Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 13
Calafrios




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Finalmente os lobos se deram bem, com uma pequena e óbvia exceção — Crystal ainda não confiava totalmente em Jace, por isso fazia questão de manter distância dele e lançar comentários sarcásticos. Quando a reunião terminou, Amur insistiu em me acompanhar até minha casa. Tentei dizer que ficaria tudo bem indo sozinha, mas ele me convenceu com o argumento-mor: Darius ainda estava a solta, espreitando pela escola, quem sabe até pela floresta. Dei de ombros e me despedi de todos, seguindo, por fim, Amur.

— Você está diferente. — comento, enquanto caminhávamos nas proximidades da floresta. Amur resolve ficar calado, como a maioria das vezes, mas eu insisto — Tem sido mais educado. Nem parece um animal.

— Acho que você está exagerando. — retruca — Você é humana, Summer. Se Darius te machucasse nem sei o que eu faria.

Cada palavra acrescentada era um soco em meu estômago. Naquele instante eu deveria estar vermelha, por isso inclinei a cabeça para baixo, sem saber o que fazer. Seria aquele um sinal de alerta pra "Coração Amolecido" ou isso demoraria ainda mais para acontecer? Só sei que de uma coisa eu tinha certeza: a presença de Amur se tornou mais agradável, e esse era um simples fator que me deixava feliz.

— Está dizendo que não aguentaria viver sem mim, bola de pelos?

Os ombros dele ficam mais rígidos com o comentário. Amur parecia estar impaciente. De repente, ele para no meio do caminho e me força a olhar para ele. Ao fazê-lo, minhas pernas ficaram que nem gelatina.

— Escute bem, Summer. — diz ele, suspirando — Não são todas as alcateias que respeitam os humanos como a do meu pai.

— É, dá pra ver o amor que Crystal sente por mim.

— Minha irmã é um caso a parte. Ela não é muito comunicativa, mas meu pai diz que isso tem a ver com a morte de Luke. — Amur fala com certa dificuldade — Apenas alguns de nossos lobos têm uma rixa com os humanos, o que inclui caçadores. Enfim... eu realmente não poderia aguentar ver você ou qualquer outro de sua espécie sofrendo as consequências de se meterem nos nossos assuntos.

— Então tudo isso não passa de uma questão de honra pelos humanos?

Ele demora um pouco para responder, mas finalmente balança a cabeça com afirmação. Minhas esperanças vão pro fundo do poço e tudo o que sinto é raiva de mim mesma por ter sido tão ingênua. Eu deveria ganhar um prêmio de trouxa do ano.

— O que foi? — pergunta ele, analisando meu rosto. Tive vontade de socar o dele na mesma hora, mas acho que sairia em desvantagem, ainda com alguns dedos quebrados.

Balanço a cabeça rapidamente e desvio do seu olhar. Era mais fácil disfarçar a decepção.

— Nada. É melhor a gente se apressar, antes que escureça.

Sigo na frente dele, o que deve tê-lo deixado completamente confuso. Pelo menos eu não ligava mais para isso, só queria dizer o mesmo de Amur. Após alguns minutos andando pelo caminho de casa, chegamos ao meu destino. Assim que eu toco a campainha para que Yakob possa abrir a porta, Amur segura bem firme minhas mãos. Apesar de ter sofrido com o impacto da ação — meu estômago embrulhado que o diga —, resolvo dar atenção a ele. Não pude dizer o que Amur estava pensando naquele momento, só apreciei os poucos segundos que teria com ele até meu irmão chegar.

— Sei que nunca tive a oportunidade de dizer isso, mas... me desculpa.

Meu corpo inteiro é invadido por uma onda de choque. Enquanto tentava processar algum comentário, Amur prossegue.

— Eu fui rude com você há muito tempo. Te fiz chorar, fiz com que aquele magricela do seu namorado batesse em mim.

— Tom não é meu namorado, eu já falei. — reviro os olhos, ao lembrar da discussão que os dois tiveram por minha causa, há 1 mês.

— Não importa. — diz ele, quase que me atropelando — Bem... continuando... eu sequer agradeci o suficiente por ter ajudado Erik a me levar até a alcateia quando aquele caçador nos atacou.

— Aonde você quer chegar, Amur? — pergunto, com os braços cruzados de frio e nervosismo. Ouço passos do lado de dentro da casa, mas ignoro.

— Eu só quero dizer que eu te devo um monte. Obrigado por não desistir de mim.

Ele aperta ainda mais minhas mãos. Na mesma hora, Yakob abre a porta e nos encara, tossindo falsamente. Como eu queria matar aquele garoto!

— Estou atrapalhando alguma coisa? — diz meu irmão — Se quiserem posso me virar pra vocês se beijarem.

Minhas orelhas queimaram mais ainda. Encarei Yakob com um dos meus olhares ameaçadores, mas obviamente, por ser o irmão mais velho, ele não saiu do lugar. Eu nunca fui tão persuasiva como ele e, infelizmente, esse era o momento certo para eu querer ter o dom de Yakob.

— Eu já estava saindo. — diz Amur, mais pra Yakob do que para mim. Não sei como, mas seu olhar era mais ameaçador que o meu — Cuide-se, Summer. Te vejo amanhã.

E então o "brutamontes" seguiu seu caminho pela floresta. Algo me dizia que, se Yakob não estivesse aqui, Amur se transformaria num lobo e correria tão rápido quanto o vento até sua alcateia. Imediatamente, lembrei-me que ele não havia dito nada sobre ser o futuro alfa dos Axel. Pois é, nós ainda tínhamos muita coisa pra conversar.

— Quem é o playboyzinho? — pergunta Yakob, interrompendo meus pensamentos. Minhas frustrações quase me fizeram esquecer o fato de que eu estava com raiva dele.

— Não é da sua conta.

— Eu sou seu irmão, é claro que é da minha conta!

— Uau! Que argumento perfeito!

Yakob apertou os olhos, sem abandonar o olhar intimidador que conseguia ostentar. Fiz o meu melhor para imitá-lo, mas era impossível. Por breves segundos, um calafrio se alastrou pelas minhas costas e eu estremeci, sem entender o que aconteceu.

— Tudo bem, brzydki, — diz Yakob, usando uma palavra em polonês semelhante a "feiosa" — se não me disser nada, vou contar ao pai que você está andando com um esquisito.

Antes que eu pudesse argumentar contra aquele comentário infantil, uma tosse extremamente forte e repentina me atinge. Foi tão horrível que caí de joelhos no chão. No mesmo momento, Yakob veio ao meu socorro, deixando de lado qualquer coisa. Esse era meu irmão, por mais que às vezes fosse idiota, sabia que ele estava sempre disposto a me ajudar.

— Summy, aguente firme.

As palavras que saíam de sua boca dançavam em minha cabeça, tão distorcidas quantos meus sentidos. Minha visão estava completamente borrada. Meus ouvidos captavam um agonizante "beep" que não tinha fim. Meu nariz ficou entupido, sendo eu, então, obrigada a respirar pela boca (o que eu detestava). Sinto os braços de Yakob me envolverem, notando também que ele estava me carregando até o sofá. Meu irmão falava palavras diversas, tinha certeza que ele estava se dirigindo a mim, mas eu não conseguia entender absolutamente nada.

Noto Yakob indo em direção ao meu celular, deduzi que ele estava prestes a ligar para a ambulância. O problema é que ir para o hospital chamaria muita atenção e essa era a última coisa que eu queria, já que havia um lobo selvagem e possivelmente descontrolado a solta. Com muito esforço, aperto o antebraço do garoto.

— Não! — exclamo, debilitada — Ambulância não.

— Mas, Summer, você precisa ir pro hospital!

— Ambulância... não!

Ele retesa, sinto isso mesmo atordoada. Yakob suspira, numa tentativa frustrada de se acalmar.

— O que quer que eu faça? — ele gesticula com as mãos. A esse ponto Yakob já sabia que eu não estava ouvindo muito bem.

— Erik. — falei a primeira palavra que veio na minha cabeça, sem sequer me ouvir — Ligue Erik. Ricky ajuda. Ricky...

Desesperado, Yakob desliza o dedo sobre a tela do meu celular, quando finalmente encontra algo. Em seguida, ele aproxima o aparelho para perto de mim, mostrando o primeiro número que chamou sua atenção. Movo a cabeça com dificuldade, forçando para enxergar o nome do contato, até que vejo "Amur/Ricky". Lembro do momento em que editei o nome de Amur por várias vezes Erik pegar o celular dele emprestado. Olho de volta para Yakob, balançando a cabeça afirmativamente. Meus olhos já estavam incrivelmente pesados, eu mal era capaz de me manter acordada. Deixei que a escuridão da inconsciência me preenchesse até desmaiar por completo.

A pior parte de estar desacordada é que, obviamente, não podemos controlar nossos pensamentos. Por minutos ou até horas, não somos donos de nossas mentes, o que é irônico. A primeira coisa em que pensei, por exemplo, foi algo do qual eu estava tentando escapar, uma preocupação que surgiu há pouco tempo. Eu sonhei com ele. E dessa vez eu o senti.

Eu vi Darius Krutevish, o lobo negro.


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