Meetings At Midnight escrita por Yokichan


Capítulo 3
III - O Bilhete


Notas iniciais do capítulo

Quando você acordar, sua camisa vai estar molhada das minhas lágrimas, uiq. HEUAHEUAHEUHAUEH. ♥



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“Nada é certo e seguro quando eu penso em você.”

 

 

 

         Quase meia noite. Quase meia noite, e então eu o veria novamente. Diante do espelho, eu imaginava qual seria a melhor maneira de arrumar meu cabelo para quando você me visse. Sim, eu queria que você me visse naquela noite, eu havia esperado por aquele momento durante todo o detestável dia – porque nada era bom na luz do sol sem você. O que você diria ao me ver? Aos seus olhos, eu seria realmente o que você imaginava que fosse? Você se assustaria, imaginando estar vendo um fantasma?

         Antes que eu pudesse colocar a escova de cabelo no lugar, meu rosto desapareceu diante do espelho. Oh, enfim eu havia sumido!

 

 

Desaparecido para encontrar você, naquela estranha mágica.

 

 

         E então, eu me vi em um lugar diferente de seu quarto. Não estava tão escuro, não tinha escrivaninha, nenhum sinal de sua cama, mas havia você. Você, o mais importante de tudo, o motivo pelo qual – inexplicavelmente – eu estava ali. Era como se fosse a primeira vez, novamente. Minhas mãos tremiam, meu corpo ficou quente de repente, meu peito era engolido por uma avalanche catastrófica de emoção.

 

 

Porque era você ali.

 

 

         Esparramado no sofá do que eu imaginei ser a sala, você dormia iluminado pela claridade da televisão ligada. O controle havia sido esquecido sobre seu peito, enquanto um de seus braços caía ao lado do sofá. Os joelhos flexionados, a cabeça de lado sobre uma almofada, os cabelos caindo sobre a testa, ameaçando tocar os olhos. A gola larga da camisa preta era puxada na direção de um dos ombros, devido ao modo desconfortável em que você havia adormecido, expondo uma parte maior de seu pescoço. A pele era tão pálida, tão frágil. Aquele era mesmo você, com todas as suas coisas estranhas.

 

 

E eu adorava aquilo.

 

 

         Silenciosamente, me aproximei do sofá e ajoelhei-me ali, diante de seu rosto. A televisão exibia os créditos finais de um filme, e a música de fundo soava lenta pela sala adormecida. Meus lábios espicharam-se num sorriso doce e comovido, tremulando na sombra que meus ombros formavam sobre seu peito e seus braços. Eu poderia estar ali todas as noites, observando seu sono tranqüilo, contemplando seus olhos fechados, o movimento suave de seu peito enchendo-se de ar, e por mais que o tempo passasse, eu jamais me cansaria. Eu poderia cuidar para que seu sonhos fossem sempre os melhores.

 

 

Para que fossem sempre comigo.

 

 

Naquele momento, percebi que já não estava ansiosa para que você acordasse. Apenas sua presença me fascinava, era o suficiente para suprir quase toda a mastodônica falta que eu sentia. O amor derramava-se quente de meu coração, preenchendo-me com deleite. Novamente, eu podia sentir sua respiração alcançando meu rosto. Toquei sua mão que pendia ao lado do sofá, delicadamente. Meus dedos abriram caminho entre os seus, e como se fossem feitos para aquele encaixe, eles apertaram-se com ternura. Estranhamente, seus dedos responderam ao suave aperto dos meus.

 

 

Um sinal de que você podia me sentir, me reconhecer.

 

 

         Você sempre havia dito que nós dois estávamos conectados de uma maneira que não sabia explicar, e agora eu entendia a verdadeira dimensão de nossa ligação. Estávamos realmente conectados por uma linha invisível, por nosso complexo e indestrutível sentimento de amor. E eu acreditei cegamente, porque não havia medo de cair quando você estava ali, apertando minha mão.

         Deitei delicadamente a cabeça em seu peito, deixando que meus olhos se fechassem. Eu pude ouvir as batidas abafadas de seu coração, uma após a outra, calmamente. Meus olhos enchiam-se, umedeciam-se, transbordavam discretamente por debaixo dos cílios, tornavam meus momentos mais felizes em irrevogável realidade ao molharem sua camisa. Eu apenas queria lhe apertar com toda a força entre meus braços, mas meu tempo estava acabando, e ainda havia algo que eu queria fazer.

 

 

Haviam tantas coisas que eu queria fazer naquele momento.

 

 

         Relutante, afastei-me de você e lancei meus olhos atentos pela sala. Encontrei o que precisava sobre uma estante logo ao lado: um pedaço de papel e uma caneta. Por um momento, hesitei com a mão sobre o papel, imaginando o que deveria escrever em primeiro lugar. Eu precisava lhe dizer tanto, que nenhuma palavra naquele mundo seria capaz de expressar a totalidade de meus sentimentos. No entanto, eu havia aprendido a ser paciente, e concluí que muitas outras noites viriam para que eu pudesse lhe falar tudo pessoalmente. Eu apenas precisava lhe deixar um bilhete, um pedido, e três palavras de amor.

 

 

“Me espere acordado amanhã à meia-noite, eu virei.

Eu te amo.”

 

 

         Dobrei o papel ao meio e voltei para perto do sofá, depositando-o em uma de suas mãos. Eu sentia que o tempo estava acabando rápido demais, e feria-me o coração precisar ir embora. O que me sustentava era a esperança de voltar na próxima noite, na seguinte, e em todas as outras.

         Debrucei-me sobre seu peito e apertei delicadamente meus lábios contra os seus, meu beijo de boa noite. Mais alguns instantes, e lamentavelmente nosso toque foi desfeito quando eu desapareci de súbito.

 

 

Eu sempre soube que nada seria para sempre.

 

 

         Agora, eu encolhia-me em minha cama fria, tão longe de nosso beijo, esperando que tudo passasse rápido demais até a próxima noite. Sim, eu sabia que nada poderia durar pela eternidade, eu sabia que todos nós tínhamos limites. Eu sempre tivera certeza de tudo, até conhecer você.

 

 

 

“Mas eu me esforço para poder te alcançar.”


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