Inabalável SARA escrita por tsubasataty


Capítulo 1
Prólogo




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Sara teve sorte.

Quando tudo começou, quando o primeiro deles apareceu, ela já sabia dos sinais...

 

Era uma bela tarde de domingo – dia das compras do mês para Sara. A mulher que acabara de completar 40 anos tinha uma aparência jovial, usava shorts jeans e blusa sem manga, também possuía cabelos lisos e longos e uma marca de anel se destacava em seu dedo anelar esquerdo. O cheiro que exalava dela era de perfume amadeirado e protetor solar.

Sara dirigiu seu carro por ruas e avenidas calmas, uma música da década de 80 tocando suave em seu rádio. O vidro do carro estava todo aberto, fazendo seus cabelos finos, num loiro platinado quase branco, dançarem a cada movimento, enquanto ela cantarolava baixinho. Sara ainda sorria. Ainda estava tudo bem, afinal.  

Fez suas compras, dessa vez escolhendo produtos menos perecíveis e enlatados de marcas confiáveis. Também comprou fósforo, serragem, alumínio e 5 galões de água (basicamente 100 litros de água filtrada). Alguns pacotes de sementes de diversos vegetais estavam timidamente posicionados no seu enorme carrinho de compras. Sara comprou produtos para quase 3 meses de consumo. Pagou por tudo e aproveitou para passar na farmácia. Um valor exorbitante fez a mulher engolir em seco quando o total da compra brilhou na tela do computador; felizmente, seu cartão de crédito lhe salvou nessa hora. Depois de um sorriso mudo para a atendente do caixa, Sara se preparou para ir embora.

Alguns a chamariam de louca, de lunática e esquisita. Diriam que ela estava delirando.

Porém, Sara podia não ser a pessoa mais comunicativa do planeta, mas o prêmio de melhor observadora merecia ser entregue a ela. Sara era uma pessoa de aparência forte, de apertos de mãos decididos e olhar penetrante. Tudo nela era intimidador. Até seus finos e agora ralos cabelos a tornavam alguém distinta e quase temida. Sara sabia de tudo isso, claro – e quando necessário, usava isso a seu favor.

Ela deve ter sido uma das primeiras a notar os sinais, os surtos que estavam ocorrendo em necrotérios e hospitais. A mídia não explicava nada, a polícia muito menos. A eletricidade havia sido cortada 3 vezes na última semana, e ainda havia mais. Naquela cidade pequena do sul, porém, ninguém nunca imaginaria que aquilo pudesse acontecer; que Eles, de fato, se tornariam reais.

Mas Sara sabia, e havia aprendido isso de uma maneira que enchia seu coração de pesar e tristeza.

Ela tentou afastar esses pensamentos, a saudade que avassalava seu coração, enquanto terminava de por as compras no carro. Ela fechou o porta malas, entrou dentro do veículo e se dirigiu para a saída. Foi nesse instante que ouviu o primeiro grito.

Alto, ensurdecedor. Pessoas começaram a prestar atenção, a notar o que era aquele horror. Menos de um minuto depois, tudo ao seu redor começou a ser tingido pelo caos. Pessoas correram por todos os lados, compras caíram no chão, crianças choravam no colo de seus pais. Sara olhava para todos os lados e não sabia ainda de onde estava vindo o problema, o perigo. Focou sua atenção na saída do estacionamento e foi então que viu aquele ser rastejante, de aparência repugnante e pele esverdeada. Um zumbi.

Seu coração disparou na hora.

Ela viu duas pessoas sangrando tentando correr do zumbi, enquanto o morto-vivo esticava seus braços tentando alcançar um dos dois. Eles estavam praticamente sem chance. Foi a primeira vez em anos que Sara agiu antes de pensar, antes de calcular todas as possibilidades. Pisou fundo no acelerador e um grunhido assustador saiu do fundo de sua garganta enquanto ela rumou em direção ao zumbi. Seu carro fez um barulho absorto quando ela passou por cima dele, esmagando de uma vez por todas aquela criatura rastejante.

Ela não olhou para trás, não ousou voltar os olhos para aquele pesadelo.

Foi direto para casa, a garganta seca, a cabeça doendo e o coração aos pulos, tremendo por completo diante daquilo que acabou de acontecer.

Sara sabia no âmago de seu ser, no entanto, que aquele era apenas o começo. Se todas as teorias eram reais, o mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo outra vez. E pensar que, naquela mesma tarde, horas antes, ela ainda estava cantarolando e sorrindo. Provavelmente, aquele que seria seu último sorriso num mundo tingido de sangue que agora trazia seus mortos de volta à vida...


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Notas finais do capítulo

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