Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 12
O fator russo




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Jace se contorce no chão, tomando pesadas respirações para se recompor. Todos os olhos estavam nele, agora, principalmente os de Amur, que murmurava coisas em outra língua — acabei descobrindo posteriormente que se tratava de um antigo dialeto dos lobos. Como se não pudesse ficar parado, Amur segura Jace novamente pelo colarinho e o obriga a ficar de pé. Meus instintos diziam para detê-lo, mas não parecia ser a melhor opção.

— O que está fazendo na escola? — pergunta Amur, com olhos de uma fera. Jace retribui com a mesma expressão de raiva.

— O mesmo que você e seus cães, idiota.

Jace aponta com a cabeça para Crystal e o recém-transformado-em-humano Erik, que apenas rosnou como resposta. Amur o empurrou contra uma das paredes da sala, imobilizando o garoto para que ele não tentasse fazer nada estúpido. Meu coração se comprimia cada vez que Amur apertava Jace.

— Explique-se.

— Simples assim, lobinha. — Jace debocha, utilizando o que ainda lhe restava de sua força para girar a cabeça em direção a Crystal — Seu pai o enviou numa caçada, não foi? Suponho que vocês estejam na Monoghan pra capturar Krutevish.

Todos ficaram em silêncio. Pelas caras de cada um, era notável que ninguém fazia ideia do que Krutevish significava. Jace observa os lobos e deixa uma risada escapar e, logo em seguida, Amur o pressiona ainda mais contra a parede.

— Oh, por favor. Não me digam que estão numa missão pra pegar o nômade e não sabem nada sobre ele.

— E como você sabe disso tudo?

— Posso me explicar, se esse brutamontes me soltar.

Amur rosnou. Francamente, era tudo o que ele conseguia fazer desde que nos conhecemos. Apesar da fúria constante diante daquela situação decepcionante, ele afrouxou as mãos que prendiam Jace contra a parede. O garoto esfregou os pulsos e suspirou pesadamente, olhando desta vez apenas para mim.

— Já pode começar, Jace. — digo, cruzando os braços. Era a forma que eu escolhi para esconder o medo que deixava meu estômago embrulhado.

— Minha mãe passou as informações para mim e outros da alcateia. Pelas ordens dela, nos espalhamos até as fronteiras do país.

— E de onde exatamente vocês são? — Erik se manifesta, após ficar algum tempo calado.

— Utah. Mas temos alguns descendentes na Carolina do Norte.

— E por que sua alcateia resolveu vir pra cá, sabendo que existem outras por perto? — me intrometo novamente, deixando claro que estava tão envolvida nisso quanto qualquer um dos lobos.

— Porque o nômade quebrou uma das regras da alcateia. — explica Jace — Ele não só invadiu seu território, Summer, como também veio ilegalmente para os Estados Unidos.

"E eu aqui, achando que esse tipo de lei vigorasse apenas para os humanos." pensei "O mundo deles é mais misterioso do que eu imaginava".

— Então que tal pôr de uma vez por todas as cartas na mesa, Lewis? — diz Crystal com um olhar de dar arrepios — Fale sobre esse homem.

Antes que Jace pudesse começar, Erik e Amur fecharam todas as entradas possíveis e procuraram por alguma câmera. Felizmente, não havia nada ou ninguém que pudesse nos ouvir por pelo menos 36 minutos, quando alguns professores voltariam a lecionar. Os lobos se endireitaram em algumas das cadeiras e Amur me puxou para longe de Jace.

— Darius Krutevish, 22 anos. Nascido e criado numa alcateia russa, nas proximidades de Moscou. Ele entrou no território americano faz 2 anos. Meses atrás, minha mãe, a alfa dos Lewis, detectou a presença dele em nossas terras e me enviou para detê-lo. Em sua forma lupina, sua pelagem é negra, como a minha.

Como num déjà vu, lembro novamente do pesadelo que tive com o lobo negro. Agora eu estava confusa, sem saber se era Darius, Jace ou quem sabe outro. Escolho, por fim, esquecer tal pensamento e focar na conversa.

— O que vocês fariam depois com ele? — pergunto, inocentemente, atraindo a atenção indesejada de Crystal.

— Não é hora de bancar a pacífica aqui, garota. Estamos discutindo algo sério.

Jace, como se também quisesse ignorar as lamúrias da irmã de Amur, faz uma expressão sisuda, sem sequer olhar para Crystal. Ele sorri levemente para mim e prossegue.

— É obrigação nossa comunicar ao alfa de sua antiga alcateia e levá-lo de volta pra lá. Mas se quiser mesmo saber o que aconteceria... bem, Summer, na melhor das hipóteses, ele seria direcionado a um lugar completamente deserto do planeta. Seja lá onde for.

— Então a sentença de morte...

— É revogada na maioria das alcateias. — Jace continua a explicar — Mas os transgressores sempre são punidos de alguma maneira.

— Mas por que ele viria até o lado oposto do continente? — questiona Amur, perto da minha cadeira — Tudo o que eu sei é que nossas alcateias são inimigas.

No mesmo instante, Jace arqueou as sobrancelhas como se aquilo fosse um absurdo.

— Tem certeza disso? Não lembro de nenhum relato da alcateia russa ter vindo pros Estados Unidos, antes.

— É, mas alguns traidores da nossa alcateia, na época em que meu avô era alfa, lutaram ao lado dos nazistas na Batalha de Stalingrado. Desde então, a alcateia dos russos nos considera inimigos. — retruca Amur. Fiquei tentada a fazer perguntas sobre isso.

— De qualquer forma, não sabemos o motivo de alguém como Darius vir até aqui. Tudo o que se sabe é que ele é um lobo independente, por isso não vive apenas em um lugar.

Era estranho demais pensar nessa questão e não ter nenhuma resposta. O que Darius realmente queria fazer nos Estados Unidos? Nem o clima daqui é favorável às condições da Rússia, onde ele costumava viver. Não fazia nenhum sentido e o pior de tudo era que ele estava a poucos metros da gente.

— Vocês conseguem farejá-lo?

— Ah, bem lembrado, Summer. — Jace comenta — Esse é um outro problema. Parece que Darius está adaptando seu odor. Ele se assimila com o de um lobo normal.

— Então ele não cheira mais como vocês? — concluo — Como um lobisomem?

Ao mesmo tempo, todos olharam pra mim aterrorizados. Foi como se eu tivesse dito a pior ofensa que se poderia imaginar para alguém. Tentei disfarçar o nervosismo e a dúvida com uma tosse falsa, mas eles ainda não desgrudaram os olhos de mim.

— Credo, Summer! — exclama Erik — Não seja rude como os outros.

— Então o que vocês são, por acaso? Capivaras?

O único que se dispôs a rir do comentário foi Jace. Pelo menos ele não estava sendo falso ao dar risadas do que eu falava durante nosso tour.

— Somos metamorfos, Summer. — Amur me corrige — Infelizmente, algumas raras espécimes dos nossos não realizavam uma transformação completa, por isso adquiriam aquelas características horrendas que você vê nos filmes de terror. Aqueles, sim, são lobisomens. A mente deles é dividida entre animal e homem, por isso são tão violentos.

— É tanta coisa pra processar. — murmuro, provocando a risada de Erik, que logo voltou a ficar sério após segundos. Jace tinha algo a falar.

— Escutem, sei que pode ser difícil achá-lo, mas podemos fazer isso juntos.

— E por que deveríamos confiar em você? — Crystal provoca, sem nenhum vestígio de felicidade.

— Porque pertencemos ao mesmo povo e também Darius pode se passar por qualquer um dos alunos ou professores. Precisamos saber as intenções dele e se ele realmente representa alguma ameaça.

De repente, Amur se levanta, arrancando olhares duvidosos dos outros, que ainda se acomodavam nas cadeiras.

— Só quero que Summer esteja protegida. — diz ele, nervosamente, deixando-me vermelha. Logo depois, como se tentasse corrigir um erro, ele continua a falar — Você sabe... ela... é mais vulnerável.

Reviro os olhos, ainda na esperança de acreditar que o coração dele ainda pode amolecer.

— Isso pode ser arranjado. — Jace concorda, ainda sorrindo — E então, brutamontes? O que acha?

Jace estende a mão educadamente, esperando a confirmação de Amur. O "brutamontes" troca olhares com Jace e se aproxima dele vagarosamente. Quando menos espero, Amur retribui o gesto e aperta a mão do garoto com determinação.

— Temos um acordo.


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