Meetings At Midnight escrita por Yokichan


Capítulo 2
II - O Primeiro Beijo


Notas iniciais do capítulo

Isso seria assustador, eu sei. ♥



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“Por um instante, tudo pareceu tão fácil.”

 

 

 

         Eu gostaria de saber por que nada que eu fizesse parecia bom o bastante quando você não estava ali. A única coisa que eu sabia fazer tornava-se difícil demais, as palavras se complicavam, minhas mãos paravam de vez. O silêncio me lembrava você, e você me lembrava que aquilo era doloroso de sentir.

 

 

Tão doloroso, e ainda assim é tão bom.

 

 

         Naquela noite, eu abri meu guarda-chuva e caminhei debaixo do céu lacrimejante. Você havia dito que caminhar lhe fazia pensar em mim, e eu queria experimentar também. Silêncio e escuro, um vazio insuportável ao meu lado. As poças de água espalhavam-se pelo chão, e eu tentava em vão desviar delas. Não, você não estaria ali para rir se eu molhasse meus pés.

 

 

O vazio era como o escuro, e eu estava me perdendo.

 

 

         Meus olhos fechados. Abracei meus joelhos e rodei na cadeira giratória, lentamente. Estava tão frio, que meus dedos pareciam congelar gradativamente. Se você estivesse ali para apertar minhas mãos com as suas, aquilo seria diferente. Silêncio, e eu apenas desejei estar ao seu lado naquele momento. Deus, se você existe, me leve para perto dele. Era meia noite quando eu senti que estava voando.

 

 

E eu voei até você, mesmo não sabendo como.

 

 

         Quando abri os olhos, eu me vi em um quarto que não era o meu. Eu poderia estar sonhando, mas um sonho tão bom como aquele não podia ser verdade, eu sabia que não. Estava escuro, de modo que eu apenas podia enxergar devido à claridade que vinha da porta semi-aberta. Tentei andar, mas meu pé bateu em alguma coisa que no momento não consegui distinguir. Era estranho estar ali, mas não tão estranho quanto sentir sua presença antes nunca conhecida. Como aquilo poderia estar acontecendo?

 

 

Pouco tempo, muito pouco tempo até que eu despertasse.

 

 

         Contornei o que parecia ser uma escrivaninha, e caminhei pelo quarto adormecido na penumbra. Havia uma cama ao lado do feixe de luz, e lentamente eu me aproximei daquela pessoa que dormia. Inclinei-me com cautela sobre a cabeceira, e então eu soube que aquilo não era mesmo um sonho. Para meu espanto, aquela pessoa era você. Seus cabelos negros revirados sobre o travesseiro, seu rosto graciosamente adormecido, sua mão que descansava na beira do colchão. Sim, aquele era você tão perto de mim.

         Uma gigantesca onda de comoção me tomou, puxando-me para baixo e afogando-me sem chances de escolha. Eu não pude fazer nada, senão me render ao incontrolável desejo de sentir o toque de sua mão sem cor, de estar tão mais perto do que jamais estive. Não importava que fosse um sonho, eu o tomaria como a mais feliz realidade daquela vida. Porque estar onde você estava era tudo o que eu sempre quis, o resto era silêncio.

 

 

E guardei meu pranto comovido para mais tarde.

 

 

         Delicadamente, ergui uma das pontas do cobertor e sem hesitar, deitei-me ao seu lado. Encolhi-me sobre um de seus braços estendidos e abracei-me com cuidado ao seu corpo, pela primeira vez sentindo o calor morno de sua pele. Você se mexeu sutilmente, virando de lado – para o meu lado. Agora seu rosto estava diante do meu, eu podia sentir sua respiração calma tocar meu nariz frio, seu hálito quente chegar aos meus lábios entreabertos. Seu braço acomodou-se sobre meu corpo, e naquele momento eu senti-me realmente abraçada. Uma curva de sorriso nasceu em meu rosto, inocentemente.

 

 

A primeira vez que nos tocávamos, e você nem sabia disso.

 

 

         Deslizei suavemente as pontas dos dedos por seus cabelos que lhe cobriam as orelhas, descendo pelo contorno de seu rosto, memorizando-o involuntariamente. Debaixo do cobertor, encontrei sua mão entre nossos corpos e apertei-a com certa melancolia. Em alguns instantes, eu seria novamente enviada ao meu mundo de silêncio para agonizar perante sua ausência fria. Eu teria apenas a lembrança de sua mão quente na minha, de como elas se encaixavam em perfeita simetria. Oh, não! Eu não queria ir embora.

         Impulsivamente, apertei seu corpo contra o meu e escondi meu rosto na curva de seu pescoço. Talvez se eu me agarrasse à você com força, eu pudesse ficar um pouco mais. Apenas mais um pouco...

 

- Não me deixe ir embora. – pedi em um sussurro quase inaudível, aflito.

 

         Você então se moveu novamente. Apertou o braço em minha cintura, tocou sua perna na minha, e abriu os lábios como se dissesse palavras mudas. No entanto, você continuava dormindo. Talvez você sonhasse comigo.

 

- Onde... Onde você vai? – você murmurou, ainda dormindo.

 

- Eu voltarei, eu prometo. – sussurrei, encarando seus olhos fechados.

 

         Meu tempo estava acabando, e eu sabia que seria arrancada de seus braços sem ao menos perceber. Aquilo era cruel, mas eu estava tão feliz em poder estar ali como jamais estive em nenhuma outra ocasião. Todas as minhas alegrias anteriores pareceram superficiais se comparadas à que eu estava conhecendo naquele momento, tão pura e delicada.

 

 

Você sempre fora o motivo de minhas emoções extremas.

 

 

         Sem conseguir evitar, meus lábios trêmulos tocaram os seus, adormecidos. Nosso primeiro beijo, nosso doce e real beijo, acontecendo à meia noite de seus sonhos, de meu devaneio. Eu lamentei que você não estivesse acordado para saber como era lindo aquilo tudo, para concordar comigo quando eu viesse a lhe contar sobre nosso fantasioso encontro. Você acreditaria, não é?

         E quando eu senti que você iria acordar e me ver no centro de seus braços, eu fui levada para longe. Eu simplesmente desapareci, tristemente.

 

 

Eu esqueci de dizer que te amo, e aquilo me fez chorar.

 

 

         Num piscar de olhos, eu estava em minha cadeira giratória novamente. Tudo como eu havia deixado há dez minutos atrás, tão frio, tão detestável. Se eu te amava tanto, por que simplesmente não poderíamos ficar juntos? Eu ficaria bem ao seu lado pelo resto daquela noite em sua cama quente, sem precisar lembrar de nada, sem precisar me preocupar com nada.

         Mas eu havia te abraçado, e seu calor ainda estava em meu corpo.

 

 

 

“Eu sei que você sentiu também, eu sei.”


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