“Não me importo em ser ridícula, se tudo isso é por você.”

         Naquele dia, há alguns anos atrás quando eu te encontrei, não percebi o quanto sua presença poderia se tornar crucial para mim. Você era apenas uma semente que eu inocentemente plantei no meu quintal, e então, você germinou e cresceu fora do meu controle. Naquele dia, quando nos conhecemos, eu não havia imaginado que você se tornaria o grande dilema da minha vida.

As lembranças vão e voltam, eu não posso mais controlá-las.

         Costumávamos ser bons amigos, quando tudo o que eu conseguia pensar era em mim mesma e no meu doce mundo particular. Você ainda não era importante, e quando eu percebi, estava a um dedo de despencar para sempre. Por sua causa. Sim, foi por você. Quando enfim parei para olhar para o fundo de meu coração, assombrosamente notei o quanto as coisas haviam mudado em tão pouco tempo. Eu te amava desesperadamente – mesmo sem saber como. Você estava indo embora com palavras cruéis. Meu coração havia sido ferido, dolorosamente.

Oh não, eu ainda não esqueci o que você me disse!

         Eu apenas não sabia que você voltaria – e novamente partiria – algumas outras vezes. Era como tentar encontrar o fim para algo eterno, e assim eu demorei algum tempo para descobrir que aquilo jamais acabaria. Você parecia saber o momento exato de voltar, e sempre que você saía do escuro, minha situação era sempre a mesma: lentamente, meu coração havia aprendido a florescer sobre as – suas – raízes secas, e enxergar um novo motivo para se agarrar. Eu tentei desesperadamente me adaptar àquelas esperanças de amores verdadeiros, e sempre que eu parecia conseguir, você surgia para me fazer cair de joelhos novamente. Hoje eu sei como todas aquelas esperanças foram tão falsas se comparadas à esperança de ter você como naquele tempo.

Mas você havia quebrado alguma coisa dentro de mim.

         Outra vez você voltou. Não importa quantas vezes você tenha sumido e então reaparecido na minha vida, a sensação que me comove ao saber que você está de volta é sempre a mesma. Gigantescas e arrasadoras ondas de amor. Agora você está aqui, e eu tenho a oportunidade de retomar aquilo que deixamos para trás há muito tempo, no entanto... Desta vez você demorou demais. Cansada de sobreviver no escuro de sua ausência, eu aprendi a abrir meus olhos e desejar a luz. A luz, gentil, amável e protetora, agora está comigo. Eu sinto meus pés no chão e posso ter certeza de que isso é real e concreto, de que sempre que precisar, essa pessoa correrá na minha direção. Oh sim, eu quero parar de sonhar e sentir o calor do sol na minha pele, intensamente.

E não, eu não seria capaz de abandonar minha maior ilusão.

         Ao contrário dessa realidade, você é minha vontade de sonhar, meu medo, meu inalcançável. Uma parte de meu coração quer ir onde você está, quer pegar sua mão e lhe levar para bem longe, onde ninguém jamais nos encontrará. Minha insanidade, minha complexidade, minha duplicidade, meu “eu fantasioso” estão com você, e eu gosto que seja assim. Eu amo você, e por não poder te ter, eu te odeio todos os dias de minha vida. O ódio mais doce que uma criatura pode nutrir por outra, o ódio mais repleto de amor.

De qualquer jeito, eu não conseguiria deixar você pra trás.

         Todas as noites, eu maltrato minha mente para que eu possa sonhar com você. Eu forço meu coração para que ele se desprenda de meu corpo e voe para perto de você, onde possamos ficar juntos. Quando você não está aqui, eu esqueço de quem sou e do que quero fazer. Só consigo pensar em você, não importa como ou onde, meu coração apenas é capaz de escrever “eu te amo, por que você não vem me buscar?”. Eu olho pela janela, mas debaixo desse céu sem sol, você continua tão distante... Sempre tão distante.

Por que somos assim? Por que gostamos de sofrer, se o motivo é o amor?

         E então, empurrando para dentro mais uma de minhas lágrimas, eu desejei sinceramente poder atravessar paredes e te encontrar, onde quer que você esteja, até o fim de meus dias.

“Eu vou te fazer sofrer. Mas então está tudo bem, se você também me machuca.”

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