora a senhora — Ayvaz deu de ombros.

— Vocês são desequilibrados por esconderem algo assim!

— Desequilibrados? — Ayvaz deu uma risada sarcástica — Olha quem fala...

— Contarei para a igreja que Sevilin é um pervertido, ainda hoje! — Ameaçou.

— Conta! — Desafiou Ayvaz — Você sabe muito bem, que se contar para a igreja, seu filho não ficará pra trás, já que Sevilin e ele vivem juntos.

Sevda olhou para o filho e deu um longo suspiro de tristeza.

— Tudo bem, Ayvaz. Você venceu! — Sevda murmurou com os olhos cheios de lágrimas — Não contarei para a igreja e nem para qualquer pessoa.

— Isso é sério? — Ruzgar perguntou surpreso.

— Sim, Ruzgar. Mas se a igreja, ou qualquer outra pessoa me perguntar, contarei toda a verdade.

Sevda me olhou com ódio e saiu apressada.

— Pelo menos ela é sensata com você, Ruzgar — Ayvaz deu um suspiro, passando a mão de um jeito desajeitado pelos cabelos loiros.

— Eu tenho medo. E se alguém, por acaso, perguntar sobre algo e ela acabar contando toda a verdade?

— Eu acho que ela não fará isso, Ruzgar! — Ayvaz colocou a mão esquerda no ombro dele — Ela é sua mãe. Apesar de achar que você está errado, o instinto protetor, sempre falará mais alto.

Ruzgar suspirou e andou até mim, me abraçando logo em seguida, dizendo palavras de conforto.

— Ruzgar, eu acho melhor você ir e logo. Antes que mais alguém apareça. — Ayvaz murmurou.

— Eu te amo, Sevilin. Nunca se esqueça disso! — Sussurrou, antes de me soltar e sair às pressas para a igreja.

— Vamos voltar para a igreja? — Perguntei num fio de voz.

— Não, acho melhor você ir para casa. Deve estar cansado.

— E estou mesmo. Obrigado, Ayvaz. — Murmurei dando um sorriso.

O caminho todo, ele foi fazendo piadas. Talvez para eu me sentir melhor. O que funcionou. Além disso, ele me falava da grande fascinação que tinha pelas estrelas. Ele falava com tanta paixão. Perguntei-me mentalmente se quando eu falava de Ruzgar, poderia ser perceptível minha paixão por ele. Óbvio que seria. Não sei como os outros ainda não perceberam.

— Prontinho! Está entregue — Ele deu um sorriso — Era pro seu namorado fazer isso, mas como ele não pode, eu protejo você, por ele.

E me abraçou com força.

Ayvaz era o irmão que eu nunca tive. Eu seria eternamente grato por tanta devoção que ele tinha com Ruzgar e comigo.

— Obrigado — Sussurrei — Por tudo. Tudo mesmo.

— Não agradeça, pequeno Sevilin, vocês merecem. — Respondeu sussurrando, me largando, logo em seguida.

Dei uma risada alta, que ecoou pelo vazio quintal de minha casa, o que fez com que papai abrisse a porta de casa.

— Ah, Sevilin, Ayvaz! Que bom que já voltaram, estava preocupado.

— Preocupado, papai? — Perguntei.

— Oh, sim, senti um aperto horrível. Pensei no pior, meu filho!— Falou, me puxando para um longo abraço — Aconteceu algo?

— Ah, sim, senhor! Foi uma noite difícil. — Ayvaz admitiu.

Papai me soltou, arregalando os olhos.

— Por favor, meninos! Entrem e me contem tudo.

— Com licença! — Ayvaz falou baixinho, entrando em casa, seguido por mim e por papai, que fechou a porta.

Ayvaz e eu contamos a meu pai o que aconteceu. Contei o que aconteceu antes de Ayvaz chegar, e ele, contou o que aconteceu quando chegou. Papai ficou embasbacado.

— Vocês acham que ela está falando a verdade? — Papai perguntou.

— Eu, particularmente, acredito que sim, senhor. Sem contar que, mães tem um instinto muito protetor com os filhos, mesmo que alguém pergunte a ela, tenho total certeza de que ela não o denunciará. Pelo que percebo, ela ama muito Ruzgar.

— Eu espero que ela realmente não faça isso. Obrigada, Ayvaz, por tudo o que você faz por Ruzgar e pelo meu filho! — Papai sussurrou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu que agradeço, senhor! É sempre muito bom ajudar os dois.

— Eu fico tão feliz! — Papai deu um sorriso, fazendo lágrimas caírem.

— Acho melhor eu ir, senhor. Está tarde.

— Oh, por que não dorme aqui, menino Ayvaz? Só hoje, como uma forma de agradecimento por tudo o que faz pelo meu filho.

— É muito gentil de sua parte, senhor Alp, mas...

— Eu insisto! Logo pela manhã, eu aviso seus familiares que esteve por aqui.

Ayvaz pareceu pensar um pouco, até finalmente aceitar.

Papai decidiu arrumar meu quarto, como Ayvaz era o convidado, ficaria em minha cama, e eu ficaria no chão. Minhas costelas ainda doíam por Candan ter me jogado de maneira violenta contra a parede, mas eu poderia suportar.

Dormindo no chão, a dor poderia até desaparecer. Ou, quem sabe, até mesmo piorar.

Quando papai decidiu dormir, Ayvaz e eu ficamos conversando por bastante tempo. Na verdade, ele falava, eu só sabia rir. Ele era muito engraçado quando queria.

Mas em meio a tantas piadas e risadas, houve um momento em que Ayvaz ficou sério e parou de falar. Pensei que já havia dormido, mas quando espiei, ele ainda estava acordado e a luz do luar entrava pela janela, iluminando fracamente o pequeno cômodo.

Eu queria perguntar, o que havia acontecido, mas não tinha coragem. E se eu tivesse feito algo?

Depois de muito pensar, decidi perguntar: — O que aconteceu, Ayvaz? — Ele fechou os olhos, não respondendo minha pergunta, decidi insistir — Eu fiz algo de errado?

Ele deu um sorriso: — Óbvio que não, Sevilin! Nunca faz nada de errado.

— Então... O que aconteceu?

— Estive me lembrando daquele rapaz que foi queimado na estaca. Lembra-se disso?

— Acho que não... — Murmurei.

— Aquele que fez sexo antes do casamento e Nuray acabou o denunciando para a igreja. Tente se lembrar.

Alguns dias atrás...

Sentia-me extremamente cansado e atordoado. Eu não estava preparado para ter que encarar os olhares curiosos de todos do vilarejo, se dependesse de mim, eu ficaria dentro de minha casa, até tudo isso acabar.

— Sevilin? – A voz de Ayvaz despertou-me quando estava arrumando o quarto de papai – Cadê você?

Saí do quarto o mais rápido possível. Encontrando Ayvaz na cozinha.

— Oi, Ayvaz! – Sorri – Obrigado.

— Ué, pelo que? – Passou a mão pelos cabelos loiros.

— Por ter nos salvado! – Admiti.

— Não, eu só fiz o que qualquer melhor amigo faria – Ele sorriu, fazendo seus olhos azuis brilharem – Você e Ruzgar são os únicos amigos que tenho, não posso perdê-los.

— Mas ainda sim, serei eternamente grato – Sorri.

— Não precisam me agradecer! Só não quero que vocês me escondam o que realmente são – Ele crispou os lábios – Eu já sei que são praticantes do homossexualismo, sempre soube.

— C-Como?

— Eu também sou – Sorriu tristemente.

— O que? – Perguntei embasbacado.

— Sim, Sevilin – Ele olhou para o chão. Decidi olhar também, mas acho que Ayvaz estava revendo seus sentimentos e suas memórias – Eu era apaixonado por um garoto do vilarejo, desde a infância, e essa paixão perdura até hoje.

— Quem é? – Perguntei curioso.

— Lembra-se do garoto que Nuray dedurou para a igreja? – Perguntou.

— Aquele que fez sexo com a menina antes do casamento?

— Ele mesmo! Ele dizia que me amava. E era verdade, até o momento em que o pai o arranjou aquela garota – Suspirou – Foi a partir daí, que meu relacionamento com ele mudou drasticamente.

— Mudou como?

— Ele me procurava apenas para sexo – Sussurrou triste – Mas tudo bem, isso já passou.

— Você deve ter sofrido muito – Exclamei.

— Sim, mas está tudo bem agora – Ele sorriu, mas seus olhos ainda estavam tristes – Ruzgar ficou sabendo disso ontem.

— Eu lamento muito.

— Não se lamente, Sevilin! Ele ainda continua sendo minha paixão, mas não a última – Ele sorriu – Encontrarei novas paixões, você verá!

— Ah, sim! Agora eu me lembro, Ayvaz. Eu sinto muito, por tudo. — Sussurrei com pesar.

— Não se preocupe, Sevilin. Isso algum dia vai passar. É só que, de vez em quando me pego pensando nele. Não tanto como antes, mas ainda dói.

— Por que você nunca diz o nome dele? — Perguntei.

— Eu prefiro não dizer, Sevilin. Isso só é capaz de abrir ainda mais a ferida.

— Eu sinto muito...

— Minha vida é um caos completo, pequeno Sevilin, não há muita coisa boa nela.

— Por que diz isso?

— Ora, é a verdade! Minha mãe adoece a cada dia mais, o homem que eu amei morreu na estaca, posso perder Ruzgar e você a qualquer momento... É demais pra mim, Sevilin.

Eu me levantei, me sentando ao lado dele na cama, não era momento para risadas, nem mesmo piadas. Mas eu queria que ele soubesse que estaria ali, o apoiando em tudo. Nos piores e nos melhores momentos.

Ayvaz começou a chorar, passei a mão de modo delicado por seu cabelo.

— Obrigado por tudo, pequeno Sevilin! — Disse entre soluços — Você é como um irmão, eu amo você.

— Eu também amo você, Ayvaz...

Continuei acariciando o cabelo dele, até que dormiu, assim, decidi o cobrir com um cobertor, para não sentir frio.

Pobre, Ayvaz, pensei, me deitando no chão e me cobrindo logo em seguida.

Até mesmo o garoto mais feliz, tem seus problemas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até mais :)



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