Take me To Church escrita por Charles Gabriel


Capítulo 16
Capítulo Dezesseis


Notas iniciais do capítulo

Olá! Primeiramente, quero pedir perdão pela enorme demora em atualizar, no ano passado, me descobri com transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático e depressão, comecei a fazer terapia com psicólogos e psiquiatras. Para mim, 2018 foi o pior ano, ainda mais com a descoberta de amigos e amores falsários, que apenas se aproveitaram de mim e depois me descartaram. Não posso dizer que estou 100% bem, mas estou lutando. Sem mais delongas, espero que possam aproveitar esse capítulo. Obrigado a todos que continuam acompanhando, vocês me dão forças para continuar. Boa leitura!



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Quando acordei, Ayvaz ainda estava envolto pela sua sonolência. Os cabelos loiros, bagunçados, as bochechas coradas e a respiração leve. Eu não iria acordá-lo. Ele precisava de descanso depois de uma noite totalmente agitada.

 Levantei-me o mais sorrateiramente possível, saí do quarto e fui procurar meu pai, não o encontrando em nenhum cômodo. Ele já devia ter ido trabalhar. Em compensação, ele havia deixado Artos Katharos, que é, basicamente, pão branco com especiarias, sobre a mesa. Provavelmente, Ayvaz gostaria.

Decidi voltar pro quarto e esperar meu melhor amigo acordar. Mas quando abri a porta de madeira, Ayvaz estava acordado, deitado na cama. Os olhos estavam inchados, não sei se eram pelo sono ou pela crise de choro ontem à noite e o rosto denotava cansaço.

— Ei, achei que ia dormir mais um pouco. — Murmurei, chamando sua atenção.

— Oh, não. Tenho que ir pra casa, Sevilin. Mamãe precisa de mim. — Deu um sorriso, mas não chegavam aos seus olhos.

Aproximei-me e fiz carinho em seus cabelos.

— Eu espero que tudo fique bem... — Sussurrei.

— Eu também! — Respondeu. Mas sua voz não parecia tão convencida.

— Quer comer algo antes de ir embora? — Sugeri.

Ele deu um sorriso, mostrando suas covinhas abaixo do lábio. — Agradeço, pequeno Sevilin! Mas tenho que ir. — Murmurou, se levantando.

— Quer que eu vá com você?

— Não, não precisa Sevilin. Você já vem se mostrando um amigo muito gentil, não quero me aproveitar de sua bondade!

— Ei, pode ir parando! — Dei um soco em seu ombro.

— De verdade, pequeno Sevilin, agradeço por tudo o que você fez e faz por mim. Mas não posso me aproveitar de sua bondade.

— Mas você não está se aproveitando... — Sussurrei, levantando as sobrancelhas.

— Sim, pequeno Sevilin — Deu um pequeno sorriso — Mas há gente muito ruim nesse mundo e eles se aproveitam de pessoas maravilhosas como você.

 — Eu sei... — Sussurrei, olhando para o chão.

— Não fique triste, pequeno! Infelizmente os seres humanos são falhos e egoístas na maior parte do tempo. — Colocou a mão no meu ombro — Mas agora, terei de ir.

— Eu vou com você...

— Não, pequeno, fique, por favor. Com as pessoas desconfiando de Ruzgar e você, é melhor se manter em casa, pelo menos por enquanto.

— Tudo bem, você tem razão! — Sorri — Tome cuidado, por favor.

— Tomarei todo o cuidado do mundo, eu prometo! — Sorriu, me puxando para um longo e apertado abraço.

— Até breve, Ayvaz!

— Até breve, pequeno! — Sussurrou, me soltando e saindo apressadamente do quarto e se encaminhando para a sala, abrindo e fechando a porta com um ruído.

Bem, eu estava sozinho outra vez.

Sentindo aquele enorme vazio dentro do peito.

Morrendo de saudades de Ruzgar.

Como eu não iria sair, decidi arrumar a casa para papai. Não era muita coisa, mas pelo menos me deixava com a mente ocupada e assim, não me sentia tão sozinho. Mais tarde, papai chegou para o almoço, ele percebeu que eu não estava me sentindo tão bem e me deu um longo abraço.

Às vezes, eu queria apenas me deitar no colo de meu pai e chorar, chorar até sumir toda aquela dor e tristeza de dentro de mim.

Quando papai saiu, para voltar a trabalhar, me deitei em minha cama e fiquei olhando o teto. Depois de muito tempo, senti meus olhos ficarem marejados e chorei. Chorei pelo que estava acontecendo entre Ruzgar e eu, pelo julgamento e a desconfiança das pessoas do vilarejo e pela saudade enorme de minha mãe.

Às vezes, parece que eu sinto tanto, que isso me sufoca.

 

*|||*

 

A noite chegou e com ela, a insônia. Pela primeira vez em muito tempo e eu nem sabia o porquê. Para não incomodar papai, decidi sair para o quintal, aproveitar o ar puro, observar o céu e as estrelas.

Nem eu sabia o que estava acontecendo comigo. Se realmente fosse possível o coração se quebrar, eu estaria quebrado em milhões de cacos e em todos eles, haveria dor e sofrimento. Será que foi por isso que minha mãe se suicidou? Será que a vida também a apertou e a sufocou com tantos sentimentos? De qualquer forma, não importa. Nunca é bom tentar descobrir o passado.

— Pequeno Sevilin? O que faz pra fora de casa? — A voz familiar surgiu no meio da escuridão, me dando um susto.

— Ayvaz? O que está fazendo aqui?

— Senti que alguma coisa ia acontecer e decidi ver se estava tudo bem. — Se sentou non chão, ao meu lado.

— Ah, Ayvaz... — Sussurrei — Tem tanta coisa acontecendo.

— Quer me contar, pequeno?

— Ultimamente estou me sentindo tão triste...

— Percebo, pequeno. Está sentindo saudades dele, não é?

— Sim, muita saudade...

— Conversei com ele hoje, pequeno Sevilin.

— E então, como ele está? — Perguntei animado.

— Calma aí! — Falou rindo — Você é muito afobado.

— Vai, me conta, por favor!

Ayvaz revirou os olhos: — Ele não está tão bem assim, a mãe dele vem o tratando muito mal, mas ele pediu para que eu te dissesse que ele te ama e que sente muito a sua falta... Sinto-me um pombo correio, isso é patético!

A culpa de Ruzgar está sofrendo é totalmente minha, pensei.

— Não é patético, Ayvaz! — Dei um sorriso — Agradeço por fazer isso por Ruzgar e por mim.

— Eu é que agradeço! Faço isso porque amo muito os dois e vocês são meu porto seguro.

Eu o puxei para um longo e apertado abraço.

Apesar de todo o caos, a vida ainda era muito bonita, ainda mais quando se tem as pessoas certas ao nosso lado.

— Ah, você e ele, terão que ficar um tempinho sem se ver! — Ayvaz murmurou ao me soltar — É para o bem de vocês. Algumas pessoas do vilarejo são violentas e podem tentar algo.

— Tipo o quê?

— Bater em você, no seu pai, destruir sua casa... Sei lá! Sabemos bem o que acontece com os denominados hereges e seus familiares...

— Sabemos... Ayvaz, eu acho que não te contei, mas na última vez em que estive com Ruzgar, ele deu a ideia de fugirmos.

Ayvaz ficou boquiaberto.

— Fugir? Vocês são malucos? Em meio a essa desconfiança, não vão deixar vocês saírem daqui.

— Eu sei, eu sei disso... Mas parece que é a única saída para sermos felizes.

— Ah, pequeno, Sevilin... Eu sugiro vocês esperarem a desconfiança desaparecer por parte das pessoas do vilarejo.

— E se demorar? — Perguntei.

— Bom, não acha melhor vocês fugirem, sem desconfiança, sem medo de serem descobertos? Ou acha melhor viver escondido, sabendo que o vilarejo todo pode estar perseguindo vocês?

Fiquei em silêncio.

Realmente, Ayvaz tinha muita razão. Eu não queria sofrer o risco de ser perseguido, capturado e torturado. Às vezes, as pessoas poderiam até tentar fazer o mesmo com meu papai. E eu não queria isso.

— Você tem razão...

— Eu sei, sempre tenho! — Deu um sorriso sarcástico — Mas, vem cá, com que ouro vocês fugiriam?

— Bem, sempre que Ruzgar e eu nos encontrávamos, ele me dava alguma moeda de ouro, isso foi acumulando e acumulando, até que guardei numa caixinha que enterrei aqui no quintal.

— Por que enterrou? — Franziu a testa.

— Se a igreja souber que escondo tantas moedas, papai pode ser punido. E isso é a última coisa que eu quero.

— Faz sentido... — Balançou a cabeça — Bom, se quiser, eu posso esconder em minha casa. No meu quarto, abaixo de um tapete, há um esconderijo, onde eu guardo várias moedas de ouro, para caso algum dia mamãe morrer e eu sumir daqui, ninguém sabia disso, até agora.

— Você faria isso por mim?

— O que eu não faria por você, pequeno Sevilin? — Deu um sorriso.

— Vem, eu enterrei numa caixinha aqui perto! — Me levantei do chão, indo até a direção das flores que papai havia plantado. Ayvaz me seguiu, em silêncio. — Elas estão aqui, debaixo dessa árvore, pode me ajudar a desenterrar?

— Claro que sim, pequeno Sevilin! — Murmurou com prontidão, escavando a terra com as mãos.

Depois de um tempinho, escavando, encontramos a caixinha.

— Aqui está! — Exclamei, pegando-a e retirando os resquícios de terra que a cobriam.

— Uou, é uma caixinha muito bonita!

— Mamãe que me deu na infância! — Dei um sorriso, sentindo aquele aperto de saudades.

— Eu sinto muito... Se não quiser, não precisa me dar a caixinha com as moedas.

— Não, está tudo bem, Ayvaz! Confio em você o suficiente para entregar a caixa com as moedas.

— Eu posso dar uma olhada?

— Claro, vá em frente, Ayvaz! — Encorajei, entregando-o a caixinha.

Ele abriu a caixinha, parecendo cauteloso e com medo, a luz do luar iluminava seus cabelos claros, fazendo com que eles se parecessem cinza.

— Pequeno Sevilin, há algo de errado... — Sussurrou boquiaberto.

— O que aconteceu? — Perguntei assustado.

— Veja você mesmo! — Sussurrou entregando-me a caixinha.

Quando a olhei, senti meu estômago se contorcer, as moedas não estavam ali.


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Notas finais do capítulo

Até mais!