Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 14
Capítulo Catorze


Notas iniciais do capítulo

Olá, amados leitores! Como estão? Eu espero que estejam bem.
Perdoem o grande atraso para atualizar.
Estou no último ano do ensino médio, e comecei a trabalhar. Tudo anda muito corrido. Então, demorarei a postar capítulos. Mas sempre que der um tempinho, estarei atualizando ♥
Boa leitura!



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Ao me deitar na pequena cama, Ruzgar deitou sua cabeça em meu peito e comecei a acariciar os emaranhados longos de fios castanhos.

— Você está me fazendo ficar com sono desse jeito – Resmungou.

— Mas isso não é bom? – Questionei confuso – Você precisa descansar.

— Sim, mas eu não quero perder nenhum segundo ao seu lado – Sua voz saiu arrastada. Talvez por estar sonolento – Eu amo você.

Meu coração ficou quente dentro do peito.

— Eu também amo você, muito – Sussurrei, sentindo Ruzgar se aconchegar ainda mais em meu peito – Ayvaz está querendo te ver também.

— Será que ele não poderia vir em outro momento? Estou com muito sono – Resmungou – E quero passar mais tempo com você.

— Acho a ideia tentadora, mas Ayvaz é um grande amigo, ele ficaria desapontado se você não o recebesse – Sorri, parando de acariciar seus cabelos.

Argh! Aquele loiro grudento – Escondeu o rosto em meu peito. E eu ri de seu drama exagerado.

— Não diga isso, Ruzgar!

—Não tenho escapatória, né? – Suspirou.

— Não mesmo.

— Tudo bem, chame-o depois.

Ruzgar se agarrou a mim, com tanta força, que quase não pude respirar. Mas o aperto foi diminuindo conforme ia adormecendo. Foram longos os minutos que fiquei observando-o. Os cabelos escuros, longos, emaranhados, os traços calmos. Mesmo meu namorado estando com os lábios machucados, olho roxo ainda parecia como um anjo.  

— Eu amo o jeito que você olha para ele – A voz baixa de Ayvaz ecoou no pequeno quarto me dando um susto – É como se ele fosse um tesouro para você! É tão... Lindo.

— Oh! Faz muito tempo que está aí?

Ele entrou no quarto de modo sorrateiro. Agora entendi porque não havia ouvido barulho algum. Ayvaz pode ser sorrateiro quanto um gato quando quer.

— Não, cheguei agora pouco, na verdade. Pensei que estivessem fazendo coisas proibidas... Se é que me entende – Deu um sorriso malicioso.

— Não! – Exclamei sentindo meu rosto esquentar.

Ayvaz riu.

— Acho melhor irmos, Sevilin. Aquela peste do pai do Ruzgar pode chegar a qualquer momento e eu não quero encrencas pro nosso lado e muito menos para mãe de Ruzgar.

— Tudo bem  – Suspirei soltando-me de Ruzgar com cuidado. Se eu pudesse, não sairia nunca de perto de Ruzgar.

— Eu vou esperar você lá fora. Por favor, não demore, Sevilin – Sussurrou, saindo do quarto e me deixando sozinho.

Acariciei o rosto de Ruzgar com carinho, como resposta, ele resmungou manhoso, ainda envolto pela sua sonolência.

Decidi sair do quarto rápido, antes que eu acabasse desejando o observar o restante de meu dia. Fechei a porta com cuidado e andei pelos corredores da pequena casa a procura de Ayvaz. No fim, acabei o encontrando no quintal.

— Onde está a mãe de Ruzgar?

— Não faço a mínima ideia. Deve ter saído, sei lá – Deu de ombros.

— Não acha melhor esperarmos ela voltar? Não me sentirei confortável deixando Ruzgar sozinho aqui...

— E se aquele demônio aparecer aqui, Sevilin? Eu não gosto nem de pensar na ideia de ele nos encontrar aqui...

Suspirei.

— Você tem razão.

— Sempre tenho – Sorriu convencido – Mas vem, vamos logo.

— Você não acha melhor fechar pelo menos a porta? – Sugeri.

Ayvaz abriu a boca, iria dizer algo, quando uma voz grossa e vigorosa soou: — O que vocês estão fazendo aqui?

— Oh... Candan... Quer dizer, senhor Candan — Ayvaz gaguejou —Estávamos vendo Ruzgar... É... Ahm... Ficamos sabendo que ele estava... Hm... Machucado e...

— Fala direito, imbecil! — Candan interrompeu-o — Na verdade, não precisa continuar com seu falatório, sua voz me irrita.

— Desculpe-me – Os olhos de Ayvaz encheram-se de lágrimas, senti vontade de consolá-lo.

— Olá, Sevilin! O gato comeu sua língua por acaso? — Engoli em seco. Não queria responde-lo — Espero que não, pois quero saber, quem deu permissão para vocês virem aqui?

Olhei apavorado para Ayvaz.

— N-Ninguém, viemos por conta própria — Ayvaz respondeu baixinho.

— Ah, que bom! — Candan deu um sorriso maldoso — Mas não perguntei para você, loiro exibido. Vamos, Sevilin! Quero ouvir sua adorável voz...

— Ninguém nos permitiu vir aqui – Respondi, me surpreendendo em não gaguejar.

— Então por que vieram se não tinham permissão? Eu não quero nenhum doente em minha casa. Sevilin pode infectar ainda mais meu filho. Isso é contagioso!

— Sevilin não é doente, senhor – Ayvaz sussurrou.

— Mentir é um pecado muito grande, rapaz!

— Bater no próprio filho também é um pecado muito grande – Rebati, me arrependendo logo em seguida.

Candan se aproximou me pegando pelo colarinho de minha camisa e me jogando contra a parede de forma violenta, me deixando sem ar por alguns segundos.

— Eu poderia te dar uma surra assim como fiz com Ruzgar, mas não quero sujar minhas mãos com um doente mal criado como você. Sua mãe deve estar ardendo no fogo do inferno, espero que aconteça o mesmo com você. É por sua culpa que o meu filho está ficando doente. — O hálito quente e fétido de vinho invadiu minhas narinas me deixando tonto por alguns instantes. Ruzgar é um anjo de tão gentil e carinhoso. Surpreendia-me ser filho de um homem tão mesquinho como Candan — Eu não quero você perto de meu filho. Nunca mais. — Soltou-me. Minhas pernas estavam bambas. —Agora, desapareçam! — Murmurou rudemente entrando na casa.

Ayvaz e eu começamos a andar. Eu ficava para trás, já que a dor em minhas costas aumentava gradativamente.

— Sevilin, você está bem? – Ayvaz me perguntou preocupado.

— S-Sim, eu estou bem! – Sussurrei.

— Você é maluco? Não deveria tê-lo respondido!

— E-Eu sei, Ayvaz.

— Nunca mais repita isso novamente. Eu pensei que você iria morrer!

Dei uma risada do drama exagerado de Ayvaz. Mas parei imediatamente, minhas costas latejaram de dor.

— Não repetirei, Ayvaz. Eu prometo. Mas o que farei agora? Como vou ver Ruzgar?

— Teremos que mostrar que ele está errado.

— Mas você sabe que ele não está errado! – Sussurrei.

— Você irá à igreja comigo amanhã.

— O que? Não! Ficou maluco? As pessoas estão me olhando torto, Ayvaz... Não é uma boa ideia.

— Me escuta! Se você quer mostrar que não é doente para Candan e para o restante das pessoas do vilarejo terá que ir a igreja.

— Tá, pode até ser que ajude em algo! Mas como eu vou ver meu namorado?  Ouviu pelo menos uma palavra que Candan disse, Ayvaz?

— Ele disse que você não poderia vê-lo, mas não falou nada sobre mim – Ergueu a sobrancelha direita.

Uou.

— Eu não havia percebido isso.

— Porque é um lerdo — Acusou — Agora vamos para sua casa. Você tem que descansar.

Ayvaz foi acompanhando meus passos lentos.  As pessoas do vilarejo me olhavam torto. Eu não sei até quando irei sobreviver com esses olhares maldosos. Eu ainda tinha esperanças de que tudo isso pudesse mudar. Mas estou sendo muito ingênuo pensando nisso. Nunca vai mudar.

 Ayvaz ficou em minha casa até escurecer. Ele me animava. Pelo menos me fazia esquecer um pouco do caos que acontecia lá fora e da enorme saudade que eu sentia de Ruzgar. Ficar longe dele é tão doloroso. Se dependesse de mim, eu ficaria ao lado de Ruzgar pela eternidade, todos os dias de minha vida. Mas não é assim que as coisas funcionavam.

— Lembre-se: Às vezes, ficar um tempo longe pode ser algo bom. Aumenta ainda mais o sentimento – Ayvaz me disse antes de sair de minha casa.

E eu rezava para que isso fosse verdade.

*|||*

No dia seguinte, minhas costas ainda estavam doloridas, mas era uma dor suportável. Deveria estar doendo pelo impacto forte contra a parede.

Meu pai e eu ficamos conversando por um bom tempo, mas depois teve que ir para o trabalho.

Quando saiu, decidi arrumar meu quarto. Ele estava bagunçado.

E isso ocuparia a minha mente. Uma mente ocupada não tem tempo para pensar, e assim, me impediria de sentir aquele sentimento de vazio, que somente Ruzgar era capaz de preencher. Ao terminar de arrumar o quarto, encontrei a pequena caixa de madeira que minha mãe havia me dado. As moedas que Ruzgar me dera ainda estavam lá.

Eu não poderia ficar com essa caixa guardada dentro de minha casa. Teria que arranjar um jeito de escondê-la. Se a igreja soubesse que havia tantas moedas assim dentro de casa, papai poderia ser punido. E isso é a última coisa da qual eu quero.

Mas onde eu poderia escondê-las?

Frustrado, deixei a caixinha em cima de minha cama, e olhei pela janela de meu quarto o enorme quintal que havia nos fundos de casa.

Foi então que uma ideia se passou pela minha mente. Eu poderia enterrar!

Ninguém iria para os fundos de casa, além de meu pai e eu.

Peguei a caixa e saí correndo para os fundos de casa, enterrando-a debaixo de uma árvore e do lado de algumas flores. Ninguém iria saber, de qualquer forma. Eu só teria que dizer a Ruzgar e esperava que fosse o mais rápido possível.

*|||*

Mais tarde, me arrumei para ir à igreja com Ayvaz. Meu pai não iria. Disse que estava muito cansado. Eu não gostava da ideia de ter que deixa-lo sozinho. Meu peito sempre se apertava com a possibilidade de acontecer algo com ele enquanto eu estivesse na igreja.

Ayvaz veio me buscar para irmos juntos, e no caminho ele me disse que havia ido à casa de Ruzgar e falado com ele. Ayvaz me garantiu que Ruzgar também iria para a igreja com o pai, e que faria questão de dar um jeito para que eu falasse com meu namorado.

Eu não poderia estar mais feliz.

Ao entrar na igreja ao lado de Ayvaz, percebi vários olhares direcionados a mim.  Senti-me desconfortável, mas logo fui confortado por meu amigo que colocou a mão em meu ombro.

No meio de toda aquela gente, tentei procurar pelo rosto de Ruzgar, e o encontrei do outro lado. Com os pais e as irmãs. Meu coração bateu com tanta força, achei que todos poderiam ouvi-lo.

— Pare de olhar para ele, as pessoas podem desconfiar – Ayvaz sussurrou.

— E-Eu não estou procurando por ele – Menti.

— Mentir é um pecado mortal, sabia? Ainda mais dentro da igreja – Ayvaz deu um sorriso torto.

— Você e eu sabemos muito bem que já pequei bem mais do que isso – Disparei baixinho.

Antes mesmo de Ayvaz pensar em algo para responder, o padre iniciou as orações. Durante esse tempo, percebi que algumas pessoas me olhavam. Eu não conseguia decifrar se me olhavam com pavor, ódio ou até mesmo pena. Uma música começou a ser cantada pelo padre. Eu não acompanhava a letra. Era a primeira vez que a ouvia.

— Bem-aventurado, Senhor, ensina-me os teus estatutos.

Eu sou a imagem de Sua glória indescritível, embora eu tenha as cicatrizes de meus problemas.

Tenha compaixão de mim, Ó Senhor soberano, e purifica-me através da tua amorosa bondade; E a pátria desejada pelo meu coração conceda-me, ao me fazer um cidadão do paraíso.

Com toda certeza desse mundo, eu não iria para o Paraíso.

— Ruzgar está saindo, vá logo antes que alguém perceba – Ayvaz sussurrou baixinho.

— Onde?

—Encontre-o nos fundos da igreja, por favor, tenha cuidado.

Dirigi-me de maneira mais sorrateira possível. Essa é uma das vantagens de se sentar nas últimas cadeiras.

Saí rapidamente da igreja, indo para os fundos e procurei por Ruzgar, ele estava andando de um lado para outro. Parecia aflito.

— Ruzgar! – Exclamei, fazendo-o olhar. Seus olhos brilharam. Corri até ele, me jogando em seus braços.

Ele começou a distribuir beijos por meu rosto todo antes de beijar minha boca.

Ah... Como eu senti falta disso!

— Eu senti tanto a sua falta, meu amor – Ruzgar sussurrou contra meus lábios, quebrando o beijo.

— Eu também senti a sua, Ruzgar! Como faremos para nos encontrar de agora em diante?

— Ayvaz vai nos ajudar nisso. Ele é esperto.

— Seu olho já não está tão roxo – Comentei. Abaixo de seus olhos, que antes estavam de uma cor roxa escura estava ficando cada vez mais clara. Apenas seu lábio que ainda estava cortado.

— Ainda bem. Papai fica mentindo para as pessoas que eu caí e bati a cabeça.

— Como você se sente sabendo que ele está mentindo?

— Honestamente? Muito triste! Eu não suporto mais ficar ao lado dele – Ele deu um sorriso. Mas não chegou aos seus olhos. Aquilo me desconfortou. E o abracei. Eu queria poder tirar toda a dor que Ruzgar tivesse dentro do peito.

— Eu te amo – Sussurrei.

— Eu também te amo. Sevilin... Eu estive pensando uma coisa – Ele se afastou de meu abraço.

— Pensando no que, Ruzgar?

— Em fugir. Você fugiria comigo?

Aquilo me pegou de surpresa.

— Como?

— Sim, Sevilin! Você ainda tem aquelas moedas de ouro que eu te dei, não tem?

— T-Tenho sim.

— Poderíamos usá-lo pra fugir de Trácia.

— E para onde iríamos?

— Pros Bálcãs, talvez. Ayvaz poderia ir junto.

— E-Eu não sei, Ruzgar – Respondi incerto.

— Por favor, Sevilin! Pense em como seríamos mais felizes se vivêssemos em outro lugar. Sem que ninguém nos conhecesse. Ninguém nos julgaria. Ninguém saberia que nos amamos – Seus olhos brilhavam de felicidade.

— Mas com as moedas que tenho não daria para irmos para os Bálcãs.

— Eu tenho várias moedas escondidas em casa.

Fiquei em silêncio.

Eu não queria deixar meu pai sozinho.

Não. Não podia deixa-lo sozinho.

Mas uma vida ao lado de Ruzgar sem a igreja, sem Candan interferindo, parecia ser uma boa ideia.

E meu pai poderia sobreviver sem mim. Não poderia?

— Ok, eu aceito. Mas eu tenho que falar com meu pai antes. Não posso ir sem deixa-lo sem qualquer tipo de explicação.

— Eu amo você! – Ele exclamou feliz me dando um rápido beijo em meus lábios.

— Eu também amo você! – Senti meu coração explodir dentro do peito ao ver a felicidade estampada no olhar de meu namorado.

— Quando você e eu fugirmos daqui, você vai se tornar Sevilin Akif Sanchar Aktash.

— Me parece ser uma boa ideia, Ruzgar Aktash.

— Claro que sim, Sevilin Akif Sanchar! – Ele riu me dando outro beijo rápido em meus lábios, me abraçando. Ruzgar me fazia sentir em casa.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Uma voz ecoou, fazendo Ruzgar me soltar as pressas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até mais.



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