Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 2
Parte 1: 1.




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Foi um momento quase surreal para Sara chegar em casa e encontrar toda a sua rua numa paz inacreditável. Ali, tudo continuava o mesmo. O horror que tinha acontecido minutos antes ainda não havia chegado até ali. Ainda.

Mesmo trêmula, a mulher retirou todas as suas compras do carro e se dirigiu para a cozinha. Sentiu vontade de vomitar quando a sensação nauseante do zumbi sendo atropelado por seu carro inundou sua mente mais uma vez. Correu para o banheiro e vomitou na privada, dando descarga logo em seguida. Levantou-se e olhou sua figura refletida no espelho. A Sara que estava ali agora era uma mulher bem diferente daquela que havia saído para fazer compras.

Mas agora havia muita coisa a se fazer. Sem tempo para perder, fez algumas rápidas ligações para as pessoas mais próximas dela. “Saiam da cidade, se escondam nas montanhas. Levem mantimento e se protejam.” Essas pessoas eram amigos de longa data de Sara, indivíduos da época da faculdade, que perceberam na seriedade na voz de Sara o quanto ela falava a verdade. Terminada as ligações, Sara respirou fundo. Ela não tinha mais família alguma a quem proteger, todos já haviam indo embora deste mundo – sortudos, Sara pensou por um segundo, pois nenhum deles estava mais vivo para lutar naquele novo mundo horripilante ao lado dela. Sara estava, definitivamente, sozinha.

A mulher saiu na rua rapidamente e tocou a campainha das duas casas ao lado da sua. Esperou e esperou, mas não houve nenhuma resposta. Foi então que se lembrou de que a família Monteiro estava viajando e, mesmo que minimamente, ficou mais aliviada. Sara esperava que eles estivessem em algum lugar mais seguro que aquela cidade que em breve seria infestada por zumbis.

Antes de voltar para casa, deu uma última olhada na rua. Aquela seria a última vez que ela colocaria seus pés ali, até que tudo um dia voltasse a ser como era antes. Sentiu o vento no rosto, o farfalhar das árvores e percorreu a vista em todo o quarteirão. Em seguida, dirigiu-se para dentro de casa. Ainda havia muito a se fazer.

Retirou de sua sacola de compras as sementes que havia comprado no mercado. No quintal de sua casa já tinha um espaço próprio para plantar algumas poucas coisas. Sara escolheu alimentos que cresciam até mesmo em solos pobres e que davam fruto dentro de 2 ou 3 meses, aproximadamente: abobrinha, cenoura e espinafre. A mulher também já tinha um pequeno vaso em que cultivava tomates em miniatura e um canteiro perto da cozinha com hortelã, cebolinha e manjericão.  

Todo o processo de arar a terra e plantar as sementes demorou cerca de duas horas. Naquele início de verão, o sol já se mostrava impiedoso. Pelo menos, ela sabia que em breve chegariam novas chuvas e que suas plantas cresceriam maravilhosamente.

Coberta de terra e suor, Sara iria se permitir um último banho decente enquanto a água não havia ainda sido cortada. Placas solares estavam dos dois lados do telhado de sua casa, e somado àquele sol, eles a permitiriam tomar um último banho quente e relaxante. Antes do banho, no entanto, ela teve uma ideia que já deveria ter colocado em prática há alguns dias e tinha a ver com seus longos cabelos finos.

Não pensou duas vezes; abriu uma gaveta e tirou uma tesoura afiada de lá. Segurou seus cabelos e juntou-os atrás do pescoço antes de passar a tesoura. Instantes depois, seus loiros cabelos estavam todos caídos no chão. Em seguida, pegou uma máquina de barbear inutilizada havia anos, mas que ainda funcionava. Aparou as pontas e deixou seu cabelo num corte masculino, bem rente à cabeça, mas que tinha como vantagem ser incrivelmente fácil de manter.

Recolheu seus cabelos jogados ao chão e se olhou no espelho. Ela nunca usou um corte como aquele, porém a mulher precisava admitir, havia lhe caído bem e lhe dado, sim, uma nova perspectiva. Era como se Sara pouco a pouco se tornasse outra pessoa.

O banho quente lavou todo o horror do que acontecera mais cedo no supermercado. E ainda havia uma última coisa que Sara precisava fazer – a mais importante delas. Era algo que fora quase um projeto de vida de um engenheiro que ganhou seu coração por longos 15 anos. Ela ainda podia escutar a sua voz, o som de sua risada quando ela havia dito, anos atrás, que construir algo como aquilo era a maior besteira e uma perda de dinheiro monumental. Mas vejam só... ele e aquele pequenino ser que permanecia ao lado do alto e imponente homem estavam convictos de que aquela invenção era uma coisa extremamente necessária. Agora, anos depois, para Sara havia sido realmente. Ela só não teve a chance de compartilhar com mais ninguém.

Sara, então, pegou o distinto controle remoto e ficou na porta da sala, olhando fixamente para o portão de sua casa. Havia chegado o momento. Respirou fundo e apertou o grande botão vermelho no centro do controle. Não demorou até o chão levemente começar a tremer.

Diversos buracos redondos abriram no mesmo instante no chão, centímetros de distância dos 2 portões da casa de Sara. Imponentes vigas pesadas de metal começaram lentamente a subir do solo, ganhando força e assombrando aquela que seria a sua nova realidade. As vigas continuaram a subir até chegarem próximas ao limite do muro e então pararam. Eram agora intocáveis. Essas vigas tinham o intuito de manter todas as saídas da casa seguras, para que ninguém do lado de fora invadisse ali – mas que, entretanto, tinha como desvantagem que ninguém ali de dentro pudesse sair também.

Aquele fora o projeto de vida de alguém, alguém de quem Sara tinha muitas saudades. Ela voltou para dentro da sala e pegou com cuidado um porta-retratos. Lá estavam eles, aqueles dois seres que haviam transformado a sua vida, mas que agora já não existiam mais. Sara pensou consigo mesma... Ela seria forte por eles, sobreviveria àquele mundo dos mortos-vivos por eles.

Naquele mundo dominado por zumbis, acima de tudo, Sara sabia de uma única coisa: ela seria Inabalável.


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Notas finais do capítulo

Aiaiai...
E então, comentários?!